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Na estrofe XIV o Narrador introduz novamente o Poeta, que interrompe o discurso d’A

No documento MESTRADO EM FILOSOFIA SÃO PAULO 2008 (páginas 126-129)

Verso 99 And under pain, pleasure, E sob a dor, prazer

2.6 Na estrofe XIV o Narrador introduz novamente o Poeta, que interrompe o discurso d’A

Esfinge para pedir a “Júpiter” [a ‘Sabedoria’ na era mitológica grega] que “mantenha a

agudeza de espírito” (os “cinco sentidos;” “five wits”) da “apática Esfinge” (verso 105) e assevere que “sua visão está ficando turva” (verso 106).

Estaria A Esfinge por demais presa a um velho “paradigma” (Kuhn)? Necessitaria ela de “voltar a olhar para fora” e, portanto, de que se removesse “a lama de seus olhos” (verso 108)?

Mas, por que dar a A Esfinge “arruda” [“planta medicinal” (Vine, Dicionário

Teológico, 416)], “mirra” [“anti-séptico e estimulante amargo” (Vine, 793)] e “cominho” [“condimento” (Vine, 479)]” (verso 107)?

Estes são os presentes que os três Reis Magos deram ao Menino Jesus, na Gruta de Belém (Mt 2:11). O novo “paradigma” estaria, então, na Mensagem Cristã [no Agostinho

266 Para dar conta do “Amor” e da “existência do Mal”, recomendamos Schelling. Investigações Filosóficas sobre a Essência da Liberdade Humana, especialmente a página 116, em que explora a idéia de que “[P]ortanto, se Deus, por causa do Mal, não se revelasse, o Mal teria triunfado sobre o Bem e sobre o Amor”. Diz Peirce: “Todos admitimos que a Experiência é nossa grande Mestra. E a Dama Experiência utilize um método pedagógico que deriva de sua própria natureza afável e complacente. Seu modo de ensino favorito é através de piadas práticas, - quanto mais cruéis melhores. Para descrever o fato com maior exatidão, a Experiência invariavelmente ensina por meio de surpresas.” (1903; “Os Sete Sistemas de Metafísica” em EP 2, p. 194; também no MSS 309 e CP 5.77n, 93-11, 114-18, 1.314-16, 5.119, 111-13, 57-58; também em HL 189-203.

(platônico) e/ou no Tomás de Aquino (aristotélico)]? Ou além? Estes Reis Magos, afinal, quem eram? Seriam as três Categorias peirceanas?267 Como sabiam do advento do Cristo, do

Ágape (do Evangelho de João), daquele Messias que há séculos vinha sendo anunciado pelos

Profetas? E A Esfinge reage. Lembremo-nos de que temos aqui um embate entre duas grandes culturas – a egípcia e a judaico-cristã. Sabemos apenas que o “Cristo” – pelo menos para os Cristãos – é o “avatar do Amor” [“Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito... (João 3:16]. Enquanto isso,

“A velha Esfinge morde seu grosso lábio” (verso 109; nosso grifo) e faz a segunda maior pergunta do texto (a primeira é aquela dos versos 5 e 6): “Quem meu segredo me dirá / O que as eras encobriram?” – que aparece na epígrafe do The Essential Peirce –

Volume 1: “Quem te ensinou a me me nomear?” (verso 110) / “Eu sou teu espírito, companheiro” (verso 111) / “De teu olho eu sou o olhar” (verso 112).

Adentramos um território perigosíssimo: “Afinal, o que (ou quem) sou?” Achamos que os mestres budsitas têm se saído melhor aqui, ao declarar que “não fazem a menor idéia”.268 Volvamos ao poema.

Richardson, Jr. diz que “[P]ara Emerson é sempre o olho instruído, não os objetos vistos, que dá o maior deleite, que nos conecta com o mundo. É por essa razão que seu símbolo favorito para a investigação e conhecimento e a sabedoria era a imagem do olho

ativo” (Richardson, Jr. 155; ; nossos grifos). “Para um olho instruído o universo é

transparente”, escreveu Emerson em seu Journal no outono de 1833” (Ibid; ibidem; nossos grifos).

