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5.1 Em relação à concepção teórica diante da realidade.

As propostas teóricas da Zweigg et al. (1994), com respeito ao desenvolvimento da consciência do feminino e masculino em estágios, mesmo estágios interligados e dinâmicos, divide analiticamente (e teoricamente) uma realidade que na experiência de vida destas mulheres, se apresenta sempre vinculada e relacionada, como um todo. Porém entendemos que ela não está propondo um desenvolvimento linear do humano, mas de estágios interligados e dinâmicos.

Neste trabalho, ao escutar a voz das mulheres para compreender a evolução de sua consciência de gênero, encontrou-se que os princípios de consciência masculinos e femininos aparecem no transcurso de suas experiências de vida, ora predominando um elemento ou dimensão do masculino patriarcal ou do masculino que ajuda na construção de si mesmo, ora predominando mais o feminino inconsciente matriarcal-regressivo ou o feminino- adaptativo-patriarcal ou o feminino-emergente-criativo. Ou seja, os princípios do feminino e masculino estão sempre existindo, mostrando-se e desvelando-se em relações dinâmicas, enfatizando uma dimensão ou outra e mais ou menos integrados segundo o momento da vida e do desenvolvimento da mulher.

O momento de meia idade parece um tempo privilegiado para integrar um pouco mais os dois princípios e fazê-los mais conscientes, quando se tem a oportunidade de falar.

comunicar e trocar com outra pessoa as experiências de tomar-se mulher. Ou seja, durante este momento existencial a pessoa realiza uma certa avaliação de sua própria vida diante de sua finitude e diante da experiência vivida, o que propicia as decisões de mudanças.

O desenvolvimento da consciência de gênero, do masculino e do feminino emergente, parece ter múltiplos caminhos para seu desenvolvimento. Eles estão inscritos na própria vida da pessoa, porém na dinâmica interativa do sujeito na sua sociocultura, esses padrões de gênero individuais refletem os de seu macrocontexto sociocultural. Na situação destas mulheres entrevistadas, revelou-se uma dinâmica que avança e regride através de padrões de consciência de gênero patriarcal e matriarcal tradicionais, polarizados e hierarquizados em papéis sexuais na sua infância e adolescência. Logo na vida adulta, por ter que enfrentar as contingências inevitáveis e transições da vida que geram ou acordam conflitos, vêem-se orientadas pelo princípios de consciência masculina (a luta por conseguir metas, a força para vencer as dificuldades, a objetividade para avahar as situações, etc..) e pelo princípio de consciência feminina emergente quando conseguem dar-se conta de que sua submissão às situações de subordinação e domínio do homem (companheiro, esposo) que bebe, maltrata, ou não frabalha, não têm que ser assumido por ela como uma cruz qué deve levar por natureza. Neste momento, elas acordam para vima nova consciência de gênero, que irá se desenvolvendo pouco a pouco, na medida que elas conseguem ter autonomia e independência financeira. Nestes momentos de crise, o acompanhamento de outras mulheres pode ser muito importante, para fransitar as mudanças de forma mais prazerosa, e para iniciar um caminho de reeducação da sua consciência. E é neste contexto que as intervenções intencionais têm sentido e eficácia.

As mulheres que construem suas famílias segundo o estilo agrícola tradicional da sua família de origem, apresentam inconsciência de gênero, conservam os papéis sexuais de esposa e mãe, e agora de avó, como o cenfro de suas vidas, pareciam estar em aparente harmonia com suas vidas, porém mais apagadas, tristes e apresentavam maiores queixas somáticas (sobretudo cansaço no corpo) e doenças físicas, o qual pode ser lido como uma outra forma de comunicar seu mal-estar de gênero (Burin, 1990). Para estas mulheres, as vozes coletivas e militantes de denúncia das diversas formas em que as mulheres continuam sendo subordinadas, exploradas, e oprimidas nesta sociedade, constituem uma

estratégia válida, para orientar as mudanças que ainda se têm que fazer a nível sociocultural, para conseguir a igualdade de direitos entre os sexos, no nível das relações institucionais e no nível das relações cotidianas.

Os trabalhos pessoais de desenvolvimento da autoconsciência intencional do tipo dos "raísing groups", psicoterapias, práticas espirituais tipo orientais e trabalhos corporais, se justificam quando têm sido criados para facilitar e acelerar os processos de mudanças nas pessoas, como assinala Zw^eigg (1994; 12). Porém, o processo de transformação e desenvolvimento pessoal tem seu próprio ritmo de mudança em relação à própria dinâmica das experiências de vida, aos processos de reflexão consciente e aos processos de integração do inconsciente. Este ritmo é único e singular para cada pessoa. Tentar acelerar ou direcionar os processos de transformação pessoal, invade a intimidade e ameaça o que se pretende construir: a autonomia e direito de cidadania.

Cada pessoa terá que aprender diante da vida as experiências que são desafios a vencer, as que são relações a curtir, ou vivências a explorar. Cada pessoa tem o segredo de sua própria construção. Contudo, sendo pessoas inseridas e vinculadas aos contextos socioculturais, o processo de viver significa a interação constante com esse meio ao qual é impossível subtrair-se. Ou seja, se existem mudanças hoje na consciência de gênero, é porque umas poucas mulheres acordaram a consciência de outras e juntas mobilizaram a sociedade, num processo que ainda está em pleno desenvolvimento, em plena luta, ainda quando aparentemente apareça meio dormido nestes momentos.

