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como “a natureza tem um fim mais elevado ( ) nomeadamente, ascensão, 213 ou

No documento MESTRADO EM FILOSOFIA SÃO PAULO 2008 (páginas 90-93)

Verso 63 Who, with sadness and madness, Quem, com tristeza e loucura,

E, como “a natureza tem um fim mais elevado ( ) nomeadamente, ascensão, 213 ou

a passagem da alma a formas mais elevadas” (SWRWE, The Poet, 330-331; nossos grifos), o poeta nomeia essa metamorfose cantando “a coisa em melodia” (Ibid, 331; nosso grifo), o que “torna a coisa translúcida para os outros” (Ibid, 332; nosso grifo).

E como o poeta é capaz disso? “A condição do verdadeiro nomear, na parte do poeta -, já que o caminho das coisas é silente – é sua [do poeta] renúncia de si mesmo em prol da aura divina que respira através das formas e acompanha isso”214 (Ibid, ibidem;

nossos grifos). “É um segredo que todo o intelectual rapidamente aprende é que, além da energia do intelecto consciente que possui, ele é capaz de uma nova energia (como o de um intelecto dobrado sobre si mesmo), ao abandonar-se à natureza das coisas” [para que possa ser]

“capturado pela vida do Universo” [e] sua fala seja trovão, seu pensamento lei e suas palavras tão universalmente inteligíveis quanto as plantas e os animais. O poeta sabe que ele fala adequadamente apenas quando ele fala de modo selvagem ou, ‘com a flor da mente’; não com o intelecto usado como um órgão, mas com o intelecto libertado de todo o serviço e disposto a submeter-se (“suffer”) à direção de sua vida celestial; ou, como os antigos preferiam se expressar, ‘não com o intelecto apenas, mas com o intelecto inebriado pelo néctar’. Como o viajante que se perdeu joga as rédeas no pescoço do cavalo e entrega-se ao instinto do animal para encontrar o caminho, assim também devemos fazer com o animal divino que nos carrega através deste mundo”

(SWRWE, The Poet, 332; nossos grifos). Sobre o “instinto”, diz Peirce:

“O poder-do-raciocínio, ou Raciocínio, chamado por alguns de Razão Dionética, é o poder de fazer inferências que tendem à verdade, quando suas premissas ou as asserções virtuais das quais eles partem são verdadeiras. Eu

considero este poder como sendo o principal dos instintos humanos; e nesta afirmação eu escolho o nome ‘instinct’ para professar minha crença que o poder do raciocínio está tão relacionado à natureza humana quanto os maravilhosos instintos das formigas, vespas, etc. estão relacionados a suas várias naturezas. Fosse-me pedido uma afirmação mais explícita do que quero dizer por um ‘instinto’, eu o definiria após premissar que enquanto a ação pode, em primeiro lugar, ser puramente física e aberta à

213 Para conhecer melhor esta noção de “ascensão” – e “ascese” – ver o Quarto Livro de Schopenhauer (1788-

1860), O Mundo como Vontade e como Representação, a obra do pragmatista clássico, William James, As Variedades da Experiência Religiosa – para o “método” – e, por fim, para uma prática, buscar a “yoga” à luz dos ensinamentos de Patañjali, quer seja, dos seus “Yoga-sutras”. Sugestão para eleitura, I. K. Taimni (que é químico como Peirce). The Science of Yoga. Adhyar (Índia): The Theosophical Publishing House, 1961 (já há uma tradução desta obra para a língua portuguesa); e/ou B. K. S. Iyengar. Light on the Yoga Sutras of Patañjali. São Francisco: Thorsons, 1993.

214 Sobre Goethe (1749-1832), Emerson diz: “Ele” – “a alma do século” [XIX] – “parece ver a partir de cada

poro de sua pele” [Este ensaio sobre Goethe não consta do The Selected Writings of RWE; assim, pesquisamo-lo no site RWE. org].

inspeção externa, ela também pode, em segundo lugar, ser puramente mental e conhecida (pelos outros, de qualquer maneira, por outros que não o autor) apenas através de sintomas externos ou efeitos indiretos, e em terceiro lugar, ela pode ser parcialmente interna e parcialmente externa, como quando uma pessoa fala, envolvendo certo gasto de energia potencial”.215

Ainda sobre o “instinto” – desta feita, em oposição à “razão” - Peirce diz:

“Em grandes decisões [“questões vitais” EP 2, 33], eu não acredito que seja seguro confiar na razão individual” (Ibid, 30) – “o homem é tão vaidoso de seu poder da razão!” (Ibid, 31) – e que “é o instinto, os sentimentos [“a crença”, Ibid, 33], que formam a substância da alma” [pois] “a cognição é apenas sua superfície, seu lócus de contato com o que é externo a ele”.216

Mas, Peirce termina o ensaio com um trecho que merece citação:

“O instinto é capaz de desenvolvimento e crescimento, - embora por um movimento que é lento na proporção em que ele é vital – [“é notoriamente verdadeiro que naquilo que você não coloca todo o seu coração e alma, nisso você não terá lá muito sucesso”, EP 2, 34] - ; e este desenvolvimento ocorre sobre linhas que são totalmente paralelas àquelas do raciocínio. E assim como o raciocínio surge da experiência, assim também o desenvolvimento do sentimento surge das experiências internas e externas da alma. Não apenas é da mesma natureza que o desenvolvimento da cognição; mas isso ocorre através da instrumentalidade da cognição. As partes mais profundas da alma só podem ser alcançadas através de sua superfície. Deste modo as formas eternas, com que a matemática e a filosofia e as outras ciências nos familiarizam, haverão de alcançar, por lenta percolação, o coração de nosso ser; e chegará a influenciar nossas vidas; e isso decerto farão, não porque elas envolvem verdades de importância meramente vital, mas porque elas são verdades ideais e eternas” (EP 2, 40-41; nossos grifos).

