• Nenhum resultado encontrado

Mapeando mundos no mundo de futebol : abordagem semiótico-cognitiva dos media alemães

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Mapeando mundos no mundo de futebol : abordagem semiótico-cognitiva dos media alemães"

Copied!
598
0
0

Texto

(1)

ÁREA DE LITERATURAS, ARTES E CULTURAS

MAPEANDO MUNDOS NO MUNDO DO FUTEBOL:

ABORDAGEM SEMIÓTICO

Bibiana Maria Fernandes de Sousa

TESE ORIENTADA POR: PROFESSORA DOUTORA MARIA

DOUTORAMENTO EM LINGUÍSTICA

UNIVERSIDADE DE LISBOA

FACULDADE DE LETRAS

ÁREA DE LITERATURAS, ARTES E CULTURAS

MAPEANDO MUNDOS NO MUNDO DO FUTEBOL:

DAGEM SEMIÓTICO-COGNITIVA DOS MEDIA ALEMÃES

Bibiana Maria Fernandes de Sousa

TESE ORIENTADA POR: PROFESSORA DOUTORA MARIA CLOTILDE ALMEIDA

DOUTORAMENTO EM LINGUÍSTICA

(Linguística Alemã)

2011

MAPEANDO MUNDOS NO MUNDO DO FUTEBOL:

DIA ALEMÃES

(2)
(3)

iii Agradecimentos

Gostaria de deixar aqui os meus sinceros agradecimentos a um conjunto de pessoas, sem as quais não teria sido possível realizar a presente dissertação.

Em primeiro lugar, quero expressar o meu reconhecimento e a minha profunda gratidão à Professora Doutora Maria Clotilde Almeida por continuar a acreditar em mim e nas minhas capacidades. Agradeço as suas orientações e ensinamentos sábios e preciosos assim como a sua dedicação, amizade e apoio incessante. A sua competência científica aliada à excelente capacidade de comunicar e transmitir essa sapiência fez com que todos os nossos seminários tivessem sido momentos de aprendizagem e de descoberta enriquecedores e motivadores. A Professora é uma verdadeira inspiração, em todos os domínios!

Quero igualmente agradecer ao Professor Doutor Per Aage Brandt cujos comentários representaram um valioso e estimulante contributo para a feitura da presente dissertação. Aquando das nossas conversas, pessoais ou via e-mail, senti-me privilegiada por poder discutir questões diversas no âmbito do paradigma semiótico-cognitivo, sendo que estou especialmente grata pelo incentivo e encorajamento que sempre me transmitiu.

Também quero expressar um profundo e sentido agradecimento à minha família que se mobilizou para que este projecto pudesse chegar a bom porto. À minha querida filha Catarina e aos melhores pais do mundo, Luís e Minda, estou grata pelo amor e carinho, pelo apoio inabalável e incondicional durante todo o período de elaboração da presente tese. Estou segura que não teria sido possível concretizar este projecto sem a sua ajuda. À minha irmã Belisa, ao meu sobrinho André e ao meu cunhado António José, expresso o meu reconhecimento pelas suas palavras e gestos de apoio e de estímulo. Bem hajam! Por último, à minha alma gémea, Sérgio, o meu porto seguro, meu apoio constante, minha fonte de informação, particularmente nas questões relacionadas com o futebol, meu ombro e ouvido compreensivo e paciente… em suma, agradeço ao meu amor por tudo, em todos os aspectos!

Deixo uma última palavra de agradecimento a todos os amigos e colegas especialmente à Isabel e ao Henrique, assim como à ‘minha’ Escola, a Escola Secundária João de Barros, também na pessoa do seu Director Manuel Porfírio que, de forma directa ou indirecta, me ajudaram a concretizar este projecto.

(4)

iv Resumo

A presente dissertação visa o estudo semiótico dos mapeamentos conducentes a imagens metafóricas vigentes na imprensa alemã (Bild, Sportbild, Kicker, Spiegel, Focus), com especial incidência nas suas versões on-line, durante os Campeonatos Europeus e Munidas de Futebol de 2006 a 2010 à luz do modelo dos espaços mentais de Brandt (2004a) Brandt/Brandt (2005a).

Na senda de outros trabalhos de estudo das construções metafóricas e mescladas na imprensa desportiva portuguesa (Almeida (2003, 2004, 2005, 2006a, 2006b, 2010a, 2010b, 2011); Almeida, Órfão, Teixeira (2010); Almeida, Sousa (2010)), a presente dissertação debruça-se sobre as ocorrências metafóricas elaboradas a partir dos mapeamentos dos diversos domínios-fonte da experiência para o domínio-alvo dos eventos futebolísticos, tendo por objectivo elencar o conjunto de imagens presentes nos textos jornalísticos alemães.

Tomando como ponto de partida a metáfora conceptual e convencional de DESPORTO É GUERRA” (Lakoff/Johnson, 1980a), analisaremos a panóplia de entrecruzamentos dos diversos mundos no mundo do futebol, numa dupla abordagem qualitativa e quantitativa, por forma a aquilatar a relevância das diversas imagens mescladas na representação dos eventos futebolísticos e dos seus protagonistas, os jogadores de futebol, na imprensa alemã.

Palavras-chave: semiótica cognitiva, mesclagens na imprensa desportiva alemã; metáforas no futebol

(5)

v Abstract

This work aims to analyse, in the light of the mental space network advanced by Brandt (2004a) and Brandt/Brandt (2055a), metaphorical mappings that lead to blended constructions, which are used pervasively in the German sport newspapers.

Our corpus was extracted from the German newspapers Bild, Sportbild, Kicker, Spiegel and Focus in their paper and online versions, between 2004 and 2010, focussing primarily on the four major football events: two European and two World Championships.

Following the footsteps of several previous studies about metaphor and metonymy in German and Portuguese sports papers (Almeida (2003, 2004, 2005, 2006a, 2006b, 2010a, 2010b, 2011); Almeida, Órfão, Teixeira (2010); Almeida, Sousa (2010)), we focused on the metaphorical constructions and their underlying conceptual processes because we believe that the identified metaphors, rooted in several different domains of our experience, reflect the way in which we apprehend and structure social and cultural realities.

Taking the conceptual metaphor “SPORT IS WAR” (Lakoff/Johnson, 1980a) into account, we will expand our analysis and study, from a qualitative as well as a quantitative point of view, all the identified blended constructions in which a vast array of ‘worlds’ are conceptually projected onto the ‘world of football’. Based on our findings, we will then assess the relevance of those blended images in the overall representation of the football event and its participants, namely the football players, as architectured by the German sports papers.

Keywords: cognitive semiotics, blended images in the German sports papers; football metaphors.

(6)

1 ÍNDICE

Página

0. Introdução 4

1. Postulados Teóricos da Semântica e da Semiótica Cognitiva 6 1.1. Fundamentos da Semântica Cognitiva em textos alemães de 7

Linguística

1.2. Postulados Gerais da Semântica Cognitiva 32

1.3. Da Teoria da integração conceptual à Teoria das redes de 54 espaços mentais

1.3.1. Teoria de integração conceptual 54

1.3.2. Teoria de redes de espaços mentais 70

1.3.3. Os Domínios Semânticos 81

2. Teoria de redes de espaços mentais Estado da Arte do estudo 90 das imagens mescladas na imprensa desportiva

2.1. A Metáfora no mundo do futebol 90

2.2. Imagens mescladas nos jornais desportivos, abordagem 109 semiótica

2.2.1. Almeida (2003, 2004, 2005, 2006a, 2006b, 2010a, 2010b, 109 2011), Imagens mescladas nos jornais desportivos

internacionais – abordagem qualitativa

2.2.2. Almeida, Órfão, Teixeira (2010), marcas de oralidade nos 123 jornais desportivos portugueses e alemães – abordagem

qualitativa e quantitativa

2.2.3. Almeida, Sousa (2010), Imagens mescladas nos jornais 127 desportivos portugueses e alemães - abordagem qualitativa

2.2.4. A relevância da relevância (Almeida, 2011, a publicar) 131

2.3. Algumas observações conclusivas 132

3. Análise semiótica das imagens mescladas nos jornais desportivos 134 alemães

(7)

2

3.1.1. Breve história do futebol e os media 141

3.1.2. A recolha do corpus 148

3.2. Imagens mescladas dos jornais desportivos alemães – 153 abordagem qualitativa

3.2.1. Imagens mescladas: Futebol – Guerra, Violência e Morte 156 3.2.2. Imagens mescladas: Futebol – Forma Artística 245

3.2.3. Imagens mescladas: Futebol – Máquina 283

3.2.4. Imagens mescladas: Futebol – Jogo (outras modalidades 301 desportivas e jogos de sorte)

3.2.5. Imagens mescladas: Futebol – Religião e Mitologia 325 3.2.6. Imagens mescladas: Futebol – Alimentação e Agricultura 354 3.2.7. Imagens mescladas: Futebol – Trajectória 373 3.2.8. Imagens mescladas: Futebol – Construção/Destruição 387

