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Play glad with the breezes, Brincam prazerosas com as brisas,

No documento MESTRADO EM FILOSOFIA SÃO PAULO 2008 (páginas 61-67)

Verso 28 Old playfellows meet; Se encontram como velhos amigos de ludo;

Verso 29 The journeying atoms, Os átomos em jornada,

Verso 30 Primordial wholes, Primordiais totalidades,

Verso 31 Firmly draw, firmly drive, Firmemente desenham e dirigem,

Verso 32 By their animate poles. Por suas animadas polaridades.

O poema fala da “variedade” e da “liberdade” de um exemplar da classe mineral, “as ondas do mar” (verso 25 a 28), de cuja Primeiridade – que nos remete ao “jogo das Musas” [“Play of Musement”; ver The Neglected Argument for the Reality of God (1908; “O Argumento Negligenciado a Favor da Realidade de Deus”), EP 2, p. 439] que CSP tomou emprestado do grande Schiller (1759-1805; “Spieltrieb”)154 -, que é totalmente inconsciente (“indiferente a tudo”). O poema fala dos próprios “átomos” (versos 29 a 32), dialogando com a Tradição filosófica Ocidental.

Quanto a Lucrécio (c. 99 - c. 55 EC), Richardson Jr. (p. 43) diz que entre 1821 e 1823 “Emerson estava lendo (...) o De rerum natura de Lucrécio e adiciona que a obra

Nature (“A Natureza;” 1836) de Emerson “pode ser adequadamente comparada a essa obra

de Lucrécio – que Rolfe Humphries traduziu [com o título de] The Way Things Are (“Do Jeito que as Coisas São”)” (p. 226). Não sei em que sentido é que o De rerum natura pode ser “adequadamente comparado ao livro “A Natureza” de Emerson, uma vez que o Livro I do romano trata de da doutrina de Epicuro (341-270 AEC), com “uma explicação de que só existem os átomos e o vazio” e “uma refutação de outras cosmologias (Heráclito, Empédocles, Anaxágoras)” (J. Ferrater Mora, 1808) – que, estes sim, uma fecunda influência sobre Emerson -; cujo Livro II “refuta a idéia da Providência” (Ibid, ibidem);

153 Ver EP1, Introdução, xxii e The Architecture of Theories (1888; “A Arquitetura de Teorias”), p. 293.

154 Recordamos que o grande amigo de Emerson, o historiador e ensaísta escocês Thomas Carlyle (1795-1881) –

com quem se correspondeu de 1834 a 1872 (ver bibliografia) – foi tradutor e biógrafo do autor das “Cartas sobre a Educação do Homem”.

cujo Livro III trata da “mortalidade da alma e [do] caráter universal da morte” (Ibid,

ibidem); cujo Livro IV faz “uma apologia do sensualismo e [uma] refutação do ceticismo” (Ibid, ibidem); cujo Livro V defende uma explicação materialista da “origem e formação do mundo;” (Ibid, ibidem) e, cujo Livro VI trata da “origem e causa das enfermidades e epidemias” (Ibid, ibidem). A obra de Emerson, por sua vez, é de concepção panteísta de viés schellinguiano, o que para bom entendedor, basta.

Quanto à idéia das “polaridades” (Verso 32) – pelas quais Schelling (1775-1854) era obcecado155 - mereceu um ensaio de Emerson com o título (taoísta) de Compensation (1841; “Compensação”): “Todas as coisas são feitas de uma substância oculta” (SWRWE, 174; remete-nos a Heráclito; nossos grifos). Quanto a Heráclito (c. 544 - c. 475 AEC), Richardson Jr. descreve assim a influência do filósofo de Éfeso sobre Emerson:

“A sabedoria, para Heráclito, consistia não no acúmulo de uma enorme pilha de conhecimentos, mas na ‘descoberta da lei que governa todas as coisas. Toda natureza é governada por leis constantes. Os próprios fenômenos que

parecem discordantes concordam na harmonia do todo. Enquanto isso tudo muda’. O que Heráclito sustenta é a possibilidade de crer na mudança perpétua e em leis fixas ao mesmo tempo”.156

