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GRUPO DE TEATRO A OCUPAR AS RUAS DA CIDADE DE LAGES COMO ESPAÇO TEATRAL

1.2.2 Em ação: o projeto de popularização do teatro

Um dos projetos que o grupo desenvolveu, junto à prefeitura, consistiu em realizar trabalhos voltados para a conscientização do “povo”, tais como, as campanhas de educação sanitária nas comunidades, ou ainda auxiliando médicos e professores nas campanhas contra cáries, veiculadas para crianças dos bairros da cidade. Um ano após a realização de projetos como este de prevenção a cáries, uma pesquisa realizada pela Secretaria Municipal de bem- estar social, constatou que o índice de cáries nas crianças que haviam participado do projeto diminuiu em 80%.8

Outro trabalho produzido pelo grupo e registrado no Caderno Programa do Projeto Mambembão (SNT), de 1980, foi o espetáculo Viva o Verde, um processo de criação coletiva sobre a ecologia. Este trabalho foi apresentado em 15 escolas da rede municipal de ensino, e 18 comunidades rurais do

8 Este é um tipo de dado que pode ser pensado como simples “marketing” da prefeitura. Mas, era sem dúvida uma campanha interessante e importante junto a população carente.

município como programação da Semana de Prevenção do Meio Ambiente vista por aproximadamente 18 mil pessoas.

Simultaneamente a este trabalho de caráter mais efetivamente pedagógico, o grupo manteve uma busca estética-política de uma prática teatral que teve início em 1977 com espetáculo Um Pouco de Tudo. Com este espetáculo o grupo Gralha Azul se apresentou em muitos bairros da cidade e também em alguns distritos próximos. No registro encontrado num jornal da cidade de Brusque, podemos perceber a proposição e o alcance do projeto proposto:

No último sábado, mais de 200 pessoas em Correia Pinto riram, aplaudiram e participaram desta experiência de popularização do teatro. Após um debate aberto ao público no final daquela apresentação, foi levado como síntese que “o ator joga e se comunica realmente a partir de imagens comuns a todos”.9

No âmbito estético o Gralha Azul inovou, e trouxe para o público de Lages e região um novo olhar para a arte teatral. No programa da peça Um pouco de Tudo, estavam colocados os objetivos iniciais deste novo grupo que despontava na “Princesa da Serra”:

Pretendemos mostrar algumas das técnicas utilizadas pelo teatro moderno nos centros mais avançados de ensino. A pantomima moderna e clássica, a improvisação livre, improvisação dirigida, a expressão corporal, são utilizadas nesta montagem feita sem maiores pretensões que as de mostrar novas experiências teatrais.

Nosso objetivo é demonstrar praticamente a possibilidade de realizar um teatro vivo. Onde os atores possam criar livremente sem que fiquem presos aos velhos esquemas do teatro.

Demonstrar que se pode fazer teatro ao mesmo tempo em que se ensina como fazê-lo. Demonstrar também que se pode “jogar” com teatro sem maiores pretensões e requintes cenográficos e técnicos, no que implica um grande desgaste de tempo e dinheiro.10

9 Tribuna de Brusque. Brusque,10 a 16 mar.1978.

10 Texto extraído do material de divulgação do espetáculo Um pouco de Tudo – Acervo gentilmente cedido para a pesquisa por Lôta Lotar, um dos integrantes do grupo Gralha Azul.

Através da colocação acima podemos observar o desejo de trazer inovações para o teatro de Lages, tanto no âmbito estético como no âmbito da própria prática artística. A figura de Fernando Fierro, vindo de outro país e tendo experiências diversificadas na área das artes cênicas, marcou a história do teatro em Lages, pelas suas contribuições que passavam muito pela idéia de atualização da arte dramática na cidade. Além disso, podemos destacar como objetivos do grupo Gralha Azul, através da fala citada acima, um embate com um teatro “velho”, e o grupo representando o novo, o vivo. E o novo se fará pelo jogo; o jogo como princípio de trabalho de atuação e também a interação entre diretor e atores, espaço onde é possível se fazer teatro, ao mesmo tempo em que se ensina como fazê-lo.

Com Um pouco de Tudo, o grupo se apresentou em diversos distritos e núcleos populacionais da região serrana, participando também com esta montagem do debate A influência do Teatro na Comunidade, evento que ocorreu na Casa de Cultura, em Joinville, no mês de novembro de 1979.

Podemos nos questionar se o grupo Gralha Azul fazia teatro ou política? E respondo esta questão com as palavras de Guénoun:

Pode-se dizer que o teatro faz política? Não, não exatamente, O teatro acontece no espaço político, mas ele faz com que ai aconteça algo diferente do que a política faz acontecer. Há teatro no lugar da política (dentro de seu espaço, mas também em seu lugar – como uma usurpação). A representação teatral consiste em produzir, na área assim organizada, determinada – uma outra palavra, outros signos, outros adventos de sentido. (2003:41).

O engajamento político explícito dos membros do grupo não fez deles uma agremiação política, e sim um grupo teatral, cujo princípio estético entrecruzava com a política, na crença de formação do cidadão através do estético. A não renuncia à teatralidade, ao jogo, ao teatral propriamente dito é que tornou possível este cruzamento e riqueza do grupo.

Pouco tempo depois da formação do grupo Gralha Azul, Fernando Fierro acometido de doença grave, chama para colaborar nos trabalhos o dramaturgo e diretor, também argentino, Hector Grillo. Hector Grillo já era conhecido no Brasil, tendo inclusive sido premiado em 1972, como ator e diretor teatral.

Como grupos de teatro são coletivos dinâmicos e na maioria dos casos, a permanência de seus integrantes muitas vezes não tem continuidade, algumas pessoas abandonaram o grupo após o primeiro trabalho e outros integrantes além de Hector Grillo, ingressaram no grupo em 1979, entre estes: Jean Pierre Barreto Leite e Valmor (Nini) Beltrame.