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A abordagem racial nos currículos da Saúde da UFVJM

No documento Diamantina 2022 (páginas 52-57)

5 RESULTADO E DISCUSSÕES

5.1 A abordagem racial nos currículos da Saúde da UFVJM

profissionais de saúde conheçam a política e os aspectos e necessidades da população negra, às doenças prevalentes nessa população, e as condições sociais, para além dos aspectos biológicos do indivíduo.

Segundo Gomes (2016), o projeto pedagógico é definido como um instrumento balizador das ações em processo de ensino e aprendizagem. O autor reforça sobre a importância dos projetos pedagógicos, uma vez que a formação dos profissionais é essencial para o ensino na saúde e para a prática profissional.

Como princípio organizativo, a política da SPN contempla a transversalidade entendida como um conjunto de estratégias que resgatam a visão integral do sujeito, considerando a sua participação no processo de construção das respostas às suas necessidades, vista como complementaridade, confluência e reforço recíproco de diferentes políticas de saúde (BRASIL, 2010). Assim, essa política visa adotar uma metodologia transversal articulada com os princípios e objetivos do SUS e as demandas da população negra brasileira.

Conforme afirma Brasil e Trad. (2012), as diretrizes da política abordam a necessidade de incluir a temática do racismo e da saúde da população negra na formação dos profissionais de saúde e o exercício do controle social, ampliação do movimento negro nas instâncias de controle social do SUS, incentivos a produção de conhecimentos no campo, reconhecimento de saberes populares, destacando-se aqueles das religiões de matriz africana, monitoramento e avaliação das ações de combate ao racismo e redução das desigualdades raciais em saúde e desenvolvimento de processo de informação, comunicação e educação que fortaleçam a identidade negra positiva e contribua para a redução das vulnerabilidades. Seu objetivo geral descreve: “Promover a saúde integral da população negra, priorizando a redução das desigualdades étnico-raciais, o combate ao racismo e à discriminação nas instituições e serviços do SUS”. (BRASIL, 2010, p.19)

Com base nas abordagens de vários autores e da própria política PNSIPN e respaldados pelos resultados de pesquisas promovidas sobre a Saúde da população Negra, é consenso que a formação dos profissionais de saúde é uma ação imprescindível para a garantia da atenção à saúde da população negra. Uma formação antirracista tem como objetivos ampliar a consciência sobre os princípios e questões pertinentes às demandas da saúde da população negra, promovendo e estimulando práticas inovadoras de uma educação pertinente as questões históricas, culturais e étnico-raciais.

No âmbito da PNSIPN, existe o reconhecimento do racismo como um dos determinantes sociais da saúde da população negra, e a compreensão de que o racismo vem como algo a ser combatido e muitas vezes velado, em que buscam promover tratamentos e

condições iguais para grupos diferenciados' e de Movimentos Sociais'. A Política Nacional de Saúde Integral da População Negra (PNSIPN) tem o compromisso de combater as desigualdades no SUS e promover a saúde da população negra de forma integral. Os determinantes sociais são influenciadores para a situação de vulnerabilidade dessa população, e os processos socioeconômicos e culturais corroboram com a morbimortalidade da população negra. (BRASIL, 2009)

Esse tratamento diferenciado na saúde ocorre devido ao falso mito da democracia racial persistente, de que “somos todos iguais”, porém os dados e as pesquisas comprovam e revelam constantemente que as desigualdades e diferenças existentes entre grupos e indivíduos podem ser identificadas nas condições de vida, saúde e morte.

No que tange a perspectiva do pensamento de negação, de invisibilidade dos dados, ou da naturalização do processo racial, estas não geram políticas ao combate ao racismo, ao contrário, o fortalece. Por isso, justifica-se a necessidade da inclusão das questões raciais nos currículos em um contexto geral, mas, principalmente, aqui nos currículos dos profissionais da saúde.

