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O histórico da implantação da política de saúde para a população negra

No documento Diamantina 2022 (páginas 32-35)

A princípio a oficialização da política e o planejamento para efetivação de políticas públicas voltadas para o atendimento integral da Saúde da População Negra iniciou-se em meados de 1990, a partir da formação do Grupo de Trabalho interministerial para a valorização da população negra. Contudo, somente a partir da III Conferência Mundial ao Racismo, Discriminação Racial, Xenofobia e Intolerância Correlata realizada em Durban, na África do Sul, no ano de 2001, que a implementação da política voltada para a população negra se manifestou de forma mais efetiva.

Apesar da política para a saúde da população negra ter completado mais de 10 anos da sua publicação e aprovação, ainda hoje ela é pouco conhecida por muitos profissionais de saúde e pela própria população, a qual ela foi estabelecida. Percebe-se que são muitos os desafios para uma efetiva implementação da PNSIPN.

Por isso, é importante um resgate do processo histórico de criação dessa política, destacando a relevância dos movimentos sociais e organizados, principalmente os movimentos das mulheres negras. O início da construção da política se deu entre os anos de 1980 e 1990, quando ocorreu um aumento no número de mortes entre crianças no país, especialmente nas regiões norte e nordeste. As mortes foram causadas inicialmente devido à desnutrição infantil e a desidratação. Nesse período, a Pastoral da Criança, movimento da igreja Católica, promoveu a campanha do soro caseiro para a recuperação da saúde dessas crianças. Outra campanha da época foi contra a esterilização e contra o extermínio de mulheres negras no Brasil.

Alguns autores da temática da SPN apontam a atuação de determinados grupos e movimentos sociais negros, desde a década de 1980 com ações específicas do movimento feminista no âmbito da saúde reprodutiva e da saúde da mulher. Apoiados por instituições

acadêmicas e filantrópicas, o feminismo negro torna-se um protagonista em pesquisa e intervenção social no campo da saúde da mulher. (BRASIL; TRAD, 2012, p.89)

Assim, em 1995, o movimento negro organizou uma importante ação favorável às pautas das desigualdades raciais e para a criação da política. Nessa época, ocorreu a Marcha de Zumbi dos Palmares, um marco em homenagem aos 300 anos de morte de Zumbi dos Palmares e que tinha como foco, denunciar o racismo e solicitar a criação de políticas específicas para a saúde da população negra e ações efetivas para o tratamento da doença falciforme. Segundo dados do Ministério da Saúde, a anemia falciforme é uma doença genética e hereditária causada por anormalidade de hemoglobina dos glóbulos vermelhos.

Estima-se que no Brasil, um a cada cem brasileiro manifeste as alterações decorrentes da doença.

Durante o ano de 1996, há um pequeno, mas importante avanço para a saúde da população negra, quando o estado de São Paulo adotou a inclusão do quesito raça/cor nas declarações dos nascidos vivos e na declaração de óbitos, isso foi um importante instrumento para a verificação dos dados da população negra. Nesse mesmo ano, foi criado o Programa sobre a doença falciforme com abrangência para todos os estados e municípios. Lembrando que a anemia falciforme foi uma das bandeiras dos movimentos negros para o início das discussões sobre a saúde da população negra.

Cabe destacar que a incorporação do quesito raça/cor nos formulários, Sistema de Informação dos Nascidos Vivos (SINASC) e o Sistema de Informação de Mortalidade (SIM), básicos dos sistemas de informação em Saúde, apesar de terem iniciado muito tardiamente, ainda, assim, foi uma grande conquista para a pauta da Saúde da população negra, pois permitiu a visibilidade e a legitimidade para as pesquisas e dados da população. O que gerou um aperfeiçoamento e melhoria na qualidade das informações.

Em 2003, a Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR) foi promulga por meio da Lei 10.678 e extinta em 2015 e, depois disso, ela passou por várias nomenclaturas e transformações e atualmente está integrada ao Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos.

Assim, o Ministério da Saúde, em 2004, criou e instituiu o Comitê Técnico de Saúde da População Negra responsável pelo planejamento e acompanhamento das ações em prol da criação da política nacional. O comitê foi instituído por meio da Portaria 1.678 de 2004. (BRASIL, 2004b)

Outro marco importante para a criação da Política foi a realização da I Conferência Nacional de Promoção da Igualdade Racial em 2005, nesse movimento, ocorreram vários debates sobre a Saúde da População negra.

No ano seguinte, em 2006, o movimento negro alcançou uma importante conquista quando passou a ter uma representação dentro do Conselho Nacional de Saúde.

Nesse mesmo ano, foi criada a Política Nacional da doença Falciforme, ainda em 2006, no mês de outubro, foi aprovado o dia pró-saúde da população negra.

Em meados de 2003 a 2006 ocorreram uma série de seminários, encontros e reuniões técnicas que impulsionaram a institucionalização de ações afirmativas no setor da saúde no Brasil. A política da saúde da população negra foi planejada enquanto ação de cunho transversal e foi intrinsecamente relacionada com os princípios e diretrizes do Sistema Único de Saúde. Um dos desafios para a garantia da transversalidade em relação às questões étnico-raciais no setor da saúde, bem como o combate ao racismo nas instâncias ligadas ao SUS.

O reconhecimento dos processos de exclusão foi um argumento central na defesa da implantação da Política Nacional de Saúde Integral da População Negra. Essa política foi criada sob a premissa universal da Constituição baseada na igualdade de direitos. Visto que estes princípios constitucionais refletiram na saúde como um direito social, de cidadania e de dignidade da pessoa humana; contra o racismo e em favor da igualdade, reafirmando, assim, os princípios do SUS.

Assim, em 13 de maio de 2009, após longo processo de luta e reivindicações, foi publicada a portaria nº 992/2009 que instituiu a Política Nacional de Saúde Integral da População Negra, uma grande conquista que teve como finalidade desconstruir o racismo institucional e promover a inclusão das práticas de cura de origem afro-brasileira.

Em 20 de julho de 2010 com a aprovação do Estatuto da Igualdade Racial, a política de Saúde da População Negra foi incorporada nesse documento, fortalecendo ainda sua importância na sociedade brasileira.

Por meio dessa política, o Ministério da Saúde reconhece o Racismo Institucional como um produtor e reprodutor de práticas discriminatórias, que resultam no acesso e na qualidade dos serviços, atendimentos ofertados aos grupos sociais que são vulneráveis e que, consequentemente, sofrem discriminação.

Em 2017, apesar de tardio, aconteceu uma importante ação que se deu por meio da Portaria 344/2017 que dispõe sobre a obrigatoriedade no preenchimento do quesito raça/cor nos formulários do sistema de Saúde em todo o país. (BRASIL, 2017)

3.3 Diretrizes curriculares nacionais para o ensino das relações étnico-raciais e

No documento Diamantina 2022 (páginas 32-35)