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A busca dos componentes a serem considerados na apuração do custo de oportunidade do aterro sanitário, tendo a coleta seletiva/reciclagem como alternativa para a destinação dos resíduos, envolve, também, os aspectos sociais. Esses são evidenciados com a formalização da atividade de coleta, principalmente, fazendo surgir custos não visíveis e/ou proporcionando a identificação de benefícios antes não percebidos pelo sistema de apuração convencional de custos, alguns sendo possível estabelecer um valor monetário e outros um valor não monetário (qualitativo).

O êxito da reciclagem passa antes pela separação dos resíduos na fonte geradora e realização da coleta seletiva, que apresentam vários benefícios, como a melhor qualidade dos materiais (evitando contaminação com outros resíduos), estímulo à cidadania com o envolvimento da população e redução da quantidade de material destinado ao aterro (GRIPPI, 2001).

[...] é o ponto de partida. Nesta fase o que era lixo se transforma em matéria-prima, em novo insumo para a indústria, sendo re-

(CEMPRE, 2008, p. 2). Essa é a primeira etapa para o funcionamento da cadeia produtiva da reciclagem, proporcionando a recuperação dos materiais recicláveis descartados e direcionando-os para novo ciclo produtivo, em vez de serem desperdiçados no aterro sanitário.

O trabalho na coleta de materiais recicláveis tem papel expressivo para milhares de indivíduos e famílias no país. Historicamente, tem sido um trabalho de catação em lixões ou

pelas ruas, em condições insalubres e de riscos para as pessoas, além da situação marginal em relação à sociedade.

É nessa etapa que os materiais recicláveis são recolhidos e desviados de destinos inadequados (como lixões e aterros controlados) e dos aterros sanitários (previstos apenas para os rejeitos), que não geram benefícios para a sociedade, mesmo minimizando os riscos ao ambiente e à saúde pública. Além disso, a coleta seletiva tem sua contribuição direta na inclusão social dos catadores, sendo através dela qu

Tenório e Espinosa (2004, p. 164), a partir de levantamento de 2000 do IBGE, ilustram o problema da discriminação e a situação de vulnerabilidade ao identificarem em São Paulo a existênc

número era de 2.916, incluindo 448 crianças menores de 14 anos em 2000 e 643 em 1999. Para o Cempre (2008), as estimativas do número de catadores de materiais recicláveis vêm crescendo e com números bastante expressivos, considerando tanto os autônomos como os que estão vinculados a cooperativas ou associações (Tabela 30).

Tabela 30 - Evolução da estimativa do número de catadores de materiais recicláveis no Brasil (autônomos e cooperativados)

Ano 1999 2001 2004 2006

Nº de catadores 150.000 200.000 500.000 800.000

Fonte: Cempre, (2008). Elaborada por Humberto Ferreira Silva Minéu (Jun. 2016). Disponível em: <http://www.mma.gov.br/estruturas/secex_consumo/_arquivos/cempre2008_coleta_seletiva.pdf>. Acesso em: 01 Jun 2016.

O número de pessoas que atuam na coleta de materiais recicláveis é impreciso, com variação significativa entre as fontes que abordam o tema. Diante disso, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA),

panorama da categoria (IPEA, 2012).

De acordo com IPEA (2012) as estimativas do número de catadores têm sido bastante variáveis e a obtenção desses dados perpassam várias fontes. Conforme o documento, a PNAD de 2008 estimou em apenas 70.449 catadores no país, com o agravante de que 5.636 tinham idade até 14 anos.

Outras fontes utilizadas no estudo apresentam variações significativas no número de catadores. De acordo com IPEA (2012), o Movimento Nacional de Catadores de Materiais recicláveis (MNCR) estimou em 800 mil pessoas no país, com 100 mil compondo sua base; 500 mil foi a estimativa de Cáritas (2011) e o Cempre (2011) estimou uma faixa entre 300 mil

e um milhão de catadores no país. Com base nesses dados, o IPEA estima o número de catadores no Brasil na ordem de 400 a 600 mil indivíduos. E de acordo com Lisboa (2013, p. 59), assumindo o número de 400 mil catadores de resíduos sólidos no Brasil

Diante desse expressivo contingente de pessoas, busca-se a inclusão social e produtiva de catadores e sua organização em entidades associativas, no sentido de promover benefícios como geração de emprego, incremento da renda, melhoria nas condições de trabalho e elevação da autoestima.