3.2.9. Imagens mescladas: Futebol – Animal 402

3.2.10. Imagens mescladas: Futebol – Realeza 419

3.2.11. Imagens mescladas: Futebol – Cultura e Tourada 430 3.2.12. Imagens mescladas: Futebol – Fenómeno Natural 453 3.2.13. Imagens mescladas: Futebol – Objecto Valioso 466

(e brilhante)

3.2.14. Imagens mescladas: Futebol – Empresa 476

3.2.15. Imagens mescladas: Futebol – Cima / Baixo 484 3.2.16. Imagens mescladas: Futebol - Corpo Humano 493

3.2.17. Os restantes domínios-fonte 506

3.2.17.1. Imagens mescladas: Futebol - Magia 506 3.2.17.2. Imagens mescladas: Futebol - Meio Escolar 508 3.2.17.3. Imagens mescladas: Futebol - Mal-Estar Físico e 511

Doença

3.2.17.4. Imagens mescladas: Futebol - Sonho 513 3.2.17.5. Imagens mescladas: Futebol - Arrumação e Limpeza 517 3.2.17.6. Imagens mescladas: Futebol - Calor (Fogo) e Frio 519

(Gelo)

3.2.17.7. Imagens mescladas: Futebol - Costura, Vestuário e 522 Acessório

(8)

3 3.2.17.9. Imagens mescladas: Futebol - Comunicação 527 3.2.17.10. Imagens mescladas: Futebol - Acontecimento 530

Histórico

3.2.17.11. Imagens mescladas: Futebol - Aprisionamento/ 534 Libertação

3.2.17.12. Imagens mescladas: Futebol - Navio 536 3.2.17.13. Imagens mescladas: Futebol - Sono 538

4. Imagens mescladas dos jornais desportivos alemães – abordagem 541 quantitativa

4.1. Distribuição de Ocorrências por Campeonato 542

4.2. Os 29 domínios-fonte 543

4.3. A distribuição dos domínios-fonte por campeonato 546

5. Observações finais 555

(9)

4 0. Introdução

A leitura de jornais desportivos proporciona ao leitor atento um deleite muito especial, motivado pela riqueza imagética das arquitecturas conceptuais das notícias desportivas, construídas a partir de um vasto conjunto de mapeamentos tomando como ponto de partida os mais diversos domínios da experiência física, social e cultural quotidianas. A análise semiótica de mesclas metafóricas resultantes dos cruzamentos conceptuais entre o mundo futebol e outros mundos, à luz de Brandt (2004a) e Brandt/Brandt (2005a), constitui, assim, o terreno ideal para a desconstrução dos processos cognitivos subjacentes à representação dos eventos e dos intervenientes desportivos, considerados os heróis mais populares da época moderna.

É inegável que as representações metafóricas constituem uma ferramenta por demais poderosa, na medida em que a riqueza das imagens mescladas torna o discurso jornalístico desportivo mais apelativo e emotivo,

“Metaphors with animated imagery - where both the force-dynamic and the figurative aspects of the metaphorical scenario are strongly experienced - are potentially very effective rhetorically because their “juicy” imagery gives extra weight to the implicit evaluation expressed; the animated hyperbolic predication involved in such “juicy metaphors” generally yield a stronger emotional reaction than literal predication does.” (Brandt/Brandt, 2005a:222)

sendo que activam esquemas mentais e cenários culturais partilhados por vastas comunidades linguísticas, tal como postulado nos estudos de Brandt :

“(…) if an expression is indeed metaphorical, its immediate figurative meaning mediates a dynamic higher-order meaning (a compelling ‘meaning of meaning’, most often reflective, affective, and evaluative) to which the communicative agents will be sensitive.” (Brandt, 2005:1588)

“(…) the mental architecture is in itself trans-culturally and trans-historically stable, which is our actual claim (…)” (Brandt, 2010e:28)

O primeiro ponto desta dissertação, para além de abordar os postulados gerais do paradigma cognitivo, começa por identificar os alicerces da teoria da metáfora conceptual nas gramáticas alemãs da segunda metade do século XX. De entre as figuras proeminentes destaca-se Weinrich (1976), estudioso do fenómeno da metáfora ao longo de pelo menos duas décadas a partir dos anos 50. Especial atenção mereceu-nos, igualmente, Glinz (1994) cujo trabalho evidencia afinidades teóricas com o paradigma cognitivo, sobretudo no respeitante à interligação das representações simbólicas com a experiência física (1.1.). Enveredamos, em

(10)

5 seguida, pela explanação da metáfora à luz do paradigma cognitivo Lakoff/Johnson (1980a), Lakoff (1993, 2006b) (1.2.), imediatamente seguida pela exposição da teoria da integração conceptual preconizada por Fauconnier e Turner (2002) (1.3.1.). A enunciação do enquadramento teórico culmina com a explanação da teoria de redes de espaços mentais, advogada por Brandt (2004a) e Brandt/Brandt (2005a), pondo em destaque a aplicabilidade deste modelo semiótico-cognitivo de índole pragmático à análise de todo o tipo de texto, sobretudo de textos jornalísticos desportivos (1.3.2.).

O ponto dois apresenta uma resenha do estado da arte do estudo das imagens mescladas na imprensa desportiva. Fazemos referência aos trabalhos mais significativos no domínio da metáfora conceptual aplicada aos media desportivos internacionais, assim como aos estudos semiótico-cognitivos sobre mesclagens na imprensa desportiva desenvolvidos e publicados nos últimos dez anos, a saber: Almeida (2003, 2004, 2005, 2006a, 2006b, 2010a, 2010b, 2011) (2.2.1.); Almeida, Órfão, Teixeira (2010) (2.2.2.); Almeida, Sousa (2010) (2.2.3.); Almeida (2011, a publicar) (2.2.4.).

O terceiro ponto da presente dissertação incide sobre a questão da constituição do corpus para análise (3.1.2.), não sem antes elaborarmos uma breve resenha acerca da história dos media e do futebol, bem como efectuarmos uma distinção entre terminologia técnica do futebol e imagens metafóricas cunhadas pelos media desportivos (3.1.1.). Sublinhe-se, contudo, que este ponto três envereda fundamentalmente por uma análise semiótica das imagens mescladas do corpus, mediante abordagem semântica qualitativa das realizações metafóricas construídas a partir dos vinte e nove domínios-fonte identificados (3.2.). Em face da necessidade de limitação da dimensão da dissertação, apenas os primeiros dezasseis domínios-fonte com o maior número de ocorrências merecem uma análise exaustiva e pormenorizada, enquanto os restantes são objecto de uma abordagem mais sintética (3.2.17.). Complementarmente à análise qualitativa, realizamos uma análise quantitativa das ocorrências recolhidas, com o propósito de sustentar as hipóteses avançadas na análise qualitativa, bem como de conferir visibilidade gráfica aos resultados obtidos. Sublinhe-se que a visualização dos gráficos permite descortinar frequências de uso no que respeita aos mapeamentos subjacentes às arquitecturas conceptuais vigentes no jornalismo desportivo alemão (4.).

Por último, o quinto ponto condensa algumas observações finais ancoradas nas inúmeras conclusões parciais que fomos retirando ao longo do trabalho que entroncam necessariamente na questão da adequação do modelo de Rede de Espaços Mentais à análise das arquitecturas metafóricas mescladas.

(11)

6 1. Postulados Teóricos da Semântica e da Semiótica Cognitiva

“Language — spoken, written or signed — is likely to be the main bridge between communication and cognition in our species. At one end of this bridge, we find a display of temporally or graphically linear flows of signs (’strings’) grouped into words and sentences that are shared, whether immediately or through mediating devices, by shifting speakers and hearers, as meaningful discourse — as debate, dialogue, monologue, or text. At the other end of the bridge, individual human agents are each in their singular, embodied, isolated minds attending to concrete or abstract personal or communal matters that call for thinking, imagining, feeling, planning, acting — and also call for being linguistically expressed. The result is the community of beings that communicate important parts of their thinking and which we call culture, civilisation, humanity.” (Brandt, 2008:1)

(12)

7 1.1. Fundamentos da Semântica Cognitiva em textos alemães de Linguística

O paradigma cognitivo estabeleceu-se, aproximadamente, nos últimos 20 a 30 anos como uma abordagem interdisciplinar cujo objectivo é estudar o modus operandi das línguas naturais. Nasceu de um sentimento partilhado por alguns investigadores, na sua maioria, mas não exclusivamente, norte-americanos, de que as correntes linguísticas desenvolvidas até então não contemplavam cabalmente a complexidade e riqueza de uma língua viva.