A reconstrução da consciência de gênero, nas mulheres, tem mobilizado as mulheres de classe média, profissionais e acadêmicas que se fizeram responsáveis pela articulação coletiva de uma voz denunciadora. Agora é o momento de construir também o caminho da diferença, do cultivo de sí-mesma como sujeito, na sua singularidade, mas isto não significa negar a luta necessária ainda para superar as situações de discriminação e exploração de classe, racial, étnica, moral, religiosa, económica, sexual, etc. de muitas mulheres sobre este planeta.

Este processo de transformação deve-se estender aos homens. Eles, inconscientes de seus processos de desenvolvimento, têm sido igualmente sujeitos a diversas formas de dominação e exploração como as mulheres, têm sido manipulados nos seus desejos e papel

sexual, têm sido estimulados no seu processo de desenvolvimento afetivo para reagir com agressividade como forma masculina aceita de relacionamento com os outros, e a reprimir toda a gama de emoções sensíveis de afeto, intimidade, dor e pena, e da proximidade afetiva em geral. Os homens precisam de homens que falem e trabalhem coletivamente nestes temas do masculino emergente, para fazê-lo diálogo público porque o fiituro o solicita.

A evolução da consciência de gênero individual só é possível mediante a construção coletiva dessa consciência, e esse diálogo tem que tomar seu espaço de agora em diante. O desenvolvimento dialético do pessoal e coletivo permite criar esta nova consciência de gênero, porque sendo pessoas vinculadas com os outros e o contexto, sendo pessoas em relação constante, sendo pessoas em movimento de avanço e retrocesso, nas trocas múltiplas da vida, podemos recriar-nos neste processo de nos tomarmos constantemente mais conscientes.

Neste sentido, a contribuição das teorias feministas e, em particular a da evolução da consciência feminina proposta por Zweigg et al. (1994), não vai direcionada a eliminar e agredir aos homens; pelo contrário, o movimento de criação da consciência de gênero inclui ambos os sexos: homens e mulheres, e tem potencial para pensar sobre o masculino emergente, como o processo de integração nos homens de sua consciência feminina e masculina. Neste sentido esta perspectiva do desenvolvimento da consciência de gênero apresenta múltiplas possibilidades de perspectivas de anáhse, de concreção, e de ação.

Até hoje, as feministas merecem o reconhecimento pela vocalidade, coragem e compromisso nas lutas e conquistas obtidas para desenvolver na humanidade a consciência de gênero, e a situação e condições de opressão das mulheres respeito dos homens nas sociedades especialmente as de países em vias de desenvolvimento. Por outro lado, o movimento também permitiu tomar consciência e deter as situações vergonhosas de desigualdade e exploração de algiunas mulheres, e ainda fez visível outras desigualdades de raça, etnia, classe, sexo, etc. Os frutos destas contribuições refletem-se nas mudanças que estão acontecendo no nível macro-social, onde as mulheres têm ganho espaço e reconhecimento como cidadãs de plenos direitos, e os homens têm ganho reconhecimento como pessoas com direito a serem sensíveis e a assumirem novos papéis sociais. Estas

mudanças refletem-se em novos padrões de consciência gênero e de papéis sociais em jovens latino-americanos, como assinala Rodó (1993).

Sinais de mudanças em Enfermagem.

Formas de estudar e construir conhecimento.

Neste sentido, as contribuições das pesquisas feitas por Enfermeiras das Universidades no Brasil'®, têm demostrado um novo olhar mais compreensivo sobre as experiências das mulheres no contexto sociocultural brasileiro, como o demonstram publicações dedicadas ao tema da saúde das mulheres, na UFSC, a partir do ano 1988*’ e recentemente em 1997'*, na revista Texto & Contexto Enfermagem de jan/abr, dedicado as mulheres. (Kantorski, Moreira, Luz, 1997; Silva, 1997; Landerdahl, 1997; Marcon, et ais, 1997; Nascimento, Santos, de Souza, 1997; Souza, Simões,1997; Mandú, Silva, 1997; Almeida, Passos, 1997; Zampieri, 1997; Santos, Custódio, 1997; Backes, 1997).

Este conjunto de novos conhecimentos pode ser lido como o fundamento para as transformações dos sistemas de atendimento na saúde das mulheres no Brasil, e como modelo para outros países da América Latina, que ainda quando possam estar até em melhor situação de desenvolvimento econômico, não têm conseguido as transformações para criar uma consciência da necessidade de desenvolver modelos de pesquisas compreensivos em saúde. Como estas pesquisas o demostram, quando se consideram os processos de vida desde as experiências situadas em pessoas concretas, desvela-se uma realidade que é muito mais complexa e rica, pois é considerada na perspectiva daqueles que estão sendo protagonistas da vida, e apresentam enfermagem como uma profissão sensível e sohdária com as mulheres. Os modelos socio-históricos oferecem leituras críticas sobre os processos que têm tomado alguns paradigmas de pensamento dominantes sobre os outros e que se apresentam quase como imodificáveis, tomando as pessoas e o coletivo vazios de sentido e tomando as mudanças como utopias impossíveis de reahzar. Neste sentido, os modelos de pensamento e construção do conhecimento sociológicos.

Informações sobre Pesquisas e Pesquisadores em Enfermagem. Associação Brasileira de