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2.1 Panorama dos Resíduos Sólidos Urbanos no Brasil: geração, coleta, operação,

2.1.2 Classificação e composição dos RS no Brasil

No intuito de regulamentar e normatizar a coleta e destinação adequada dos RS, a PNRS e a NBR 10004/2004 apresentam a classificação quanto à origem e periculosidade dos materiais.

De acordo com a PNRS, art. 3º, inciso I, os resíduos sólidos são classificados quanto à origem em:

a) resíduos domiciliares: os originários de atividades domésticas em residências urbanas;

b) resíduos de limpeza urbana: os originários da varrição, limpeza de logradouros e vias públicas e outros serviços de limpeza urbana;

d) resíduos de estabelecimentos comerciais e prestadores de serviços: os gerados e) resíduos dos serviços públicos de saneamento básico: os gerados nessas f) resíduos industriais: os gerados nos processos produtivos e instalações industriais; g) resíduos de serviços de saúde: os gerados nos serviços de saúde, conforme definido em regulamento ou em normas estabelecidas pelos órgãos do Sisnama e do SNVS;

h) resíduos da construção civil: os gerados nas construções, reformas, reparos e demolições de obras de construção civil, incluídos os resultantes da preparação e escavação de terrenos para obras civis;

i) resíduos agrossilvopastoris: os gerados nas atividades agropecuárias e silviculturais, incluídos os relacionados a insumos utilizados nessas atividades; j) resíduos de serviços de transportes: os originários de portos, aeroportos, terminais alfandegários, rodoviários e ferroviários e passagens de fronteira;

k) resíduos de mineração: os gerados na atividade de pesquisa, extração ou beneficiamento de minérios (BRASIL, 2010).

Em relação à periculosidade, a PNRS, art. 3º, inciso II, classifica os resíduos sólidos em:

a) resíduos perigosos: aqueles que, em razão de suas características de inflamabilidade, corrosividade, reatividade, toxicidade, patogenicidade, carcinogenicidade, teratogenicidade e mutagenicidade, apresentam significativo risco à saúde pública ou à qualidade ambiental, de acordo com lei, regulamento ou norma técnica;

A NBR 10.004/2004 apresenta maiores detalhes da classificação quanto à periculosidade, com a descrição de cada característica dos resíduos perigosos e a divisão dos não perigosos em duas categorias inertes e não inertes (ABNT, 2004a).

O processo de coleta e destinação dos resíduos para disposição no aterro sanitário praticado no país envolve os Resíduos Sólidos Urbanos (RSU), que contemplam os resíduos domiciliares e os de limpeza urbana, incluindo aqui os resíduos dos estabelecimentos comerciais e serviços que sejam equiparados aos RSU (BRASIL, 2010), sendo esses o foco do presente estudo.

Embora com a destinação dos RSU para aterros sanitários e outros destinos inadequados no país, a PNRS estabelece no art. 3º, inciso VIII, que a disposição final ambientalmente adequada se refere à distribuição ordenada de rejeitos em aterros e não dos RSU. Por sua vez,

economicamente viáveis, não apresentem outra possibilidade que não a disposição final [...] (BRASIL, 2010).

Dessa forma, o conhecimento da composição dos RSU permite estimar a parcela e quantidade envolvida de rejeitos nos RSU, que, legalmente, é o material a ser enviado aos aterros sanitários, enquanto os demais RSU (orgânicos e inorgânicos) aproveitáveis deveriam ter outra destinação, como a reutilização, a reciclagem, a compostagem.

A composição dos RSU é importante para a implantação de programas de coleta seletiva, de forma a recuperar os materiais recicláveis com valor econômico, podendo ser apresentada por tipo de material ou agrupados, como em recicláveis secos, orgânicos e rejeitos, respeitadas a classificação e outros aspectos previstos na legislação vigente.

De acordo com Tiveron (2001 apud TENÓRIO; ESPINOSA, 2004, p. 166) a composição do lixo domiciliar brasileiro apresentava 52,5% de matéria orgânica, 31,3% de recicláveis secos (papel, plástico, vidro e metal) e 16,2% de outros. Em estudo do IPEA (2010, p. 25), utilizando dados de várias fontes (ABRELPE, 2007 e 2008; BRASIL, 2009a), a estimativa foi de 69,6% de resíduos orgânicos e 30,4% de material reciclável seco, considerando os RSU em disposição no Brasil, não abordando dados em separados quanto a rejeitos ou outros materiais.

