• Nenhum resultado encontrado

A tradução do ensaio “Uma Conjectura ao Enigma” (1887-88) de CSP.

No documento MESTRADO EM FILOSOFIA SÃO PAULO 2008 (páginas 196-200)

Parte II.I. Uma Análise Estrutural do ensaio de Peirce

Anexo 2. A tradução do ensaio “Uma Conjectura ao Enigma” (1887-88) de CSP.

§ 1 (CP 1.354) Capítulo 1. Um, Dois, Três. Já escritos.1

Capítulo 2. A tríade do raciocínio. Intocada.2 Deverá ser feita do seguinte modo. 1. Três tipos de signos; como melhor demonstrado no meu último ensaio no Am. Jour.

Mat3. 2. Termo, proposição, e argumento, mencionados no meu ensaio sobre uma nova lista de categorias.4 3. Três tipos de argumento[:] dedução, indução, hipótese, como mostrado no meu ensaio Estudos em Lógica (Studies in Logic).5 Também três figuras de silogismo, como mostradas lá e em meu ensaio sobre a classificação de argumentos.6 4. Três tipos de termos[:] absoluto, relativo, e conjugativo, como mostrado no meu primeiro ensaio sobre a Lógica dos Relativos.7 Há várias outras tríades às quais podemos nos referir. As divisões duais da lógica resultam de um modo falso de olhar para as coisas de modo absoluto. Assim, além de afirmativas e negativas, há realmente enunciações prováveis, que são intermediárias. Portanto, além de universais e particulares, há todos os tipos de proposições de quantidade numérica. Por exemplo, a proposição particular Algum A é B, significa Pelo menos um A é B. Mas nós também podemos dizer Pelo menos 2 As são Bs. Também, Todos os As exceto um são Bs, etc. etc. ad infinitum. Passamos da quantidade dual, ou um sistema de quantidade tal como o da álgebra booliana, onde há apenas dois valores, para a quantidade plural.

Capítulo 3. A tríade na metafísica. Este capítulo[,] um dos melhores, é para tratar da teoria da cognição.

Capítulo 4. A tríade na psicologia. A maior parte está escrita. Capítulo 5. A tríade na fisiologia. A maior parte está escrita.

Capítulo 6. A tríade na biologia. Isto é para mostrar a verdadeira natureza da hipótese darwiniana.

Capítulo 7. A tríade na física. O capítulo germinal. 1. A necessidade da uma história natural das leis da natureza para que possamos ter alguma noção do que esperar. 2. O postulado lógico, pois a explicação proíbe que se assuma qualquer absoluto. Quer

2 Embora Peirce provavelmente nunca tenha escrito este capítulo, sua substância pode ser prontamente

deduzida a partir dos cinco ensaios aos quais ele se refere (e que estão identificados nas cinco próximas notas). Para este capítulo, os editores dos Collected Papers usaram parte do MS 901 (W 5.242-47).

3 Ver item 16. 4 Ver item 1.

5 Ver “Uma teoria de inferência provável” (“A Theory of Probable Inference”; W 4.408-50).

6 Ver “Na classificação natural de argumentos” (“On the Natural Classification of Arguments”; W

2.23-48).

7 Ver “Descrição de uma notação para a lógica dos relativos” (“Description of a Notation for the Logic

seja, ele pede a introdução da terceiridade. 3. A metafísica é uma imitação da geometria; e os matemáticos tendo-se declarado contra os axiomas, os axiomas metafísicos estão destinados a cair também. 4. Acaso absoluto. 5. A universalidade do princípio do hábito. 6. Toda a teoria exposta. 7. Conseqüências. Capítulo 8. A tríade na sociologia ou devo dizer pneumatologia. Que a consciência é um tipo de espírito público entre as células nervosas. O homem como uma comunidade de células; animais compostos e plantas compostas; sociedade; natureza. Sentimento subentendido na primeiridade.