Esta necessidade de encontrar pressupostos teóricos tendo em vista a clarificação, de forma mais abrangente e dinâmica dos fundamentos cognitivos que subjazem ao uso linguístico do falante comum, traduziu-se numa corrente linguística aberta a todas as áreas da cognição humana. Segundo a mesma, a língua não se afigura tão-somente como um “objecto de análise” que pode ser descrito através de um conjunto de regras objectivas mas, principalmente, como uma forma de expressão de todas as experiências humanas, das mais básicas e elementares às mais complexas. A língua é assim parte integrante das nossas capacidades cognitivas, sendo motivada pela experiência humana. Daí que a língua seja encarada como um sistema aberto e intersubjectivo que evidencia a correlação entre a realidade física (condicionada pela experiência de nós próprios, pelo mundo exterior e a nossa relação com esse mundo) e os processos e estratégias mentais essenciais para a aquisição e correcto uso da mesma. Por estratégias mentais entende-se a organização mental do sistema linguístico, por exemplo, através de processos de categorização e da criação de imagens, modelos e esquemas mentais.

A semântica cognitiva defende, portanto, que o conhecimento semântico não se baseia de forma alguma num sistema autónomo (tal como defendido pela semântica estruturalista) porque depende de um conjunto de factores, tais como o conhecimento de mundo que abarca a dimensão cultural e as experiências individuais e colectivas. Mais ainda, é realçada a importância do contexto situacional (oral ou escrito) que assume a função de “filtro semântico” (Jackendoff, 1992), pois é através do contexto que é feita a selecção da significação de um determinado item lexical. Este processo de selecção pressupõe a existência de uma espécie de dicionário mental que cada locutor possui, e que, por sua vez, é parte integrante dos já referidos modelos mentais, com os quais se organiza todo o conhecimento.

São geralmente considerados autores mais representativos da primeira vaga de estudos em semântica cognitiva os linguistas norte-americanos Lakoff, Johnson, Langacker e Geeraerts. Mas muitos outros autores têm dado o seu contributo para o desenvolvimento

(13)

8 deste paradigma, tal como Rosch, no âmbito da psicologia cognitiva e da teoria do protótipo, assim como Johnson e Gibbs na área dos esquemas imagéticos, para só referir alguns.

Há que salientar, contudo, que a semântica cognitiva não surgiu do nada, ou seja, os autores acima mencionados basearam-se em desenvolvimentos anteriores, entre os quais destacamos o enquadramento semântico desenvolvido por Fillmore1, que contextualizou o significado linguístico em cenas e “frames”. Para além deste autor, na história da linguística e até da filosofia encontram-se outras vertentes teóricas que veiculam a ideia que o significado está intimamente ligado à conceptualização da realidade, realçando a existência de um elo entre os mecanismos linguísticos e os da cognição humana. Destaque-se que Aristóteles constitui o mais antigo marco no estudo da linguagem relacionada com a percepção e o conhecimento, principalmente no que concerne o regresso à orientação hermenêutica do estudo semântico, como também aos princípios de categorização propostos pelo mesmo (qualificação aristotélica de categorias em termos de atributos essenciais e atributos acidentais). É assim possível afirmar que esta distinção aristotélica serviu de ponto de partida para a posterior elaboração da teoria do protótipo.

Teixeira2 destaca, por exemplo, as concepções de Anton Reichling (dos anos trinta e quarenta do século XX), que defendia claramente que a noção de significado e consequente categorização está necessariamente ligada aos processos mentais:

“A própria noção de categoria aparece, em Reichling, como ponto fulcral da estruturação semântico-cognitiva. As categorias são construções mentais estruturadoras da realidade linguística (...)” (cf. Teixeira – op. cit., 2001:37)

É, contudo, no estudo da metáfora (uma das principais vertentes da semântica cognitiva) que se encontra um vasto número de textos de origem europeia, e principalmente alemã, precursores da semântica cognitiva norte-americana, tal como Jäckel faz questão em realçar:

“Aus den metapherntheoretischen Schriften Lakoffs und Johnsons könnte ein unbedarfter Leser den Eindruck gewinnen, die kognitive Metapherntheorie sei den Autoren Anfang der achtziger Jahre eingefallen, ohne dass es dafür irgendwelche Vorläufer gäbe, an die es anzuknüpfen lohnte. Das folgende Kapitel soll zeigen, dass dem keineswegs so ist. In der europäischen Philosophie und Sprachwissenschaft gibt es seit dreihundert Jahren diverse Ansätze, die wesentliche Thesen und Erkenntnisse der kognitiven Metapherntheorie vorwegnehmen.” (Jäckel, 1997:121)

1

Fillmore, 1968, 1977, 1982 2

(14)

9 Jäckel encontrou indícios de que, já na primeira metade do século XIX, gramáticos como Wüllner e Hartung encaravam a metáfora segundo uma perspectiva de cariz cognitivo:

“Eine eigene Untersuchung wäre zum Beispiel allein das Verhältnis zwischen lokalistischer Grammatiktheorie und Kognitiver Linguistik wert. Lokalisten wie Anderson (1971) und ihre deutschsprachigen Vorläufer Wüllner (1827) und Hartung (1831) konstituieren schon für sich eine eigene Ahnennreihe für den kognitiven Ansatz, indem sie – zumindest programmatisch - wesentliche Elemente der kognitiven Metapherntheorie vorwegnehmen, wie das folgende Zitat zeigt: «Unsere Wahrnehmung geschieht theils durch die Sinne theils durch den Geist. Die sinnliche Wahrnehmung geht überall voran: dieser dient darum auch die Sprache früher als der geistigen. Vermöge der Analogie des Geistigen und des Sinnlichen wird dann das Wort auf die geistige Wahrnehmung übertragen. Denn das Volk bildet, wie die Dichter, die Sprache durch Metaphern weiter. Gleichwie es darum keinen sinnlichen Ausdruck gibt, der nicht auf geistige Wahrnehmung übertragen werden könnte, so, behaupten wir, gibt es auch keine Bezeichnung geistiger Dinge, die nicht von sinnlichen abgezogen wäre. Wo demanch sinnliche Anwendung neben der metaphorischen vorhanden ist: da ist ohne Bedenken von jener auszugehen.» (Hartung, 1831 apud Jäckel, 1997:122-123)

Para além de fazer referência aos linguistas alemães Hermann Paul, Karl Bühler, Jost Trier, Walter Porzig e Franz Dornseiff e aos filósofos e antropólogos de expressão alemã Max Müller, Ernst Cassirer e Arnold Gehlen, Jäckel destaca os filósofos Immanuel Kant, Hans Blumenberg e o linguista Harald Weinrich, em virtude dos seus contributos substanciais no desenvolvimento do estudo cognitivo da metáfora.

Jäckel considera que Kant, na sua Crítica da Razão Pura (1781/87) explora a dualidade, i.e. a relação de complementaridade entre representação simbólica (ou o pensamento em termos de representações linguísticas) e a percepção (ou experiência sensorial) - “begriffliches Denken und sinnliche Anschauung”. Ao reconhecer a existência de conceitos para os quais não é possível encontrar equivalentes perceptíveis, ou seja, conceitos abstractos que não encontram correspondência directa no mundo físico e concreto, atribui à metáfora o poder cognitivo de conceptualizar conceitos abstractos:

“Nun gibt es aber Begriffe, denen keine sinnliche Anschauung direkt entspricht. Diese müssen indirekt “Versinnlicht” werden, und genau hierin liegt nach Kant die kognitive Leistung der Metapher. (…) Kant spricht von Analogie, verstanden als «Übertragung der Reflektion über einen Gegenstand der Anschauung auf einen ganz anderen Begriff, dem vielleicht nie eine Anschauung direkt korrespondieren kann». Dies ist das kantische Pendant zu Lakoffs und Johnsons kognitv-konzeptueller Metapherndefinition, verbunden mit einer

(15)

10

Notwendigkeitsthese und einer erkenntnistheoretischen Begründung der metaphorischen Unidirektionalität: Begriffe, denen keine sinnliche Anschauung direkt entspricht, werden vermittels analogischer Übertragung epistemisch erschlossen.” (Jäckel, 1997:125-126)

Em outras obras suas, Kant afirma que esta projecção metafórica (ou “Analogie”) para a conceptualização de conceitos abstractos se serve de imagens mentais:

“Wir mögen unsere Begriffe noch so hoch anlegen, und dabei noch so sehr von der Sinnlichkeit abstrahieren, so hängen ihnen doch noch immer bildliche Vorstellungen an, deren eigentliche Bestimmung es ist, sie, die sonst nicht von der Erfahrung abgeleitet sind, zum Erfahrungsgebrauche tauglich zu machen.” (Kant, Was heißt: sich im Denken orientieren, (1786:267) apud Jäckel, 1997:126)

Nesta base, Kant postula que, por exemplo, o conceito abstracto de ESTADO é conceptualizado através do conhecimento concreto de uma MÁQUINA. Convém notar que não se pretende com este exemplo demonstrar que o ESTADO é objectivamente uma MÁQUINA, pelo contrário, o seu contributo cognitivo vai exactamente no sentido de reconhecer a existência de características funcionais semelhantes em ambos os domínios (o de fonte e o domínio-alvo) que permitem esta “Analogia qualitativa”:

“Metapherntheoretisch besonders verdienstlich erscheint schließlich Kants Feststellung, daß eine Ähnlichkeit nicht etwa «zwischen einem despotischen Staate und einer Handmühle», also «objektiv» zwischen Zielbereich und Ursprungsbereich der Übertragung vorliege, «wohl aber zwischen der Regel, über beide und ihre Kausalität zu reflektieren»: Die Reflexion per konzeptueller Metapher konstruiert erst Ähnlichkeiten im Sinne von Analogieverhältnissen zwischen Bestandteilen und ihren funktionalen Zusammenhängen im Zielbereich und im Ursprungsbereich.” (Jäckel, 1997:126-127)

Só é possível estabelecer estas analogias porque o ser humano possui, também segundo Kant, por um lado, a capacidade imaginativa e, por outro, um esquema conceptual de imagens mentais essenciais para os processos de conceptualização. Desta forma, é possível considerar Kant como precursor dos conceitos de “imaginative capacity” e de “image schemata” preconizados por Johnson, 1987.

