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então, RWE descreve com mais minúcias os tais “estados de espírito”: “A vida é um trem de “moods” (estados de espírito) como um fio de contas” [difícil não pensar

No documento MESTRADO EM FILOSOFIA SÃO PAULO 2008 (páginas 133-137)

Verso 99 And under pain, pleasure, E sob a dor, prazer

E, então, RWE descreve com mais minúcias os tais “estados de espírito”: “A vida é um trem de “moods” (estados de espírito) como um fio de contas” [difícil não pensar

imediatamente no ‘Livro das Contas de Vidro’ (“The Glassbead Game”) de Herman Hesse (1877-1962)], “e conforme passamos por elas, elas provam-se lentes multicoloridas que pintam o mundo com seu próprio matiz e cada qual mostra apenas o que jaz em seu foco” (ibid, ibidem; nosso grifo). No mais extraordinário de todos os ensaios de Emerson – que, infelizmente, não aparece nas antologias, mas que fomos buscar na RWE.org -, quer seja,

Literary Ethics (24 de julho de 1838; “Ética Literária”), portanto, um ano após a palestra The American Scholar, Emerson dirá – antecipando a teoria psicanalítica freudiana, em setenta

anos - que “O jovem, intoxicado com sua admiração de um herói, deixa de ver, que ele é apenas uma projeção de sua própria alma, que ele admira” (RWE.org; nosso grifo).

Volvamos ao “temperamento”; diz RWE: “[O] temperamento é o arame de ferro (o fio) no qual as contas estão enfiadas” (Ibid, ibidem; nosso grifo). Emerson diz que é em vão

que tentamos “ancorar” essa “sucessão de estados de espírito”, porque “a ancoragem é areia movediça” (Ibid, 347; nosso grifo). Diz Cavell:

“A sucessão de estados de espírito não é sistematizável (“tractable”) pela distinção entre subjetividade e objetividade que Kant propõe para a experiência. Este incessante truque da natureza é demais para nós; as bases dadas do ‘self’ são areia movediça”.283

É que, como diz Emerson – e nisso está de acordo com Kierkegaard (1813-55) -: “[A] vida não é dialética” e “o saborear intelectual da vida [pensar] não superará a

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atividade muscular [agir]” (Ibid, 349; nosso grifo). O que nos sobra, então? “É surfar bem as superfícies da vida” (Ibid, ibidem; nosso grifo) “hoje” – é o “agor’aqui” da língua inglesa - e “aceitar nossos companheiros e circunstâncias, independentemente de quão simples ou odiosos sejam” (Ibid, 351; nosso grifo; estamos de volta à “maya” hindu e à Bhagavad Gita, como vimos anteriormente).

Ele diz encontrar-se no “extremo oposto” dos “jovens que desprezam a vida”; ele “não espera nada [de coisa alguma ou alguém] e está sempre “grato por bens moderados” (Ibid, ibidem; nosso grifo), pois sabe que “os grandes presentes não são conquistados através da análise. Tudo o que é bom a gente encontra na auto-estrada [da vida]” – ou como diriam os jovens, “por aí” – “nesse território estreito” (...) “entre os extremos” (Ibid, ibidem; nosso grifo; é “O Fio da Navalha” de Somerset Maugham (1874-1965), unindo (no Arco da Tradição) as Upanishads (século VIII AEC) ao “Santo Hindu” [como o denomina Carl G. Jung (1875-1961)] do século XX, Ramana Maharshi (1879-1950).284

O que faz Emerson, então? Ele, por exemplo, “só lê os livros mais comuns – a Bíblia, Homero, Dante, Shakespeare e Milton” – só pode ser o “wit” (“ironia”) de Friedrich Schlegel (1772-1829) – e mais, como “a natureza não é nenhuma santa” (Ibid, 352; nosso grifo), e “um homem é uma impossibilidade de ouro” (Ibid, 354; ; nosso grifo; diga-se desde antes de Diógenes, o Cão (C. 412-323 AEC285)], devemos compreender que “o

bom senso é tão raro quanto o gênio” (Ibid, ibidem; nosso grifo); e, quem sabe, através dele, possamos nos dar conta de que essa “série de surpresas que a vida é” (Ibid, ibidem;