A inclusão socioprodutiva dos catadores está bem evidenciada no texto da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS). Logo nos princípios da lei, estabelece no art. 6º, inciso

seus instrumentos, no art. 8º,

cooperativas ou de outras formas de associação de catadores de materiais reutilizáveis e

A PNRS também explicita como meta na elaboração dos planos nacional e estadual, art. 15 e 17, inciso V, a eliminação e recuperação de lixões, associadas à inclusão social e à emancipação econômica de catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis (BRASIL, 2010). Aqui, ocorre a associação da meta de eliminação dos lixões com a inclusão dos catadores, dada a forte presença desse público nesses locais e sua situação de vulnerabilidade social.

A existência de programas e ações que proporcionem a participação de cooperativas ou outras formas de associação de catadores é componente obrigatório nos planos municipais de gestão integrada de resíduos sólidos. Além disso, a existência de coleta seletiva com a participação de cooperativas ou associações de catadores é previsto como critério de priorização do acesso a recursos junto à União (BRASIL, 2010).

A PNRS ainda contempla a atuação das cooperativas ou associações de catadores em planos de gerenciamento de resíduos sólidos e em materiais integrantes da logística reversa, respeitados os requisitos legais. No âmbito da responsabilidade compartilhada, a PNRS atribui ao poder público a responsabilidade de estabelecer o sistema de coleta seletiva, priorizando a organização e o funcionamento de cooperativas ou associação de catadores, bem como, sua contratação, mediante dispensa de licitação (BRASIL, 2010).

Esse movimento de inclusão social dos catadores, presente no arcabouço legal, com princípios, incentivos, instrumentos, metas, retrata a preocupação com a melhoria das condições de trabalho e a busca de emancipação econômica dos mesmos, frente a eliminação

dos lixões e vazadouros, previstas na mesma legislação, que vem sendo utilizados como pontos de coleta, bem como dos catadores que realizam a atividade de forma autônoma nas ruas em situação de vulnerabilidade social.

Para Cempre (2015, p.1) o destaque dado à inclusão socioeconômica dos catadores pela PNRS representou um grande passo na integração dos mesmos na cadeia produtiva e, desde então,

assegurado benefícios em incremento de renda mensal, melhoria nas condições de trabalho e

Os catadores têm um papel crucial no processo de coleta seletiva e reciclagem, pois do material IPEA, 2012,

CALDERONI, 2003 apud IPEA, 2012, p. 9).

Um aspecto importante para a conquista de melhorias para os catadores, e para que possam usufruir das medidas estabelecidas pela PNRS, é a mobilização e organização dos mesmos em cooperativas ou associações. Afinal, a PNRS estabelece o fim dos lixões e a proibição de presença de catadores em aterros sanitários (BRASIL, 2010), o que retira uma fonte de sustento (sobrevivência) dessas pessoas, mesmo considerando as precárias condições. De acordo com IPEA (2012), utilizando dados do IBGE de 2008, foram identificados 684 municípios no Brasil com presença de cooperativas ou associação de catadores atuando no manejo dos resíduos sólidos, com um total de 1.175 cooperativas ou associações existentes no país, com 30.390 catadores associados. Em função da variação da quantidade de associados encontrada em diversas fontes, o IPEA assumiu que o número de catadores associados no país em 2010 estava na faixa de 40 a 60 mil trabalhadores.

Esses números ilustram a importância do estabelecimento dos programas de coleta seletiva nos municípios, como forma de incluir as pessoas que atuavam em lixões no processo formal de coleta e triagem dos materiais recicláveis, simultaneamente ao encerramento dos lixões e ao fato de ser vedada a presença de catadores nos aterros sanitários.