Buscou-se identificar, por meio desta pesquisa, como as temáticas das Relações Étnico-raciais e sobre a Saúde da População Negra estavam sendo abordadas nos currículos e no processo de formação dos profissionais de saúde, em uma instituição de ensino superior, localizada em uma das regiões com maiores índices de vulnerabilidade social e econômica do estado de Minas Gerais e do país. A sede da UFVJM está localizada em Diamantina/MG, cidade que é considerada como um polo regional de saúde e de desenvolvimento, além de apresentar em seu contexto histórico, sociocultural originária do período colonial, e possui em sua linha geográfica de abrangência a proximidade com comunidades indígenas e quilombolas.

Segundo Ceccim e Feuerwerker (2004), a formação na área da saúde deveria estruturar-se a partir da problematização do processo de trabalho e sua capacidade em dar acolhimento e cuidado às várias dimensões e necessidades de saúde das pessoas, dos coletivos e das populações. Pretendeu-se a partir da pesquisa proposta promover uma sensibilização sobre a importância da temática racial nos currículos e na formação dos futuros profissionais de saúde. A institucionalização e o reconhecimento das ações já existentes na instituição, a promoção da divulgação e ampliação das ações e das pesquisas na área da saúde da população negra.

Assim, é preciso compreender que na formação profissional na área da saúde, a competência exigida se relaciona com o cuidado com o outro, que deve mobilizar suas

práticas, conhecimentos e atitudes que permitam responder de forma satisfatória as demandas e necessidade dos indivíduos (SOUZA, 2005).

De acordo com os argumentos apresentados anteriormente, neste capítulo será respondido o seguinte objetivo específico: identificar a inserção das temáticas sobre as Relações Étnico-raciais e Saúde da População Negra nos Projetos Pedagógicos dos cursos selecionados, os cursos da saúde selecionados foram: Enfermagem, Farmácia, Fisioterapia, Nutrição, Odontologia e Medicina, todos ofertados no campus JK situado em Diamantina, Minas Gerais.

A Resolução CNE/CP 01/2004 em seu artigo 5º prevê que para as Relações Étnico-raciais, que os conteúdos abordados devem colaborar para a correção de posturas e atitudes que implicam desrespeito e discriminação. Assim, os temas abordados sobre o processo de saúde/doença da população negra devem servir de reflexão da diversidade nas relações e nos valores históricos e culturais. O Estudo sobre a temática está intimamente ligada a uma diretriz da Portaria 992/2009 que consiste no desenvolvimento de processos de informação, comunicação e educação, que desconstruam estigmas e preconceitos, fortaleçam uma identidade negra positiva e contribuam para a redução das vulnerabilidades. (BRASIL, 2009)

A metodologia utilizada nesta fase da pesquisa qualitativa foi a análise de conteúdo da Bardin (1997). Nesse sentido, foram analisados os conteúdos dos Projetos Pedagógicos e as estruturas curriculares dos cursos da saúde selecionados para a pesquisa, considerando que o Projeto Pedagógico, que é um instrumento balizador para a formação, contemplou as temáticas sobre as relações étnico-raciais e a saúde da população negra. Nos conteúdos, verificou-se também que os projetos apresentavam textos que identificam que as temáticas são vistas ou trabalhadas, bem como as referências bibliográficas que articulam o conhecimento das questões étnico-raciais e saúde da população negra, isso foi observado tanto no texto do projeto pedagógico, bem como nas unidades curriculares que mostravam a relação direta ou indireta com os temas pesquisadas.

Neste sentido, destacaram-se as DCNERER, instituídas por meio do Parecer CNE/CP 01/2003 e do Parecer CNE/CP 01/2004 que além de outros pontos orientam para a inserção de conteúdos sobre a história e a cultura africana em todos os níveis de ensino.

Em 2014, houve uma nova alteração para os Cursos de Medicina, foi aprovada uma DCN que propõe uma reformulação e um ajuste visando atender à necessidade de uma formação que seja considerada a diversidade étnico-racial com base no conhecimento sobre as

realidades históricas e culturais da matriz afro-brasileira e sua influência nos processos de saúde-doença. (BRASIL, 2014)

Porém, para que essas diretrizes sejam efetivamente aplicadas de forma prática e real, era necessário que seja pensada na adoção de uma metodologia transversal no processo de ensino-aprendizagem de forma inclusiva e, para isso, os espaços educacionais precisavam promover e efetivar espaços de sensibilização e de formação para todos os envolvidos, gestores, docentes, discentes e usuários acerca dessa temática.

