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A abordagem econômica convencional, no processo de apuração de custos, implica numa relação estreita entre insumos e produtos, desconsiderando ou subestimando efeitos ao ambiente e a sociedade, gerando externalidades, que podem ser negativas (mais comuns e expressivas) ou positivas. Assim, na identificação mais abrangente de custos e benefícios envolvendo os aspectos ambientais de determinada atividade, como um aterro sanitário e a(s) alternativa(s) de destinação dos RSU, a economia do meio ambiente deve ser considerada.

A abordagem da questão ambiental pelos economistas ganhou importância em período recente. Entre os economistas clássicos, principalmente com Malthus, a discussão da sustentabilidade em longo prazo ganha espaço com o questionamento do crescimento demográfico em escala exponencial comparado à limitação dos recursos naturais (MAIMON, 1992).

Os economistas neoclássicos deixam de lado as preocupações com o longo prazo e focam a análise na alocação de bens e serviços em curto prazo, restritos à teoria da escassez de mercadorias e que o mercado atribuiria um preço. Nesse grupo, ocorre a criação do conceito de externalidades, formulado por Pigou em 1920, mas só em anos recentes foi

associado à questão ambiental, devido ao agravamento da qualidade ambiental e ao aumento dos custos de despoluição (MAIMON, 1992).

As externalidades representam falhas de mercado no sistema econômico, incluindo as externalidades ambientais e sociais. De modo que os efeitos externos ocorrem onde uma transação entre dois agentes (A e B) tem consequências indesejadas para terceiros, sejam positivas ou negativas (ANDERSEN, 2007).

Embora essa definição contemple dois agentes, as externalidades negativas se manifestam em várias possibilidades, chamadas por Maimon (1992) de tipologias das externalidades. Assim, como exemplos de externalidades negativas, uma indústria ou um produtor agropecuário ao causar uma poluição hídrica, prejudica os demais agentes (produtores, indústrias ou pessoas) que utilizem desse recurso; uma indústria que causa poluição do ar no seu entorno afetando a população circunvizinha; o cidadão que usa fossa séptica ao causar a contaminação da fonte de água do vizinho; a poluição sonora por veículos automotivos, de residências ou ambientes comerciais afetando a vizinhança.

Esses efeitos, decorrentes das falhas de mercado, atingem terceiros que não participaram da tomada de decisão, ocorrendo a socialização desses custos para sociedade. Assim, a incorporação das externalidades pela atividade econômica, representa o enfrentamento de todos os custos pelos tomadores de decisão, pelo empreendimento, ocorrendo a internalização dos custos ambientais e sociais no preço dos produtos e serviços.

Ao identificar as externalidades negativas nas atividades econômicas e no cotidiano das pessoas, busca-se com a economia do meio ambiente desenvolver mecanismos que venham a promover a internalização dos custos ambientais e sociais pelas atividades privadas, de modo que o preço final reflita todos os custos enfrentados pelo empreendimento.

No final dos anos 1960 e início dos anos 1970, inicia uma fase de economistas com ótica desenvolvimentista em que a reflexão e debate da relação entre meio ambiente e o

disponibilidade limitada dos recur

a partir das projeções do relatório do Clube de Roma; e, do outro lado, os que alegavam que a problemática ambiental foi criada para frear o desenvolvimento do Terceiro Mundo (MAIMON, 1992).

Os críticos a essa corrente e ao Relatório do Clube de Roma agem no contraponto de que para se alcançar o desenvolvimento econômico a questão ambiental é fundamental, sendo

fundamental para a própria vida humana e não apenas para a qualidade de vida (MAIMON, 1992).

Em oposição ao conservacionismo stricto sensu, surgem as Estratégias de Ecodesenvolvimento, uma nova abordagem baseada na satisfação das necessidades das populações carentes, na adaptação das tecnologias e dos modos de vida, na valorização dos dejetos e eliminação dos desperdícios; e a exploração dos recursos pela concepção de sistemas integrados (MAIMON, 1992).

Nos anos 1980, com a instalação pela ONU da Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, surge o conceito de desenvolvimento sustent

desenvolvimento que atende às necessidades do presente, sem comprometer a habilidade das , p. 22).

Para Maimon (1992), o conceito de desenvolvimento sustentável contribui em introduzir o conceito de equidade (entre ricos e pobres, desenvolvidos e em desenvolvimento, geração atual e futura), de responsabilidade comum, de globalização dos problemas ambientais e o desenvolvimento tecnológico orientado para o equilíbrio com a natureza.

Mesmo assim, esse conceito vem recebendo críticas a sua aplicação e limitações. Para Andersen (2007), do ponto de vista econômico, a implicação dessa abordagem está no requerimento ao consumo constante. Com isso, no intuído de manter um rendimento anual constante, será necessário manter o estoque de recursos ambientais constantes, ao se considerar a ausência de progresso tecnológico. Para esse autor, a exigência de manter rendimento e estoque constantes se torna restritiva.

No final dos anos 1980, surge a economia ecológica, que, por sua vez, tem como propósito a relação entre os sistemas econômicos e os sistemas ecológicos, buscando usar os conceitos da economia e da ecologia, assumindo que as relações entre esses sistemas sejam centrais à construção de um futuro sustentável e que ainda não são cobertas por qualquer disciplina (MAIMON, 1992).

Dessa forma a economia ecológica aponta para a necessidade de uma escala sustentável, ar as funções ecossistêmicas básicas, [...] o fornecimento de matérias-primas e a capacidade de absorção

dos resíduos gerados pelas atividades econômicas MAY,

2010, p. 314).

A evolução da aplicação da economia do meio ambiente, da concepção da relação sociedade e meio ambiente e o desenvolvimento dos processos de valoração ambiental, tanto os custos como os benefícios, vem favorecendo um melhor desenvolvimento de medidas para

subsidiar os processos decisórios na gestão pública e das organizações de forma mais sustentável.

Mais recente, com o avanço de críticas ao modelo econômico e de produção hegemônico e a própria concepção de desenvolvimento sustentável, diante das limitações de aplicação e resolução de problemas ambientais, surgem propostas de rever o sistema de produção, em especial na minimização ou eliminação da geração de resíduos.

Para Andersen (2007, p. 134), a economia ambiental contribui ao oferecer uma abordagem analítica, que pode se tornar relevante para a identificação dos fluxos materiais e das opções de reciclagem que proporcionem os melhores benefícios para a economia, considerando a introdução de sistemas produtivos baseados em princípios circulares e não abertos.

Recentemente, com o surgimento da proposta da economia circular, a mesma vem promover avanços na economia do meio ambiente e propor soluções com melhor atratividade para governos e empresas, além dos efeitos positivos na conservação dos recursos naturais.

2.7 A economia circular e a corrente lixo zero na análise econômica dos resíduos