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2.1 Panorama dos Resíduos Sólidos Urbanos no Brasil: geração, coleta, operação,

2.1.1 Geração total e per capita de RSU

A evolução da quantidade total e per capita de RSU no Brasil é apresentada na tabela 2, conforme diversas fontes que acompanham o tema. Esses dados demonstram a diferença de periodicidade de levantamentos, o que, de certa forma, favorece pela intercalação de datas, permitindo a geração de dados em intervalos menores que somente os praticados nos levantamentos dos órgãos oficiais. A diversidade de fontes gera informações com valores diferentes, boa parte em função da metodologia utilizada, o que demanda ponderação na utilização e análise dos dados. A elevação da quantidade de RSU no país reforça o incremento das despesas totais com o serviço de coleta e destinação dos RSU, considerando o aumento da despesa per capita apresentada na tabela 1.

Tabela 2 - Evolução da quantidade de RSU no Brasil total e per capita Ano do dado Fonte Quant. (milhões t/ano) Quant.

(t/dia) (kg/hab/dia)Per capita População(hab)

- GRIPPI (2001) 100.000 0,5

2000 PNAD 2000 (IBGE, 2002) 125.281 0,45 a 0,7 (< 200 mil hab)

0,8 a 1,2 (> 200 mil hab) 0,737 (média) 169.799.170 2004 TENÓRIO; ESPINOSA (2004) 0,4 2008 PNAD 2008 (IBGE, 2010) 183.488 0,967 189.612.814** BESEN (2014) 183.481 1,1 2010 ABRELPE (2010) 60,8¹ 195.090¹ 2012 ABRELPE (2012) 62,7¹ 201.058¹ 2014 SNIS/2014 (MINISTÉRIO DAS CIDADES, 2016) 64,4² 176.400 1,05 202.768.562*

Fonte:*IBGE. Disponível em:

<http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/estimativa2014/estimativa_dou.shtm>. Acesso em: 13 abr 2016. **http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/estimativa2008/estimativa.shtm. Acesso em 13.04.2016.

¹Quantidade gerada; ²Quantidade coletada.

Elaboração: Humberto Ferreira Silva Minéu (Jun. 2016).

De acordo com Grippi (2001), há mais de 15 anos, o Brasil apresentava uma geração diária de 100.000 t/dia, sem o autor precisar a data desse dado. Comparando-se esse valor com a estimativa de 125.281 t/dia da PNAD de 2000 (IBGE, 2002), ocorreu um crescimento de aproximadamente 25% no período. Enquanto entre os levantamentos da PNAD de 2000 e 2008, registra um crescimento de 46,46% na quantidade de resíduos por dia.

Comparando-se os dados do SNIS (MINISTÉRIO DAS CIDADES, 2016) com os dados da PNAD 2008 (IBGE, 2010), observa-se redução da quantidade de resíduos (t/dia). Isso não corresponde à realidade do país, considerando o crescimento populacional e as questões socioeconômicas, além de ter transcorrido um intervalo de mais de meia década entre os levantamentos, evidenciando os problemas de precisão dos dados, sendo muito influenciados pelas questões metodológicas. Em função dessas diferenças dos dados entre fontes, tem sido recomendada a ponderação no uso dos mesmos, em face das diferenças de metodologia e amostragem utilizadas nos levantamentos. Apesar das diferenças entre as fontes, os dados demonstram que ocorreu uma evolução na geração per capita, variando entre as mesmas de 42,4 a 100,0%, mas em todos os casos superior ao índice de crescimento da população no mesmo período.

Considerando a quantidade per capita de RS (Tabela 2), ocorreu um crescimento de 42,4% entre a PNAD 2000 (0,737 kg/hab./dia) e o levantamento do SNIS 2014 (1,05

kg/hab./dia), superior ao crescimento da população em 19,4% no período. A população cresceu quase a metade em termos relativos quando comparado ao menor índice do aumento de geração de RS entre as fontes utilizadas. O crescimento da geração de resíduos em índice superior ao da população também foi identificado em São Paulo por Tenório e Espinosa (2004).

