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Formação acadêmica e o entendimento das relações étnicos raciais

No documento Diamantina 2022 (páginas 92-97)

6 AS CONCEPÇÕES DOS FUTUROS PROFISSIONAIS DA SAÚDE SOBRE AS

6.4 Articulação de categorias – a análise de conteúdo

6.4.1 Formação acadêmica e o entendimento das relações étnicos raciais

Em análises às respostas, observou-se que uma porcentagem dos entrevistados acredita que o conteúdo não deve ser obrigatório. No entanto, a maior parte dos respondentes foi favorável à inclusão do conteúdo no currículo dos seus cursos.

Neste contexto, destacam-se as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-raciais e para o ensino de História e Cultura Afro-brasileira e africana- DCNERER (BRASIL, 2004), que foram instituídas em 2004, a partir do Parecer CNE 03/2004 e da Resolução CNE/CP 01/2004, que além de outros assuntos, abrange sobre a inserção de conteúdos sobre a história e cultura africana em todos os níveis de ensino. E complementando, foi trazida a afirmação de Brasil e Trad. (2012). A PNSIPN foi formulada a partir do princípio universal de igualdade de direitos e detém como princípios constitucionais:

saúde como direito social, de cidadania, dignidade da pessoa humana; repúdio ao racismo e princípio da igualdade.

Porém, a existência da legislação não garante a efetividade das políticas nas práticas educacionais. Segundo Monteiro (2016, p. 526), “os cursos da saúde pouco ou nada tem feito no sentido de considerar o tema como questão de conteúdo pertinente à formação dos novos profissionais”.

Os resultados mostraram que há uma abertura positiva para o trabalho das temáticas das questões raciais na concepção da maioria dos discentes, que se mostraram interessados e conscientes da importância do conteúdo para sua futura atuação profissional.

Conforme resposta de um discente na entrevista:

Sim. Além da necessidade imprescindível de uma reflexão pessoal acerca das desconstruções das desigualdades e dos preconceitos, os cursos de saúde lidam com cernes mais profundos do cuidar. Nesse sentido, vejo que estudar as desigualdades elucida também atravessamentos com a prática dos profissionais da saúde, sendo inevitável como objeto de investigação nessas formações. (E20) As DCNERER afirmam que a inclusão de conteúdos relacionados à educação para as relações Étnico-raciais e o ensino de história e cultura afro-brasileira e africana e indígena, tem como meta promover a educação de cidadão atuantes e conscientes no seio da sociedade multicultural e pluriétnica do Brasil, buscando relações sociais positivas rumo à construção de uma nação democrática. (BRASIL, 2004)

Por esse motivo, a necessidade e a importância de conhecer as concepções dos estudantes, enquanto futuros profissionais da saúde, em relação às temáticas relacionadas nesta pesquisa. Assim, serão apresentados os resultados e as análises das discussões

desenvolvidas a partir dos dados levantados, articulando, assim, com o objetivo central da pesquisa.

Ressaltando a importância de focar na dimensão étnico-racial na formação e em reconhecimento do processo de discriminação, que a população negra sofreu e ainda sofre, devidos às condições de discriminação e vulnerabilidades que se encontram, a primeira pergunta da entrevista foi: É importante para a sua formação acadêmica estudar o tema relacionado às Relações Étnico-raciais? Por quê?

Dos respondentes, 39 pessoas, ou seja, 99% responderam que sim, sobre a importância de se ter esse conteúdo para a sua formação. Apenas 1% respondeu que não e, também, não justificou. Nas justificativas apresentadas, verificou-se que os estudantes articulam o conteúdo da temática com a sua formação acadêmica, com os atendimentos do SUS e citam o preconceito e o racismo estrutural. Como pode-se identificar em algumas respostas dadas pelos estudantes.

Sim, não só para a minha formação, mas para a conscientização de todos com relação à cultura do outro, para entendermos sobre diversidade, buscarmos desconstruir o preconceito e o racismo estrutural. (E3)

Sim. Quando a gente pensa em SUS, logo vêm os princípios e não há equidade se não estudar sobre as Relações Étnico-raciais. (E5)

Sim, pois como futura profissional de saúde, devo compreender e me engajar nas lutas pelas minorias. Vivemos em um país racista e isto sem dúvida impacta na assistência à saúde de pessoas negras. Além disso, por ter sido criada em uma sociedade assim, devo compreender as relações étnico raciais para me tornar uma pessoa antirracista e me desprender de preconceitos enraizados e estruturados. Outro ponto é que, como futura profissional de saúde, devo me atentar aos princípios básicos do SUS (integralidade, universalidade e equidade) no meu processo de cuidado e, sendo assim, compreender que essas relações me proporcionaria um melhor entendimento para prestar a assistência com equidade, considerando as particularidades de todas as minorias (negros, mulheres, indígenas, LGBT+), mas, nesse caso, da população negra. (E14)

Uma das entrevistadas responde que:

Sim, quase não vejo o tema sendo trabalhado na faculdade e sinto necessidade de maior abordagem. (E11)

Com toda certeza, é muito importante. O estudo do tema me desperta a sensação de pertencimento e valorização da minha raça/etnia, além de desenvolver a criticidade sobre as injustiças sociais presentes no nosso cotidiano. Isso, por vezes, passaria despercebido caso não estudasse nada sobre o tema. (E35)

Outra pergunta: Você considera importante para os profissionais de saúde terem uma formação sobre a Saúde da População Negra? Por quê?