“In enger Anlehnung an Kant, der in der Kritik der reinen Vernunft (1781) den Begriff des transzendentalen Schemas als Vermittlungsgröße zwischen reinem Verstandesbegriff und sinnlicher Anschauung einführt (Kant 1781:196ff), betont Johnson (1987:29) die Mittelstellung der Vorstellungs-Schemata (…)” (Jäckel, 1997:33)

(16)

11 Também o filósofo alemão Hans Blumenberg (1920-1996) publicou várias obras nas quais desenvolve uma teoria da metáfora de cariz cognitivo. Assim sendo, Jäckel (1997:128-131) afirma que o seu contributo foi determinante na medida em que:

- postula que a metáfora não é um mero recurso estilístico ao serviço de uma dada especialidade. A metáfora faz parte da língua do dia-a-dia do falante comum;

- procura encontrar no estudo das metaforizações as estruturas cognitivas que lhes subjazem (“Bodenstruktur der Gedankenbildungen” Blumenberg, 1960:64 apud Jäckel 1997:129)); - reconhece nessas subestruturas cognitivas modelos mentais, que servem para orientar e organizar conceitos (processo este que normalmente decorre de forma inconsciente);

- estabelece uma ligação entre a metáfora, as nossas experiências e os modelos culturais; - destaca metáforas conceptuais cujas projecções são feitas a partir de domínios concretos para domínios abstractos, tais como: a verdade é luz; o tempo é um espaço; documentos históricos são fontes; a vida é uma viagem marítima.

Convém sublinhar, porém, que o maior contributo para o desenvolvimento de uma teoria da metáfora de índole cognitiva foi dado, sem dúvida, pelo linguista alemão Harald Weinrich. A sua obra “Sprache in Texten” de 1976 condensa um conjunto de estudos anteriores, a saber, “Münze und Wort. Untersuchungen an einem Bildfeld” (1958), “Semantik der kühen Metapher” (1963), “Metaphora memoriae” (1964), “Allgemeine Semantik der Metapher” (1967) e “Streit um Metaphern” (1976), que se afiguram precursores do paradigma cognitivo.

Weinrich inicia a sua reflexão ao afirmar que, até então, ainda não tinha encontrado nenhuma abordagem teórica que, a seu ver, fizesse jus ao fenómeno da metáfora: não podendo ser reduzida a um mero ornato estilístico, a metáfora é produto de uma concepção do mundo (“sprachliches Weltbild”). Embora esta concepção do mundo seja construída por cada indivíduo a partir da sua experiência individual, é moldada por factores ‘colectivos’ tais como a língua, a cultura, fenómenos sociais em geral, o que leva a crer que as imagens são partilhadas por uma dada comunidade linguística e cultural:

“Und doch kann die außerordentlich weite Übereinstimmung im Metapherngebrauch bei den Angehörigen eines Kulturkreises, zumal einer Epoche, schwerlich auf Zufall beruhen. Der Einzelne steht immer schon in einer metaphorischen Tradition, die ihm teils durch die Muttersprache, teils durch die Literatur vermittelt wird und ihm als sprachlich literarisches Weltbild gegenwärtig ist.” (Weinrich, 1976:277-278)

(17)

12 Porém, a metáfora não se inscreve apenas neste eixo diacrónico, mas principalmente num eixo sincrónico, o que leva Weinrich a defender a existência de campos conceptuais - “Bildfelder”. Através de vários exemplos, tais como “Wortschatz” ou “Pfennigwahrheiten” afirma:

“Sie steht jedoch nicht nur – diachronisch – in einem linearen Traditionsstrang, sondern auch – synchronisch – in sprachinternen Zusammenhängen mit anderen Metaphern, die deskriptiv-systematisch dargestellt werden können.” (Weinrich, 1976:279)

“(…) denn diese Metapher ist nicht isoliert. Sie steht seit ihrer Geburt in einem festgefügten Bildfeld. Das zu zeigen, ist Aufgabe der synchronischen Metaphorik.” (Weinrich, 1976:282)

Assim, o campo conceptual de “Wortmünze” equivaleria para Lakoff/Johnson (1980) à metáfora conceptual de “a linguagem é valor monetário”. Neste sentido, Weinrich aponta igualmente para a existência de duas áreas semânticas - “Sinnbezirke” - entre as quais se estabelece uma analogia. É este entrosamento de domínios que dimensiona a metáfora:

“(...) und ich benutze ihn [den Begriff des Bildfeldes] in Analogie zu dem in der Linguistik bekannten Begriff des Wortfeldes oder Bedetungsfeldes. Im Maße, wie auch das Einzelwort in der Sprache keine isolierte Existenz hat, gehört auch die Einzelmetapher in den Zusammenhang ihres Bildfeldes. Sie ist eine Stelle im Bildfeld. In der Metapher „Wortmünze” ist nicht nur die Sache ,Wort’ mit der Sache ,Münze’ verbunden, sondern jeder Terminus bringt seine Nachbarn mit, das Wort den Sinnbezirk der Sprache, die Münze den Sinnbezirk des Finanzwesens. In der aktuellen und scheinbar punktuellen Metapher vollzieht sich in Wirklichkeit die Koppelung zweier sprachlicher Sinnbezirke. (…) Entscheidend ist nur, daß zwei sprachliche Sinnbezirke durch einen sprachlichen Akt gekoppelt und analog gesetzt worden sind.” (Weinrich, 1976:283)

Mais ainda, é feita uma clara distinção entre o domínio-fonte “bildspendendes Feld” e o domínio-alvo “bildempfangendes Feld”. A metáfora e o respectivo campo imagético só podem existir se houver um cruzamento dos respectivos domínios:

“Denn konstitutiv für die Bildfelder ist ja, daß zwei Sinnbezirke durch einen geistigen, analogiestiftenden Akt zusammengekoppelt sind. (...) Erst durch die Stiftung des Bildfeldes wird der eine Sinnbezirk zum bildspendenden Feld, der andere zum bildempfangenden Feld. (…) Solange man nicht das bildspendende Feld und das bildempfangende Feld gleichzeitig im Auge hat, ist von Metaphorik gar nicht die Rede. Es gibt daher auch keine abstrakte Metaphorik, sondern nur die konkreten Bildfelder eines Kulturkreises.” (Weinrich, 1976:284)

Weinrich reconhece igualmente que nem todas as metáforas se integram num campo conceptual e admite que, graças ao poder imaginativo do ser humano, é possível ‘criar’ uma

(18)

13 metáfora isolada ou totalmente arbitrária. Afirma, contudo, que essas metáforas são raras, exactamente devido ao facto de não serem partilhadas por uma comunidade linguística ou cultural, i.e. de não serem convencionalizadas:

“Steht jede Metapher in einem Bildfeld? Das wäre bei weitem zu viel gesagt. Denn jedes Wort kann metaphorische Bedeutung annehmen, jede Sache kann metaphorisch bezeichnet werden, und der Phantasie sind keine Grenzen gesetzt. Die beliebige, isolierte Metapher ist allezeit möglich. Aber sie ist seltener, als man denkt, und – was wichtiger ist – sie hat gewöhnlich keinen Erfolg bei der Sprachgemeinschaft. Die Sprachgemeinschaft will eine integrierte Metapher, vornehmlich (aber nicht ausschließlich) für den Bereich der inneren Erfahrung. Die in einem Bildfeld integrierte Metapher hat alle Aussichten, von der Sprachgemeinschaft angenommen zu werden, und die Sprachmeister wissen das.” (Weinrich, 1976:28)

A metáfora emerge dum contexto mais vasto, o contexto cultural, o que leva a inferir que a maioria dos campos imagéticos é partilhada culturalmente por comunidades linguísticas mais vastas:

“Die konkreten Bildfelder sind wohl kaum Allgemeinbesitz der Menschheit, aber auch nicht exklusiver Besitz der Einzelsprache (Muttersprache). Sie gehören zum sprachlichen Weltbild eines Kulturkreises. Ein Wort prägen: man kann diese Metapher gefahrlos in unsere Nachbarsprachen übersetzen (...) Die Inhalte sind verschieden, aber die metaphorische Analogiestiftung ist identisch. Es gibt eine Harmonie der Bildfelder zwischen den einzelnen abendländischen Sprachen. Das Abendland ist eine Bildfeldgemeinschaft.” (Weinrich, 1976:287)