Capítulo 9. A tríade na teologia. A fé requer que sejamos materialistas sem vacilo.8 § 2 Erigir um edifício filosófico que sobreviverá às vicissitudes do tempo, meu cuidado deve ser não tanto colocar cada tijolo com o mais precisamente possível quanto construir fundações fundas e sólidas. Aristóteles construiu sobre alguns poucos conceitos deliberadamente escolhidos – tais como matéria e forma, ato e potência – muito amplos e, em seu esboço, vagos e tacanhos, mas sólidos, inabaláveis, e não facilmente solapáveis; e daí o que aconteceu é que o aristotelismo é balbuciado em cada berçário a ponto do “English Common-Sense,” por exemplo, ser totalmente peripatético e, do mais comum dos homens viverem tão completamente dentro da casa do estagirita que o que quer que vejam pelas janelas parece-lhes incompreensível e metafísico. Há muito que está mais do que claro que, embora estejamos credulamente habituados a ele, a velha estrutura não servirá para as necessidades modernas; e analogamente, sob Descartes, Hobbes, Kant e outros, reparos, alterações, e demolições parciais vêm sendo realizadas nos /247/ últimos trezentos anos. Um sistema, também, está solidamente estabelecido; refiro-me à nova mansão de Schelling e Hegel, que recentemente caiu no gosto dos alemães, mas com tantos lapsos em sua construção que, embora novinha em folha, já está declarada inabitável. O empreendimento que este volume inaugura é o de criar uma filosofia como aquela de Aristóteles, quer seja, a de esboçar uma teoria tão compreensivelmente ampla que, durante muitos anos, todo o trabalho da razão humana, em cada escola e tipo de filosofia, em matemática, psicologia, nas ciências físicas, em história, na sociologia, e seja lá em que outro departamento possa haver, nada mais será que preencher seus detalhes. O primeiro passo rumo a isto é o de encontrar conceitos simples aplicáveis a cada assunto.

§ 3 Mas antes de qualquer coisa, que me seja permitido falar a meu leitor, e expressar minha mais sincera estima por ele e o profundo prazer que sinto ao dirigir-me a alguém tão sábio e paciente. Eu conheço seu caráter muito bem, pois tanto o assunto e o estilo deste livro asseguram que ele é um em milhões. Ele compreenderá que este ensaio não foi escrito com o propósito de confirmar suas opiniões preconcebidas, e ele não se daria ao trabalho de lê-lo se tivesse sido. Ele está preparado para dar de cara com proposições com que ele estará inclinado, de início, a discordar; e ele parece estar convencido de que algumas delas são verdadeiras, ao fim e ao cabo. Ele refletirá, também, que a elaboração e a escrita deste livro levou, não direi quanto tempo, decerto mais do que um quarto de hora e, conseqüentemente, objeções

8 Os próximos dois parágrafos, uma das tais três afirmações de aberturas escritas à máquina para o

livro de Peirce, são tiradas dos CP 1.1-2, onde elas servem de Prefácio para os Collected Papers; o texto datilografado original não mais existe.

fundamentais de natureza tão óbvia que elas hão de chocar todo mundo instantaneamente terão ocorrido ao leitor, embora as respostas a elas possam não ser do tipo cuja força máxima possa ser imediatamente apreendida.

CAPÍTULO I. TRICOTOMIA

§ 4 (CP 1.355) Talvez deva começar notando como números diferentes encontraram seus defensores. O Dois foi elogiado por Peter Ramus, o Quatro por Pitágoras, o Cinco por Sir Thomas Browne, e assim sucessivamente. De minha parte, não sou um inimigo determinado de nenhum número inocente; respeito-os e estimo-os de todas do modo variado que são; mas sou forçado a confessar-me inclinado pelo número três na filosofia. Na verdade, faço tamanho uso das divisões tripartites em minhas especulações que parece melhor começar por realizar um rápido estudo preliminar das concepções sobre as quais todas essas divisões devem repousar. Com isso refiro- me a nada menos do que as idéias de Primeiro, Segundo, Terceiro, - idéias tão amplas que poderiam ser vistas, ao invés, mais como disposições de ânimo ou tonalidades de pensamento, do que como noções explícitas, mas que têm enorme significado para tudo isso. Vistos como numerais, a serem empregados a quaisquer objetos que queiramos, eles são, na verdade, tênues esqueletos do pensamento, senão meras palavras. Se só quiséssemos fazer enumerações, este não seria o lugar apropriado para perguntar pelo significado dos números que teríamos que usar; /248/ mas, então, as distinções da filosofia têm a obrigação de tentar alguma coisa mais que isso; tenciona-se, através delas [das categorias] descer à própria essência das coisas, e se tivermos que criar uma única distinção filosófica tripartite, cabe-nos perguntar, de antemão, quais são os tipos de objetos que são primeiro, segundo e terceiro, não para ser assim contados, mas em sua própria e verdadeira índole. Que há tais idéias do verdadeiramente Primeiro, Segundo e Terceiro, nós logo encontraremos razões para admiti-lo.

