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GRUPO DE TEATRO A OCUPAR AS RUAS DA CIDADE DE LAGES COMO ESPAÇO TEATRAL

1.2.3 A rua: o espaço cênico vital para o grupo

De acordo com as fontes pesquisadas podemos concluir que o grupo Gralha Azul inaugura, pelo menos na cidade de Lages, a prática do teatro de rua. Para Lavoura (2004:122) o grupo Gralha Azul não só modificou e atualizou a abordagem estética, como também desenvolveu outra concepção ideológica sobre o teatro de seu tempo e espaço de atuação. Ainda segundo a pesquisa deste autor, verificamos que o grupo ensaiava suas peças muitas vezes em pleno calçadão, no centro da cidade, fora dos espaços eminentemente teatrais.

Apresentaram-se nas ruas, nos pátios das escolas, construindo assim espetáculos versáteis que também foram apresentados nos palcos italianos. Tinham como objetivo alcançar o maior número possível de espectadores e levar a arte teatral para todas as pessoas possíveis, pessoas estas que muitas vezes nunca teriam a oportunidade de freqüentar uma sala de teatro.

Imagem n°4 – grupo Gralha Azul em apresentação da Praça João Costa, 1979 – Lages. Na foto da direita para a esquerda aparecem: Lôta Lotar, Valmor Beltrame (Nini) e Hector Grillo. Material cedido do acervo particular de Valmor (Nini) Beltrame.

Como podemos observar na matéria acima, o grupo Gralha Azul movimentou a cultura local não só com suas apresentações, como também com a promoção de eventos, junto à Prefeitura Municipal, como o citado na matéria. Estes eventos ocorriam com o intuito de abrir espaço para outros artistas, de fora da cidade ou mesmo outros artistas locais. Sempre com a intenção de fomentar a arte e a livre expressão das pessoas.

Para o grupo Gralha Azul, a rua, tornou-se uma alternativa ao espaço convencional italiano. Pois, foi na rua que descobriram um espaço possível para sustentar os anseios do grupo e da administração local, que era o da popularização do teatro. Assim, as peças alcançavam grande parte da população lageana, pois, como já citado, eram apresentadas não só no centro da cidade como nos bairros e distritos próximos. Para Hector Grillo: “O teatro sempre foi popular e deve ser feito na rua, do contrário viverá sempre em crise”.11 Confirmava-se uma opção estética e uma ação política através da

escolha do espaço de representação.

Em cena ousavam na proposta estética, além da utilização de espaços não tradicionais para o teatro, utilizavam sonoplastia executada pelos próprios atores e mesclavam máscaras, bonecos, fantoches, num universo fantástico. O grupo não foi pioneiro apenas na abordagem espacial e estética de seus espetáculos, como também foi o primeiro grupo da região serrana que propôs uma abordagem de enredos locais, extraídos da tradição popular, e trabalhou em seus espetáculos a cultura da região. Hector Grillo ao comentar a importância da opção regional do grupo, afirma: “tratar o folclore local dando- lhe forma cênica, com o objetivo de difundir uma realidade, para fortalecer a cultura do povo, que conhecendo melhor as suas fantasias, cresce em sua capacidade de manifestar-se”.12 Para Grillo o palco ao debater e provocar o imaginário da região possibilitava que o seu publico identificasse suas raízes e com isso estaria em melhores condições de se expressar. Estava, assim, justificada, a necessária busca do grupo Gralha Azul pela cultura popular e pelo imaginário da região serrana para fundamentar a base textual de seus espetáculos.

A qualidade técnica, o empenho dos artistas e as inovações cênicas trazidas pelo grupo fizeram com que este alcançasse grande destaque durante toda sua existência. O trabalho do Gralha Azul também atraiu para Lages os olhares do Serviço Nacional de Teatro (SNT), órgão que na época, entre outras coisas, subsidiava o trabalho de teatro amador nas diferentes regiões do país. Em julho de 1978 foi firmado um convênio entre a prefeitura de Lages e o SNT. Convênio no valor de cento e dezenove mil cruzeiros, assinado na gestão de

11 O Estado. Florianópolis 05 abr.1979. 12 Correio Lageano, Lages, 04 abr.1979.

Orlando Miranda, então diretor do SNT, que esteve pessoalmente em Lages para conhecer de perto o projeto de popularização do teatro promovido pela administração do município.13 Assim, além de desenvolver projetos ligados à

prefeitura, com o passar do tempo o Gralha Azul começou a alçar vôos mais altos. Ainda no ano de 1978 o grupo foi convidado para participar pela primeira vez de um festival de teatro a nível nacional, na cidade de Curitiba, participando do festival de Teatro Infantil.