Em seu ensaio Power (1860; “Poder”) Emerson dirá que “O instinto das pessoas está certo” [Emerson. Power (“Poder”) em The Conduct of Life (1860; “A Conduta da Vida”); RWE.org.]. Não adianta querer “ludibriar a natureza”, continua Emerson, pois “o espírito do mundo, a grande e calma presença do Criador, não vem das feitiçarias do ópio ou do vinho. A visão sublime vem para a alma pura e simples e para o corpo casto” e, assim, “o hábito do poeta de viver deve ser colocado em uma chave tão baixa que as influências comuns devem deleitá-lo” (Ibid, nosso grifo). Na mesma linha, diz Thoreau:

“Com a minha experiência [em Walden] aprendi pelo menos isto: que se uma pessoa avançar confiantemente na direção de seus sonhos, e se esforçar por viver a vida que imaginou, há de se encontrar com um sucesso inesperado nas horas rotineiras. Há de

215Peirce. An Essay toward Reasoning in Security and Uberty (“Um Ensaio em prol do Raciocínio Seguro e

Uberdade”) em EP 2, p. 464.

deixar para trás uma porção de coisas e atravessar uma fronteira invisível; leis novas, universais e mais amplas começarão por se estabelecer ao redor e dentro dela; ou as leis velhas hão de ser expandidas e interpretadas a seu favor num sentido mais liberal, e ela há de viver com a aquiescência de uma ordem superior de seres. À medida que ela simplificar a sua vida, as leis do universo hão de parecer-lhe menos complexas, e a solidão não será mais solidão, nem a pobreza será pobreza, nem a fraqueza, fraqueza. Se construístes castelos no ar, não terá sido em vão vosso trabalho; eles estão onde deviam estar. Agora colocai os alicerces por baixo”.217

Por isso, diz RWE, “[O]s poetas são, assim, deuses libertadores” (Ibid, 334 & 335), pois “o uso dos símbolos tem um certo poder de emancipação e entusiasmo para todos as pessoas” (Ibid, 334; nosso grifo). “Eles são livres e libertam” [Ibid, 335; tese cara a Fernando Pessoa (1888-1935)].218

Quanto à relação do Criador (infinito) e a Criatura (finito), lembremos o que diz Schleiermacher (1768-1834):

“A Relação da Natureza finita com o Infinito é de completa dependência”, o que significa que “o relativo é envolvido e sustentado pelo Absoluto e que é absorvido por este”. “A isto chama Schleiermacher de 1º sentimento de absoluta dependência’. Nele consiste o sentimento religioso, e em nada mais do que nele, a essência da própria Religião”.219

E, como mostrou Peirce, ad nauseum, o Sentimento pertence à primeira Categoria, a da Qualidade Monádica. Se formos capazes de compreender que “o que constitui a índole própria da consciência religiosa é a eliminação da relação sujeito-objeto” (Ibid, 238), então, teremos dado um passo gigantesco para admitir o valor das categorias peirceanas para um melhor entendimento da experiência religiosa (entenda-se “mística”).

217 Henry David Thoreau. Walden; ou A Vida nos Bosques, p. 295.

218 Para um estudo do papel dos poetas românticos alemães para o desenvolvimento do Idealismo Alemão,

sugerimos Theory as Practice – A Critical Anthology od Early German Romantic Writings (Jochen Schulte- Sasse como principal editor). Minneapolis: University of Minnesota Press, 1997. A obra está dividida em Introdução e quatro partes. Na Introdução Schulte-Sasse descreve “A Paradoxal Articulação do Desejo do Romantismo”. Na Parte I, Elizabeth Mittman e Mary R. Strand oferecem um ensaio introdutório em que mostram “A Representação do Self e do Outro no Romantismo Alemão” – que bem poderia ser cotejado com a obra de Russel B. Goodman, American Philosophy and the Romantic Tradition (“A Filosofia Norte-Americana e a Tradição Romântica”) e vários textos de Novalis e Friedrich Schlegel e, uma seleção de excertos da correspondência entre Fichte e Schelling (pp. 72-145). Na Parte II, aparece uma “Teoria Estética” com um ensaio introdutório de Andreas Michel e Assenka Oksilff: “Filosofia como Arte e Arte como Filosofia” e depois textos de Friedrich e August Schlegel e Novalis. Na Parte III, que traz uma introdução de Haynes Horne, “O Fragmento do Primeiro Romantismo e a Incompletude”, traz apenas textos de Friedrich Schlegel. Por fim, na Parte IV, temos uma “Teoria do Feminino”, com um ensaio introdutório de Lisa C. Roetzel e textos de Novalis, Ritter, Friedrich Schlegel e de Caroline Schlegel-Schelling.

E, depois de falar de “Swedenborg, de todos os homens em épocas recentes,

No documento MESTRADO EM FILOSOFIA SÃO PAULO 2008 (páginas 90-93)

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