§ 5 (CP 1.356) O Primeiro é aquilo cujo ser é/está simplesmente em si mesmo, não se referindo a seja lá o que for nem subjazendo coisa alguma. O Segundo é aquilo que é o que é por força de alguma coisa para o qual é segundo. O Terceiro é aquilo que é o que é graças às coisas entre as quais ele medeia e que coloca em relação uma à outra.

§ 6 (CP 1.357) A idéia do absolutamente Primeiro deve ser totalmente separada de toda a concepção ou referência a seja lá o que for; pois o que envolve um segundo é ele mesmo um segundo para esse segundo. O Primeiro deve, portanto, estar presente e [ser] imediato, para que não seja segundo para uma representação. Deve ser viçoso e novo, pois que se [for] velho ele é segundo para seu estado anterior. Ele deve ser

iniciativo, original, espontâneo e livre; senão ele é segundo para uma causa determinante. Ele é, também, algo vívido e consciente; pois só assim ele evita ser o objeto de alguma sensação. Ele precede toda a síntese e toda a diferenciação: ele não possui qualquer unidade ou partes. Ele não pode ser articuladamente pensado: afirme-o e já perdeu sua inocência característica; pois uma afirmação sempre implica uma negação de alguma outra coisa. Pare de pensar nisso e... foi-se! O que o mundo era para Adão no dia em que ele abriu os olhos para vê-lo, antes que tivesse chegado a quaisquer distinções, ou tivesse se tornado consciente de sua própria existência, - isso é primeiro, presente, imediato, viçoso, novo, iniciativo, original, espontâneo,

livre, vívido, consciente, e evanescente. Lembre-se apenas do seguinte: toda e qualquer descrição dele deve ser falsa para ele mesmo.

§ 7 (CP 1.358) Assim como o primeiro não é absolutamente primeiro se pensado com um segundo, do mesmo modo, para pensar o Segundo em sua perfeição, nós devemos banir todo terceiro. O Segundo é, portanto, o último absoluto. Mas nós não precisamos, e não devemos, banir a idéia do primeiro a partir do segundo; pelo contrário, o Segundo é precisamente aquele que não pode ser sem o primeiro. Ele encontra-nos em fatos tais como o Outro, a Relação, a Compulsão, o Efeito, a Dependência, a Independência, a Negação, a Ocorrência, a Realidade, o Resultado. Uma coisa não pode ser outra, negativa, ou independente, sem um primeiro para, ou do qual ela será outra, negativa, ou independente. Ainda assim, esta não é um tipo de segundidade muito profunda; pois o primeiro poderá, nestes casos, ser destruído e ainda assim deixar o verdadeiro caráter (the real character) do segundo absolutamente inalterado. Quando o segundo sofre alguma mudança a partir da ação do primeiro, e é dependente dele, a segundidade é mais genuína. Mas a dependência não deve chegar a ponto de o segundo ser um mero acidente ou incidente /249/ do primeiro; senão a segundidade degenera novamente. O segundo genuíno sofre e, no entanto, resiste, feito matéria morta, cuja existência consiste em sua inércia. Note, também, que para que o Segundo tenha a Finalidade que, já vimos, lhe pertence, ele deve ser determinado pelo primeiro impassivelmente e, doravante estar fixo; de tal modo que a fixidez inalterável se torne um de seus atributos. Nós encontramos a segundidade na ocorrência porque uma ocorrência é algo cuja existência consiste em batermos de frente com ela. Um fato bruto é do mesmo tipo; em outras palavras, é algo que está lá e de que não posso me livrar pelo pensamento, mas sou obrigado a reconhecer como um objeto ou segundo além de mim mesmo, o sujeito ou número um, e que forma o material para o exercício de minha vontade.