O grupo se dedicou também a outras atividades artísticas, assim, em dezembro de 1978, o Gralha Azul lançou em Lages um caderno literário. Tal caderno intitulado Caderno de Notas e Poesias destinava-se a compartilhar com a população lageana as experiências do grupo, que até o momento já havia montado trabalhos de repercussão nacional como: Lages, lá, lá... Lages, gê... gê..., de Hector Grillo (1978) e No Planalto Sul Tropical do Sol, também de Hector Grillo (1978). O caderno que trazia além de poesias, notas e comentários sobre arte, tinha o intuito de abrir espaço para colaborações e servir como incentivo à produção dos artistas e poetas locais. Neste momento o Gralha Azul era considerado por seus participantes e pela imprensa local um movimento cultural significativo para a cidade. Em entrevista concedida ao Jornal Correio Lageano, em função do lançamento do Caderno de Notas e Poesias, Hector Grillo ao ser indagado sobre os resultados esperados do movimento cultural executado pelo Gralha Azul, coloca:

Não posso dizer nada. Nossa função é simplesmente – como aquele que está frente a um incêndio, como toda gente que só grita fogo, fogo! A arte não modifica nada, pelo menos de momento. A arte enriquece aqueles que a realiza. Como há em cada ser humano um artista adormecido, nossa esperança é despertar-lhe o interesse de manifestar-se.14

O grupo Gralha Azul, como podemos notar na fala de Grillo, não esperava fazer uma revolução social através da prática artística. Seus integrantes, pelo menos de acordo com a fala de Grillo, não pensavam estar fazendo política ou revolução. Esperavam sim propor e alcançar mudanças

13 Correio Lageano, Lages, sábado, 1° jul.1978. 14 Correio Lageano. Lages, 04 abr.1979.

pessoais. Transformação que ocorre em cada participante do fazer artístico e que revoluciona, por assim dizer o seu estar no mundo, seu modo de ver as coisas. A arte como ferramenta de transformação pessoal, e só assim possível de reverberar no social.

Com a missão de dar prosseguimento aos trabalhos do grupo, Hector Grillo dirige em 1978 o texto Lages, lá, lá... Lages, gê... gê...Neste mesmo ano ingressa no Gralha a premiada atriz argentina de televisão e teatro Olga Romero, que posteriormente virá a dirigir o grupo. Fernando Fierro, mesmo adoentado continuou a dar sua colaboração ao grupo. O Gralha Azul dá prosseguimento aos seus trabalhos, cada vez alçando vôos mais longos. O grupo começou a apresentar-se também em outras cidades e estados, como Blumenau, Joinville, Brusque e nos festivais como o Festival de Ouro Preto, em Minas Gerais. A peça Lages, lá, lá... Lages, gê... gê..., abordava uma lenda da região, sobre uma serpente e o rio que circunda o centro da cidade. Utilizava técnicas de bonecos de vara e atores. Através do caderno programa do projeto Mambembão (1980) constatamos que o espetáculo apresentou-se inúmeras vezes em Lages e participou do IV Seminário da Dramatugia infantil, em Curitiba.

No Planalto Sul Tropical do Sol espetáculo produzido pelo Gralha Azul, entre os anos de 1978 e 1979 , foi o último que contou com a participação de Fernando Fierro, pois este ano também foi marcado pela morte do precursor do grupo. Fernando Fierro faleceu em Lages, com 34 anos, vítima de câncer.