Assim, o processo de formalização e organização em cooperativas ou associações representa um primeiro passo para a conquista de benefícios sociais para esses trabalhadores. Ao incluí-los na formalidade, um dos primeiros ganhos, de forma imediata, está nas e trabalho que encontra nas cooperativas, como jornada regular, equipamentos de proteção individual e condições sanitárias mais adequadas ao desempenho de suas

Apesar desses catadores organizados são

minoria, apenas 10% IPEA, 2012, p. 17).

A profundidade e abrangência do que representa a formalidade para essa categoria é ilustrada pelo trabalho de Grimberg, Goldfarb e Tuszel (2005 apud IPEA, 2012, p. 9), que ao fazerem estudo sobre a gestão dos resíduos sólidos e inclusão social no Programa Coleta Seletiva Solidária da cidade de São Paulo, chegam a conclusão de que

a conquista mais significativa relaciona-se ao exercício da cidadania, mais especificamente à recuperação da dignidade, da autoestima, do sentido de pertencimento social. Em segundo lugar, muitas vezes a entrada em uma cooperativa de uma central de triagem ou num núcleo possibilita ao catador tomar consciência da importância de seu trabalho, pois possibilita a preservação do meio ambiente (redução da extração de matéria-prima, energia e água) e a limpeza da cidade.

Lisboa (2013, p. 60-61) também apresenta relato nesse sentido com o depoimento de Albino Rodrigues Alvarez, um dos coordenadores do estudo do IPEA (2012), mediante observações após visitas a cooperativas, ao afirmar que

As melhores surpresas, aliás, estão concentradas entre os catadores organizados em população é muito pobre) de catadores em cooperativas, pessoas que conseguem

Agregando-se ao reconhecimento pelo seu trabalho, ocorre a geração de emprego, melhoria de renda dos catadores e de condições de trabalho, variando com a situação da região e o modelo de organização. Estes benefícios sociais, evidenciados com a mobilização e organização, são componentes importantes na política pública em benefício da inclusão socioprodutiva da massa desses trabalhadores, que ainda não usufruiu desses benefícios.

Embora, de acordo com o IPEA (2012), a renda média dos catadores não ultrapasse o salário mínimo, sugerindo um intervalo de R$420,00 a R$520,00 para o grupo dos catadores organizados, ocorrem relatos de cooperativas que superam significativamente esses valores, na medida em que evoluem em sua eficiência e arranjo com o poder público.

Como exemplo da melhoria de renda, Cempre (2015, p. 2) apresenta uma cooperativa de Londrina, criada em 2009, que a partir de 2013 começou a ter seus membros saindo do programa bolsa família e em 2015 apresentando uma renda mensal de R$1.300,00 (em 2011 era R$730,00), complementada por benefícios como café da manhã, almoço, vale-transporte, vale-alimentação no valor de R$150,00, pagamento de INSS e férias remuneradas. Para essa

melhoria foi fundamental o apoio da política pública, envolvendo a obtenção de caminhões junto a Funasa e do contrato de prestação de serviços com a Prefeitura (CEMPRE, 2015).

Mesmo assim, esse segmento tem muito a crescer em melhorias de renda e contribuição previdenciária, ao considerar que de acordo com IPEA (2012, p. 21) apenas 25% dos catadores contribuem com o Instituto Na , embora Lisboa

trabalho dos catadores de materiais recicláveis pode ser notado em diversas cidades para isso

prefeituras, apoio de associações, ONG e empresas, criação e profissionalização de cooperativas e formação de redes para obtenção de melhores negociações [...]

O êxito de todo o trabalho dos catadores e os benefícios gerados pela reciclagem para os próprios catadores, indústria recicladora, para a conservação ambiental e para a sociedade como um todo, dependem do bom funcionamento da coleta seletiva, com a separação na fonte dos materiais recicláveis pelos geradores, pessoas físicas ou jurídicas.