Mas Weinrich ainda avança um pouco mais no sentido de aceitar a possível existência de universais cognitivos, muito na linha dos modelos cognitivos idealizados de Lakoff3 (“ICMs”), ao admitir que alguns campos conceptuais são construídos a partir de experiências antropomórficas, partilhadas por cada ser humano:

“Bildfelder also, (...) gehören zum semantischen Bestand der einzelnen Sprachen und sind diesen sogar häufig über die Sprachgrenzen hinweg gemeinsam, soweit es sich nämlich um die Sprachen eines mehr oder weniger geschlossenen Kulturkreises handelt. Ich will nicht einmal ausschließen, daß es auch zwischen verschiedenen Kulturkreisen überraschend ähnliche Bildfelder gibt, die dann wohl gewisse anthropomorfische Grunderfahrungen des ganzen Menschengeschlechts zum Ausdruck bringen.” (Weinrich, 1976:335)

3

(19)

14

Tentar-se-á, de seguida, esquematizar o processo de metaforização proposto por Weinrich:

KULTURKREIS(E)

Jäckel (1997:139) propõe uma tabela de equivalências relativamente à terminologia utilizada por Weinrich e por Lakoff/Johnson, a saber:

Weinrich: Bildfeld → Lakoff/Johnson: konzeptuelle Metapher Weinrich: Metapher → Lakoff/Johnson: metaphorischer Ausdruck Weinrich: (hypothetisches) Denkmodell → Lakoff/Johnson: kognitives Modell (ICM) Weinrich: bildspendendes Feld → Lakoff/Johnson: Ursprungsbereich Weinrich: bildempfangendes Feld → Lakoff/Johnson: Zielbereich

Em síntese, Weinrich enfatiza a necessidade de um estudo sistemático de cada um dos campos imagéticos existentes e das relações entre estes, o que indica uma clara preocupação semântico-cognitiva. Note-se que neste esquema, as linhas que circundam o domínio-fonte A e o domínio-alvo B estão propositadamente tracejadas para respeitar a ideia das fronteiras

BILDFELD

bildspendendes Feld Sinnbezirk A Bildspanne bildempfangendes Feld Sinnbezirk B Kontext METAPHER

(20)

15 fluidas entre estes campos, assim como está igualmente representada uma área comum para ilustrar a possível intersecção parcial dos mesmos4:

“Wer eine allgemeine, materiale Metaphorik geben will, muß sie [Bildfelder] aufzählen, monographisch beschreiben und sagen, wie sie sich zueinander Verhalten. Denn die Bildfelder der Sprache liegen nicht sauber geschieden nebeneinander, sondern sie überlagern sich teilweise und haben bisweilen einzelne Metaphernstellen gemeinsam.” (Weinrich, 1976:285-286)

A separação ou distância entre os dois campos conceptuais é para Weinrich a “Bildspanne” (1976:298), ou seja, a distância entre os significados (ou melhor, significados prototípicos) de cada palavra. Tomemos um exemplo apresentado por Weinrich: “Redefluß” (1976:300). A palavra “Rede” evoca um determinado significado da mesma forma como “Fluß” o faz. Aparentemente, não existe qualquer ligação entre ambos os significados e, quando estas palavras aparecem isoladamente, não nos ocorrem os possíveis traços semânticos que possam ter em comum. Somos assim levados a pensar, tal como o fizeram, por exemplo, Aristóteles e Ullmann, que a união de palavras semanticamente tão díspares aumenta a chamada “tensão semântica” (“Spannung”, Weinrich 1976:301/2) assumindo a metáfora um carácter mais “arrojado”, de “qualidade superior” (“kühne Metapher”). Contudo, Weinrich opõe-se categoricamente a esta ideia:

“Dürfen wir dann auch dem Gesetz zustimmen, daß eine Metapher um so kühner und folglich um so besser ist, je größer der Realabstand der in der Metapher verbundenen Glieder ist? Wir dürfen es nicht. Dieses Gesetz, auch wenn man seine Voraussetzungen akzeptiert, ist falsch. Um es zu widerlegen, brauchen wir nur unsere gewöhnlichen Erfahrungen im Umgang mit Sprache durchzumustern. Wir benutzen auf Schritt und Tritt in unserer alltäglichen Rede Metaphern, die nach diesem Gesetz die allerkühnsten wären, weil sie äußerste Weiten überbrücken. (…) Metaphern gerade dieser Art, die Stoffliches und Geistiges verbinden, sind so häufig, daß wir uns in unserer Rede anstrengen müssen und oft genug vergeblich, wenn wir sie vermeiden wollen. Es ist fast kühner, solche Metaphern zu vermeiden als zu verwenden.”5 (Weinrich, 1976:300)

Nesta base, Weinrich defende que existe uma lógica interna da metáfora e que essa lógica se fundamenta num aparente sentimento de contradição que a metáfora suscita. Não é, contudo,

4

Fluidez e sobreposição (“Overlapping”) semelhante à que se assiste na definição das categorias lexicais: “Die Bildfelder teilen alle semantischen Merkmale mit den Bedeutungsfeldern, sie lassen sich auffassen als die Verbindung jeweils zweier Bedeutungsfelder. Haben die beteiligten Bedeutungsfelder unscharfe Grenzen, so sind auch die Grenzen der Bildfelder unscharf.” (Weinrich, 1976:326)

5

De realçar a proximidade que existe entre Weinrich: “Wir benutzen auf Schritt und Tritt in unserer alltäglichen Rede Metaphern” e os princípios defendidos por Lakoff e Johnson em “Metaphors we live by” (1980)

(21)

16 a “Bildspanne” que determina se o sentimento de contradição é superior ou inferior, mas sim a relação que a metáfora estabelece com a realidade, com a experiência vivida por cada ser humano. Weinrich explica através de um exemplo retirado de um poema de Paul Celan: “schwarze Milch”:

“Mir scheint, hier zeigt sich ein bestimmtes Verhältnis zur Realität. Wenn sich eine Wortfügung mühelos mit der sinnlichen Welt in Einklang bringen läßt, nehmen wir sie ohne weiteres hin: weiße Milch. Wenn sich eine Wortfügung sehr weit von der sinnlich erfahrbaren Realität entfernt und sehr verschiedene Gegenstände verbindet, etwa Stoffliches und Geistiges, nehmen wir sie auch ohne Zögern hin: traurige Milch. Von dieser Art sind unsere alltäglichsten Metaphern. Wenn aber eine Wortfügung um ein geringes von den Erfahrungen der sinnlich erfahrbaren Realität abweicht, dann nehmen wir den Widerspruch stark wahr und empfinden die Metapher als kühn: schwarze Milch.” (Weinrich, 1976:305)

Convém assinalar ainda que, na sua óptica, a metáfora também depende do contexto, tal como foi referenciado no esquema: “Denn Metaphern kommen in lebendiger Rede nicht isoliert vor, sondern stehen immer in einem Kontext.” (Weinrich, 1976:311). Este poder de determinação contextual - “Kontextdetermination” - deve ser tido em conta não apenas nos textos, mas também no âmbito das relações com outras metáforas, com outros campos conceptuais, o que nos remete de novo para o conceito da metáfora conceptual:

“Es kommt hier ein anderer Gesichtspunkt hinzu. Nicht nur vom Gegenstand der Beschreibung her ist die Metapher stark kontextdeterminiert, sondern auch von anderen Metaphern her. (…) Die stärksten Stützen einer Metapher sind dabei die metaphorischen Nachbarn, wenn sie aus dem gleichen Bildfeld stammen. Also auch das Bildfeld als die semantische Heimat einer Metapher ist zu berücksichtigen.” (Weinrich, 1976:312-313)

É imprescindível referir ainda o carácter unidireccional da metáfora que Weinrich também reconhece, nomeadamente, quando refere campos conceptuais já convencionalizados:

“Es [Umkehrbarkeit] gilt jedoch nicht ebenso selbstverständlich für die Bildfelder, die als traditionelle und soziale Gebilde gewöhnlich einsinnig sind. (...) Die Metapherntradition hat hier einer Metaphernrichtung den Vorzug gegeben, und mit dieser Gerichtetheit hat sich die Metapher zum Bildfeld entfaltet, ist zu einer nicht mehr stilistischen, sondern sprachlichen Realität geworden.” (Weinrich, 1976:315)

(22)

17 Acreditamos que as posições de Weinrich aqui apresentadas demonstraram que este deverá ser aceite como um precursor da semântica cognitiva e que as suas reflexões constituem um valioso contributo para o desenvolvimento deste paradigma.

