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2.7 A economia circular e a corrente lixo zero na análise econômica dos resíduos sólidos

2.8.6 Dimensão tecnológica

A tecnologia tem vital importância na análise e compreensão da relação sociedade e meio ambiente, pois a mesma ampliou a capacidade do homem alterar o ambiente, seja pela exploração direta de recursos ou nos padrões de consumo, que impactam a geração de RS.

Para Sachs (2000, p. 11), a tecnologia é uma variável fundamental, assim como o estilo

col

crucial no processo de harmonização dos objetivos sociais, ecológicos e econômicos.

O acelerado avanço tecnológico iniciado com a Revolução Industrial tem representado um alto preço ao ambiente natural (THOMAS; CALLAN, 2014). Para os autores, os avanços em transporte de massa, industrialização, telecomunicações e químicos são responsáveis pelo estilo de vida da sociedade atual, ao mesmo tempo em que também são responsáveis pela degradação ambiental enfrentada pela mesma sociedade.

As inovações surgidas e aplicadas no setor produtivo, e diretamente pelos consumidores em seus lares, influenciou a adoção de estilo de vida que promoveu incremento expressivo no consumo, pressionando os recursos naturais enquanto matéria-prima para a produção, bem como aumentou a geração de resíduos a serem descartados, pressionando a demanda de área para sua destinação.

O movimento recente baseado nas inovações tecnológicas não pode desconsiderar que,

dos recursos naturais são reais e não necessariamente superáveis por meio do progresso MAY, 2010, p. 314).

Como exemplo da contribuição do avanço tecnológico para a menor demanda de matéria-prima, está o aumento da quantidade de latas produzidas com um quilo de alumínio reciclado, que em 25 anos passou de 42 latas de 350 ml para 74 latas, aumentando a produtividade em 51% (CEMPRE, 2016). Em 1968, com a implantação de programas de reciclagem, fazia-se retornar à produção meia tonelada de alumínio por ano. Quinze anos depois, esse volume passou a ser reciclado por dia (GRIPPI, 2001).

ionados à produção mais limpa e mais eficiente, em que tanto a geração de resíduo é minimizada quanto a produtividade do

recurso natural, enquanto matéria- IPEA, 2012, p. 47). Assim, a busca de uma escala sustentável significa aquela que seja adaptada gradativamente às inovações tecnológicas, sem reduzir a capacidade de suporte do ambiente ao longo do tempo (VEIGA NETO; MAY, 2010).

A tecnologia tem papel fundamental no desenvolvimento de formas alternativas de aproveitamento dos materiais para seu retorno ao setor produtivo/economia, na criação de produtos com menor geração de resíduos, bem como nas alternativas de destinação e disposição dos resíduos sólidos.

Como alternativas de destinação final para os RSU, em relação ao aterro sanitário, são encontradas na literatura a coleta seletiva/reciclagem, a compostagem, a incineração, o coprocessamento e a pirólise23. O aterro sanitário é apresentado como a principal alternativa

para a disposição final dos rejeitos (materiais sem tecnologia de aproveitamento e/ou mercado), inclusive sendo essa a determinação legal vigente na PNRS, embora esteja sendo usado para disposição de RSU.

A compostagem é uma das alternativas dos resíduos orgânicos, promovendo sua reciclagem, com significativo potencial de contribuição para ampliação da vida útil do aterro, pois representa em torno de 50 a 60% da massa dos RSU destinados aos aterros no país.

A compostagem biológico aeróbio e utilizado no tratamento e na estabiliz sendo a forma mais eficiente para a biodegradação controlada dos resíduos orgânicos (PEREIRA NETO, 2014, p. 17). Seu produto final é o composto orgânico, a ser utilizado como condicionador de solo. Não é considerado adubo por ter baixa concentração de nutrientes (Nitrogênio N; Fósforo P; Potássio K), em torno de 1,5 a 2,5% do peso, enquanto um adubo deve ter pelo menos 24% (TENÓRIO; ESPINOSA, 2004).

As desvantagens da compostagem, que promovem desafios significativos para sua implantação nos municípios, envolvem, de acordo com Tenório e Espinosa (2004), ter maior custo por tonelada de resíduos que o processo de aterrar e a difícil comercialização do composto. Em contraponto a esta afirmação, Pereira Neto (2007) apresenta a compostagem como atividade de baixo custo, envolvendo processos simplificados, realizada em pátios.

Recentemente, vem ocorrendo um processo de divulgação expressivo na mídia e instituições de ensino de processos caseiros de compostagem (em caixas e no solo) e a

23Decomposição de matéria orgânica mediante degradação térmica, na ausência total ou parcial de agente oxidante (O2), a temperatura controlada (400ºC), que fornece energia necessária para romper ligações nas estruturas das macromoléculas de biomassa.

comercialização de material orgânico produzido via compostagem em supermercados, viveiros e estabelecimentos de comercialização de mudas e material de jardinagem.

