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Procedimentos metodológicos para a coleta e sistematização de dados

O início da pesquisa foi realizado com a etapa de estudo exploratório, de modo a melhor conhecer o caso estudado, o objeto e amadurecer a delimitação do estudo. Nessa etapa, buscou-se a identificação da disponibilidade de dados e informações, das fontes dos dados e de pessoas (informantes) que trabalharam e ainda atuam na destinação dos RSU no município, que pudessem contribuir com a pesquisa, dada a necessidade de documentos e informações ao longo dos anos de implantação do aterro sanitário e coleta seletiva no município.

Foram identificados como fonte de acesso aos dados e documentos, os órgãos da prefeitura (Secretaria Municipal de Obras e Serviços Públicos, Secretaria de Desenvolvimento Social, Secretaria da Fazenda), a Superintendência de Água e Esgotos de Ituiutaba (SAE) e a Cooperativa de Reciclagem de Ituiutaba (Copercicla), bem como a forma de solicitar dados e acesso aos documentos, visitas ao aterro para conhecer o processo de recepção dos resíduos e operação, a importância de acompanhar e levantar dados diretamente no aterro, bem como conhecer as pessoas que proporcionariam tais condições.

Paralelamente, a pesquisa bibliográfica permitiu a obtenção de estudos e dados referentes ao tema, de modo a criar um contexto macro de referência para a análise dos dados do caso estudado, bem como para eventuais comparações, sendo realizada durante todo o período do estudo.

Ao longo dos trabalhos de pesquisa, foi mantido o trabalho de observação participante, observando-se os procedimentos de coleta dos RSU no município, comportamentos da população em geral, participação em eventos referentes ao tema, promovidos por entidades públicas, de classe ou privadas, incluindo a apresentação de sugestões.

Para os procedimentos de coleta dos dados foi realizada a solicitação formal por parte do pesquisador, mediante memorandos impressos ou via e-mail, conforme o contato preliminar com informantes ou funcionários quanto aos procedimentos de cada órgão ou entidade. No memorando, conforme exemplo no apêndice A, apresentava-se o pesquisador, os objetivos da pesquisa e a demanda de dados/informações.

Nos casos de liberação de acesso aos locais, documentos e dados foram disponibilizados mediante autorização verbal, como o acesso ao aterro sanitário e levantamento de dados; o acesso e análise dos documentos da Secretaria de Obras e Serviços Públicos (SOSP) e SAE, realizados in loco. A Secretaria de Desenvolvimento Social retornou por e-mail (conforme formato enviado pelo pesquisador por e-mail) e a Secretaria da Fazenda disponibilizou o relatório impresso dos empenhos pagos do contrato do aluguel do prédio utilizado pela coleta

seletiva e dos valores do convênio com a Cooperativa, mediante solicitação formal via memorando e abertura de processo interno com avaliação pela procuradoria do município.

No decorrer da pesquisa, em situações de complementação de informações e dados, foi realizada a solicitação verbal a esses atores, em alguns casos por telefone, bem como a outros atores no município que atuaram como informantes na busca de identificar locais e pessoas que pudessem apresentar dados, informações e documentos acerca do tema de estudo. Esses contatos e conversas ocorreram em momentos solicitados pelo pesquisador e nos encontros com os mesmos em eventos referentes ao tema no município.

Os mapas disponibilizados pela prefeitura (planta do aterro, perímetro urbano antigo 1992 e o perímetro urbano novo 2015) foram obtidos junto à Secretaria de Planejamento, em formato DXF e georreferenciados no software Quantum GIS (QGIS), conferindo-os com a respectiva lei, com a criação da camada SHP. Os mapas utilizados no trabalho foram elaborados no QGIS, com obtenção de bases nacional, estadual e local no IBGE.

A legislação municipal referente ao estudo foi obtida junto aos agentes públicos e as atualizações/alterações foram verificadas junto ao setor da Procuradoria Geral do município, bem como obtidas junto a informantes e profissionais que atuam no setor e na atividade de pesquisa no município em tema que envolve a mesma legislação.

