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Diamantina 2022

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Academic year: 2023

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UNIVERSIDADE FEDERAL DOS VALES DO JEQUITINHONHA E MUCURI (UFVJM)

Programa de Pós-Graduação em Saúde, Sociedade e Ambiente (SaSA) Leila Aparecida da Silva

RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS E SAÚDE DA POPULAÇÃO NEGRA NOS CURSOS DA SAÚDE NA UNIVERSIDADE FEDERAL DOS VALES DO JEQUITINHONHA E

MUCURI

Diamantina 2022

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Leila Aparecida da Silva

RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS E SAÚDE DA POPULAÇÃO NEGRA NOS CURSOS DA SAÚDE NA UNIVERSIDADE FEDERAL DOS VALES DO JEQUITINHONHA E

MUCURI

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Saúde, Sociedade e Ambiente da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, como requisito para obtenção do título de Mestre.

Orientadora: Profª Drª Silvia Regina Paes

Diamantina/MG 2022

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente agradeço a Deus, fonte inesgotável de amor incondicional que sempre me revela qual a missão do meu propósito neste mundo.

Aos meus pais Maria e Geraldo (in memoriam) pela minha vida e por me ensinarem a ser quem sou, mulher negra forte, que apesar da nossa origem humilde, eu poderia ser quem eu quisesse ser, desde que eu fosse íntegra e correta comigo e com os outros.

Aos meus filhos Kaio e Malu, minha realização como mãe, meus presentes de Deus. Que me ensinam como e porque devo ser melhor a cada dia.

Aos meus professores do mestrado e, principalmente, à minha orientadora Silvia Paes por me permitir trilhar os caminhos da pesquisa científica com autenticidade e com liberdade e respeito pela minha pesquisa.

Aos meus colegas de mestrado, aos meus colegas de trabalho, aos meus amigos e aos meus irmãos que sentiram a minha ausência, o meu cansaço, o meu desânimo e se colocaram em minha vida, rezando, apoiando, me ouvindo, torcendo por mim. Gratidão!

Ao Programa de Pós-Graduação em Saúde, Sociedade e Ambiente que promoveu a mim um crescimento profundo sobre coisas que eu nem mesmo sabia que eu não sabia.

E reconhecimento a mim pela mulher que sou e me torno a cada dia, mãe, filha, estudante, servidora, pesquisadora, professora e com certeza uma constante aprendiz, uma buscadora. Agradeço por tudo que se apresentam como crescimento, como desafios, as conquistas vividas e os resultados alcançados.

Como descreve Kabele Munanga (2004, p. 52) “não é fácil ser negro no Brasil”, porém acredito que mesmo com tantos desafios é possível em possibilidades. Por isso, meu maior agradecimento a todos os homens e mulheres negras deste país, que foram a minha primeira motivação de pesquisa, que assim como eu, levantam todos os dias para buscar uma vida melhor. E que suas vidas, seus trabalhos e suas saúdes não sejam em vão.

Aos estudantes e futuros profissionais da saúde pela participação voluntária na pesquisa e por terem revelados tantos dados e resultados positivos e instigantes dos pontos- chave da pesquisa. Que a partir destes resultados, possa-se construir e impactar uma nova consciência sobre o quanto o racismo adoece e mata neste universo desigual. E apontar caminhos para a mudança dentro e fora da nossa instituição.