Numa pequena reflexão sua mais recente (“Einige Kategoriale Überlegungen zur Leiblichkeit und zur Lage der Sprache” 1995), Weinrich tece algumas considerações sobre o pressuposto cognitivo da corporização da conceptualização (“Thought is embodied” – Lakoff (1987))6. Weinrich aborda a importância do corpo, da fisionomia humana e do posicionamento físico aquando de um acto comunicativo, nomeadamente em contexto de diálogo (“kommunikative Dyade” (1995:409)):

“Die conditio humana ist in dieser Hinsicht eine conditio corporea. Die Kommunikations-Anthropologie ist daher immer eine Kommunikations-Anthropologie der Leiblichkeit, und eine Linguistik, die sich diese Sichtweise zu eigen macht, hat sich, um es mit einem Ausdruck Nietzsches (1966:III, 453) zu bezeichnen, «am Leitfaden des Leibes» zu orientieren.” (Weinrich, 1995:410)

Retomando um dos princípios fundamentais do paradigma cognitivo - a conceptualização da realidade através de uma rede de imagens e modelos mentais – considerámos pertinente fazer alusão a Leo Weisgerber, por ter desenvolvido alguns estudos importantes neste mesmo domínio7. O ponto de partida das suas reflexões foi a tese de que o pensamento/raciocínio humano não se desenvolve directamente com base no mundo físico real, mas sim indirectamente através das imagens mentais que formamos desse mesmo mundo8. O domínio mais importante, que estabelece um elo de ligação entre o mundo

6

veja-se também Lakoff/Johnson (1999) 7

Vide Weisgerber, Leo „Die inhaltbezogene Grammatik“, 1953; „Das Menschheitsgesetz der Sprache“, 1964; e „Die vier Stufen in der Erforschung der Sprachen“, 1963.

8

Muito no sentido da teoria de “Weltansicht” e “innere Sprachform” de Humbold: “Die Sprache ist nichts anderes, als das Komplement des Denkens, das Bestreben, die äußeren Eindrücke und noch dunkeln inneren Empfindungen zu deutlichen Begriffen zu erheben, und diese zu Erzeugung neuer Begriffe miteinander zu verbinden. (...) Die Sprache muß daher die doppelte Natur der Welt und des Menschen annehmen, um die Einwirkung und Rückwirkung beider aufeinander wechselseitig zu befördern; oder sie muß vielmehr in ihrer eigenen, neu geschaffenen, die eigentliche Natur beider, die Realität des Objekts und des Subjekts, vertilgen, und von beiden nur die ideale Form beibehalten. (...) Das heißt: es soll eine freie Übereinstimmung zwischen den ursprünglichen das Gemüt und die Welt beherrschenden Grundformen geben, die an sich nicht deutlich angeschaut werden können, die aber wirksam werden, sobald der Geist in die richtige Stimmung versetzt ist - eine Stimmung, die hervorzubringen gerade die Sprache, als ein absichtslos aus der freien und natürlichen Einwirkung der Natur auf Millionen von Menschen, durch mehrere Jahrhunderte, und auf weiten Erdstrichen entstandenes Zeugnis, als eine ebenso ungeheure, unergründliche, geheimnisvolle Masse, als das Gemüt und die Welt selbst, mehr, wie irgend etwas andres hervorzubringen imstande ist. So wenig das Wort ein Bild der Sache ist, die es bezeichnet, ebenso wenig ist es auch gleichsame eine bloße Andeutung, daß diese Sache mit dem Verstande gedacht, oder der Phantasie vorgestellt werden soll.Von einem Bilde wird es durch die Möglichkeit ist, sich unter ihm die Sache nach den verschiedensten Ansichten und auf die verschiedenste Weise vorzustellen; von einer solchen bloßen Andeutung durch seine eigne bestimmte sinnliche Gestalt unterschieden.Das Denken behandelt nie einen Gegenstand isoliert, und braucht ihn nie in dem Ganzen seiner Realität. Es schöpft nur Beziehungen, Verhältnisse, Ansichten ab, und verknüpft sie. Das Wort ist nun bei nicht bloß ein leeres Substratum, in das sich diese Einzelheiten hineinlegen

(23)

18 concreto dos objectos e o mundo mental individual, necessariamente subjectivo, é exactamente a língua, a “gedankliche Zwischenwelt” segundo Weisgerber:

“Neben der Humboldtschen Konzeption von Sprache als Energeia steht hier bei Weisgerber, wieder an zentraler Stelle, ein weiterer Humboldtscher Begriff. Die sprachliche Zwischenwelt ist, als zugleich `gedankliche Zwischenwelt' bzw. 'Denkwelt' (ebd., S. 149), nicht einfach Abbild der Welt der Sachen, sondern sie enthält „das Ergebnis der gedanklichen Verarbeitung dieser Welt. Es gehen also neben der Wirkung der 'Sachen' selbst auch die besonderen Gesichtspunkte und Wertungen in sie ein, die den Menschen bei seinem Beachten, Auffassen und Beurteilen der Erscheinungen leiten" (ebd., S. 13). Die Begriffe 'sprachliche Zwischenwelt' und `gedankliche Zwischenwelt' werden synonym verwendet, allerdings präzisiert Weisgerber seine Auffassung vom Verhältnis Denken — Sprache (!) dahingehend, Sprache als Energeia trage die gedankliche Auseinandersetzung der Sprachgemeinschaft als einer 'Erkenntnisgemeinschaft' mit ihrer Lebenswelt (vgl. ebd., S. 14). Aus der bereits referierten Einsicht, die Sprachgemeinschaft sei als Lebens- und Handlungsgemeinschaft dynamisch, leitet Weisgerber schließlich ab, auch die Zwischenwelt sei nicht statisch, in der Sprache aufgehoben, sondern „etwas Tätiges, Weiterwirkendes" (ebd., S. 14). Daraus wiederum folgert er, die Sprache stehe „in unmittelbarster Wechselwirkung mit allen Kräften des Menschen", sie sei „gebend wie nehmend [!] an all seinen Werken beteiligt" (ebd., S. 15), so daß sich 'Kulturschaffen' und Aufbau/Modifikation der Zwischenwelt in ihrer jeweiligen Form und in ihren jeweiligen Ergebnissen wechselseitig bedingten.“ (Dittmann, 1980:49-50)

Note-se o destaque que Weisgerber atribui ao conceito lato de Lebenswelt como elemento dinâmico da interdependência entre a língua e mundo mental. A língua sintetiza e organiza os processos perceptivos e cognitivos ao fornecer uma estrutura ao pensamento. A metodologia seguida por Weisgerber propõe dois níveis analíticos:

“Auf der gestaltbezogenen Betrachtungsstufe hat man sich mit der phonetischen und morphologischen Erscheinungsweise sprachlicher Formen zu beschäftigen, d.h. mit allem, was Träger geistiger Inhalte sein kann und was deshalb die unmittelbare empirische Grundlage aller Sprachforschung bildet. Auf der anschließenden inhaltsbezogenen Betrachtungsstufe hat man sich dann mit den geistigen Inhalten sprachlicher Formen zu beschäftigen, die sich in einer Sprachgemeinschaft konventionell stabilisiert haben und die der geistigen Zwischenwelt angehören. Diese geistigen Inhalte dürfen auf keinen Fall mit

lassen, sondern es ist eine sinnliche Form (…).“ Wilhelm von Humboldt, Schriften zur Sprache, (Hrsg. Michael Böhler), Stuttgart 1973 in http://www.mauthner-gesellschaft.de/mauthnr/hist/humb.html [Consult. 16.10.2010] 9

Weisgerber, Leo (1949), Die Sprache unter den Kräften des menschlichen Daseins, 1. Aufl., Pädagogischer Verlag Schwann, Düsseldorf.

(24)

19

den tatsächlichen Sachen oder Sachverhalten verwechselt werden, auf die sich sprachliche Formen in der konkreten Sprachverwendung beziehen können, denn sie repräsentieren nur die Interpretationsmuster, mit denen die Welt des Seienden erfaßt werden soll. Die Sprachinhalte sind deshalb nach WEISGERBER auch nicht als bloße geistige Reflexe vorgegebener Strukturen und Ordnungseinheiten der Welt aufzufassen, sondern als Ergebnisse der geistigen Auseinandersetzung mit der Welt.” (apud Wilhelm Köller,

Philosophie der Grammatik, Stuttgart 1988 in

http://www.mauthner-gesellschaft.de/mauthner/tex/koell6.html [Consult. 16.10.2010])

Na sua obra Das Wunder der Sprache: Probleme, Methoden und Ergebnisse der Modernen Sprachwissenschaft, de 1950, Walter Porzig, que pode ser considerado um dos precursores mais significativos do paradigma cognitivo, foi claramente influenciado pela abordagem de Weisgerber. Esta influência é particularmente visível no capítulo 9, com o título “Die Leistung der Sprache”, pois inspira-se na obra de Weisgerber de 1932: Die Stellung der Sprache im Aufbau der Gesammtkultur. Nele, Porzig aborda questões ligadas ao papel da língua na vida real e concreta, nomeadamente no que concerne a forma como apreendemos a realidade no mundo que nos rodeia e como o conceptualizamos, caracterizando a língua como: „Vorbedingung und Mittel für die Kulturleistungen der Menschheit" (Porzig, 1950:344). Para além deste capítulo, esta obra aprofunda e desenvolve o conceito dos campos semânticos (“Bedeutungsfelder”), na senda de Weisgerber, desbravando o caminho para uma nova teoria da metáfora. Este começa por abordar no capítulo “Die Richtigkeit der Namen” a questão da origem da atribuição de nomes a novas descobertas e objectos inventados. Porzig considera dois processos: o primeiro baseia-se numa inspiração inter-linguística, recorrendo às antigas línguas grega e/ou latim (exemplos: automobil e bicycle); o segundo inspira-se nos campos de conhecimento semelhantes, i.e. por “empréstimo” lexical: “Bezeichnungen aus verwandten Sachgebieten zu entlehnen” (Porzig, 1950:35). Contudo, é possível reconhecer a activação destes dois processos em contextos que ultrapassam a necessidade da “Namengebung” a criações e eventos inovadores como, por exemplo, na descrição de paisagens naturais, nas quais uma montanha era compreendida como um corpo, possuindo pés e costas10. Porzig explica este fenómeno da seguinte forma:

