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A tríade na sociologia ou devo dizer pneumatologia Que a consciência é um tipo de espírito público entre as células nervosas O

No documento MESTRADO EM FILOSOFIA SÃO PAULO 2008 (páginas 156-158)

Parte II.I. Uma Análise Estrutural do ensaio de Peirce

Capítulo 8. A tríade na sociologia ou devo dizer pneumatologia Que a consciência é um tipo de espírito público entre as células nervosas O

homem como uma comunidade de células; animais compostos e plantas compostas; sociedade; natureza. Sentimento subentendido na primeiridade. Capítulo 9. A tríade na teologia. A fé requer que sejamos materialistas sem vacilo.

Se tivermos em mente a “Arquitetônica” (do final de sua vida), notaremos que nesta Introdução, o Peirce de 1887-88, é um lógico – ver todo o Capítulo 2 – que vai lançar (e testar, como bom cientista que é) sua “rede” lógica sobre a

Metafísica (que se tornará o terceiro ramo de sua Filosofia) – ver Capítulo 3 – e,

depois, em algumas daquelas que mais tarde ele denominará de Ciências Especiais (Idioscopia; o terceiro ramo de suas Ciências da Descoberta; a primeira é a

Matemática e a segunda a Filosofia): Capítulo 4, Psicologia; Capítulo 5, na Fisiologia; Capítulo 6, na Biologia & Capítulo 7, na Física. Infelizmente não escreveu o Capítulo 8, sobre Sociologia; nem o Capítulo 9, sobre Teologia.

Entre os parágrafos 4 e 20, Peirce expõe seu Método: a Tricotomia. Revela que já os antigos andavam “em busca da essência das coisas” (§ 4). Cita o amor de Pitágoras pelos números e confessa-se “inclinado pelo número três na filosofia” (§ 4).

Se de início diz que “as idéias de Primeiro, Segundo, Terceiro,” são “idéias tão amplas que poderiam ser vistas, ao invés, mais como disposições de ânimo (“moods”)5 ou tonalidades de pensamento (“tones of thought”), do que como noções explícitas,” (...) ou como “tênues esqueletos do pensamento, senão meras palavras” (§ 4), não devemos acreditar nele. Há em quase todos os seus textos uma verve jocosa.

Tanto que já no parágrafo seguinte, o § 5, uma Introdução às Três Categorias – com a clareza de definição que lhe é peculiar e, nos quatro parágrafos seguintes (§ 6, 7, 8, 9 e 11) define mais profundamente cada uma das categorias. No parágrafo 11 ele desqualifica, mordazmente, “o estágio dual do pensamento”.

No § 12 ele fornece um foro cosmológico às três categorias, exemplificando os dois “Absolutos” – Primeiro e Segundo - como pontos numa régua, “ao passo que cada ponto mensurável na linha é da natureza de um terceiro”, pois “não há terceiro absoluto”. E mais, aqui ele já adianta algo de seu sinequismo (futuro): aquele que crê “que todo o universo está se aproximando, em um futuro infinitamente distante, de um estado que possui um caráter geral, diferente daquele na direção do qual vemos lá atrás, no passado infinitamente distante, você faz o absoluto consistir de dois pontos reais distintos e é um evolucionista”.

No § 13 defende suas três categorias como sendo “mais que palavras”, pois “contêm idéias amplas, embora vagas”, e, novamente, parte para a defesa das mesmas no parágrafo 14, prova que “uma tríade não pode ser analisada em díades” (§ 14) e mostra como “o argumento das três categorias se desenvolveu em sua mente” (§ 15), primeiro na Lógica e depois, estendendo-o para as áreas que irá expor no ensaio, que será “uma exemplificação da tríade das idéias” (§ 16).

Nos §§ 16 e 17 ele se detem nos “dois níveis de segundidade e nos três níveis de terceiridade” e na “degeneração entre terceiros”. No § 18 vai tratar dos “terceiros degenerados e genuínos” e afirma que – eis o gérmen de seu idealismo objetivo (futuro) – “o que faz [com que] as forças reais [estejam] realmente lá é a lei geral da natureza que as exige, e não devido a quaisquer outros componentes do resultante”. E assevera: “a inteligibilidade, ou a razão objetificada é o que torna a terceiridade genuína”. O § 19 também toca em uma questão epistemológica de suma importância, a questão do

diagrama, que ele desenvolverá 20 anos depois com maestria em relação às

propriedades do ícone.

Por fim, Peirce mostra que não deseja “reclamar qualquer originalidade no reconhecimento da importância da tríade na filosofia”, pois “desde Hegel quase todo pensador imaginativo fez o mesmo” – até porque “a originalidade é a última das recomendações para concepções fundamentais” -, mas alega que “todo o [seu] método está em contraste profundo com o de Hegel: [ele] rejeit[a] sua filosofia in

toto” embora “tenh[a] certa simpatia por ela e imagine] que, se seu autor tivesse apenas notado algumas poucas circunstâncias, ele mesmo teria sido levado a revolucionar seu sistema.” Enumera seus erros e as causas. É o Peirce cáustico de sempre. Entretanto, sabemos que sua dívida para com Hegel é imensa.

Em seguida, Peirce passa a utilizar – testar talvez fosse a palavra mais adequada – suas três categorias nas mais diversas áreas do saber. Com ele ainda não erigiu sua admirável arquitetônica, depois da Lógica - um futuro sub-ramo das

Ciências Normativas -, ele vai deter-se na Metafísica - futuro terceiro ramo da Filosofia [depois da Fenomenologia (com suas três Categorias) e da Ciência Normativa (Estética, Ética e Lógica) – e, especialmente nas Ciências Especiais ou

Idioscopia, subdividida, por sua vez, em Ciências Naturais e Ciências Psíquicas. Na Metafísica, ele mostra como a idéia da “indeterminação” – que ele denominará, futuramente, de “tiquismo” – já está presente nos pré-socráticos (§§ 21 e 22) – “embora não a indeterminação da homogeneidade”, pois essa “vida e variedade” (...) “é apenas potencial”.

Na Psicologia, Peirce vai se deter durante oito parágrafos. Volta a Kant para dizer que a idéia de “primeiro, segundo e terceiro têm origem na mente” (§ 23):

nós certamente não somos capazes de pensar que estas idéias são dadas nos sentidos. Primeiro, Segundo e Terceiro não são sensações. Elas só podem ser dadas aos sentidos por coisas aparecendo rotuladas como primeiro, segundo e terceiro, e tais rótulos, as coisas geralmente não possuem. Elas devem, portanto, ter origem psicológica. Uma pessoa deve ser uma partidária bastante descompromissada da teoria da tabula rasa para negar que as idéias de primeiro, segundo e terceiro sejam devidas a /258/ tendências congênitas da mente. Até aqui não há coisa alguma em meu argumento para distingui-lo de muitos kantianos.

Entretanto, Peirce começa a demonstrar coragem de ir além d’a “aquele herói do pensamento” [Kant] e diz:

O que é digno de nota é que eu não paro aqui, mas procuro colocar a conclusão à prova através de um exame independente dos fatos da psicologia, para ver se podemos achar quaisquer traços da existência das três partes ou faculdades da alma ou modos de consciência, que confirmem o resultado recém-alcançado.

E, novamente a partir de Kant, vai mostrar esses “três departamentos da mente” – “sentimento, conhecimento e vontade” (§ 24) – que, como mostra, o filósofo de Königsberg “tomou emprestada dos filósofos dogmáticos”, mas cuja “origem” remontaria à “escola de Pitágoras” (§ 25).

Nos 4 parágrafos seguintes ele vai postular a relação da Primeiridade com

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