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RESUMO

O estudo a seguir trata-se de uma pesquisa qualitativa, que tem o objetivo de investigar a inserção das temáticas Relações Étnico-raciais e Saúde da População Negra, nos cursos de graduação em Enfermagem, Farmácia, Fisioterapia, Medicina, Nutrição e Odontologia da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, campus de Diamantina/MG. Este tema integra as políticas de ações do Ministério da Saúde e do Ministério da Educação, em atendimento à Política Nacional Integral de Saúde da População Negra e das Diretrizes Curriculares Nacionais de Educação das Relações Étnico-raciais. A metodologia utilizada baseia-se em um estudo documental alinhada à pesquisa de campo integrada a uma visão exploratória e qualitativa dos dados, alinhada a uma pesquisa de campo. Foram investigadas temáticas relacionadas aos conteúdos nos Projetos Pedagógicos e nas unidades curriculares (disciplinas) disponíveis nas estruturas curriculares (matriz curricular), associada a uma pesquisa de campo que tem como sujeitos da pesquisa, os estudantes dos cursos da saúde selecionados. Contudo, a existência de políticas específicas sobre as Relações Étnico-raciais e a Saúde da População Negra não garantem que estes conhecimentos estejam sendo reconhecidos e priorizados nos cursos da área da Saúde. Os resultados da pesquisa revelaram como as temáticas pesquisadas são trabalhadas e abordadas dentro dos cursos da área da saúde. Ao desenvolver a pesquisa, buscou-se articular os referenciais teóricos e bibliográficos e dados de pesquisas sobre a saúde, que afirmaram que os profissionais da saúde precisam ser preparados para lidar com as situações e realidades de diferenças, de desigualdades e de vulnerabilidades de indivíduos em contextos diversos da sua totalidade. A pesquisa destaca a necessidade de estabelecer práticas educativas na área da saúde e que promovam uma formação antirracista que busquem o bem-estar social e melhorar a qualidade de vida deste grupo populacional.

Palavras-chave: Formação em Saúde. Racismo. Relações Étnico-raciais. Política Nacional Integral de Saúde da População Negra.

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ABSTRACT

The following study is a qualitative research, which aims to investigate the insertion of the theme Ethnic-Racial Relations and Health of the Black Population in undergraduate courses in Nursing, Pharmacy, Physiotherapy, Medicine, Nutrition and Dentistry at the Federal University from the Jequitinhonha and Mucuri Valleys, Diamantina/MG campus. This theme is part of the action policies of the Ministry of Health and the Ministry of Education, in compliance with the Comprehensive National Health Policy for the Black Population and the National Curriculum Guidelines for Education on Ethnic-Racial Relations. The methodology used is based on a documentary study aligned with field research integrated with an exploratory and qualitative view of the data, aligned with field research. Themes related to the contents of the Pedagogical Projects and the curricular units (disciplines) available in the curricular structures (curricular matrix) were investigated, associated with a field research that has as research subjects, the students of the selected health courses. However, the existence of specific policies on Ethnic-racial Relations and the Health of the Black Population do not guarantee that this knowledge is being recognized and prioritized in courses in the area of Health. The survey results reveal how the researched themes are worked on and addressed within courses in the health area. When developing the research, we sought to articulate theoretical and bibliographical references and research data on health, which affirm that health professionals need to be prepared to deal with situations and realities of differences, inequalities and vulnerabilities of individuals in different contexts of the its entirety. The research highlights the need to establish educational practices in the health area that promote anti-racist training that seeks social well-being and improves the quality of life of this population group.

Keywords: Training in Health. Racism. Ethnic-Racial Relations. Health of the Black Population.