Com o espetáculo No Planalto Sul Tropical do Sol o grupo também voltou a participar de festivais. Segundo André Carreira em sua obra Teatro de Rua – Brasil e Argentina nos anos 1980 – Uma Paixão no Asfalto, na década de 1970, os festivais de teatro amador representaram um espaço significativo para a circulação e produção do teatro de rua no Brasil. O autor salienta ainda que a Confederação Nacional de Teatro Amador (CONFENATA), além de agir no fomento de apresentações de diversos grupos, contribuiu para a ampliação do número de festivais no país. Nos anos de 1980, de acordo com o autor, o número de festivais cresceu e com isto o espaço para o teatro de rua nos festivais também foi ampliado. Este fato estimulava o trabalho dos grupos e fazia com que ocorresse um intercâmbio de linguagens entre grupos de diferentes partes do Brasil.

Com o espetáculo - No Planalto Sul Tropical do Sol, o grupo conquistou grande êxito para além da cidade de Lages, a montagem extrapolou as questões didáticas vinculadas aos projetos da prefeitura e avançou nas questões estéticas.

Imagem n°5 – Material cedido por Valmor (Nini) Beltrame

A imprensa local, O Correio Lageano, de dezembro de 1978, deu grande destaque à participação do grupo no Festival de Ouro Preto, e chamava a atenção de seus leitores para o fato de ser este grupo o único a representar Santa Catarina neste Festival. As reverberações da viagem à Minas Gerais foram significativas, pois o grupo realizou espetáculo nas ruas de Ouro Preto, ministrou curso e participou do Congresso Brasileiro de Teatro de Bonecos,

atividade paralela ao Festival.Com No Planalto Sul Tropical do Sol o grupo passou por muitas cidades brasileiras.

A peça conta a história da filha de Correia Pinto, fundador de Lages. É composta por aproximadamente 50 bonecos de luva, além da utilização de máscaras e a atuação de atores. Com este trabalho o Gralha passou pela Mostra de Teatro Amador do Estado, na cidade de Blumenau, além de apresentar diversas vezes nas praças de Lages e ser convidado a participar do 8°Festival Brasileiro de Teatro de Bonecos, na cidade de Ouro Preto, em Minas Gerais

É interessante observar que apesar do reconhecimento e acolhida em outros estados brasileiros, o Gralha em nenhum momento, da gestão de Dirceu Carneiro, deixou de movimentar e agitar a pequena cidade de Lages. Sua atuação era marcante e permanente na cidade, especialmente estimulando o fomento artístico do município.

Imagem n°6 - Material cedido por Lôta Lota

Teatro na praça já se tornava um hábito para os lageanos. Muitos finais de semana foram vivenciados pelo Gralha Azul em praça pública, oferecendo outro tipo de lazer, para os moradores da cidade. Outros artistas se integram ao movimento, a cidade vivia um período cultural bastante rico. E como bem

podemos perceber na matéria acima, “com grande afluência de populares”, o que significa que o público, a população da cidade atribuiu importância a este momento e participou desta fase culturalmente ativa da cidade.

Já no final de 1979 o grupo inicia a elaboração de outro trabalho, desta vez a montagem aborda a questão sobre a ave que deu nome ao grupo: a gralha azul. Baseado em um conto do escritor lageano Manoel da Silva, o grupo constrói o novo espetáculo cujo tema é a devastação de pinheiros que vinha ocorrendo na região e o problema da extinção da ave gralha azul, ave semeadora dos pinheiros. Com E a Gralha Falou, de Hector Grillo (1979) o grupo foi convidado para abrir o Festival de Teatro Estudantil de Lages, apresentou-se também no Teatro da Universidade Federal de Santa Catarina (Igrejinha), além da participação na Conferência Nacional do Meio Ambiente, realizada na cidade de Joinville.

O grupo fazia-se referência nacional, seu trabalho merecia o devido reconhecimento local, estadual e nacional. O jornal O Estado, em 1980, através de uma matéria escrita por Vera Collaço, ressalta o pioneirismo e a qualidade técnica deste trabalho:

Verificou-se em 1980 um crescimento das atividades teatrais em Santa Catarina [...]. O teatro se expande para as ruas e praças em busca de um novo público, novos temas são abordados, o trabalho volta-se para a realidade que nos cerca. O processo de criação adapta-se à processos mais abertos da criação coletiva, a peça passa a ser resultante de um trabalho de equipe e não da visão de um diretor ou de um produtor. Estas novas propostas, que alteram de modo enriquecedor o teatro catarinense, tiveram como ponto de partida o trabalho inovador do Grupo Gralha Azul, de Lages, que abriu uma perspectiva para o teatro popular, para uma alegria cênica, que podemos traduzir como sendo a transformação do palco num jogo, numa brincadeira séria.