A influência de Heráclito sobre Emerson é maior do que Richardson Jr. crê. Se utilizarmos a classificação (quatro aspectos) que J. Ferrater Mora (p. 1321-1323) dá dos “fragmentos” deste “amigo da solidão e da multidão” - (a) a questão do saber; (b) o problema da mudança; (c) a noção de oposição (e de conflito); e, (d) a idéia de unidade, ordem e lei – talvez possamos aquilatar melhor esta influência. Richardson Jr., acima, refere-se à primeira questão (a): “Heráclito proclama que uma coisa é saber muito e outra possuir entendimento. (...) O importante para Heráclito é um saber do essencial – ‘O sábio é uno: conhecer com verdadeiro juízo de que modo as coisas se encaminham através de tudo’ (41) (...) Saber é saber do Uno por meio do Logos” (JFM, 1322). Entretanto, a segunda questão (b; o problema da mudança), teve uma enorme influência sobre Emerson. A idéia heraclitiana de que “O sol é novo a cada dia” (6) é um dos leitmotivs da obra

155 Schelling: “O idealismo é a alma da filosofia; o realismo é o corpo; só os dois reunidos constituem uma

totalidade” e “[P]orque nada existe diante ou fora de Deus, ele deve ter em si mesmo o fundamento da sua própria existência” (“Investigações Filosóficas sobre a Essência da Liberdade Humana”, p. 60).

emersoniana, já a partir de seu primeiro grande livro, Nature (1836; “A Natureza”): “O sol brilha hoje também” (SWRWE, 3). Mas não só. Quanto ao terceiro aspecto (c; a noção de oposição e conflito), a idéia de que “a guerra (o fogo) é o pai de tudo”, de que “o caminho ascendente e o descendente são o mesmo (60),” de que “o diverso concorda consigo mesmo, harmonia do antagônico como no arco e na lira (51)” - que, aliás, mereceu um comentário brilhante de Octavio Paz [“O Arco e a Lira”], Emerson é um mestre do assunto a ponto de dedicar todo um ensaio à questão: Compensation (1841; “Compensação”): “Nossa força cresce a partir de nossa fraqueza” (SWRWE, 184). Quanto ao último aspecto, (d; a idéia de unidade, ordem e lei), a de que “o Sol não ultrapassa seus limites senão as Erínias que administram justiça o perseguiriam” (94), é uma idéia também muito cara a Emerson. Porque, para Emerson, também, “tudo é feito de um negócio escondido” (SWRWE, Compensation, 174), esse “tudo” é “o universo,” que “está vivo” (Ibid, 175) e “todas as coisas são morais” (Ibid, ibidem). Emerson deve ter amado “o estilo

de pensar oracular” (JFM, 1322) de Heráclito para quem “O Senhor, cuja origem

encontra-se em Delfos, nem fala nem dissimula, mas dá um sinal” (93; Ibid, ibidem). Devemos saudar a obra “Heráclito – Fragmentos contextualizados” de Alexandre Costa (DIFEL, 2002), responsável pela Tradução, Apresentação e Comentários.

Quanto a Peirce, ele cita Heráclito no ensaio Sundry Logical Conceptions (1903; “Várias concepções lógicas”; em EP 2, 268) quando se refere à Segundidade: “a Segundidade é enquanto ela realmente está [acontecendo]. A mesma coisa nunca pode acontecer duas vezes. Com Heráclito disse, uma pessoa não pode cruzar o mesmo rio duas vezes”. Entretanto, não podemos esquecer “os erros” que Peirce aponta em Heráclito: (i) “a noção de que Continuidade implica Transitoriedade”. E, explica: “As coisas deste mundo, que parecem tão transitórias aos filósofos, não são contínuas. Elas são compostas de átomos discretos, sem dúvida pontos boscovianos. As coisas realmente contínuas, Espaço, Tempo e Lei, são eternas” (“A filosofia e a conduta da vida;” 1898 em EP 2, 35) e, (ii) “a idéia de que o ser da Idéia é potencial” (que aparece na nota 24, no EP 2, p. 506).

No ensaio Power (“Poder”), Emerson dirá “[T]odo o poder é de um tipo, uma comunhão com a natureza do mundo. A mente que está paralela com as leis da natureza estará na mesma corrente de eventos e forte com sua força. Uma pessoa é feita da mesma natureza da qual os eventos são feitos; está em simpatia com o curso das coisas; pode prever”. Parece que estamos ouvindo Schelling e Peirce. “Uma ‘lei’, no entanto, é tomada mui acertadamente por todo mundo como sendo uma razão para prever que um evento terá

certo caráter” (nossos grifos).157 Por isso, diz Ibri: “[E]sta conseqüência da Metafísica peirceana levaria a um predomínio completo da terceiridade sobre a existência na qual o próprio acaso estará definitivamente extirpado. É o que se depreende de (citando Peirce): ‘Em qualquer tempo, entretanto, um elemento de puro acaso sobrevive e permanecerá até que o mundo se torne um sistema absolutamente perfeito, racional e simétrico, no qual a mente seja pó fim cristalizada em um futuro infinitamente distante (CP6.33)”.158