Diferente da primeira pergunta do roteiro, essa questão refere-se à formação para todos os profissionais de saúde. E são apresentadas as concepções dos 35 (trinta e cinco) estudantes entrevistados:

Sim, para ter o devido conhecimento a respeito das comorbidades que essa população pode apresentar. (E32)

Sim, porque a população negra muitas vezes é marginalizada e há condições de saúde que são mais comuns nela, então estudar melhor pode gerar uma melhor qualidade de vida para a população. (E18)

Sim. Como disse acima, essa abordagem é importante para uma formação completa, para a educação de futuros profissionais da saúde que mudem o atual cenário e atuem sem discriminação ou negligência à saúde de populações específicas, como a negra, nesse caso. (E9)

Sim. O entendimento da saúde deve abarcar todas as populações usuárias do sistema de saúde. Nesse sentido, diante dos estigmas de parcela dessa população, esses devem ser elucidados e discutidos na academia. Falar de raça/cor também é falar de saúde. (E21)

Sim. Porque a maior parte desses profissionais irá atuar no Brasil, que é composto por grande parcela de negros, portanto, o conhecimento desses profissionais deve abordar a saúde dessa população para que possam oferecer um serviço de qualidade. (E16)

Sim, porque só consegue atender de forma correta quando de tudo conhece, e aí sim, coloca o SUS em prática, respeitando seus princípios e os exercendo. (E35) Sim, independente da cor do profissional, compreender as particularidades tanto clínicas, quanto sociais da população negra é incontornável. (E22)

Sim, porque além de ser uma reparação histórica é um direito universal de qualquer ser humano, o acesso à saúde e a qualidade de vida, principalmente, quando trazemos essa conta 400 anos. (E31)

Sim, acredito que o conhecimento e o reconhecimento são grandes combatentes contra a discriminação. (E34)

Sim. Porque durante o exercício da profissão, a população negra será muito atendida, o que exige que ela seja entendida. (E20)

Sim, porque a maioria da população brasileira é negra e já foi comprovado que ser negro é um determinante social de saúde. (E17)

Sim. Uma psicologia voltada para a atenção da saúde da população negra, porque os profissionais de saúde são a porta de entrada dos centros de saúde, se eles não acolhem as pessoas negras como devem, as mesmas não vão receber a atenção adequada. (E27)

Sim. Para lidar, prevenir e encorajar a verdadeira igualdade entre os sistemas de saúde. (E28)

Sim, pois são indivíduos que pouco estudamos sobre suas doenças. (E14)

Sim, conhecimento, empatia. Saber trabalhar e tratar toda a população com respeito e da forma correta. Todo tipo de diferença deve ser trabalhada na área da saúde já que vamos lidar com essas. (E10)

Sim, principalmente para abordar o tema com alunos e para formação dos mesmos. A fim de reduzir o quadro de desigualdade racial. (E2)

Sim, visto que é a maioria da população brasileira. (E27)

Sim, quanto mais conhecimento e informação, menor discriminação e melhores atendimentos especializados. (E1)

Sim, devido à relevância do assunto em questão. (E4)

Sim, para se tornar um profissional completo, e não um que só sabe atender uma parcela da população. (E7)

Sim, para formação do profissional mais apto ao atendimento, vendo o indivíduo com suas particularidades e realidade, de modo a ser um profissional mais humanizado que melhor atenda os pacientes. (E15)

Sim, pois algumas características de doenças são diferentes para cada grupo racial, ter conhecido de como atinge a população negra é muito importante, uma vez que corresponde a maior parte do Brasil. (E33)

É muito importante que os profissionais de saúde tenham uma formação sobre a saúde da população negra pelo fato de existirem doenças mais predominantes nessa população, como anemia falciforme, o diabetes mellitus tipo II e quanto mais informação, melhor! Somente dessa forma, é possível atender a todos com o devido cuidado e atendendo aos seus anseios e necessidades em saúde. (E23) Os que responderam de forma negativa apresentaram as seguintes contribuições:

Não tenho opinião formada sobre isso. (E19)

Não, acredito que não haja diferença na conduta entre a população negra e outra população. (E30)

Não. Por que a ideia é parar com a segregação. (E3) Não sei dizer. (E29)

No documento Diamantina 2022 (páginas 92-97)