Os dados dos RSU depositados no aterro foram obtidos em três formas: de dez/2005 a dez/2006 mediante consulta ao relatório da prestadora de serviço em arquivo da Secretaria de Obras e Serviços Públicos (SOSP), realizado in loco; de jan/2007 a fev/2013, foram enviados pela SOSP por e-mail em planilha eletrônica com os dados mensais da quantidade de resíduos e valores pagos pela prefeitura para a coleta e na operação do aterro; foi realizado levantamento in loco no aterro em 2014 e 2015, mediante acesso aos tickets de pesagem diária dos resíduos, com autorização da SOSP, e também o envio dos dados de quantidade e valor pago pelo município para o serviço de coleta em planilha eletrônica por e-mail pela SOSP. Nesse período a prefeitura assumiu a operação do aterro e não disponibilizou dados de quantidade de material e valores financeiros gastos. Nesse casso, foi realizada uma estimativa do valor gasto com a atividade de operação do aterro sanitário, conforme detalhamento apresentado na seção de resultados e discussão.

Com o acesso aos tickets de pesagem, foi realizado um trabalho de separação por tipo de resíduo (RSU terceirizado, Domiciliar Prefeitura/Rural, Poda e Capina, Resíduo de Construção e Demolição-RCD, Animal Morto, Lodo da Estação de Tratamento de Esgoto, denominada de Estação de Recuperação e Preservação Ambiental de Ituiutaba - ERPAI,

Chorume enviado para a ERPAI, Outros/diversos), por dia, mês e ano, conforme o material e sistema de controle encontrado no setor, ilustrados na figura 8.

Figura 8 - Organização dos tickets de pesagem por tipo de resíduo, dia, mês e ano

Foto: Arquivo pessoal.

Na realização da pesquisa foi desenvolvida uma planilha eletrônica para registro desses dados, organizados de forma separada por tipo de resíduo, sendo preenchidas e repassadas via e-mail nos anos de 2014 e 2015 para a SOSP (Figura 9). Essa ação foi em retribuição pela abertura e disponibilização dos dados, como sugestão para a melhoria do sistema de registro e controle dos resíduos entregues. Além de contribuir com a geração de dados quantitativos e indicadores a serem utilizados no gerenciamento do aterro.

Sugeriu-se à administração do aterro a eliminação da categoria outros/diversos , por não haver essa classificação de resíduo prevista na norma vigente (lei 12.305/2010). Sugeriu- se, também, que passassem a registrar na pesagem os tipos de resíduos nas categorias de acordo com a célula de disposição (domiciliar, entulho, podas). No caso de animais mortos, estavam sendo dispostos juntamente na célula do resíduo domiciliar, com a sugestão de manter o registro em separado.

Para uso na pesquisa, foram considerados os dados referentes ao RSU terceirizado, mediante contrato da empresa que faz o serviço de coleta e disposição no aterro sanitário. O domiciliar rural coletado pela prefeitura representou, em 2015, apenas 1,7% do RSU coletado terceirizado, sendo desconsiderado na análise por não haver informação de custos e o baixo percentual em relação ao RSU coletado terceirizado.

Figura 9 - Planilha eletrônica desenvolvida no levantamento dos dados do aterro sanitário de Ituiutaba e encaminhada para a Secretaria de Obras

No período considerado para os levantamentos de dados do aterro sanitário para a pesquisa, o serviço de coleta de RSU passou por três situações distintas: de 2005 a 2006 a coleta era realizada pela prefeitura e o aterro operado por empresa terceirizada; de jan/2007 a fev/2013 o serviço de coleta e operação do aterro era prestado pela mesma empresa terceirizada; de mar/2013 até o encerramento da pesquisa o serviço de coleta foi realizado por empresa terceirizada e a operação do aterro pela prefeitura.

No sentido de manter uma linha de fontes de dados para análise, adotou-se o critério de utilizar os dados fornecidos pela SOSP, tanto a quantidade de RSU destinado ao terro como os valores pagos pelo serviço de coleta e operação. O levantamento realizado pela pesquisa em 2014 e 2015 ficou como forma de conhecer melhor o funcionamento do empreendimento e contribuição da pesquisa para o município quanto ao sistema de registro e indicadores.

A Secretaria de Desenvolvimento Social forneceu dados de apoio da prefeitura à Cooperativa de Reciclagem de Ituiutaba com o fornecimento de cestas básicas mensais, linha telefônica, auxiliar administrativo e os valores envolvidos, mediante solicitação via e-mail e contatos telefônicos E a Secretaria da Fazenda disponibilizou os dados de aluguel das instalações e valor de subvenção anual repassado à Cooperativa mediante convênio, sendo esse último também obtido junto à Cooperativa.

