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Os determinantes sociais em saúde

No documento Diamantina 2022 (páginas 49-52)

4 RAÇA, RACISMO E OS DETERMINANTES SOCIAIS DA SAÚDE

4.2 Os determinantes sociais em saúde

qualidade da atenção à saúde tem sido determinante nos perfis de adoecimento e morte dos afrodescendentes.

De acordo com Tavares, Oliveira e Lages (2013), as necessidades de saúde da população negra no Brasil estão demarcadas desde a estruturação do SUS e também na PNSIPN, que reconhece a relação entre racismo e vulnerabilidade em saúde, apontando o racismo institucional na produção de cuidado e da necessidade de construção de ações.

Essa situação se explicita quando se analisa a diversidade a partir do critério cor da pele, assim as populações de pele preta e /ou parda (pretos), vivem em piores condições de vida e saúde quando comparados às populações de cor branca (PAIXÃO; CARVANO, 2008).

Ressalta aqui que se vivencia constantemente em uma sociedade imersa em relações racializadas, internalizadas nas raízes sociais, culturais e históricas, e negadas por meio do mito da democracia racial. Os efeitos dessas relações promovem uma ação em toda sociedade, pois dificultam o desenvolvimento da emancipação de negros e pardos e são um dos maiores determinantes das diferenças sócio-históricas e os reflexos na vida e na saúde da população negra.

Conforme afirma Barata (2009), quando se diz que as desigualdades sociais em saúde podem manifestar-se de várias formas, tanto no processo de saúde e de doenças em si, como no acesso e utilização de serviços de saúde, percebe-se que as desigualdades no estado de saúde estão de modo geral, fortemente atreladas à organização social e tendem a refletir o grau de iniquidade existente em cada sociedade.

Para elucidar apresenta-se Werneck que informa:

As desigualdades em saúde, associadas aos determinantes socioeconômicos, culturais e históricos, ampliam negativamente nas condições de saúde, revelando que o impacto nas más condições de vida, em grande parte, tem raízes no racismo porque ele é estruturante, e de forma direta influenciam nas condições de saúde desse segmento populacional de forma iníqua. (WERNECK, 2016, p. 42)

Sociais foi escolhida por meio dos modelos de Dahlgren e Whitehead (1991), que serão apresentados abaixo.

Na Figura 1, apresenta-se o modelo dos Determinantes Sociais de Dahgren e Whitehead (1991) que é utilizado e reconhecido pelo Sistema Único de Saúde.

Figura 1 – Modelo dos Determinantes Sociais de Saúde

Fonte: DAHLGREN; WHITEHEAD, 1991.

Vale ressaltar que as pesquisas sobre o racismo como um determinante de saúde é uma área crescente de estudos e pesquisas sobre a saúde, porém, é necessário obter previamente os conceitos da interseccionalidade para melhor compreensão dos efeitos e das causas dos determinantes e como se associam. Ao apresentar a definição de interseccionalidade, segundo Crenshaw (2002, p. 177), que a descreve como: “um processo de descoberta da sociedade que serve como um aporte teórico metodológico para se pensar as múltiplas exclusões e como de fato construir estratégias para o enfrentamento desse paradigma”.

Alguns destes diferenciais são: gênero, classe, cor/raça, orientação sexual etc., e existe uma relação/articulação em que estes diferenciais interagem. A autora ainda complementa que, a interseccionalidade busca articular as consequências da interação entre dois ou mais eixos de subordinação, além de retratar a forma pela qual o racismo, o

patriarcado, a opressão de classe e outros sistemas discriminatórios criam as desigualdades básicas que estruturam as posições relativas de mulheres, raças, etnias, classes e outros.

O grupo de mulheres é relativamente o mais impactado, ainda de acordo com Crenshaw (2002), as desigualdades atingem principalmente as mulheres de formas diferentes, e, assim, todos os fatores relacionados às identidades sociais, tais como classe, raça, cor, religião, orientação sexual, entre outras características.

Williams e Mohammed (2009) sugerem que o racismo pode afetar a saúde de três formas: primeiro, o racismo nas instituições da sociedade pode resultar na dificuldade de mobilidade social, diferença de acesso a recursos, precárias condições de moradia, fatores esses que são capazes de afetar negativamente a saúde-mental. A segunda forma trata-se de como as experiências de discriminação conseguem induzir alterações psicológicos/fisiológico, afetando a saúde mental. A terceira forma apresenta que em sociedades, socialmente racializadas, a aceitação de estereótipos culturais negativos pode conduzir desfavoráveis autoavaliações, produzindo efeitos deletérios no bem-estar psicológico dos indivíduos.

Entende-se sobre o impacto do racismo e da discriminação racial que ele incide sobre um dos principais determinantes de saúde, o acesso dos serviços e dos sistemas de saúde. Diversos autores destacam que as disparidades raciais no acesso à saúde são geradas tanto pelos sistemas, como um todo, como pelos profissionais de saúde e gestores, ao se manifestar no nível do paciente/profissional por meio de preconceitos, estereótipos e incertezas na comunicação clínica e na tomada de decisões. (PEEK et al., 2008).

Destaca-se que a PNSIPN alinhada à formação dos profissionais da saúde, constitui-se uma importante ferramenta para o campo de produção do saber em virtude de se pensar em abordagens teóricas e práticas que atendam aos aspectos do contexto e realidade social. Os projetos pedagógicos dos cursos de graduação, os conteúdos e a formação dos profissionais para uma educação antirracista serão objeto de estudo e análise. Assim, verificar-se que os currículos da saúde contemplam ou preveem a formação para a educação das relações raciais, conforme se buscou refletir no próximo capítulo.

Assim, o estudo sobre a questão racial e saúde da população negra analisadas nos currículos dos cursos da área da saúde na UFVJM, constitui como um importante e urgente campo de produção do saber, em decorrência de analisar como e quais abordagens teóricas e práticas que dão conta de atender às demandas da realidade social da população negra. Diante disso, será apontado no próximo capítulo a análise realizada nos projetos pedagógicos, nas estruturas curriculares, os conteúdos e a formação dos egressos da saúde sobre a temática racial.

No documento Diamantina 2022 (páginas 49-52)