§ 8 A idéia de segundo deve ser reconhecida como sendo fácil de compreender. A de primeiro é tão delicada que você não consegue tocá-la sem a macular; mas a de segundo é notavelmente dura e tangível. É muito familiar, também; é-nos impingida diariamente; é a principal lição de vida. Na juventude, o mundo é viçoso e parecemos livres; mas a limitação, o conflito, a coerção e a segundidade geralmente perfazem o ensinamento da experiência. Com que primeiridade

A barca velada zarpa de sua baía nativa; com que segundidade

el’ Hade(s) volver,

Com o costado descorado e as velas esfarrapadas.9

Entretanto, embora a noção nos seja familiar ou quão compelidos somos a reconhecê-la em cada esquina, ainda assim jamais podemos dar conta dela; nós jamais podemos estar imediatamente conscientes da finitude, ou de alguma coisa senão de uma liberdade divina que, em sua própria primeiridade original, não conhece limites.

9 “The scarfed bark puts from her native bay; / doth she return, / With overweathered ribs and ragged

§ 9 (CP 1.359) Primeiro e Segundo, Agente e Paciente, Sim e Não, são categorias que nos capacitam, imperfeitamente, a descrever os fatos da experiência, e eles satisfazem a mente por um grande período de tempo. Mas, por fim, eles tornam-se inadequados, e o Terceiro é a concepção que é então exigida. O Terceiro é aquele que transpõe o abismo entre o absolutamente primeiro e último, e os coloca em relação. É-nos dito que toda a ciência tem seu estágio Qualitativo e seu estágio Quantitativo; pois bem, seu estágio qualitativo se dá quando distinções duais, - quer um dado sujeito possua um dado predicado ou não, - bastam; o estágio quantitativo se dá quando, não mais satisfeito com tais distinções grosseiras, nós exigimos a inserção de um possível meio-termo entre cada uma das duas possíveis condições do sujeito em relação à sua posse da qualidade indicada pelo predicado. A antiga mecânica reconhecia forças como causas que produziam movimento como seus efeitos imediatos, não averiguando além do que /250/ a relação essencialmente dual de causa e efeito. Foi por isso que ela não foi capaz de fazer nenhum progresso com a dinâmica. O trabalho de Galileu e seus sucessores mostrou que forças são acelerações através das quais um estado de velocidade é gradualmente atingido. As palavras causa e efeito ainda subsistem, mas as velhas concepções já foram descartadas da filosofia mecânica; pois o que agora sabemos de fato é que em certas posições relativas, os corpos submetem-se a certas acelerações. Pois bem, uma aceleração, ao invés de ser, como uma velocidade, uma relação entre duas posições sucessivas, é uma relação entre três; de tal modo que a nova doutrina consiste na apresentação apropriada da concepção de Terceiridade. Sobre esta idéia foi erigida toda a física moderna. A superioridade da geometria moderna também se deve a nada mais do que à transposição de inúmeros casos distintos com os quais a antiga ciência estava estorvada; e podemos mesmo dizer que todos os grandes passos no método da ciência, em cada departamento, têm consistido em pôr em relação casos anteriormente discretos.10

§ 10 (CP 1.360) Podemos facilmente reconhecer o homem cujo pensamento está principalmente no estágio dual por seu desmesurado uso da linguagem. Em dias pretéritos, quando ele era natural, tudo com ele era irrestrito, absoluto, inefável, total, inigualável, supremo, inqualificável, raiz e ramos; mas hoje em dia isso é depreciativo, ele fica marcado pela ridícula inadequação de suas expressões. O princípio da contradição é a pedra-de-toque de tais mentes; para desaprovar uma proposição eles sempre tentarão provar que há uma contradição escondida nela, pouco importa que ela seja tão clara e compreensível como um dia claro. Aponte, por diversão, a tremenda despreocupação com a qual a matemática, desde a invenção do cálculo, caminha por si só, dando tanta bola para a mordacidade dos vendedores-de- contradições quanto um encouraçado para um forte americano.

§ 11 (CP 1.361) Já vimos que é a consciência imediata que é preeminentemente primeira; a coisa externa inerte é preeminentemente segunda. De modo análogo, é evidentemente a representação mediando estas duas que é preeminentemente terceira. Outros exemplos, entretanto, não devem ser negligenciados. O primeiro é agente, o segundo paciente, o terceiro é a ação através da qual o anterior influencia o último. Entre o início como primeiro, e o fim como último, vem o processo que leva do primeiro ao último.

§ 12 (CP 1.362) De acordo com os matemáticos, quando medimos ao longo de uma linha, fosse nossa régua substituída por outra marcada em uma barra rígida

No documento MESTRADO EM FILOSOFIA SÃO PAULO 2008 (páginas 196-200)

Outline

Documentos relacionados