Durante seu tempo de existência, relativamente curto, o grupo Gralha Azul, apoiado pela prefeitura municipal, produziu muito e conquistou seu espaço tanto no âmbito regional quanto nacional. Os objetivos do projeto de popularização do teatro foram além das expectativas e ultrapassaram os limites territoriais da cidade, tendo em vista a participação do grupo em diversos festivais pelo Brasil. Tudo isto rendeu à Lages, no ano de 1980, a condição de cidade-sede do IX Festival de Teatro de Bonecos e o VI Congresso da

Associação Brasileira de Bonecos. De acordo com reportagem do jornal O Estado, de 14 de dezembro de 1979:

A cidade de Lages foi escolhida para sediar o IX Festival, segundo a ABTB em consideração ao trabalho que a prefeitura municipal vem desenvolvendo nesta área com o projeto lageano de popularização do teatro, através do Grupo Gralha Azul. O trabalho vem se realizando há dois anos e tem o objetivo de incrementar, popularizar, resgatar e identificar a cultura popular desta região.

A conquista para sediar o festival de bonecos colocou a cidade de Lages no foco das atenções. A notícia da realização do Festival na cidade foi destaque em jornais de todo país.

Nos anos de 1980, após o sucesso da realização do Festival de Bonecos em Lages, o Grupo, a convite de Almério Belém (representante do SNT para a região Sul) integra a programação do Projeto Mambembão. Tal Projeto, realizado através do SNT, visava à apresentação de espetáculos produzidos nos diversos estados brasileiros nas cidades de Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo. Numa espécie de grande amostragem da arte teatral produzida no território brasileiro, e tendo como local de exposição às cidades “mais significativas” do país. Com o espetáculo E a Gralha Falou o grupo Gralha Azul representou Lages no projeto Mambembão, apresentando-se em São Paulo e no Rio de Janeiro. A participação do Grupo lageano obteve grande êxito tanto junto ao público quanto junto à crítica especializada, como podemos verificar abaixo em crítica escrita por Yan Michalski:

Imagem n°7 – crítica escrita por Yan Michalski e publicada no Jornal do Brasil, em 1° de fevereiro de 1980.

O grupo Gralha Azul oriundo de Lages, criado despretensiosamente através de um curso de formação de atores, e que compôs o plano de popularização do teatro da prefeitura local, conquistou lugar no cenário nacional. Após a participação no Projeto Mambembão, o Gralha Azul foi ainda mais longe: o único grupo de teatro do Brasil a representar o país no Festival Internacional de teatro de bonecos de Biasko-Biala na Polônia.

A oportunidade de participar do festival surgiu quando o grupo recebeu um boletim da ABTB em forma de convite [...] Cada integrante do grupo se dispôs a pagar sua própria passagem, já que o convite dá direito apenas à estadia e a alimentação. (O Estado de São Paulo. São Paulo, de 21 mar.1981)

De acordo com a pesquisa de Lavoura (2004:131) a crítica internacional no IX International Puppet Theatre Beilsko-Biala, realizado na Polônia, de 11 a 18 de maio de 1980, consagrou três países, dentre os sessenta e três participantes do festival, como melhores do mundo no gênero: Índia, Romênia e Brasil, sendo o grupo Gralha Azul o representante brasileiro.

Nos documentos consultados, também é possível detectar que nesta viagem para a Polônia, viajaram apenas Hector Grillo, Olga Romero e Jean Pierre Barreto Leite, ficando os demais em Lages, por diferentes motivos. A parte do grupo que embarcou para a Polônia apresentou-se ainda na Itália e em algumas cidades na França e na Espanha, desta viagem, apenas Olga Romero retornou à Lages, enquanto os outros dois integrantes permaneceram na Europa. Iniciou-se aí um processo de desarticulação do grupo, que neste momento já não mais contava com sua formação original.