No levantamento e sistematização dos dados da coleta seletiva, a Cooperativa de Reciclagem de Ituiutaba - Copercicla disponibilizou verbalmente o acesso aos documentos. Os dados foram sistematizados em planilha eletrônica elaborada pela pesquisa, envolvendo a quantidade de material comercializado e valor econômico, conforme consulta aos relatórios mensais de prestação de contas e notas fiscais de venda na sede administrativa da Copercicla, além do acesso aos documentos da entidade, como: relatórios mensais, livros da contabilidade, atas e estatuto. Além disso, os membros da diretoria apresentaram informações complementares sempre que solicitado durante a pesquisa, na forma de esclarecimentos quanto ao funcionamento e sistemática de registro dos dados. Ocorreram consultas ao escritório de contabilidade que atende a entidade para entendimento da sistemática de registros e precisão na coleta dos dados.

Como contribuição da pesquisa, no processo de coleta e sistematização dos dados, foram apresentados à Copercicla planilhas como sugestão para a sistematização dos seus dados, envolvendo receitas e despesas e a quantificação dos materiais, por tipos, grupos, nos períodos diário, mensal e anual. Os dados sistematizados para o estudo foram previamente apresentados e disponibilizados para a Copercicla, mediante solicitação de não divulgação antes da pesquisa.

Na estimativa do custo de oportunidade foi realizada a estimativa do custo de instalação do aterro sanitário do município, por meio de consulta aos processos licitatórios da época e contatos com informantes que vivenciaram o processo. Os valores nominais efetuados em momentos diferentes foram corrigidos para o mesmo momento (dezembro de 2006), com base no Índice Nacional da Construção Civil (INCC) e Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), de modo a gerar um valor de investimento para efeito de cálculo de depreciação anual durante a vida útil do empreendimento.

No caso de item não localizado nos documentos, recorreu-se a informantes que apresentaram valor gasto na época (como o valor do projeto) e a despesa de licenciamento foi estimada a partir de orçamento atual, com o cálculo de deflação para a época. Esses procedimentos apresentam mais detalhes nos respectivos momentos de apresentação nos resultados do trabalho.

Para a obtenção de valor atual de investimento necessário para instalar um novo aterro similar ao existente, utilizou-se o memorial descritivo do projeto do aterro encontrado em um dos processos licitatório, com orçamento realizado por profissional do mercado local, utilizando os valores tabelados pelo setor, na parte de obras. Para os equipamentos, foram realizados contatos com fornecedores de equipamentos similares dos mesmos fabricantes e solicitado por telefone ou e-mail valor atualizado. No caso de itens sem obtenção de orçamento, recorreu-se a atualização do valor do investimento na época de instalação do aterro, corrigido pelos índices do mercado, conforme o item, descrito em detalhe nos resultados.

A opção da coleta seletiva como alternativa ao aterro sanitário foi adotada por atender aos princípios da economia circular. Nesse caso, foi realizado o levantamento dos dados da coleta seletiva existente no município e estimados os custos evitados e benefícios gerados em relação aos resíduos recicláveis ainda destinados ao aterro sanitário, simulando o seu desvio (ou redirecionamento) para a coleta seletiva.

No levantamento dos benefícios com o desvio do material do aterro sanitário, foram considerados os benefícios econômicos, ambientais e sociais gerados, monetários e não monetários, valorados ou apenas qualitativos, mas que subsidiam o processo de tomada de decisão. A pesquisa bibliográfica forneceu trabalhos na literatura e relatórios de órgãos oficiais sobre os benefícios econômicos e ambientais da reciclagem, em valor monetário, que complementam os valores e benefícios identificados e quantificados no estudo.

Realizou-se a estimativa do valor econômico médio por hectare ao ano perdido, ou que deixa de ser gerado, com a área utilizada para a disposição dos RSU, ou seja, com a área do

aterro. Esse valor foi estimado com base no Produto Interno Bruto do setor agropecuário, devido o aterro ter sido instalado em área rural e ter no seu entorno área ocupada com pastagem.