A tabela 7 apresenta a evolução da composição dos resíduos sólidos domiciliares (RSD) coletados em São Paulo, demonstrando redução na proporção do material orgânico e aumento do material reciclável seco (papel, plástico, vidro e metal), que passou no período de 16,0% para 38,7% entre 1927 e 2000. Tabela 7 - Resíduo 1927 1957 1969 1976 1991 1996 1998 2000 Matéria orgânica 82,5 76 52,2 62,7 60,6 55,7 49,5 48,2 Papel e assemelhados 13,4 16,7 29,2 21,4 13,9 16,6 18,8 16,4 Longa vida - - - - - - 0,9

Plásticos (isopor, PET, plásticos mole e

duro) - - 1,9 5 11,5 14,3 22,9 16,8

Metais ferrosos 1,7 2,2 7,8 3,9 2,8 2,1 2 2,6

Alumínio - - - 0,1 0,7 0,7 0,9 0,7

Retalhos, couro e borrachas 1,5 1,7 3,8 2,9 4,4 5,7 3 -

Pilhas e baterias - - - - - - 0,1

Vidros 0,9 1,4 2,6 1,7 1,7 2,3 1,5 1,3

Terras e pedras - - - 0,7 0,8 - 0,2 1,6

Madeira - - 2,4 1,6 0,7 - 1,3 2

Diversos - 0,1 - - 1,7 2,6 9,3

Os dados da tabela 7 demonstram que a composição dos resíduos pode variar com o tempo, sendo importante a realização de estudos de forma continuada, podendo ocorrer em intervalos regulares, de modo a identificar os fatores que estejam contribuindo com a quantidade e com a proporção dos materiais nos resíduos gerados.

Entre os vários fatores apontados na literatura, que afetam a quantidade e a composição, com alguns apresentados anteriormente neste trabalho, a renda tem sido apresentada como fator que influencia a composição. As afirmativas ou evidências encontradas indicam que com a melhoria de renda da população ocorre o aumento da geração de resíduos, com elevação na quantidade de materiais secos e redução de material orgânico, alterando a composição.

A tabela 8 demonstra a relação da composição dos RSU com a faixa de renda da população, de modo que a melhoria de renda tem apresentado relação com a redução da matéria orgânica e aumento dos recicláveis secos, com incremento mais expressivo dos grupos do plástico e do papel.

Tabela 8 - A composição dos RSU e o nível da renda (%)

Nível de renda Metais Papel Plástico Vidro OrgânicaMatéria Outros

Baixa 3% 5% 8% 3% 64% 17%

Média (inferior) 2% 9% 12% 3% 59% 15%

Média (superior) 3% 14% 11% 5% 54% 13%

Alta 6% 31% 11% 7% 28% 17%

Fonte: Banco Mundial/LCA apud CEMPRE REVIEW (2013, p. 34).

Nota: A fonte não esclarece os valores utilizados na definição das faixas de renda.

Considerando que os resíduos recicláveis secos e a matéria orgânica apresentam uso econômico em alternativas diferentes ao processo de disposição no aterro, tem-se mais de 80% dos resíduos gerados com potencial de retornar a atividade produtiva, a economia, gerando benefícios econômicos, ambientais e sociais.

Tenório e Espinosa (2004, p. 165) acrescentam que em países mais desenvolvidos, em geral, a proporção de matéria orgânica é bem inferior, com uma média de 28% na Europa e 13,6% nos EUA. Esses dados reforçam a relação de que com a melhoria econômica do país e da população, eleva-se a geração de resíduos recicláveis secos, que tem relação direta com a geração de ocupação e renda para catadores. Além disso, com esses resíduos sendo aproveitados (reciclados), reduzem a demanda de novas áreas para aterros sanitários.

No município do presente estudo, Santos (2006) apresenta levantamento realizado no ano 2000, quando da elaboração do projeto de construção do aterro sanitário, conforme Relatório de Controle Ambiental da Central de Tratamento e Destinação Final de Resíduos Sólidos de Ituiutaba, a proporção de 63,0% de material orgânico, 31,0% de recicláveis secos e 6,0% de rejeitos. O mesmo autor, em levantamento realizado em janeiro de 2004, em um condomínio residencial da cidade de Ituiutaba, obteve a composição dos resíduos em 69,61% de material biodegradável e 30,39% de recicláveis secos. Embora nesse último não tenha sido realizada a separação da fração rejeitos, os percentuais demonstram a proporção entre orgânicos e material seco, semelhante ao levantamento anterior e a outros locais.