10

“Die Frage der Namengebung stellt sich nicht nur, wenn ein ganz neuer Sachverhalt zum ersten Male bennant werden muß, sondern auch, wenn ein bekannter Sachverhalt aus irgendeinem Grunde einen neuen Namen bekommen soll. wir sprechen vom Rücken oder Kamm, von den Flanken, von der Schulter, vom Fuße, von der Nase eines Berges - alles eigentlich Namen von Teilen des tierischen Körpers. Wer diese Bezeichnungen zuerst anwendete, sah in dem Berge ein Tier, der Kamm läßt etwa an einen Drachen denken . (...) Bei der Landzunge liegt offenbar die Anschauung eines Tieres zugrunde, das mit weit ausgestreckter Zunge Wasser schlürft. (...) Auch bei einem Gefäß sprechen wir von der Schnauze.“ (Porzig, 1950:39)

(25)

20

“Die Sprechenden sahen sich in diesen Fällen vor der Aufgabe, Geländeformen und Gefäßformen zu benennen, die in ihren Einzelheiten offenbar keine festen Namen hatten. Nun sah man in sie menschliche oder tierische Gestalten hinein und gewann so ungesucht die notwendigen Namen. Der Vorgang ist im Leben der Sprache sehr häufig. Man nennt ihn Übertragung oder mit fremden Fachausdruck Metapher.” (Porzig, 1950:40)

Porzig, preferindo a tradução alemã de Übertragung, em vez do grego Metapher (até porque Übertragung evidencia na perfeição o processo conceptual de transferência de um domínio-fonte para um domínio-alvo) desenvolve o que considera serem as motivações subjacentes a este fenómeno. Realça, por exemplo, o fenómeno da conceptualização de conceitos abstractos ou estados emocionais através de domínios físicos, concretos e familiares, baseados na experiência vivenciada. Mais ainda, considera que o significado emergente é prontamente compreendido pelo falante comum, de forma inconsciente até, tornando a comunicação mais eficaz e inteligível:

“Den Hauptvorteil bietet die Übertragung, wenn man von seelischen oder unanschaulichen Sachverhalten sprechen will. Die heitere Stimmung ist übertagen vom heiteren, d.h. ‚leuchtenden‘ Himmel. Lahme Entschuldigungen, faule Ausreden, schiefe Darstellungen, fadenscheinige Begründungen sagen auch dem Laien sofort, woher der übertragene Ausdruck gekommen ist. Es leuchtet so unmittelbar ein, daß man erst nachdenken muß, um den ‚eigentlichen‘, d.h. nicht übertragenen Ausdruck zu finden, wie ungeschickte Entschuldigungen, ungenügende Ausreden, ungenaue Darstellungen, unzureichende Begründungen. Der Versuch lehrt, daß die ‚eigentlichen‘ Ausdrücke weniger geläufig sind als die übertragenen und daß sie nur verneinende Bestimmungen geben, während die übertragenen die Sachverhalte positiv kennzeichnen können.“ (Porzig, 1950:40)

Na mesma linha, Porzig explora a divisão entre a exterioridade e interioridade, defendendo a experiência do corpo e do espaço físico circundante como fundamental para a conceptualização de conceitos abstractos, como, por exemplo, o tempo:

“Und wirklich kann die Sprache nur von Äusserem reden. Wo sie Inneres meint, muß sie es gleichsam in Äusseres übersetzen. Schon die Rede von «innen» und «aussen», wenn wir Seele und Welt meinen, ist ja eine Übersetzung. In Wirklichkeit ist das Verhältnis von Seele und Welt gar kein Räumliches. Aber die Sprache übersetzt alle unschaulichen Verhältnisse ins Räumliche. Und zwar tut das nicht eine oder eine Gruppe von Sprachen, sondern alle ohne Ausnahme. Diese Eigentümlichkeit gehört zu den unveränderlichen Zügen («Invarianten») der menschlichen Sprache. Da werden die Zeitverhältnisse räumlich ausgedrückt: vor und nach Weihnachten, innerhalb eines Zeitraums von zwei Jahren. Bei seelischen Vorgängen sprechen wir nicht nur von aussen und innen, sondern auch von über

(26)

21

und unter der Schwelle des Bewußtseins, vom Unterbewußten, vom Vordergrunde und Hintergrunde, von Tiefen und Schichten der Seele. Überhaupt dient der Raum als Modell für alle unanschaulichen Verhältnisse (...). (Porzig, 1950:156)

Já Jean Piaget, nos estudos que realizou sobre a aquisição da linguagem e do pensamento das crianças, assim como a criação do conceito temporal nas crianças, chegou à conclusão de que a compreensão do tempo parte, em primeira instância, do domínio do espaço físico. Mentalmente, a noção do espaço físico é substituída pela noção abstracta do tempo, mantendo, contudo, os pontos de referência espaciais. Conclui-se assim, que o conceito ‘tempo’ se desenvolveu a partir do conceito espacial, o que é claramente reconhecível através dos recursos linguísticos utilizados logo em tenra idade, durante o processo de aquisição linguística:

“Der Raum ist eine Momentaufnahme der Zeit, und die Zeit ist der Raum in Bewegung; beide bilden die Gesamtheit der Beziehungen der Einschachtelung und der Ordnung, die die Gegenstände und ihre Raumänderungen charakterisieren” (Piaget, 1946/1974:14) “Die Zeit verstehen, heisst also durch geistige Beweglichkeit das Räumliche zu überwinden.” (Piaget, 1946/1974:365)

É de facto indiscutível que o domínio espacial está omnipresente nas vivências do dia-a-dia, assim como na linguagem de todos os falantes. Partindo do princípio de que toda a existência humana decorre num contexto espacial, considera-se o espaço como o domínio fulcral de interdependência entre a linguagem e a cognição. As expressões espaciais constituem, assim, esquemas estruturais que servem de modelos cognitivos para expressões de carácter não espacial, o que realça o papel determinante que a organização espacial detém na cognição humana.

Já segundo Aristóteles, o espaço é concebido não como um local abstracto, mas sim como um lugar de experienciação. Kant secundou esta opinião, afirmando: “Der Raum ist eine grundlegende, [...] gar a priori gegebene Erfahrungsqualität des Menschen.”11 Registe-se que, enquanto corrente neo-kantiana, a semântica cognitiva realça a dimensão espacial como domínio central na cognição humana:

“Se é aceite que a Semântica Cognitiva (...) põe em relevo muitas das vivências e cognições humanas, não custará, assim, aceitar o facto de haver uma dimensão vivencial que a mesma Semântica Cognitiva tem demonstrado ser um referencial inultrapassável: o espaço.” (Teixeira, 2001:15)

11

(27)

22 Se o espaço físico, e a experiência vivida desse mesmo espaço, é uma das experiências humanas mais elementares, e se este domínio é a base referencial das representações linguísticas espaciais, é fácil conceber que esse mesmo espaço concreto e, consequentemente, as suas representações linguísticas sirvam igualmente como suporte referencial a conceitos abstractos. Através do domínio espacial, mais facilmente podemos ‘visualizar’ os modelos com que configuramos e conceptualizamos uma realidade abstracta. Assiste-se a um mapeamento de domínios com a consequente projecção metafórica das representações linguísticas. Isto acontece devido ao facto de noções abstractas serem conceptualizadas como espaços dimensionais

A presente perspectiva da função metafórica alarga o escopo da mesma, abandonando a visão da metáfora como mero ornamento estilístico ou simples alternativa linguística ocasional para descrever eventos. A metáfora revela processos mentais recorrentes que evocam imagens mentais completas e ricas, o que, por sua vez, se prende com o conceito de Frame, muito no sentido de Fillmore12, ou Umgebung, de acordo com Porzig:

“Die Übertragung ist also nicht ein gelegentlicher Notbehelf, sondern ein regelmäßiges und verbreitetes Verfahren, anschauliche Bezeichnungen zu schaffen, wo solche nicht zur Verfügung stehen oder unbrauchbar geworden sind. Sie setzt voraus, daß jedes Wort in einen Bereich gehört, wo es eigentlich verwendet wird. Außerhalb dieses Bereichs steht es ‚übertragen‘, aber es bringt dabei gewissermaßen die Luft seiner eigentlichen Umgebung mit, und darauf eben beruht seine anschauliche und eindringliche Wirkung.“ (Porzig, 1950:40)