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RESUMEN

El siguiente estudio es una investigación cualitativa, que tiene como objetivo investigar la inserción del tema Relaciones Étnico-Raciales y Salud de la Población Negra en los cursos de graduación en Enfermería, Farmacia, Fisioterapia, Medicina, Nutrición y Odontología de la Universidad Federal de Jequitinhonha y Valles de Mucuri, campus Diamantina/MG. Este tema forma parte de las políticas de acción del Ministerio de Salud y del Ministerio de Educación, en cumplimiento de la Política Nacional Integral de Salud de la Población Negra y las Directrices Curriculares Nacionales de Educación en Relaciones Étnico-raciales. La metodología utilizada se basa en un estudio documental alineado con la investigación de campo integrado con una visión exploratoria y cualitativa de los datos, alineado con la investigación de campo. Se indagaron temas relacionados con los contenidos de los Proyectos Pedagógicos y las unidades curriculares (disciplinas) disponibles en las estructuras curriculares (matriz curricular), asociadas a una investigación de campo que tiene como sujetos de investigación a los estudiantes de los cursos de salud seleccionados. Sin embargo, la existencia de políticas específicas sobre Relaciones Étnico-raciales y Salud de la Población Negra no garantiza que este conocimiento esté siendo reconocido y priorizado en los cursos del área de la Salud. Los resultados de la encuesta revelan cómo los temas investigados son trabajados y abordados en los cursos del área de la salud. Al desarrollar la investigación, buscamos articular referentes teóricos, bibliográficos y datos de investigación sobre salud, que afirman que los profesionales de la salud necesitan estar preparados para lidiar con situaciones y realidades de diferencias, desigualdades y vulnerabilidades de los individuos en diferentes contextos de la totalidad. La investigación destaca la necesidad de establecer prácticas educativas en el área de la salud que promuevan una formación antirracista que busque el bienestar social y mejore la calidad de vida de este grupo poblacional.

Palabras-llave: Educación en Salud. Racismo. Relaciones Étnico-Raciales. Salud de la Población Negra.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Modelo dos determinantes sociais de saúde...48

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Relação das Unidades Curriculares relacionadas às Questões étnico-raciais e

Saúde da População Negra...68

Quadro 2 – Curso de Farmácia...71

Quadro 3 – Curso de Fisioterapia...73

Quadro 4 – Cursos de Nutrição e Odontologia...74

Quadro 5 – Curso de Medicina...75

Quadro 6 – Ações coletivas práticas e de formação...109

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LISTA DE GRÁFICO

Gráfico 1 – Idade ... 80

Gráfico 2 – Raça/cor ... 80

Gráfico 3 – Curso ... 81

Gráfico 4 – Ano de ingresso ... 81

Gráfico 5 – Ingressantes por campus da UFVJM para o período de 2008 a 2022 ... 82

Gráfico 6 – Período de 2008 a 2021, segundo o sexo. ... 83

Gráfico 7 – Candidatos autodeclarados pretos, pardos ou indígenas que, independentemente da renda (art. 14, II, Portaria Normativa no 18/2012), tenham cursado integralmente o ensino médio em escolas públicas (Lei no 12.711/2012), para o período de 2017 a 2021 ... 83

Gráfico 8 – Candidatos autodeclarados pretos, pardos ou indígenas que, independentemente da renda (art. 14, II, Portaria Normativa no 18/2012), tenham cursado integralmente o ensino médio em escolas públicas (Lei no 12.711/2012), para o período de 2017 a 2021 para os cursos da área da Saúde ... 84

Gráfico 9 – Candidatos autodeclarados pretos, pardos ou indígenas que, independentemente da renda (art. 14, II, Portaria Normativa no 18/2012), tenham cursado integralmente o ensino médio em escolas públicas (Lei no 12.711/2012), para o período de 2017 a 2021 para o curso de Medicina ... 84

Gráfico 10 – Candidatos autodeclarados pretos, pardos ou indígenas que, independentemente da renda (art. 14, II, Portaria Normativa no 18/2012), tenham cursado integralmente o ensino médio em escolas públicas (Lei no 12.711/2012), para o período de 2017 a 2021 para o curso de Odontologia ... 85

Gráfico 11 – Candidatos autodeclarados pretos, pardos ou indígenas que, independentemente da renda (art. 14, II, Portaria Normativa no 18/2012), tenham cursado integralmente o ensino médio em escolas públicas (Lei no 12.711/2012), para o período de 2017 a 2021 para o curso de Farmácia ... 85

