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Uma pessoa criativa tem pouco poder sobre a sua própria vida Ela não é livre É cativa e

2.4 A teoria evolutiva da consciência de Connie Zweigg

Zweigg (1994), fundamentando-se em Jung, percebe que, assim como a evolução biológica, a evolução da consciência caminha em estágios que são revelados através de experiências específicas no interior da psique: desde o processo de indiferenciação e fusão com a mãe, passando pelo processo de separação como início da individuação e expansão do ego, logo o processo de especificação do ego e nascimento do self, para finalmente viver o processo de integração das dualidades psíquicas e da sombra. Contudo, ao contrário da evolução biológica, o crescimento psicológico é um processo autoconsciente, ou seja, é

possível nominá-lo de alguma forma e exige empenho e propósito para mover-se adiante.

Na perspectiva desta autora, ainda o processo de desenvolvimento pode ser

acelerado com determinadas práticas que intensificam nossas experiências intemas (como

meditação, psicoterapia, auto-análise consciente da experiência, etc.), bem como o conhecimento prático de como integrar essas experiências numa vida consciente.

Alguns dos pressupostos que baseiam esta teoria são os seguintes:

- Existe uma crescente ânsia (desejo) nas mulheres de ser autenticamente femininas, de se experimentar integralmente como uma mulher e, ao mesmo tempo, ser um indivíduo forte e independente, cujo poder e autoridade estão enraizados dentro de si.

- Nossa sociedade é estmturada de tal forma que deixa essa ânsia (desejo) insatisfeita. Uma mulher não pode ser, ao mesmo tempo, uma adulta saudável e vuiia mulher ideal. Se adotar uma atitude vocal capaz, será considerada demasiado masculina e, portanto, irá se tomar uma pessoa sem atrativos e até ameaçante para os homens. Por outro lado, se escolher um estilo de feminilidade definido pelos homens e por uma cultura dominada pelos homens, ela ficará dependente, sem poder e sem escolhas.

- Ao escutar a voz das mulheres, emerge um padrão particular de desenvolvimento que se ajusta no quadro maior da evolução humana e que parece não ter direção, nem propósito, mas revela-se de uma forma ordenada. Ao mesmo tempo, este desenvolvimento da consciência se dá em nível pessoal-individual e coletivo-cultural. O desenvolvimento psicológico individual recapitula todo o desenvolvimento das espécies. Assim, estamos intimamente conectados a todos os seres humanos em qualquer estágio da evolução.

- Aqueles poucos indivíduos que desenvolvem modos avançados de percepção e de consciência podem servir como balizas que apontam o caminho para os outros. Este

princípio pode ser verdadeiro não apenas para santos e sábios, que parecem constituir ligas adiante de nós mas pode, também, significar que aquelas pessoas que estão realizando o trabalho da diferenciação psicológica guardam igualmente as chaves para o nosso futuro (Zweigg, 1994: 12-15).

2.4.1 Os estágios de evolução da consciência

Zweigg (1994) propõe sua visão evolutiva da consciência em três estágios: o nível de consciência matriarcal, o nível da consciência patriarcal, e o nível da consciência do feminino emergente.

Fundada nas teorias da psicologia analítica de Carl Gustav Jung, ela denomina masculino e feminino como princípios e padrões universais inatos na psique, aos quais Jung deu o nome de arquétipos. Eles estão presentes no inconsciente e no consciente, tanto em mulheres como homens. O princípio feminino nos homens é chamado de anima, e o princípio masculino nas mulheres é chamado de animus. A anima corresponde ao Eros

materno, e o animus corresponde ao Logos paterno. Enquanto o consciente da mulher é

feminino e caracterizado pela sua vinculação ao Eros, que é a fimção do relacionamento, seu inconsciente é masculino ou animus, caracterizado pelo Logos, que é a fimção diferenciadora e cognitiva. No homem, seu inconsciente é feminino sob o princípio da

anima ou Eros e via de regra (ao menos em culturas patriarcais) aparece menos

desenvolvido do que o Logos, que é a caraterística de seu consciente (Jung, 1988: 29). O feminino e o mascuhno, então, referem-se a uma das estruturas da consciência humana. Constituem dois modos de perceber e reagir de nossa consciência que são distintos entre si. Expressam-se em distintas imagens, comportamentos e respostas emocionais. Por exemplo, o aspecto feminino de nós mesmas poderia reagir a luna enfermidade contemplando-a por seus significados simbólicos e nutrindo-a lentamente de volta à saúde; o masculino poderia reagir movendo-se rapidamente com um procedimento

invasivo para remover os sintomas. Ambas as abordagens têm valor e são convocadas sob circmistâncias distintas (Zweigg, 1994).

Nas tradições psicoespirituais no mundo, o feminino e o masculino são metáforas - raízes para designar a polaridade que existe nos mundos natural e simbólico, em muito semelhante às bem conhecidas qualidades chinesas yin-yang, que se encaixam vmia à outra no interior de um todo maior. Como disse Jung do feminino e masculino: "este par primordial de opostos simboliza todos os pares concebíveis de opostos que possam existir: quente e frio, claro e escuro, norte e sul, seco e molhado, bom e mau, consciente e inconsciente" (Jung, 1976: 11).

Psicologicamente, se uma pessoa se mantém inconsciente de imi dos pólos, então ele ou ela desiste da propriedade desse traço e perde seus dons por projetá-lo para fora. Quando uma mulher projeta seu masculino, o animus num homem, toma-se dependente desse homem para que ele carregue seu animus, exige dele um padrão de comportamento centrado no Logos, e ela fica encapsulada no seus traços de Eros, no mundo do sensível, e dos relacionamentos (Jung, 1976: 12).

Quando essa projeção acontece com um grande número de pessoas, como ocorreu em nossa sociedade ocidental, então os homens ficam responsabihzados de carregar todas as qualidades do masculino, como o pensamento analítico, independência e orientação por

metas. Às mulheres são negadas essas qualidades, e elas ficam responsabilizadas de

carregar os traços femininos como sentimentos, interdepedência e orientação por

processos. Aos homens, por sua vez, são negadas essas qualidades. Por outro lado, se uma

pessoa está ciente de ambos os pólos, o masculino e o feminino, então existe uma dinâmica harmoniosa dentro da psique. Como resultado, toma-se possível um desenvolvimento mais global de uma ampla gama de capacidades e possibilidades. Além disso, a relação entre esses dois princípios é recíproca: à medida em que o feminino de uma mulher é trazido à sua consciência e revelado, ele permite o crescimento de um princípio masculino mais forte que, por sua vez, dá sustentação a um feminino definido com maior clareza (Zweigg, 1994: 22

).

O processo de desenvolvimento da consciência segue um padrão em estágios que se dão em nível individual e coletivo: o estágio de consciência matriarcal, o estágio de

consciência patriarcal, e o estágio de consciência do feminino emergente. Eles não seguem uma ordem linear; seguem uma ordem dinâmica, em processos que avançam e regridem, evidenciando predominância de uma determinada consciência sobre as outras em um determinado momento do ciclo de vida.