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A Universidade na contemporaneidade

No documento PUC-SP VILMA SILVA LIMA (páginas 34-37)

Atualmente proliferam pelo país estabelecimentos de ensino superior, tanto públicos quanto privados, de tamanhos e qualidades diversos. O segmento conta com mais de 160 mil professores com níveis de qualificação distintos, mais de cinco milhões de estudantes com chances e competências desiguais. Na mesma linha de diferenças e incoerências, o título de Universidade, que é determinado para caracterizar instituições de ensino pós-secundário com características específicas, vem sendo utilizado e atribuído a instituições indiscriminadamente. Enquanto, em outros países, o título é usado para rotular instituições específicas, no Brasil, é sinônimo de ―faculdade‖. Legalmente, evidentemente, existem distinções claras e objetivas entre as instituições de ensino, porém, na prática, todos são ―estudantes universitários‖, todos têm ―nível universitário‖.

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A ideia de Gustavo Capanema12 de uma Universidade modelo, que serviria de

padrão e paradigma com o qual todo o sistema de ensino superior deveria se igualar, inverteu-se: ao invés de uma universidade padrão e outras de menor graduação, vê-se a homogeneização. Porém, essa igualdade, que num primeiro momento pode parecer positiva, por ser meramente formal, reforça ainda mais as desigualdades existentes entre aqueles que estão em universidades de ponta e aqueles que estão nas demais instituições.

Para Eunice Durham (2006), tanto os legisladores quanto os agentes presentes neste campo estão afetados pelo ―mito da universidade‖, ou seja, acreditam que o único modelo para o ensino superior seja o da universidade pública e gratuita que associa ensino, pesquisa e extensão.

A força do mito faz com que se omitam da reflexão duas questões fundamentais. A primeira é o fato de que as universidades, tanto do Brasil como em todos os demais países, constituem um tipo específico de instituição que coexiste, creio que necessariamente, com outros tipos de estabelecimentos de ensino superior, como faculdades de formação profissional, institutos tecnológicos, escolas vocacionais e todo um enorme campo de cursos de menor duração, genericamente denominados de pós-secundários. [...] A segunda é que não se dá a devida consideração à profunda diversidade existente no próprio conjunto das universidades brasileiras, que integra, além das públicas, instituições privadas muito diversas, incluindo as comunitárias e as lucrativas, a maioria das quais, aliás, não preenche os requisitos constitucionais que definem as universidades, porque não associa o ensino à pesquisa (Durham, 2006:84).

Segundo dados do último censo (2007) da educação, realizado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira – INEP -, órgão do Ministério de Educação e Cultura - MEC –, há, no setor privado, predomínio de instituições educacionais não universitárias, o que difere do paradigma considerado ideal, ou seja, a organização do ensino superior em instituições universitárias - estas IES representam 86,7% do setor. Outro dado a ser considerado é a questão relativa à pesquisa, que quase não existe no setor privado, visto que a obrigatoriedade de sua exigência concentra-se na instituição universitária; a instituição universitária dá ênfase

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Gustavo Capanema, foi ministro da educação de 1937 a 1945, foi responsável pela organização do ministério da educação nos moldes semelhantes aos praticados hoje.

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a profissões mais clássicas e científicas, já o setor privado concentra-se nas profissões sociais.

Para Schwartzman J. e Schawartzman S. (2002), dois pontos devem ser destacados, uma vez que são periodicamente discutidos pelos analistas e estudiosos do setor: a participação dos professores na gestão e decisões acadêmicas - quase nula - na iniciativa privada e o fato de a atividade cultural e intelectual ser percebida como de natureza altruística, ou seja, oposta à busca do lucro.

Pesquisas como a de Sampaio (2000) têm identificado com mais clareza as funções pedagógicas e educacionais do setor, enxergando-o como um sistema de educação superior de massas, heterogêneo e complexo, dentro do qual o modelo tradicional não pode ser considerado mais do que uma parte de um todo mais complexo.

Isso implica em rompimento com o ideário da universidade como paradigma para o ensino, sendo possível afirmar que, no Brasil, há duas modalidades para o ensino superior – o público e o privado – com formas de sociabilidade distintas, que se complementam e que são pouco excludentes. O setor público, neste cenário, configura-se como uma parte e não o todo e o setor privado como um participante legítimo e não como um mal necessário como comumente é visto.

Inúmeras instituições de ensino superior privado, com o título e as prerrogativas de Universidade, vêm surgindo no cenário brasileiro como parte de um processo que tomou fôlego com a primeira Lei de Diretrizes e Base – LDB –, regulamentada ainda nos anos 1960, e assegurou-se na Constituição de 1988, quando se efetivou a profissionalização do setor.

Importante destacar que a legislação que regulamenta o setor de ensino no país, seja ele público ou privado, baseia-se em dois instrumentos legais: a Constituição Federal de 1988, especificamente nos artigos 207, 208, 213 e 218 e a Lei 9.394/96, Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Para Schwartzman J, Schwartzman S. (2002), o excesso de regulamentação e normas impossibilita a sistematização de um marco regulatório para o ensino superior privado. Segundo eles, no ano de 2001, foram editados 234 documentos para o setor. Atualizando esses dados para 2007, obtêm-se os seguintes resultados:

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Quadro 1 - Normas e Regulamentação

Atos normativos sobre o Ensino Superior Privado Brasileiro

Documentos 2001 2007 Emenda Constitucional 1 0 Leis 10 5 Medidas Provisórias 22 1 Decretos 17 13 Resoluções 32 25 Portarias 94 66 Pareceres do Conselho de Educação 58 9

Fonte: ABMES (Associação Brasileira de Mantenedores do Ensino Superior)

A regulamentação em questão diz respeito somente às instituições privadas categorizadas pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação em seu artigo 20 como: particulares em seu sentido estrito; comunitárias; confessionais; e filantrópicas. No passado, em função de questões fiscais, a maioria das instituições de ensino privadas denominava-se como filantrópica ou sem fins lucrativos. Atualmente apenas cerca de um terço dessas entidades enquadram-se nessas categorias, uma vez que, segundo seus mantenedores, as vantagens são poucas e, além disso, a organização fica mais suscetível à fiscalização governamental.

No documento PUC-SP VILMA SILVA LIMA (páginas 34-37)