A incineração, como técnica de eliminação de resíduos visava apenas a redução do volume para aumentar a capacidade dos aterros industriais. Posteriormente, passou a ser aplicada também para a eliminação de resíduos tóxicos e perigosos. Mais recente, o calor gerado na combustão do material transferido para os gases passou a ser aproveitado no processo de recuperação energética de resíduos (waste to energy) (TENÓRIO; ESPINOSA, 2004).

Um aspecto negativo desse processo é a perda de matéria, em contraponto ao que propõe a economia circular. Além disso, Tenório e Espinosa (2004, p. 190) apontam que s crítica de um incinerador está no controle de emissões, seja de

Embora a incineração represente a possibilidade de geração de energia a partir dos resíduos, o que se apresenta melhor que o aterramento, o Brasil dispõe de fontes alternativas de energias renováveis, melhores ambientalmente para investir nesse campo e com viabilidade econômica.

A incineração representa a continuação do modelo linear da economia (e produção), com a extração fabricação consumo descarte/eliminação da matéria para fora do ciclo produtivo. É necessário, para o bem-estar do ambiente e da sociedade, bem como para sustentabilidade do próprio sistema produtivo econômico, utilizar alternativas para enfrentar a questão dos resíduos que proporcionem a redução na geração e promova o ciclo da matéria dos resíduos gerados, utilizando-os em mais de um ciclo e tantos quantos possíveis, avançando com as práticas da economia circular. Diante disso, a incineração, mesmo com recuperação energética, é uma alternativa a se pensar para os rejeitos e não ser aplicada aos resíduos recicláveis.

A tecnologia do coprocessamento baseia-se na queima dos resíduos no forno rotativo de clínquer em alta temperatura (1450ºC a 2.000ºC), ambiente alcalino, atmosfera oxidante, ótima mistura de gases e produtos, e tempo de residência (> 2 segundos) geralmente suficiente para a destruição de resíduos perigosos (ROCHA; LINS; SANTOS, 2011).

Para Kihara (2009, p. 4), o coprocessamento é uma tecnologia de destinação final de resíduos em fornos de cimento que não gera novos resíduos . Para Souza (2008), é uma , devidamente licenciados para este fim, com aproveitamento de conteúdo energético e/ou aproveitamento da fração mineral como matéria-

Comparando-se com a incineração, que ainda gera cinzas dos resíduos, o coprocessamento promove a destruição dos resíduos, sendo encontradas duas terminologias na literatura e legislação coincineração e coprocessamento.

Quanto à terminologia, Rocha, Lins e Santos (2011, p. 2) apresentam que o termo

te de calor e matéria-prima, podendo ser incorporado ao clín

autores aplicam o termo coprocessamento indistintamente como forma de padronização e por ser o mais empregado na literatura.

Embora seja

apresentam em seu estudo várias pesquisas que levantam problemas de segurança ambiental em relação às emissões e situações de incorporação de componentes ao produto (cimento) com efeitos à saúde dos trabalhadores. Esses trabalhos sinalizam que essa tecnologia requer maiores estudos quanto à segurança ambiental e à saúde.

Essa tecnologia vem sendo empregada para a destinação de resíduos perigosos no Brasil, sendo o principal deles os pneus inservíveis, dado o seu poder calorífero. No âmbito dos RSU, a sua aplicação vem hierarquizada após a não geração, redução, reutilização e reciclagem; e antes do tratamento (incineração) e disposição final. Portanto, representa uma alternativa para os resíduos que não puderem ter aproveitamento tecnológico e mercado via reutilização e reciclagem, aplicações estas em sintonia com as propostas da economia circular. O avanço tecnológico, em um primeiro momento, teve sua contribuição em ampliar a capacidade de exploração dos recursos naturais, ao mesmo tempo em que contribuiu com a degradação ambiental; o desenvolvimento de produtos que estimularam o consumo e levaram à geração de resíduos, que descartados inadequadamente contribuíram com a poluição de áreas e recursos hídricos, criando situações de riscos e contaminação ao ambiente, aos animais e para as pessoas. Num segundo momento, a tecnologia tem papel relevante em promover que materiais considerados rejeitos passam a ser aproveitados em novo ciclo produtivo, podendo ser desviados do aterro sanitário; em desenvolver produtos que em sua concepção estejam materiais reaproveitáveis após o uso ou consumo; em desenvolver processos com menor ou sem impacto negativo ao ambiente e para as pessoas. Para tanto, é necessário estimular o desenvolvimento de novas tecnologias e o mercado dos produtos.