283 Stanley Cavell. Emerson’s Transcendental Études. Capítulo 1. Pensando em Emerson, p. 12-13. 284 Carl Gustav Jung. Psicologia da Religião Ocidental e Oriental. Petrópolis: Vozes, 1983. (pp. 565-581). 285 Cavell diz que “aquela passagem que eu chamaria de a mais metafísica sob o sol, à luz de ter e perder um

filho, contém uma resposta reversa à de Kant sobre o saber: ‘Tudo o que sei é recepção’, diz Emerson, e continua, ‘Eu sou e eu tenho, mas não ganho, e quando imagino qute tinha ganho algo, descobri que não tinha”. Stanley Cavell. Finding as Founding (“Encontrar como Fundar”), em Emerson’s Transcendental Études, p. 130.

nosso grifo) apontando para o fato de que “nada é nosso no nosso trabalho – que tudo é de Deus” (Ibid, 355; nossos grifos), i.e., “da ‘força vital’ fornecida pelo Eterno” (Ibid,

ibidem).286

Por isso, “a vida não tem memória” (Ibid, 356; nosso grifo) e “cada ‘insight’ advindo deste reino do pensamento é sentido como inicial, e promete uma seqüência. Eu não chego a ele; eu chego lá e vejo o que já estava lá” (Ibid, ibidem; nossos grifos; é mais um desCobrir do que um criar).

E segue dizendo, “[E] que futuro ele abre! Eu sinto um novo coração batendo com o amor da nova beleza. Eu estou pronto para morrer pela Natureza e nascer novamente n’ ‘Esta América nova, ainda inabordável’” [nossos grifos; título de uma famosa obra de Stanley Cavell sobre “Emerson como fundador da filosofia nos EUA” (já traduzido para o português e editado pela Editora 34, 1997)].

Emerson, naturalmente, fala, aqui, d’a impossibilidade da fundação (como

fundamento filosófico) de um território (ainda por desCobrir) e de um conjunto de “Estados” que logo se provariam não tão “Unidos” assim (ideologicaMente). Onde nos encontrarmos (nos fundarmos)?

A partir da página 357 ele vai dizer que esse fundamento “é algo que recusa ser nomeado” (Ibid, ibidem; nosso grifo)287 – como contraponto ao “fluxo de estados de

espírito” (Ibid, ibidem; nosso grifo)288 -, “seja lá o nome que lhe dermos: Minerva,

Fortuna, Musa, Espírito Santo, Nous, Água, Ar, Fogo, Amor” – Peirce dirá que é o Ágape! -; quanto a “isto” que Mêncio, diz ele, denomina “vigor” [é o “Ch’i” (energia vital dos taoístas); olha o Bergson (1859-1941), amigo de James, assomando no nosso horizonte mental!], “basta dizer – para deleite do Universo – que não chegamos a uma parede, mas a oceanos intermináveis” (nosso grifo; Ibid, 357; RWE é capaz de dialogar com o misticismo Budista!).

286 Stanley Cavell cita Emerson: “A vida em si é uma mistura de poder e forma... Para terminar o momento, [se

viver sabiamente é] encontrar o final da jornada a cada passo do caminho”. Stanley Cavell. Emerson’s

Transcendental Études, p. 138. E, “nós estamos fundados no colo de uma imensa inteligência, que nos torna receptores de sua verdade e órgãos de sua atividade” (Ibid, 140) e, assim, para Cavell, “a linguagem é onde nos achamos” (Ibid, ibidem).

287 Arturo Leyte Coelho mostra isto em seu artigo “Arte e Sistema” – uma introdução às filosofias de Schelling –

quando diz: “O absoluto é o que não guarda relação com nada, o que está ‘des-ligado’ (absoluto, propriamente significa isso, ‘desligado’) e, nesse sentido, o que não é nem objeto nem sujeito, porque ambos são sempre relata ou membros de uma oposição: o objeto se define em relação ao sujeito e, vice-versa, este a partir daquele” – em

As Filosofias de Schelling, p. 23.