Os já referidos campos semânticos - Bedeutungsfelder ou syntaktische Felder, segundo Porzig - contribuem para uma arquitectura de mapeamentos conceptuais e Porzig reconhece que estes têm fronteiras fluidas pelo que se interligam: “Einbegreifende und aufteilende Bedeutungsfelder stehen nicht gleichgültig nebeneinander, sondern durchdringen sich.“ (Porzig, 1950:73), e que quanto mais latos os campos são, menos definidos são os seus limites:

“Schon die wenigen hier andeutungsweise erwähnten Wortfelder zeigen, daß die Schärfe der Konturen nachläßt, je ausgedehnter das Feld wird. Felder wie rechts, links oder essen, trinken leuchten auf den ersten Blick ein und bedürfen keiner Ausarbeitung aber die Namen der Geräte oder der Hantierungen z. B. in einer Küche müssen eingehend erläutert werden ehe die Feldgliederung klar wird.“ (Porzig, 1950:119)

12

Fillmore, C., 1977, “Scenes-and-frames semantics”, Linguistics Structures Processing, Amsterdam/New York: North Holland Publishing Company, Antonio Zampolli (ed.), pp. 55-81; Fillmore, C., 1982, “Frame Semantics”,

(28)

23 Esta teoria dos campos semânticos - Wortfeldtheorie - foi igualmente aprofundada por Jost Trier13 na década dos anos 30 do século passado, sendo considerado uma das principais figuras da semântica estruturalista. Apesar de Eugenio Coseriu ser de nacionalidade romena, devido ao facto de algumas das suas obras mais proeminentes terem sido publicadas em alemão14, merece ser aqui referenciado. Entre as principais contribuições de Coseriu para o paradigma cognitivo, destacamos a redefinição dos conceitos saussureanos de langue e parole, ou seja, entre a língua, enquanto sistema abstracto, e a fala, enquanto realização concreta desse sistema. Coseriu defende que a língua deve ser perspectivada a partir de dois níveis de abstracção: a) o sistema como entidade abstracta, colectiva e geral, memorizada na mente de todos os falantes de um grupo linguístico e b) a norma como padrão colectivo de uso, incluindo o modo como os falantes recorrem à língua, preferindo certas formas e preterindo outras. Finalmente existe a fala, ou seja, o uso individual da língua por parte do falante, como realização ou concretização do sistema em actos comunicativos com o intuito de exteriorizar sentimentos e pensamentos, desejos e necessidades.

Todos estes linguistas contribuíram para a compreensão gradual da indissociabilidade e a correlação entre o mundo experienciado e a língua assim como a forma como a mesma estrutura e organiza o pensamento. A teoria dos campos semânticos e o desenvolvimento do conceito de conhecimento linguístico revelaram-se ferramentas metodológicas úteis para o crescimento do paradigma cognitivo, nomeadamente no que diz respeito à teoria dos modelos cognitivos como alicerce interpretativo.

Cabe-nos ainda citar os linguistas alemães Wolf Andreas Liebert e Olaf Jäckel, pelo seu contributo no estudo do fenómeno da metaforização. O primeiro dedicou-se a estudar a ubiquidade da metáfora, não só nos usos linguísticos quotidianos (“Metaphernbereiche der deutschen Alltagssprache: kognitive Linguistik und die Perspektiven einer kognitiven Lexikographie” (1992)) mas também em domínios tão diferentes como a doença e a ciência, respectivamente: “Metaphernreflexion in der Virologie. Das theoriesprachliche Lexikon der Metaphernmodelle als Sprachreflexionsmittel im Forschungsprozeß (TLMSF). Eine exemplarische Studie am Beispiel der Aidsforschung“, Mannheim (1995) e

13

Este defende que: “Felder sind die zwischen den Einzelworten und dem Wortschatzganzen lebendigen sprachlichen Wirklichkeiten, die als Teilganze mit dem Wort das Merkmal gemeinsam haben, dass sie sich ergliedern, mit dem Wortschatz hingegen, dass sie sich ausgliedern.(...) Darin liegt die Bedeutsamkeit des Feldbegriffes: er ist das Denkmittel, das es einer empirischen Forschung ermöglicht zur Erfassung und Darstellung des Gliederungswandels und damit zur Geschichte des Sprachinhalts vorzudringen.“ (Trier, 1934/1973:148-149) 14

Por exemplo: Coseriu, E., 1970, Einführung in die strukturelle Betrachtung des Wortschatzes. In Zusammenarbeit mit Erich Brauch und Giesela Köhler, Hsg. Gunter Narr, Tübingen: Gunter Narr Verlag; Coseriu, E., 1973, Probleme

der strukturellen Semantik, Ed. Dieter Kastovsky, Tübingen: Gunter Narr Verlag:; Coseriu, E., 1988, Sprachkompetenz: Grundzüge der Theorie des Sprechens, Bearbeitet und herausgegeben von Heinrich Weber,

(29)

24 “Metaphernbereiche der virologischen Aidsforschung“ In: Lexicology 1. (1995); “Wissenstransformationen: Grundfragen Der Experten-Laien-Kommunikation Am Beispiel Der Ozonlochdebatte” (2002).

Quanto a Jäckel, cujo estudo incide sobre a análise das metáforas no discurso económico, para além de apresentar uma síntese bastante exaustiva das teorias semântico-cognitivas actuais (particularmente da chamada corrente norte-americana), enriqueceu o seu estudo com uma visão diacrónica da teorização sobre a metáfora desde Aristóteles à actualidade. Dedica também um capítulo aos precursores teóricos do paradigma cognitivo, tal como já foi desenvolvido anteriormente no presente ponto desta dissertação, no qual faz uma justa referência aos valiosos contributos destes investigadores. Por fim, procede a uma análise onomasiológica da conceptualização dos conceitos abstractos “Geistestätigkeit”, “Wirtschaft” e “Wissenschaft”.

Por fim, consideramos pertinente fazer referência ao linguista alemão Hans Glinz que, segundo afirmações do próprio, se inscreve no paradigma cognitivo, rebatendo, consequentemente, a ideia de que um estudo de cariz semântico-cognitivo se funda exclusivamente na abordagem cognitiva proposta pela escola americana. Referimo-nos, concretamente, à sua obra: “Grammatiken im Vergleich” de (1994), elaborada a partir do postulado da dimensão conceptual das representações simbólicas.

Glinz cedo se interessou pela teoria saussuriana, pois reconhecia nas mesmas vantagens para o ensino da língua alemã (no exercício das suas funções como docente da língua alemã) devido ao facto de explorarem questões de aquisição e de uso linguístico. Apesar de sentir que este paradigma não o satisfazia por completo, concordava, até certo ponto, com os pressupostos teóricos básicos de Saussure:

“But all of these minor or major modifications I made for myself in reading the Cours did by no means diminish the usefulness of the basic views and principles I found there (…) – primarily the view of language as a truly historical phenomenon, and therefore an "un-ideal" system or complex of systems (which, by the way, is in full contradiction to the claims and practices of "system-builders" like Chomsky).”15

Porém, na tentativa de compreensão dos sistemas complexos inerentes às línguas, familiarizou-se com os estudos de Weisgerber, tendo encontrado na obra deste autor pistas de pesquisa valiosas que apontavam, para além da função comunicativa da língua, para aspectos de enfoque cognitivo:

15

in “Hans Glinz: Languages and their Use” –Texto do próprio, publicado on-line em http://www.sprachtheorie.de [Consult. 18.10.2010]

Referências

Documentos relacionados

O objetivo deste trabalho foi realizar o inventário florestal em floresta em restauração no município de São Sebastião da Vargem Alegre, para posterior

25 de Outubro, 968, Centro Telefone: (51)3654-3823 Horário de Atendimento: Especialidades atendidas: Acupuntura Cardiologia Clínica Médica Dermatologia Endocrinologia

Como parte do Estratégia Nacional para Gestão de Desastres Naturais, o CEMADEN tem por objetivo desenvolver, testar e implementar um sistema de previsão de.. ocorrência de

O presente trabalho foi realizado em duas regiões da bacia do Rio Cubango, Cusseque e Caiúndo, no âmbito do projeto TFO (The Future Okavango 2010-2015, TFO 2010) e

Quanto às suas desvantagens, com este modelo, não é possível o aluno rever perguntas ou imagens sendo o tempo de visualização e de resposta fixo e limitado;

Como parte de uma composição musi- cal integral, o recorte pode ser feito de modo a ser reconheci- do como parte da composição (por exemplo, quando a trilha apresenta um intérprete

O relatório encontra-se dividido em 4 secções: a introdução, onde são explicitados os objetivos gerais; o corpo de trabalho, que consiste numa descrição sumária das

libras ou pedagogia com especialização e proficiência em libras 40h 3 Imediato 0821FLET03 FLET Curso de Letras - Língua e Literatura Portuguesa. Estudos literários