E mais, “o universo está representado em cada uma de suas partículas” (SWRWE, Compensation, 174; é o “fragmento” de Novalis (1772-1801).159 Segue Emerson, o bardo de Concord: “O universo está vivo.160 Todas as coisas são morais. Aquela alma que, dentro de nós é sentimento, fora de nós é lei” (Ibid, 175; nossos grifos).161 Por isso, existe a lei da compensação. “E assim deve ser”. “Na natureza nada pode ser dado, todas as coisas são vendidas” (Ibid, 178; nosso grifo).162

Mas -, e esta é a rara capacidade de Emerson, de ver os objetos de vários ângulos -, “há um fato mais profundo na alma do que a compensação” (do que a polaridade, yin & yang, dirá Laozi), “dar-se conta de sua própria natureza. A alma não é uma compensação, mas uma vida. A alma é (nossos grifos). Quando compreendemos plenamente a Primeira Categoria da Fenomenologia de Peirce, tudo se torna mais claro. O problema é a linguagem. O próprio Peirce acerta quando diz: “Na quale-consciência nada existe senão uma qualidade, um único elemento. Ele é inteiramente simples”. E, acerta quando acrescenta, “o presente assim concebido é absolutamente separado do passado e do futuro”. Mas erra quando diz: “Isto é, o passado e o futuro estão completamente ausentes no sentido em que eu estou consciente do agora”.163 Erra, por quê? Porque no agor’aqui só há atenção plena, una, e, portanto, não ali ninguém (consciente do agora), só

157 Peirce. New Elements (1904; “Novos Elementos”) em EP 2, p. 314. 158 Em Ibri. Kósmos Noétos. p. 91.

159

Ver a tradução de Rubens Rodrigues Torres Filho da obra de Novalis, Pólen. São Paulo: Iluminuras, 1988, especialmente os “fragmentos logológicos I e II”, pp. 107-118.

160 “A natureza, como totalidade, é ´um ser vivo’, um grande organismo, em que tudo se encontra

harmoniosamente concertado entre si. Ora, um organismo vivo só é possível por meio do princípio criador e organizador a que chamamos alma. Portanto, se o mundo corpóreo, como todo, é um organismo vivo, tem de imperar nele uma ‘alma do mundo’”. E, “[C]om a doutrina da alma universal inverte-se, automaticamente, a visão mecânica do mundo”. Nikolai Hartmann. A Filosofia do Idealismo Alemão, Schelling. 2. A Filosofia da

Natureza, p. 139 (nossos grifos).

161 Peirce irá esclarecer melhor esta simetria; para ele, aquilo que no interior é Sentimento (Primeiro), no exterior

é Variedade, Acaso, Liberdade. Já aquilo que no interior é Pensamento (Terceiro), no exterior é Lei.

162 O ‘iniciado’ Fernando Pessoa (1888-1935), em Mensagem, dirá: “Os deuses vendem quando dão” (Fernando

Pessoa, Obra Poética, p. 5)

há Consciência (ou Sentimento). Tanto que ele mesmo [Peirce] se corrige no ensaio Of

Reasoning in General (1895; “Sobre o Raciocínio em Geral”):

“A palavra sentimento é usada em todo este ensaio para denotar aquilo que deve estar imediatamente, e em um instante, presente à consciência. A spalavras ‘devem estar’ estão aqui inseridas porque nós não podemos observar diretamente o que está instantaneamente presente para a consciência” (EP 2, p. 22).

O coroamente tanto da prática do Raja Yoga (Hinduísta) – “Dhyana” – quanto o do Zazen (Budista) – “Nirvana” – está precisamente na conquista, pela prática perseverante (“abhyasa”), deste “estado de atenção plena e interessada” (sem pensamentos!). Sob todo este mar corrente da circunstância” – “assim todas as coisas pregam a indiferença das circunstâncias” (SWRWE, Compensation, 185; nossos grifos) –, “cujas águas sobem e descem com equilíbrio perfeito, reside o abismo aborígene do Ser real. A essência, ou Deus, não é uma relação ou parte, mas o todo” (Ibid, 185; nossos grifos), o TAO.164 Para bom entendedor...