Gráfico 12 – candidatos autodeclarados pretos, pardos ou indígenas que, independentemente da renda (art. 14, II, Portaria Normativa no 18/2012), tenham cursado integralmente o ensino médio em escolas públicas (Lei no 12.711/2012), para o período de 2017 a 2021 para o curso de Fisioterapia ... 86

Gráfico 13 – candidatos autodeclarados pretos, pardos ou indígenas que, independentemente da renda (art. 14, II, Portaria Normativa no 18/2012), tenham cursado integralmente o ensino médio em escolas públicas (Lei no 12.711/2012), para o período de 2017 a 2021 para o curso de Enfermagem ... 86 Gráfico 14 – Candidatos autodeclarados pretos, pardos ou indígenas que, independentemente da renda (art. 14, II, Portaria Normativa no 18/2012), tenham cursado integralmente o ensino

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médio em escolas públicas (Lei no 12.711/2012), para o período de 2017 a 2021 para o curso de Nutrição ... 87

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Levantamento das temáticas pesquisadas nos conteúdos dos Projetos Pedagógicos ...67

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LISTA DE SIGLAS

ANS- Agência Nacional de Saúde CEP- Comitê de Ética em Pesquisa CNE- Conselho Nacional de Educação

CNPq- Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico CNS- Conferência Nacional de Saúde

CP- Conselho Pleno

DCNERER- Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino das Relações Étnico-Raciais e afro brasileira, e africana e Indígena

DSS- Determinantes Sociais em Saúde ESF- Estratégia de Saúde da Família

FEVALE- Fundação Educacional do Vale do Jequitinhonha FBSP- Fórum Brasileiro de Segurança Pública

IBGE- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IJSN – Instituto Jones dos Santos Neves

IPEA- Instituto de Pesquisas Econômicas e Aplicadas MS – Ministério da Saúde

NEABI- Núcleo de estudos Afro-brasileiros e Indígenas NOIS- Núcleo de Operações e Inteligência e Saúde OMS- Organização Mundial de Saúde

PACS - Programa de Agentes Comunitários de Saúde (PACS) e Estratégia de Saúde da Família

PNSIPN- Política Nacional de Saúde Integral da População Negra PPC- Projeto Pedagógico do Curso

PROGRAD – Pró-reitoria de Graduação

SEPPIR- Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial SIM- Sistema de Informações sobre Mortalidade

SINAN- Sistema de Informação de Agravos de Notificação SINASC- Sistema de Informação dos Nascidos Vivos SPN- Saúde da População Negra

SUS- Sistema Único de Saúde

TCLE- Termo de Esclarecimento Livre e Esclarecido

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UC- Unidade Curricular

UEMG- Universidade do Estado de Minas Gerais

UFVJM- Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha em Mucuri

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ... 16

2 OPERCURSOMETODOLÓGICO ... 21

3 REFERENCIALTEÓRICO ... 24

3.1 O protagonismo dos movimentos negros para a política da saúde da população negra .. 25

3.2 O histórico da implantação da política de saúde para a população negra ... 30

3.3 Diretrizes curriculares nacionais para o ensino das relações étnico-raciais e afro- brasileira, e africana e indígena ... 33

