• Nenhum resultado encontrado

2.7 A economia circular e a corrente lixo zero na análise econômica dos resíduos sólidos

2.8.5 Dimensão ecológica

A questão ecológica apresenta-se estreitamente ligada à questão econômica, dada a interação entre os sistemas econômico e ecológico. Mesmo com as variações de concepções, essa relação perpassa pelo meio ambiente como um fornecedor de matéria-prima para o sistema econômico, ao mesmo tempo em que recebe os resíduos gerados. Outras funções do ambiente na perspectiva do sistema econômico são também relevantes, como suporte à vida (humana ou não humana) e por meio da paisagem, cuja beleza transmite sensações para as pessoas, sem interferência da economia.

A contribuição dessa dimensão na GIRS envolve proporcionar a visão da relação das atividades econômicas com a demanda de recursos naturais como insumos para as atividades produtivas e sociedade, e pelo outro, pela capacidade dos ecossistemas em receberem e assimilarem os resíduos (dejetos) descartados pela sociedade.

O descarte de materiais ou emissões de forma descontrolada ocasiona a poluição

localização ou quantidade causam efeitos negat 2014, p. 19). Ao mesmo tempo, a

diretamente ameaçada pela exposição a poluentes ou pela ação do homem [...] CALLAN, 2014, p. 26).

A disposição de resíduos no ambiente exerce efeito poluidor imediato e/ou em longo prazo, devido a muitos materiais serem devolvidos pela sociedade à natureza em composição de difícil ou lenta assimilação na natureza.

Parte dessa demora de assimilação ou decomposição dos resíduos se deve à capacidade do homem em colocar no ambiente, produtos em formas que o meio natural não consegue absorver, mesmo em longo prazo (TENÓRIO; ESPINOSA, 2004).

O quadro 2 apresenta, a título de ilustração, estimativas de decomposição no ambiente de alguns resíduos, dos grupos utilizados nos sistemas de separação para a coleta seletiva.

Quadro 2 - Estimativas do tempo de decomposição de resíduos sólidos no ambiente

Grupo de resíduo Resíduo Tempo de decomposição

Plástico

Embalagens PET¹ > 100 anos

Copos descartáveis² 200 a 450 anos

Náilon² 30 a 40 anos

Sacolas plásticas¹ > 100 anos

Tampinhas de garrafa² 100 a 500 anos

Plásticos (embalagens, equipamentos)¹ Até 450 anos

Papel / Papelão

Embalagens Longa Vida¹ Até 100 anos

Papel e papelão¹ 6 meses

Jornais² 2 a 6 semanas

Embalagens de papel² 1 a 4 meses

Vidro Garrafas de vidro ¹Vidros¹ IndeterminadoIndeterminado Metal

Latas de alumínio² 100 a 500 anos

Alumínio¹ 200 a 500 anos

Metais (componentes de equipamento)¹ Cerca de 450 anos

Aço¹ > 100 anos

Orgânico

Casca de frutas e verduras² 3 meses

Madeira pintada ³ 13 anos

Couro4 Até 50 anos

Meias de lã4 10 a 20 anos

Rejeito6

Chicletes² 5 anos

Bituca de cigarro³ 5 anos

Guardanapos² 3 meses

Pano4 6 meses a 1 ano

Fraldas descartáveis4 600 anos

Papel plastificado4 1 a 5 anos

Embalagens metalizadas (biscoito, salgados...)5 100 anos

Fontes: ¹PROJETO reciclar: coleta seletiva na UFV. O Tempo de Degradação dos Materiais. Viçosa. Disponível em: <http://www.projetoreciclar.ufv.br/?area=tempo_degradacao> Acesso: 01 out. 2013.

²GRIPPI (2001, p. 19).

³COMPANHIA DA RECICLAGEM. Tipos de resíduos. Disponível em:

<http://www.companhiadareciclagem.com.br/residuos_cores.html>. Acesso em: 01 out. 2013.

4LIXO.COM.BR. Tempo de decomposição. Disponível em:

<http://www.lixo.com.br/index.php?option=com_content&task=view&id=146&Itemid=252>. Acesso: 01 out. 2013.

5ECYCLE. Decomposição leva tempo. Disponível em:

<http://www.ecycle.com.br/component/content/article/44-guia-da-reciclagem/143-decomposicao.html> Acesso: 04 out. 2013.

6A classificação em rejeitos considerou a situação do mercado local em Ituiutaba/MG.

Elaboração: Emmeline Aparecida Silva Severino, Lisiane da Silva Mendes, Humberto Ferreira Silva Minéu, dura

Embora os prazos possam variar com as condições ambientais em que o material fica exposto, os valores demonstram que alguns materiais ficam muito tempo sem assimilação pelo ambiente, sem aproveitamento, e podendo causar problemas ao meio ambiente e às pessoas.

Mesmo considerando a destinação dos RSU para o aterro sanitário, numa situação de não haver separação prévia dos resíduos, de acordo com Grippi (2001) a degradação total de produtos crus e degradáveis ocorre num intervalo de 15 anos em um aterro. Depois desse período, a degradação é praticamente nula e passa a depender de fatores que não estão presentes no aterro para que esse processo continue.