Mas continuemos nossa análise do poema emersoniano... V

Verso 33 “Sea, earth, air, sound, silence, Mar, terra, ar, som, silêncio,

Verso 34 Plant, quadruped, bird, Planta, quadrúpede, ave,

Verso 35 By one music enchanted, Por uma música encantados,

Verso 36 One deity stirred, _ Uma agitada deidade, _

Verso 37 Each the other adorning, Uma à outra adornando,

Verso 38 Accompany still; Vindo em seu socorro;

Verso 39 Night veileth the morning, A noite a manhã velando,

Verso 40 The vapor the hill. E o vapor o morro.

O poema diz que os elementos (verso 33) e todos os entes que neles vivem (verso 34) (e)s(t)ão “encantados por uma música” (verso 35) – aquela pitagórica (?),das esferas165 – e “movidos por uma deidade” (verso 36) – termo caro a Meister Eckhart (c.1260-c.1328; Gottheit; ver Sermões, pp. 334-6) – elementos e entes estes que

164 A melhor Introdução e Comentário ao TAO TE KING de Laozi (c. 581-500 AEC) é do nosso amigo, Ivo

Storniolo que, entre outros, traduziu os sete volumes da “História da Filosofia” de Reali & Antiseri. Em nossa última viagem à China (Janeiro 2008), tivemos oportunidade de adquirir uma nova versão desse clássico chinês, a partir de uma cópia em seda desenterrada em Mawandui (Changsha) em 1972. No Capítulo 1, Laozi já diz que “O Tao que pode ser nomeado não é o Tao eterno”; no entanto, podemos compreendemo-lo através das “polaridades” Yang (masculina) e Yin (feminina). Para uma deliciosa introdução ao pensamento chinês, recomendamos “A Importãncia de Viver” de Lin Yutang, com tradução de Mário Quintana.

mutuamente “se adornam” (verso 37) e “se socorrem” (verso 38), como “a noite vela o dia” (verso 39) e “o vapor encobre o morro” (verso 40).

Quanto a Pitágoras (580-490AEC), Richardson Jr. diz-nos que “em março de 1841” (p. 346), “Emerson estava lendo A Vida de Pitágoras de Jâmblico.” Foi graças à leitura de Pitágoras, dos Neoplatônicos e [do] Zoroastrianismo que ele, segundo Richardson Jr., (p. 346), na palestra The Method of Nature – de 1841 – que representa o “ponto de inflexão” no seu desenvolvimento intelectual (de acrodo com David Jacobson) – que RWE “deixa para trás o idealismo essencialmente germânico [Kant, (Fichte) e Schelling, filtrados por Carlyle e Coleridge] e adota um panteísmo dinâmico”. O que Emerson terá “visto” através das lentes pitagóricas?

Decerto a idéia de que “o universo inteiro é uma ordem” (nossos grifos) -, uma

regularidade matemática -, “um kósmos (nossos grifos), derivado dos números e que, enquanto tal, é perfeitamente cognoscível também em suas partes”.166 E, porque não dizer, sua noção de que “o ‘um’ não é par nem ímpar: é um parímpar” (Ibid, 28; nossos grifos), que “equivale ao ‘ponto’” (Ibid, ibidem; nosso grifo)? Basta que se diga que essa idéia de “uma ordem perfeitamente penetrável pela razão” representou, como dizem Reale e Antiseri, “um passo decisivo na história do pensamento humano” (Ibid, 29) e, naturalmente, na de Emerson, que diz, já no seu primeiro livro (como já vimos): “O intelecto busca a ordem absoluta das coisas conforme elas estão na mente de Deus” (nosso grifo).167

É, ainda, o elemento estudado anteriormente (Estrofe V) e somos remetidos às pinturas chinesa – de Wang Hui (1632-1717; em exposição, neste momento, no Metropolitan de Nova Iorque),168 por exemplo -, em que as montanhas, imensas (como o

Sublime kantiano)169 estão parcialmente cobertas de névoa e, em um cantinho qualquer, aparece (quando aparece), minúsculo, o homem...

166 Reali & Antiseri, Volume 1, Filosofia Pagã Antiga, 25

167 The Selected Writings of Ralph Waldo Emerson (doravante, SWRWE), Nature (“A Natureza”), p. 13. 168 Devo esta informação à minha amiga, a refinada mestranda Susan Pearson.

169 “Central na definição do “sublime” kantiano é o modo como ele parece ‘transgredir os fins de nossa faculdade

de julgamento, adaptar-se mal à nossa faculdade de apresentação e constituir, por assim dizer, uma afronta à imaginação’” [Kant. Crítica do Juízo § 23 em Howard Caygill. Dicionário Kant. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2000 (p. 298)].

VI

Verso 41 “The babe by its mother O bebê ao lado de sua mãe

Verso 42 Lies bathéd in joy; Jaz banhado em enlevo;

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