3.4 Dados e indicadores das desigualdades raciais ... 35

3.5 O impacto do racismo na pandemia de COVID-19 ... 41

4 RAÇA,RACISMOEOSDETERMINANTESSOCIAISDASAÚDE ... 43

4.1 A inter-relação entre raça e racismo na Saúde ... 43

4.2 Os determinantes sociais em saúde ... 47

5 RESULTADOEDISCUSSÕES ... 50

5.1 A abordagem racial nos currículos da Saúde da UFVJM ... 50

5.2 A análise documental - os projetos pedagógicos ... 55

6 ASCONCEPÇÕESDOSFUTUROSPROFISSIONAISDASAÚDESOBREAS QUESTÕESRACIAIS ... 79

6.1 O perfil dos estudantes entrevistados ... 79

6.2 O perfil por raça e cor dos estudantes da área da saúde e dos professores da UFVJM ... 82

6.2.1 Sobre o perfil dos docentes da UFVJM ... 87

6.3 A realização das entrevistas ... 87

6.4 Articulação de categorias – a análise de conteúdo ... 90

6.4.1 Formação acadêmica e o entendimento das relações étnicos raciais ... 90

6.4.2 A política nacional de saúde integral da população negra e suas particularidades. ... 95

6.4.3 A Inclusão do tema saúde da população negra e das relações étnico-raciais nos currículos ... 106

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 117

REFERÊNCIAS...123

APÊNDICE A – CARTA DE ANUÊNCIA – DIRETOR DA UFVJM...129

APÊNDICE B – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO (TCLE) ...130

APÊNDICE C – ROTEIRO PARA A ENTREVISTA ON-LINE...132

APÊNDICE D – RESGATE DOCUMENTAL DOS PROJETOS PEDAGÓGICOS....134

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1 INTRODUÇÃO

A Política Nacional de Saúde Integral da População Negra (PNSIPN) (BRASIL, 2009) e as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Estudo das Relações Étnico-raciais (DCNERER) (BRASIL, 2004) são ações políticas importantíssimas que surgiram como frutos de uma longa trajetória de luta e reivindicação do Movimento Negro em nossa sociedade.

Essas políticas governamentais buscam amenizar e reparar as desigualdades e a invisibilidade histórica e cultural de uma população que foi marcada pelas relações racializadas advindas da escravidão. Resultados da escravidão e do sistema colonialista que levaram a dominação da cultura branco eurocêntrica e o apagamento das demais matizes étnico-raciais que aqui se encontravam no início da formação da sociedade brasileira. Uma hierarquia social e racial injusta que influenciou a identidade racial alternando a condição humana a partir da raça-cor, pautando, assim, às relações étnicas raciais no Brasil.

A construção social do Brasil se desenvolveu a partir de um conceito de raça, estritamente ligado à ideia de posição social, a expressão “nessa sociedade racializada a raça era nativamente importante para dar sentido à vida social, porque alocava as pessoas em posições sociais”. (GUIMARÃES, 2003, p. 99). Reconhecendo, assim, a inter-relação entre os termos raça e classe que se integraram ao longo do processo de formação na nossa sociedade.

O Art. 196 da Constituição Federal Brasileira de 1988 concebe a Saúde como um direito de todos e dever do Estado, portanto por meio do Sistema Único de Saúde (SUS) há possibilidade de efetivação desses direitos estendido a todos, uma vez que seus princípios visam assegurar uma saúde universal, integral e equânime para todos os brasileiros. (BRASIL, 1988; 1990)

Criado em 1990, como consequência da promulgação da Constituição Federal, o Sistema Único de Saúde (SUS) tem como princípios básicos a universalização, a equidade e a integralidade na prestação dos serviços de atendimento à população. A população negra é a que mais utiliza os serviços prestados pelo SUS. Segundo dados do IBGE, a população negra é considerada como SUS dependente, porque 70% da população que utilizam os serviços do SUS são pretos ou pardos.

Essa constatação também está em uma pesquisa realizada pela UFRJ, em 2020, em que foi mencionado, “no entanto, como retrato da sociedade brasileira, um dado se destaca e mostra a realidade racial do país: dos 150 milhões de usuários que dependem exclusivamente do SUS, 67% são pessoas negras.” (MENEZES, 2020, s. p.)

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O estudo, a seguir, trata da Saúde da População Negra e das Relações Étnico- raciais como uma temática de discussão urgente e de extrema importância para identificar os pontos que afetam a saúde dessa população, além de identificar o racismo como um dos determinantes sociais sobre a saúde da população negra (BRASIL, 2011). A Saúde da População Negra não é uma área de conhecimento priorizada nos atuais cursos da área da saúde, apesar de essencial para a formação dos profissionais de Saúde e para a própria população negra (WERNECK, 2016).