Além desse tipo de perda de material, tomando como exemplo os plásticos, a sua disposição em aterros dificulta a compactação e prejudica a degradação de materiais biologicamente degradáveis em função de criar camadas impermeáveis que afetam as trocas de líquidos e gases (GRIPPI, 2001).

Além desses problemas e impactos apresentados, a capacidade de renovação dos recursos naturais é limitada a um ciclo de tempo, que em muitos casos estão em prazo bem superior ao ciclo de vida humana. Isso faz com que alguns recursos naturais sejam classificados como não renováveis. E embora alguns sejam classificados como renováveis (como a água), estão dando sinais de esgotamento em função da demanda ser maior que a capacidade de renovação do recurso.

Com isso, a separação e destinação adequada dos RSU, como a reutilização e reciclagem, contribuem para menor demanda de recursos naturais como matéria-prima; reduz a pressão sobre a busca de novos recursos; reduz a demanda de exploração de mais áreas; e reduz a pressão sobre áreas a serem destinadas à conservação ambiental, favorecendo a manutenção de ecossistemas e espécies, contribuindo para a conservação da biodiversidade.

O quadro 3 apresenta os benefícios ecológicos da coleta seletiva e reciclagem de alguns materiais. No âmbito dos RSU, a coleta seletiva envolve quatro grupos de materiais papel/papelão, plástico, vidro e metal, que tem sua viabilidade de coleta conforme a tecnologia disponível de reaproveitamento e o mercado local para absorver os resíduos.

Mesmo com todos esses benefícios, para Vera Chevalier e Patrícia Mousinho (GRIPPI, l que a reciclagem seja percebida em toda a sua complexidade,

Quadro 3 - Economia de recursos naturais proporcionadas pela reciclagem de materiais.

Grupo QuantidadeMaterial / Ganho ecológico Fonte

Papel / Papelão

Aparas (1 t)

evita o corte de 10 a 20 árvores; consome 10 a 50 vezes

menos água; e reduz o consumo de energia pela metade GRIPPI (2001) papel jornal produzido a partir das aparas requer 25% a

60% menos energia elétrica WWF¹

A cada 28 t de

papel reciclado de 30 ou mais árvores);evita-se o corte de 1 hectare de floresta (1 t evita o corte WWF¹ A produção de

papel reciclado reduz em 74% os poluentes liberados no ar e em 35% osdespejados na água WWF¹ Jornal (1 t) evita a emissão de 2,5 t de dióxido de carbono WWF¹

Metal

Alumínio a energia necessária para o processamento do metalreciclado é 20 vezes menor que o metal primário (GRIPPI,2001, p. 43) Aço energia necessária para o processamento do metalreciclado é 3,7 vezes menor que o material primário; (GRIPPI,2001, p. 43) Aço (1 t) economiza 1.140 Kg de minério de ferro, 155 Kg decarvão e 18 Kg de cal WWF¹ Alumínio (1 t)

economiza 95% de energia (são 17.600 kwh para fabricar alumínio a partir de matéria-prima virgem, contra 750 kwh a partir de alumínio reciclado); 5 toneladas de bauxita, reduz 85% da poluição do ar e 76% do consumo de água

WWF¹

Latinhas de

alumínio (1 t) economiza 200 metros cúbicos de aterros sanitários WWF¹ Plástico Plástico em geral100 t de plástico evitam a extração de 1 t de petróleoeconomiza até 90% de energia WWF¹WWF¹

Vidro

Vidro economizando aproximadamente 70% de energia epermitindo maior durabilidade dos fornos WWF¹ Vidro (1 t)

evita a extração de 1,3 t de areia, economiza 22% no consumo de barrilha (material importado) e 50% no consumo de água

WWF¹ economia de 1,2 t de matéria-prima que deixou de ser

utilizada/extraída; (GRIPPI,2001)

¹Disponível em: <http://www.wwf.org.br/?uNewsID=14001>. Acesso em: 22 ago 2016. Elaboração: Humberto Ferreira Silva Minéu (Ago. 2016).

A destinação adequada dos resíduos promove um duplo efeito benéfico: evita os problemas de poluição ambiental, com a decomposição dos mesmos no ambiente; e contribui com menor demanda de recursos naturais e áreas (espaço) para disposição final.

Esses benefícios representam, tamb

ameaça à biodiversidade, no entanto, é a destruição do habitat natural, que afeta ecossistemas inteiros. [...] A biodiversidade pode também ser prejudicada pelas alterações no habitat, que em geral são atribu

Portanto, a compreensão da dimensão ecológica, dos efeitos da ação humana sobre o ambiente natural e das consequências do retorno desses efeitos sobre as atividades produtivas e sociedade, é um componente relevante no processo de gestão integrada, subsidiando decisões e ações nas demais dimensões. A atribuição de valor aos recursos naturais, sejam

monetários ou não monetários, representa componente importante a ser incluído na análise econômica das alternativas para a destinação adequada dos RSU.