A estimativa do SNIS, apresentada na tabela 2, refere-se aos resíduos coletados, faltando os resíduos que não são recolhidos pelos sistemas nos municípios e que não aparecem nessa estimativa. A estimativa da taxa de cobertura da população urbana atendida com serviço de coleta no Brasil em 2014 e 2015 ficou em 98,6%, sendo estimado um déficit de 2,6 milhões de habitantes no meio urbano sem atendimento com coleta domiciliar porta a porta, o que equivale a 1,5% da população brasileira urbana (MINISTÉRIO DAS CIDADES, 2016; 2017). Isso representa, considerando os dados de quantidade per capita do levantamento do SNIS (1,05 kg/hab./dia) em torno de 2,73 milhões de toneladas não coletadas no Brasil no meio urbano. Esses números reforçam o quanto é importante o trabalho preciso de gestão dos RSU, da coleta à destinação adequada.

Conforme Besen (2011 apud BESEN, 2014), o aumento da geração de RS apresenta relação com o crescimento populacional, a concentração urbana, das mudanças tecnológicas e das condições socioeconômicas. Além desses, é importante destacar que o modelo de produção e consumo também representa aspecto relevante na geração e destinação dos RS.

O efeito dos fatores crescimento da população e concentração no espaço urbano na geração de RS fica evidenciado nos dados do SNIS 2014 (MINISTÉRIO DAS CIDADES, 2016), ao demonstrar que o crescimento da geração per capita de RS apresentou relação com a faixa populacional dos municípios (Tabela 3).

Tabela 3 - Massa coletada de Resíduos Sólidos Urbanos (RSU) per capita dos municípios participantes do SNIS 2014, em relação à população urbana, segundo faixa populacional

Faixa populacional Nº de habitantes Massa coletada per capita (kg/hab./dia)(Indicador médio)

1 até 30 mil 0,87 2 30 a 100 mil 0,94 3 100.001 a 250 mil 0,91 4 250.001 a 1 milhão 1,00 5 1 a 3 milhões 1,30 6 > 3 milhões 1,30 Total 2014 1,05

NOTA: Na hipótese de se excluir os municípios da faixa 6 RJ e SP o valor do indicador médio (IN021=1,05) reduz para 1,015kg/hab./dia. E ainda, na hipótese de se excluir todos os municípios acima de 1milhão de habitantes, o valor do indicador médio (IN021=1,05) reduz para 0,94kg/hab./dia.

Assim, com o aumento da população e da sua concentração urbana, eleva-se a quantidade de resíduos total e per capita, tornando a busca de alternativas mais relevantes para regiões mais populosas, corroborando com Besen (2011 apud BESEN, 2014) e com a

lixo na Além desses dois fatores, crescimento da população e concentração no espaço urbano, a questão socioeconômica também influencia a quantidade de RS gerados em um município, região ou país.

Em estudo com dados do Brasil e internacionais envolvendo o grupo de países membros da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), Campos (2012,

indicadores de geração per capita de resíduos sólidos superiores às famílias mais pobres, cidades me

A mesma autora destaca que ocorrem oscilações na geração em função de crises econômicas, o modelo de consumo e políticas de incentivo à redução na geração, mas com per capita de resíduos sólidos dos países estudados para 611 kg/habitante/ano para 2015, 635 para 2020, 664 para 2025 e 694

um crescimento da ordem de 1,67 kg/hab./dia em 2015 para 1,90 kg/hab./dia em 2030, ou seja, um aumento de mais de 13% em 15 anos, sinalizando que a problemática dos RS (geração e destinação) tende a crescer na sociedade.

Morales e Morra (2013), em estudo realizado em Assunção, Paraguai, concluíram que a geração de resíduos apresentou relação direta com o Índice de Desenvolvimento Humano IDH, entre 1994 e 2009 (Tabela 4).