Na década de 1980 o grupo ainda investiu em novos trabalhos, neste período sob a direção de Olga Romero recebeu ainda um último e importante integrante: Adeodato Rodhen, que participou da fase final do Gralha Azul, apresentando-se ainda em muitos festivais pelo Brasil e exterior. Nesta nova formação o grupo montou novos espetáculos, na década de oitenta: A revoada da Gralha, que resgata a própria história do grupo através de fotos, bonecos, cartazes, slides e críticas de jornais; Verdades que parecem Mentiras e O Trenzinho sem Trilhos, além de A Caminhada do Espantatudo nas Asas da Gralha Azul. Com este último, o grupo mais uma vez saiu do Brasil, quando

participou em 1982, a convite do Ministério da Educação e Cultura da Argentina, do Festival Internacional de Teatro de Bonecos em Mendonza, na Argentina.

A Caminhada do Espantatudo nas Asas da Gralha Azul foi o último espetáculo montado pelo Gralha Azul. A partir do final de 1982 e início de 1983 os jornais passam a anunciar o fim da história do Grupo. Este era também o momento em que a administração pública passaria por eleições e todo o apoio que o grupo vinha obtendo junto à prefeitura municipal estaria ameaçado.

A notícia de que o grupo deixaria Lages vem estampada no jornal O Correio Lageano, de 1983 através da manchete: “Gralha Azul não vai permanecer em Lages” A notícia esclarece que “tendo conhecimento de que a futura administração do município vai alterar sua proposta no que concerne ao setor cultural, o Grupo Teatral Gralha Azul vai se transferir de Lages para outra cidade, estado ou país.” Ainda na notícia veiculada neste jornal podemos constatar a reação da imprensa local, onde se diz: “A transferência do Gralha Azul para outra cidade é uma notícia que muito nos desagrada, pois trata-se de um grupo de jovens que tem sabido elevar bem alto o nome da cultura teatral de nossa terra”.

Já no jornal local O Estado de 1983 podemos perceber o enfraquecimento do grupo, que se mantinha através de apoio do poder público municipal, através de uma colocação de Adeodato Rodhen, onde diz que:

O principal pecado do ex-prefeito Dirceu Carneiro – cuja administração voltada para a solução comunitária dos problemas do município tornou-se conhecida nacionalmente gerando até livros e um filme – foi não fazer um sucessor político partidário, levando-o por isso à derrota. Como o partido do governo dispunha de uma grande “máquina” e lançou seu candidato praticamente dois anos antes das eleições, levou a vantagem final. Houve a tradicional coação, através da distribuição de alimentos, roupas, etc., e parte da população foi levada por isso. Mas as pessoas ainda acreditam em nossa proposta cultural, apesar da divisão aparente do grupo, e sentem falta do grupo em Lages.

A partir do final de 1982 e início de 1983 os jornais passam a anunciar o fim da história do Grupo. Este era também o momento em que a administração

pública passaria por eleições e todo o apoio que o grupo vinha obtendo junto à prefeitura municipal estaria ameaçado.

Em depoimento ao jornal O Estado, de 1983, o grupo resume a sua importância histórica: “Plantamos uma semente, o tempo é que vai dizer”. Sem sombra de dúvidas, hoje, quase três décadas após o furacão Gralha Azul, podemos vislumbrar os frutos da semente plantada pelo grupo. Apesar do movimento teatral na cidade de Lages não ter mais contado com o apoio do poder público, (pelo menos não tanto quanto no projeto de popularização do teatro da década de 1970), de lá pra cá é possível perceber a proliferação de grupos amadores na cidade e destacar o trabalho de um grupo que corajosamente vem desenvolvendo um trabalho de teatro profissional em Lages. O grupo Menestrel Faze-dô que a exemplo do Gralha Azul, faz das ruas de Lages o palco para suas apresentações, porém, sem contar com uma retaguarda municipal de financiamento. Este grupo será objeto de estudo dos próximos capítulos desta dissertação.

Ao término desta parte da pesquisa, onde tratamos de questões referentes à constituição urbana da cidade de Lages e da história do grupo Gralha Azul, é possível responder a alguns questionamentos que movem esta investigação. Com o breve panorama histórico traçado neste capítulo, percebemos que a atividade teatral na cidade de Lages é uma prática antiga e que sempre esteve presente na história do desenvolvimento deste centro