Peirceanamente, isso significa que o “Objeto Dinâmico” é um composto de “matéria”, que é “mente envelhecida” (“effete mind”), e de “dinamismo”; pois bem, sabemos que o “motor” da evolução do universo (“Sinequismo”), segundo Peirce, é o Ágape (Amor). Então, fica claro que é o Amor que – desde Dante (1265-1321) – “move o céu e as estrelas”, ou seja, que é “Três-em-Um: (1) é o “dinamismo” do “Objeto Dinâmico” [o “Objeto” como “alter”

267 Peirce: “Permitam-me [dizer] que as três categorias da Primeiridade, Segundidade, e Terceiridade, ou

Qualidade, Reação e Representação, têm, na verdade, a enorme importância para o pensamento que eu lhes atribuo, e pareceria que nenhuma divisão de teorias da metafísica poderia ultrapassar em importância uma divisão baseada na consideração do que cada uma das três categorias, cada um dos diferentes sistemas metafísicos já admitiu como constituintes reais da natureza”. The Seven Systems of Metaphysics (16/4/1903; “Os Sete Sistemas de Metafísica”) em EP 2, p. 179-180.

268 Recomendamos a leitura dos três tomos de D. T. Suzuki. Essays on Zen-Buddhism como primeira abordagem

e, naturalmente, a prática do Zazen junto a um mestre, para se chegar a um entendimento, em primeira-mão, da “experiência do grande vazio” (“Shunyata”).

garante o “Realismo” de Schelling e Peirce]; (2) é a “Inteligência” de que o “Objeto” está “enervado” [que sustenta a tese “Idealista” de Schelling e Peirce]; e (3) é capaz de gerar – através de uma infinidade de “Signos” – sempre novos “Interpretantes” (o “Interpretante Final” é apenas um “horizonte virtual”).

Talvez “a resposta ao enigma” não esteja (1) nem na “representação” (Terceiridade); (2) nem na “vontade” (Segundidade). Talvez esteja na “volta” -, a do “Filho Pródigo” (Lucas, 15), desta feita, “escolado” -; i.e., numa “introversão” (Jung)269 rumo à “unidade” (Primeiridade), onde há, de fato, “Liberdade” e “Originalidade”.270

Precisamos nos investir de humildade (da raiz, “húmus”, Terra) para ir procurar a resposta lá onde Schelling, Schopenhauer e Emerson buscaram? Não teríamos que – como estamos no Ocidente – ir buscar nos místicos, como Mestre Eckhart (mas não só) e nos visionários, como Jakob Boehme (1575-1624) e Swedenborg (1688-1772), aquilo que eles buscaram?

De qualquer maneira, sabemos que Peirce utilizou o verso 112 para concluir seu ensaio, What Is A Sign? (1894; “O Que É Um Signo?” em EP 2, p. 10), em que diz que “nós só pensamos em signos” e que “os símbolos crescem” (pela “influenza”, voltaremos ao tema na Parte II) que é, afinal, o fundamento desta Dissertação de Mestrado.

XV

Verso 113 “Thou art the unanswered question; “Tu és a pergunta sem resposta;

Verso 114 Couldst see thy proper eye, Pudesses ver teu próprio olho,

Verso 115 Alway it asketh, asketh; Ele não para de perguntar, perguntar;

Verso 116 And each answer is a lie. E cada resposta é uma mentira.

Verso 117 So take thy question through nature, Então leva tua pergunta à natureza,

Verso 118 It through thousand natures ply; Que mil perguntas à naturezas se faça;

Verso 119 Ask on, thou clothed eternity; Pergunta sem cessar, tu, eternidade vestida;

Verso 120 Time is the false reply. O tempo é a resposta falsa.

269 Para uma introdução aos Psychological Types (“Tipos Psicológicos”) de Carl Gustav Jung (1875-1961), ver

Capítulo 8 de The Portable Jung (“O Jung Portátil”). New York: Penguin Books, 1971, especialmente o subcapítulo 3, The Introverted Type (“O Tipo Introvertido”), pp. 229-266.

270 Esta é, afinal, a “quinta etapa” (de oito) que Sri Patañjali (c. século II AEC) propõe na “Ashtanga Yoga”, i.e.,

“pratyahara” (“desapego”, “introversão”, “abstração”). Mas este preceito faz parte de todas as escolas de Sabedoria. Diz Plotino: “Em suma, a Alma deve retirar-se de todas as coisas exteriores e voltar-se toralmente para o interior” (Tratado das Enéadas; Sobre o Bem ou o Uno, p. 135). Ver o conceito de “desprendimento” (“abgeschiedenheit”) em Mestre Eckhart (c.1260 - c.1328), Sermões Alemães, pp. 337-338.

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