A Resolução CNE/CP 01/2004 em seu artigo 5º prevê, para a educação das Relações Étnico Raciais, que os conteúdos abordados devem colaborar para a correção de posturas e atitudes que implicam desrespeito e discriminação. (BRASIL, 2004)

Portanto, trabalhar com os temas sobre os processos de saúde, doença da população negra durante a formação profissional em saúde serviu como reflexão e esclarecimento sobre os tipos de relações, condutas, estilos de vida, trabalho e valores. A discussão sobre as temáticas foi uma forma de educar para os indivíduos desconstruírem estigmas e preconceitos, fortalecendo uma identidade negra positiva e que contribuam para a redução das vulnerabilidades. (BRASIL, 2013)

Na análise do conteúdo dos Projetos Pedagógicos, buscou-se identificar as abordagens sobre a saúde da população negra na contextualização e nas intencionalidades ao longo do texto do documento. Na parte pedagógica presente na estrutura curricular, composta pelos planos de ensino das unidades curriculares, ementas, conteúdos e referências bibliográficas que convergem com as temáticas pesquisadas.

A análise dos Projetos ocorreu entre os meses de março de 2021 a março de 2022.

Tendo início a leitura minuciosa e a busca pelas temáticas dentro dos documentos. Buscou-se a análise do conteúdo do PPCS por categorização. A primeira categorização para análise dos conteúdos foi definida como Explicitação das Relações étnico-raciais nos currículos. A segunda categorização foi sobre a Explicitação da Saúde da população Negra e da Política Nacional de Saúde Integral de Saúde da População Negra nos currículos.

Após o estudo bibliográfico, iniciaram as leituras dos projetos pedagógicos, buscando localizar os conteúdos e as citações das temáticas pesquisadas e suas legislações.

Em seguida, procedeu-se à leitura das estruturas curriculares, em buscas de disciplinas que trouxessem alguma correlação direta ou indireta com os conteúdos das temáticas pesquisadas:

Relações Étnico-raciais, Saúde da População Negra, raça, cor, determinantes sociais, desigualdades e vulnerabilidades.

Após a análise das unidades curriculares, deu sequência na leitura das ementas, objetivos e referências citadas em cada unidade curricular, verificando a carga horária e o conteúdo a ser ministrado.

Devido às exigências do atual contexto da Covid-19, todos os PPCS da instituição tiveram a publicação de um adendo ao PPC vigente, denominado PPC da pandemia, por isso, foi necessária uma nova leitura em todos os novos Projetos para verificar as mudanças e alterações com relação às temáticas.

Verificou-se durante a análise documental que todos os Projetos Pedagógicos da instituição sofreram alteração em 2021 para adequação das práticas pedagógicas ao período da pandemia e o ensino de forma remota, sendo, assim, foi necessário reanalisar os projetos anteriores e os projetos atuais da pandemia, que são advindos do projeto original, para verificar as possíveis mudanças no projeto vigente e no projeto da pandemia. Então, serão apresentados os dados da análise dos dois projetos de cada curso.

Reforça-se aqui a necessidade de promover ações de combate ao racismo institucional e ao racismo estrutural, por meio da inclusão nos currículos, nas estruturas curriculares dos cursos da saúde, de disciplinas e conteúdos que reflitam sobre o conhecimento das relações étnico-raciais, assim como da saúde da população negra. Esses aspectos visam promover uma sensibilização sobre a importância da temática racial institucionalmente e para a formação e a atuação dos futuros profissionais de saúde.

Na formação profissional na área da saúde, a competência exigida se relaciona com o cuidado com o outro, que deverá mobilizar na prática conhecimentos e atitudes que permitam responder de forma satisfatória as demandas e necessidades dos indivíduos e coletividades (SANTOS, 2005).

No documento Diamantina 2022 (páginas 52-57)