• Nenhum resultado encontrado

Tevê universitária: entre a ciência e o senso comum

No documento PUC-SP VILMA SILVA LIMA (páginas 157-160)

3.2 A televisão da universidade

3.2.3 Tevê universitária: entre a ciência e o senso comum

A TV Universitária não pode falar de si nem pode falar para si. Ela tem que falar para a sociedade, senão nem precisaria ser televisão (Lima, 1998:21).

O destino da Universidade tem sido objeto de pesquisa de todos aqueles que estão envolvidos com o saber científico. A Universidade é um bem público e está sujeita ao Estado, que, no caso das IES públicas, é seu financiador e, no caso das privadas, seu regulador. Portanto as transformações que ocorrem na sociedade certamente se refletem na Universidade. De acordo com Santos (2005:114), a especificidade da Universidade, enquanto bem público, consiste em ser ela a instituição que liga o presente ao médio e longo prazos, pelo conhecimento e pela formação que produz e pelo espaço público privilegiado de discussão aberta e crítica que constitui. Santos (2003) afirma, ainda, que a Universidade exprime o modo de funcionamento da sociedade, por isso nota-se, no interior da instituição universitária a presença de opiniões, atitudes e projetos conflitantes que exprimem as contradições existentes na sociedade. Essa ligação entre Universidade e Sociedade talvez possa ser explicada pelo fato de que, desde seu nascimento, a Universidade foi considerada uma instituição social, ligada a uma prática social formada a partir do reconhecimento público de suas atribuições, num princípio de autonomia perante outras instituições.

O século XXI exige da Universidade, segundo Romano (2006), um papel mais aberto e sintonizado com as demandas da sociedade, principalmente nos países em desenvolvimento como o Brasil. Nesse contexto, cabe à universidade uma atuação que considere as desigualdades e que ajude a promoção da inclusão social. Se, no passado, a Universidade teve a missão de formar a elite, atualmente, recebe novas demandas.

Jamais como hoje a universidade foi pensada como parte da economia. Jamais como hoje o conhecimento, a ciência e a tecnologia foram tão valorizados como mercadoria capital a ser apropriada hegemonicamente pelas grandes corporações globalizadas e no interesse dos países centrais (Sguissardi, 2005:215).

143

Nesse novo cenário, a TV Universitária pode exercer um papel fundamental, seja na difusão de informações úteis à comunidade acadêmica ou à sociedade em geral, seja criando oportunidades educativas para ambas.

A televisão configura-se como o maior meio de comunicação do país66, visto que, para boa parte da população, constitui-se como principal fonte de conhecimento de fatos relevantes da sociedade brasileira. Nas últimas décadas, vem ganhando espaço e assumindo papel expressivo para além do âmbito da difusão, sobretudo no da abertura de horizontes para a reflexão que transforma o pensar e o fazer de tantos cidadãos brasileiros. Neste ambiente de ampliação de espaço, fica evidente a contribuição das tevês universitárias que, ao possibilitarem o diálogo entre duas instituições tão importantes – a televisão e a universidade – assumem, de fato, seu papel na ampliação do campo do conhecimento, tão imprescindível ao desenvolvimento da sociedade.

A integração de tantas vozes, por meio do diálogo entre tevê e universidade, permitiu à tevê adentrar no mundo da universidade e, à universidade, no da comunicação. A partir dessa integração, ambas - tevê e universidade - ganham, na medida em que se cria uma atmosfera singular para a reflexão crítica e experimentação de novas linguagens, formatos e narrativas, além de contribuir, criticamente, para a formação de um novo profissional de comunicação alinhado às necessidades da sociedade. A tevê universitária, neste sentido, pode configurar-se como um espaço para o rompimento do fluxo natural e cômodo das ideias dos telespectadores, ao provocar movimento, alertar, mostrar novos modelos, causar estranheza, ou seja, colocá-los diante da realidade que transborda dentro e fora dos muros das universidades. ―Se a gente tem um instrumento desse porte na mão, que esse instrumento não seja apenas um instrumento do nosso narcisismo, mas uma oportunidade de aumento da visão que a sociedade, a partir desse auxílio, possa ter de si mesmo.‖ (Lima, 1998:21).