Realizou-se a avaliação do valor econômico da área (terra) do entorno do aterro por meio de consulta a imobiliárias locais, considerando dois usos, em função da mudança de perímetro urbano durante a pesquisa. A produção agropecuária no caso do perímetro urbano antigo e loteamento urbano no caso do perímetro urbano novo (APÊNDICE B).

No levantamento dos dados tributários dos impostos pagos pela cooperativa, recorreu-se ao apoio do escritório de contabilidade que atende a mesma, quanto a compreender a forma de registro nos livros de contabilidade da entidade, bem como a interpretação e forma correta de extração dos dados.

Quanto aos valores referentes ao ICMS ecológico recebido pelo município, os dados foram obtidos no site da Fundação João Pinheiro (FJP). Ao ser identificada divergência entre valor total do critério meio ambiente em dois anos do período de levantamento em relação à soma dos subcritérios, foram realizados contatos por telefone e e-mail com técnicos da Fundação Estadual do Meio Ambiente (FEAM) e Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (SEMAD) na busca de esclarecimento e compreensão. Nesses contatos foi obtida toda a legislação e normas referentes ao ICMS ecológico, bem como o modelo do formulário para avaliação do checklist do aterro (ANEXO A) e planilha contendo uma situação de avaliação do aterro sanitário do município (ANEXO B).

Na sistematização dos dados de quantidades e valores financeiros envolvendo a coleta e transporte dos resíduos e operação do aterro e a coleta seletiva, adotou-se no trabalho a sistemática de apresentação em tabelas com os dados em detalhe de cada item de despesa ou receita, acumulando posteriormente em tabelas sínteses, de modo a proporcionar a compreensão da evolução dos dados e conclusões.

Durante todo o período, foi realizada a checagem de dados e informações, utilizando a combinação de métodos, conferindo e/ou confrontando os dados encontrados em documentos com informantes ou outras fontes de dados, sempre que disponível. Em algumas situações, foram apresentados e discutidos com informantes resultados parciais para obtenção de esclarecimentos, explicações ou justificativas e verificação quanto a eventual interpretação do pesquisador estar condizente com o ocorrido no contexto local. A título de exemplo, a análise preliminar dos dados da coleta seletiva foi apresentada ao presidente da cooperativa, de modo validar a coerência dos dados levantados, bem como se havia alguma imprecisão. Da mesma

forma, dados parciais do aterro foram apresentados a agentes públicos no sentido de obter esclarecimentos que explicassem os valores e padrão de registros identificados.

A sistematização dos dados foi realizada previamente em planilhas eletrônicas, para posterior inserção no texto, bem como elaboração de gráficos. Isso pode ocasionar ligeiras diferenças ao se calcular os valores totais nas tabelas a partir dos valores intermediários, em função de arredondamentos ao transpor para o texto, enquanto na planilha a ferramenta utiliza o valor com maior número de casas decimais.

Na redação do trabalho, além das normas pertinentes de formatação do texto e referências, foram utilizadas as orientações da Comunicação Social do Senado referentes ao estrangeirismo na língua portuguesa, envolvendo palavras que não precisam da grafia destacada (itálico ou negrito) ou que precisem, mediante consulta pelo site do senado, no link https://www12.senado.leg.br/manualdecomunicacao.

Durante a realização da pesquisa foram apresentadas sugestões no âmbito da gestão de resíduos no município, em audiências públicas, aos profissionais que atuam na gestão dos RSU, à cooperativa de reciclagem e à prefeitura de Ituiutaba, por meio de memorando ao prefeito (APÊNDICE C). Essas sugestões estiveram sempre pautadas no intuito de contribuir com avanços na gestão dos resíduos do município, a partir da análise dos dados e resultados identificados na pesquisa.

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

A presente seção aborda os resultados obtidos, com a discussão à luz do referencial e revisão de literatura, organizado em uma caracterização da área e do objeto do estudo, com os custos de instalação do aterro; o levantamento da situação da coleta de RSU e destinação ao aterro sanitário, com quantidades e valores financeiros; a situação da coleta seletiva formal, com quantidades de materiais, benefícios gerados e valores financeiros; um comparativo entre a coleta convencional e a coleta seletiva; e o custo de oportunidade da destinação ao aterro representado pela alternativa à coleta seletiva para reciclagem e compostagem.