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Capítulo III – Problemática da Investigação

6- Qual a percepção que as professoras têm sobre o impacto da formação no

2.1 Procedimentos de recolha e análise de dados

2.1.2 A supervisão clínica

Desenvolvida nos E.U.A. no final dos anos 50 por Cogan, Anderson e Goldhammer, na Universidade de Harvard, Massachusetts, a supervisão clínica constitui-se como um compósito de orientações que visam melhorar o ensino dos professores na sala de aula, ou clínica, como era designada nesta perspectiva essencialmente para se diferenciar de outras práticas supervisivas de índole mais geral. Embora tenha sido concebida inicialmente no âmbito da formação inicial para tentar dar resposta ao descontentamento demonstrado pelos alunos, relativamente ao facto de os seus supervisores não conseguirem ensiná-los a ensinar, tem-se verificado um alargamento progressivo desta estratégia ao âmbito da formação contínua e do desenvolvimento profissional de professores.

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Tal procedimento também foi adoptado para nós (A) e para os nossos alunos. As aulas serão identificadas por um número seguindo uma ordem cronológica, sendo também atribuída uma numeração própria às intervenções verbais dos sujeitos em cada aula.

Vários autores (Cogan, 1980; Goldhammer et al, 1993; Anderson & Snyder, 1993; Sergiovanni & Starratt, 1993) concebem a supervisão clínica como um ciclo em que interagem diferentes fases. Embora a configuração exacta de cada um destes estádios varie de autor para autor, Goldhammer et al (op.cit.) faz uma descrição do ciclo que é representativa do género e que se pode visualizar no esquema que se segue.

Fig. 11- Fases do ciclo da supervisão clínica segundo Goldhammer et al (1993)

Quando a supervisão clínica é adoptada, o encontro de pré-observação representa uma oportunidade excelente para o estabelecimento de uma relação de confiança e respeito mútuo, sem a qual se torna difícil proceder livremente à discussão e reflexão sobre múltiplos aspectos relacionados com a aula a observar, como por exemplo a qualidade dos materiais, as competências a desenvolver nos alunos, a identificação de possíveis problemas ou a própria estratégia a seguir na observação da aula, entre muitos outros.

Relativamente à observação da aula propriamente dita, importa referir que, embora as docentes assistissem às aulas directamente sempre que possível, a análise e reflexão sobre a mesma tinha lugar num momento posterior, em que todas (re)visionavam a aula em vídeo individualmente. Este visionamento já era acompanhado da leitura e análise do respectivo protocolo3 e, após a sistematização da informação recolhida, as professoras reuniam-se num encontro de pós-observação, assumindo um papel activo, revendo os dados e reflectindo em conjunto sobre a actuação pedagógica da docente observada. Importa ainda referir que quer os seminários que antecediam quer os que se seguiam à aula eram genericamente orientados por um guião ao qual nos reportaremos com maior detalhe ainda

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Dependendo das condições acústicas das salas, a investigadora poderia facultar o protocolo da aula já numa versão definitiva ou num primeiro esboço que, no caso, seria completado com a colaboração das restantes docentes. Análise de dados e planificação de estratégias de discussão Encontro pré-observação Análise do ciclo da supervisão Observação Encontro pós-observação

nesta fracção capitular, que pretendia conferir um maior grau de estruturação às sessões de supervisão, bem como provocar uma reflexão sistemática sobre e para a acção.

O último momento deste ciclo da supervisão clínica consiste na avaliação da própria acção supervisiva para aferir da produtividade da mesma e considerar as modificações necessárias das práticas e técnicas utilizadas, com vista a facultar uma resposta mais adequada às necessidades e acções futuras dos intervenientes. Também nesta fase, e em virtude da dimensão investigativa a que o estudo também atende, optámos por recorrer ao preenchimento de um guião relativo às necessidades e preocupações das professoras no sentido de facilitar o tipo de análise que o projecto requer.

Importa ainda referir que os seminários de pré- e de pós-observação ocorreram ao longo de todo o ano lectivo com uma periodicidade semanal e tiveram uma duração aproximada de duas horas, perfazendo um total de quarenta sessões e de aproximadamente oitenta horas. Contudo, e para além destas reuniões, que tinham lugar num horário fixo e num local pré-determinado, a ordem de trabalhos destes encontros acabava por se prolongar no tempo e no espaço, assumindo é certo uma tónica mais informal, e manifestando-se nos vários momentos e locais em que as docentes se cruzavam ao longo da semana. Nestes encontros mais breves também se procedia à partilha de opiniões, sentimentos e pontos de vista, e tudo isto contribuiu para a configuração desta estratégia supervisiva como um mecanismo de apoio e de assistência ao professor, imbuída num ambiente relacional em que imperavam sentimentos como a amizade, o respeito mútuo e a autenticidade. A este propósito, Goldhammer et al (op.cit.) afirmam mesmo que a supervisão clínica é mais importante enquanto conceito do que enquanto método, pois só uma relação assente em princípios humanistas pode potenciar uma atmosfera conducente à mudança do professor em formação.

Profundamente revestida por uma auréola reflexiva, a supervisão poderá potencialmente contribuir não só para a mudança das práticas, mas também para o desenvolvimento cognitivo dos intervenientes, propiciando a sua passagem de níveis de reflexão elementares e de natureza mais técnica para patamares cujo teor Sá-Chaves (1999b) classifica de metacognitivo e metapráxico. Como veremos posteriormente, esta transição manifestou-se a vários níveis, sendo visível, por exemplo, no facto de as docentes tenderam a assumir uma maior responsabilidade não só pelo seu crescimento profissional,

mas também pelas diversas fases do próprio processo supervisivo, passando a supervisão clínica a assumir uma tónica eminentemente colegial.

Tendo por alicerces a reflexão, a acção e a colegialidade com vista à melhoria do desempenho do docente na aula, esta estratégia formativa aproxima-se da investigação- -acção de natureza colaborativa, a que já nos referimos no capítulo anterior enquanto modelo de desenvolvimento profissional, e que, por isso, abordaremos aqui de modo bastante sumário.