66 De acordo com os dados do IBGE 2001, dos 5506 municípios brasileiros, 93% não possuem

salas de cinemas; 85% não têm museus e teatros; e 25% não dispõem de bibliotecas. No entanto a mesma pesquisa indica que 98% do território nacional dispõem de canais de tevê.

144

A tevê universitária, como já afirmado anteriormente, para participar de maneira ativa da vida da IES à qual está ligada, deve estar baseada no tripé ensino, pesquisa e extensão. No âmbito do ensino, com a participação de professores e alunos, ocorre na produção de conteúdo; na pesquisa, pelas possibilidades de experimentação no campo da comunicação e do desenvolvimento tecnológico; e na extensão, ao estabelecer um vínculo direto com a comunidade. Por meio desse veículo, a universidade tem a possibilidade de estabelecer um diálogo com a comunidade/sociedade enquanto instrumento pedagógico. O desafio é ampliar seu foco e trazer a sociedade para dentro desta tevê e, consequentemente, para dentro da universidade. Considerando que, atualmente, o saber científico, as formas de conhecimento e de cultura são entendidos e acessados enquanto formas de linguagem e para alcançar a sociedade, a utilização das narrativas da televisão constitui-se técnicas eficazes e já incorporadas pela sociedade.

Alguns cientistas (Carl Sagan e Marcelo Gleisen – apud Paviani, 1998) acreditam que a televisão deva empenhar-se na educação científica da sociedade, pois contingentes significativos dos telespectadores, ainda que a ciência seja uma característica do mundo moderno, são cientificamente analfabetos.

A ciência está presente nas políticas governamentais, na segurança dos transportes, na realização de transplantes, na produção de remédios, de alimentos e etc. Apesar disso, veiculam-se informações mais de caráter pseudocientífico, capazes de despertar admiração de telespectadores do que aspectos verdadeiramente fantásticos da ciência (Paviani, 1998:18).

A pluralista e complexa sociedade contemporânea não se agrada em ser uma massa passiva e uniforme como diagnosticavam os pensadores da escola de Frankfurt. A tevê, neste contexto, está tão segmentada e tematizada quanto a sociedade. A linguagem que perdurou por meio século não atende às expectativas do telespectador. A lealdade às emissoras e sua programação desmoronou em função do controle remoto/―zapping‖, das possibilidades abertas pela digitalização, da existência de variados canais e método de gerenciamento da programação (Appel, 1998).

A homogeneização de tempo e assunto não condiz com a atual sociedade, marcada por controvérsias múltiplas, tendências díspares, níveis sociais, econômicos e culturais distintos. Desde o final do século passado não só a maneira de utilizar o aparelho de tevê mudou, mas, sobretudo, a forma de se relacionar com ela.

145

Nessa perspectiva a tevê universitária poderia promover um ambiente permanente de ação-reflexão, propiciado pela pesquisa realizada nas universidades.

Se todas as televisões podem colocar mais ciência nas suas programações, muito mais o deve fazer uma televisão universitária. Não basta apresentar notícias sobre a universidade ou entrevistar autoridades da administração acadêmica (como faz a maioria dos jornais universitários). Divulgar a instituição apenas sob o enfoque administrativo, chamando a atenção sobre os eventos não é suficiente. É necessário que os méritos de um relatório de pesquisa, de uma tese de doutorado, etc. possam ser notícia, informação relevante para a vida social e econômica (Paviani, 1998:18).

A ligação entre essas duas instituições (tevê e universidade), que no passado se estranharam, no futuro pode se configurar um promissor e bem sucedido casamento e gerar, inclusive, frutos para a sociedade, na medida em que, juntos, poderiam romper com a esquizofrenia do Ibope (Bourdieu, 1997) e ceder lugar para métodos mais criativos e inteligentes, capazes de pensar e produzir uma televisão que atenda, de maneira mais adequada, às demandas da sociedade.

No documento PUC-SP VILMA SILVA LIMA (páginas 157-160)