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2.1 Panorama dos Resíduos Sólidos Urbanos no Brasil: geração, coleta, operação,

2.1.5 Custos da coleta de RSU convencional e seletiva

Os custos comparativos da coleta convencional (do RSU para o aterro) e da coleta seletiva (dos materiais para a reciclagem) têm sido objeto de comparações pelas entidades e poder público, que merecem cautela ao se proceder a análise, principalmente por muitas vezes usarem o termo custo12, mas aplicarem a concepção de despesa13.

Conforme dados do SNIS 2014 (Tabela 11), a despesa dos municípios com os RSU vem crescendo nos últimos anos, com incremento de 10,56% de 2012 para 2014, sendo maior na região sudeste, impactada pelos municípios de São Paulo e Rio de Janeiro, atingindo em 2014

12Custo: Soma de todos os pagamentos realizados na forma de bens ou serviços para a produção de um produto ou prestação de um serviço. Pode ser como custo total ou de parte da atividade (administrativo, produção,...). 13Despesa: Cada pagamento efetuado pelos recursos consumidos na forma de bens ou serviços necessários à produção ou prestação de um serviço. Cada gasto realizado.

o valor médio para o país de R$109,96/hab/ano, considerando a população urbana (MINISTÉRIO DAS CIDADES, 2016). Esses dados demonstram a relação da concentração da com a quantidade de resíduos gerados, a exemplo que foi ilustrado com a tabela 1, na introdução desse trabalho.

Esse aumento das despesas a cada ano demonstra que a gestão dos resíduos demanda novas formas práticas de destinação, com maior eficiência no uso dos recursos e menos impactos negativos ao ambiente, dado o crescimento da geração de resíduos, inclusive acima do índice de crescimento da população.

Tabela 11 - Despesa per capita com manejo de RSU em relação à população urbana dos municípios participantes, segundo região geográfica SNIS-2014

Região Quantidade de

municípios na pesquisa Despesas per capita com o manejo de RS (R$/hab/ano)Mínimo Máximo Indicador médio

Norte 90 12,00 228,06 92,63 Nordeste 385 12,16 263,89 105,84 Sudeste 673 12,04 264,23 119,31 Sul 595 12,62 263,62 93,28 Centro-oeste 118 15,19 243,86 104,20 Total - 2014 1.861 12,00 264,23 109,96 Total - 2013 1.711 12,00 246,38 105,77 Total - 2012 1.492 12,19 230,60 99,46

*Na hipótese de não se admitir os municípios do Rio de Janeiro e São Paulo o indicador médio da região Sudeste cai para R$97,82/habitante e o indicador médio do país cai para R$99,01/habitante em 2014.

Fonte: Brasil (2016).

Estimativa da Abrelpe (2014) aponta o valor de R$9,42 bilhões (equivalente a R$3,87/hab/mês ou R$73,32/hab/ano) como a despesa dos municípios brasileiros com a coleta dos RSU, gastos para transportar 41,6 milhões de toneladas para aterros sanitários e 29,6 milhões de toneladas de RSU para aterros controlados e lixões. Ou seja, considerando o total de 71,2 milhões de toneladas, os municípios gastaram 41,5% do recurso de coleta para dispor inadequadamente os seus RSU. Ocorre um uso significativo de recursos públicos para enterrar

e criarem passivos ambientais14.

O custo médio da coleta regular (convencional) dos RSU foi estimado pelo Cempre/Pesquisa Ciclosoft 2014 em US$ 42,22/t, equivalente a R$95,00/t. Enquanto a estimativa do custo da coleta seletiva foi de US$ 195,23/t, equivalente a R$ 439,26/t, correspondendo a 4,6 vezes a convencional (CEMPRE, PESQUISA CICLOSOFT 2014).

14Passivo ambiental: Todas as obrigações, contraídas voluntária ou involuntariamente, que exigirão no futuro a entrega de ativos, prestação de serviço ou sacrifício econômico, em decorrência de transações ou operações no passado ou no presente, que envolveram a entidade com o meio ambiente e que acarretaram algum dano ambiental (SILVA, 2014).

A relação de custos entre a coleta seletiva e coleta convencional vinha passando por uma redução gradativa de 1994 a 2010 (Tabela 12), com ligeira elevação a partir de 2010 e volta a reduzir em 2016.

Em função dessa perspectiva e esses dados de custo da coleta seletiva superior ao da

determinado programa de coleta é mais uma questão de gestão de resíduos do que de gerenciamento, cabendo à comunidade investir mais ou menos na valorização dos resíduos e

pelo serviço, envolvendo a disponibilidade financeira da comunidade e a relação com os benefícios para a sustentabilidade e a cidadania.

Tabela 12 - Relação do custo entre a coleta convencional e a coleta seletiva no Brasil pelo Cempre, de 1994 a 2014 (Número de vezes)

1994 1999 2002 2004 2006 2008 2010 2012 2014 2016

Relação custo coleta seletiva/ coleta

convencional 10 8 5 6 5 5 4 4,5 4,6 4,1

Fonte: CEMPRE. Pesquisa Ciclosoft, (2016).

Elaboração: Humberto Ferreira Silva Minéu (Jun. 2016).

Esses valores representam a despesa realizada pelos municípios, ou seja, os pagamentos realizados diretamente pela realização dos serviços, não envolvendo outros elementos na apuração de custos, como os custos evitados e os benefícios econômicos, ambientais e sociais com a coleta seletiva; o valor de produção que se perde com a área destinada aos resíduos; e os custos de manutenção do aterro em longo prazo.

Acrescente-se que esta forma de apuração ocorre ainda num sistema de remuneração por tonelada transportada, com a tendência de ocorrer mudança considerável com o aumento dos recicláveis desviados do aterro, redirecionando-os para a coleta seletiva e reciclagem, com isso reduzindo o custo por tonelada na coleta seletiva e aumentando na convencional. Outra forma de analisar essas diferenças de custos é a mudança de forma de pagamento pelo serviço, de R$/t para a rota (R$/km), o que alteraria essa relação de custos e funcionaria até como incentivo para as empresas de coleta convencional desenvolver campanhas de educação ambiental com vista à população reduzir a quantidade de resíduos descartados nesse sistema, por promover redução de seus custos com o transporte.

Além dessas duas situações que afetam essa relação de custos, a forma de avaliá-los também levaria a diferentes cálculos e valores. Com a inclusão do custo de oportunidade no

custo do aterro sanitário, custos hoje não apurados no sistema convencional serão incluídos nos cálculos, como a produção que deixou de ser obtida com a área destinada ao aterro, ampliando as vantagens da coleta seletiva e reduzindo da coleta convencional. Outro exemplo são os custos com o monitoramento do aterro, que se estendem por mais 20 anos após o esgotamento de sua vida útil (MENEZES, 2001 apud DIAS, 2006).

Esses e outros custos evitados, bem como os benefícios gerados com a coleta seletiva e reciclagem dos materiais desviados do aterro sanitário, sendo computados, vão promover um olhar diferente, com apuração de custos aproximando do valor real dos dois sistemas, não se restringindo às despesas financeiras diretas pelo pagamento dos serviços de coleta e operação do aterro sanitário.