288 “Estas expressões não traduzem exatamente o que sinto porque sem dúvida nada pode traduzir exatamente o

Como “já aprendemos que não vemos diretamente, mas mediatamente” [nosso grifo; Ibid, 359; e “eu sei que o mundo com o qual converso na cidade e nas fazendas não é o mundo que eu penso” (Ibid, 363; nosso grifo) e “o próprio casamento é impossível” (Ibid, ibidem; nosso grifo),289 resta-nos “o impulso universal para crer” [(Ibid, 358): eis o

“The Will to Believe” de seu afilhado, William James (1842-1910)!], até porque “o universo é a noiva da alma” (Ibid, 360).290

Vamos por partes. Ainda em relação ao “conhecimento mediato”, Emerson diz o seguinte no ensaio Intellect (1841; “O Intelecto”) -, que é seminal para o pragmatismo peirceano:

“[O] crescimento do intelecto é espontâneo em cada expansão”. [Será que nem a idéia de que “os símbolos crescem” (EP 2, 10) é peirceana?] [e,] “[A] mente que cresce não poderia prever a era, os meios, o modo dessa espontaneidade” [pois] “Deus entra através de uma porta particular em cada indivíduo. Muito antes da idade da reflexão ocorre o pensamento da mente” (SWWE, 293), e esse “desabrochar, feito um botão vegetal” (SWWE, 294) dá-se por “um método silencioso” (SWWE, 294); e, “confiando no instinto até o fim” (SWWE, 294; eis o “Play of Musement” de Peirce!; herdado do Spieltrieb schilleriano; “trieb” é “instinto”, em alemão) “a verdade aparece” e “eis que é aquele princípio que buscávamos” (SWWE, 296; eis a “abdução” peirceana!),291 mas “o oráculo vem

porque tínhamos feito, anteriormente, cerco ao santuário”.

Eis o interessantíssimo conceito de “collateral acquaintance”, que Peirce desenvolveu no fim da vida:

“Nenhum signo pode ser entendido, - ou pelo menos nenhuma proposição pode ser entendida, - a menos que o intérprete tenha ‘(re)conhecimento colateral’ com cada Objeto dele” (Excerto de Carta a William James, 26/2/1909, EP 2, p. 496)] e “a lei do intelecto parece-se com a lei da natureza” (SWWE, 296; tema central de Peirce:

289 Em um de seus últimos ensaios, Domestic Life (“Vida Doméstica”), que faz parte de seu úlimo livro de

ensaios, Society and Solitude (1870; “Sociedade e Solidão”), Emerson não terá apenas coisas negativas a dizer sobre a vida doméstica; entre elas, neste ensaio, ele diz: “Eu penso que o vício de nossa vida no lar está no fato de que ela não considera o homem sagrado” (RWE.org).

290 Este é precisamente o título do primeiro capítulo de Russell B. Goodman, American Philosophy and the Romantic Tradition (“A Filosofia Norte-Americana e a Tradição Romântica”).

291 Ver “The Heuristic Exclusivity of Abduction in Peirce’s Philosophy” de Ivo Assad Ibri em Semiotics and Philosophy in Charles Sanders Peirce (editado por Rossella Fabrichesi e Sandra Marietti). Newcastle (Inglaterra): Cambridge Scholars Press, 2006, para o melhor tratamento da questão da “abdução” em Peirce.

Já vimos que, segundo os Editores Críticos do The Essential Peirce, Volume 2, “[E]sta Idéia da mente refletir ou espelhar o cosmos é um dos principais princípios da filosofia de Peirce” (nossos grifos).292

E, voltando ao ensaio, “O Intelecto” de Emerson, ele, pragmaticamente, arremata, “cada intelecção é principalmente prospectiva” (SWWE, 296). Todos os scholars peirceanos sabem que seu pragmatismo difere do de James precisamente por este aspecto “reflexivo” e/ou “prospectivo”.

No ensaio Spiritual Laws (“Leis Espirituais”), Emerson diz: “Quando o ato de reflexão corre na mente, quando olhamos para nós mesmos à luz do pensamento, descobrimos que nossa vida está aninhada na beleza (da natureza)” (SWRWE, 190). Comparemos a frase com o seguinte trecho de Peirce: “Ademais, em todo o seu progresso, a ciência vagamente sente que ela está apenas aprendendo uma lição. O valor dos fatos para ela reside apenas nisto, que eles pertencem à Natureza; e a Natureza é algo grandioso, e belo, e sagrado, e eterno, e real, - o objeto de sua veneração e sua inspiração [do cientista]” (nossos grifos).293

E, então, continua Emerson, “chegará a hora em que a mente est(ar)á madura” [pois]

No documento MESTRADO EM FILOSOFIA SÃO PAULO 2008 (páginas 133-137)

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