Tabela 4 - Comparação do IDH com a geração de resíduos domiciliares e municipais, de Assunção, Paraguai, entre 1994 2009

Ano IDH I.G. RSD¹ I.G. RSM²

1994 0,711 937 1.312

2009 0,870 1.113 1.474

¹Índice de Geração de Resíduos Sólidos Domiciliares; ²Índice de Geração de Resíduos Sólidos Municipais Fonte: Adaptado de MORALES; MORRA (2013), por Humberto Ferreira Silva Minéu (Mar. 2016).

O IDH envolve aspectos de saúde, educação e renda, com sua melhoria influenciando o poder de compra das pessoas, aumentando o consumo e consequente geração de resíduos. Nesse caso, surge um questionamento quanto à melhoria do IDH, em função do mesmo

envolver o componente educação, mas não estar refletindo em um modelo de produção e consumo que reduza a geração de resíduos.

Em trabalho realizado na cidade de São Paulo, Tiveron (2001 apud TENÓRIO; ESPINOSA, 2004) verificou a relação da distribuição da geração de resíduos domiciliares com a renda familiar média da região administrativa (Figura 1). Para Tenório e Espinosa (2004) essa tendência também é observada no mundo, com a média brasileira na época em 0,4kg/hab./dia, enquanto São Paulo em 2,5 vezes e Nova York em 7,5 vezes superior a média brasileira. A autora não afirma algum grau de correlação existente entre a questão da renda e a geração dos resíduos. Observando-se o gráfico, têm-se casos de elevação de renda com menor e maior geração. Mas, no conjunto da amostra utilizada, a reta de tendência indica a existência de relação.

Figura 1 - Distribuição da geração de resíduos de acordo com a renda familiar nas regiões administrativas de São Paulo

Fonte: TIVERON (2001 apud TENÓRIO; ESPINOSA, 2004. p. 168)

Em termos mundiais, essa relação da geração de RS com a renda e desenvolvimento dos países é demonstrada na tabela 5, em que as regiões mais ricas apresentam geração per capita maior que as menos desenvolvidas e mais pobres, estando o Brasil em posição abaixo da média da América Latina, mas acima de regiões como o Sul Asiático e Ásia Oriental.

Tabela 5 - Geração per capita de resíduos no Brasil e no mundo (kg/hab/dia)

BRASIL OCDE AméricaLatina África OrienteMédio asiáticoSul OrientalÁsia Europa e ÁsiaCentral

1,03 2,20 1,10 0,65 1,10 0,45 0,95 1,10

Fonte: SNIS (2010) e Banco Mundial (2012 apud CEMPRE REVIEW, 2013, p. 35).

A quantidade de resíduos coletados per capita vem crescendo anualmente no Brasil, com variações percentuais a cada ano (Tabela 6), com um aumento de 12,9% entre 2010 e 2014, acima do crescimento da população no mesmo período, que foi de 6,29%, passando de 190.799.170 em 2010 para 202.768.562 habitantes em 2014.

O estado de Minas Gerais (MG) vem apresentando recentemente índice per capita inferior à média nacional, atingindo 0,89 kg/hab/dia em 2012, 0,81 em 2013 e 0,83 kg/hab/dia em 2014, enquanto a região sudeste apresentou em 2014 o valor de 1,02 kg/hab/dia, próximo à média nacional (MINISTÉRIO DAS CIDADES, 2016).

Tabela 6 - Evolução da massa de RSU coletada per capita no Brasil

Ano 2010 2011 2012 2013 2014

Massa per capita (kg/hab./dia) 0,93 0,96 1,00 1,01 1,05

Percentual em relação ao ano anterior - 3,2% 4,2% 1,00% 3,8%

Fonte: MINISTÉRIO DAS CIDADES (2016).

Elaboração: Humberto Ferreira Silva Minéu (Mar. 2016).

Observada a relação entre o crescimento da população, o tamanho das cidades e a melhoria de renda, influenciando a elevação da geração de resíduos per capita e total, torna-se cada vez mais relevante a busca de alternativas para reduzir a geração e promover a destinação adequada dos RS.