As Relações Étnico-raciais e a Saúde da População Negra são demandas que se tornam mais evidentes no contexto da saúde atual, na qual a pauta da saúde aprofunda-se e amplia constantemente e continuamente, devido aos vários registros e pesquisas que comprovam as desigualdades nos acessos e na qualidade dos serviços prestados para esta população. A saúde da população negra é uma temática tão importante que está entre os eixos de prioridades da Agência Nacional de Saúde (ANS), além de integrar e correlacionar outras grandes áreas do conhecimento como saúde, educação, economia, políticas públicas e sociais etc.

As demandas frequentes e constantes apresentadas pelos movimentos sociais, em especial pelo Movimento Negro e pelo Movimento das Mulheres Negras na temática da saúde, comprovam a necessidade de avançar em reflexões e pesquisas nesta área, com vistas a ampliar as ações que visam reduzir as desigualdades sociais que afetam, principalmente, essa população que é comprovadamente mais vulnerável às condições devido ao acesso de direitos e as políticas sociais. Por isso, desenvolver pesquisas sobre a questão étnico-racial e a saúde da população negra é uma das formas de reconhecimento do racismo histórico que a população negra sofreu em vários continentes e especificamente aqui no Brasil, ao longo da história, e da formação da sociedade brasileira, e corrigir os efeitos que permanecem até os dias atuais.

Resultados importantes foram conquistados por meio da luta do Movimento Negro no Brasil, com a promulgação de Legislações, como: a Portaria 992/2009, de 13 de maio 2009, do Ministério da Saúde que instituiu a Política de Saúde Integral da População Negra; as Leis n. 10.639/2003 e n. 11.645/2008 e das Resoluções CNE/CP 01/2003 e CNE/CP 01/2004 que tratam da inclusão da temática das Relações étnico-raciais nos currículos escolares. A Política Nacional Integral de Saúde da População Negra (PNSIPN) e as legislações do campo da educação, que tratam da inclusão das questões étnico-raciais, serviram como base referencial da nossa pesquisa, por constituírem um marco importantíssimo aos direitos de saúde da população negra.

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A Política Nacional de Saúde Integral da População Negra (PNSIPN), aprovada em 2006, pelo Conselho Nacional de Saúde tem como objetivo promover a saúde integral da população negra, priorizando a redução das desigualdades étnico-raciais, o combate ao racismo e a discriminação nas instituições e serviços prestados pelo SUS e, ainda, inclui ações de atenção, cuidado e promoção à saúde e prevenção de doenças, bem como de gestão participativa e controle social, produção de conhecimento, formação e educação permanente para trabalhadores de saúde, visando à promoção da equidade em saúde da população negra (BRASIL, 2010)

Diante disso, as diretrizes da PNSIPN apresentam o incentivo à produção do conhecimento científico e tecnológico em saúde da população negra, incentivando a realização de estudos e pesquisas sobre racismo e saúde dessa população.

A discussão sobre a Saúde da População Negra engloba a Lei n. 10.639, de 2003, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, incluindo no currículo oficial da rede de ensino para a Educação Básica, a obrigatoriedade da inclusão da temática História e Cultura Afro-brasileira.

Gomes (2011) afirma que:

É importante compreender a força e o caráter da Lei nº 10.639/03. Como se trata de uma alteração na Lei nº 9394/96, via inserção dos artigos 26 A e 79 B, quando a ela nos referimos, estamos falando da Lei de Diretrizes e Bases da Educação e não de uma legislação específica voltada para a população negra. Ou seja, o seu teor e suas diversas formas de regulamentação possuem abrangência nacional e devem ser implementados por todas as escolas públicas e privadas brasileiras, assim como pelos conselhos e secretarias de educação e universidades. (GOMES, 2011, p.109)

O fato de existirem legislações que exigem a efetiva aplicação da atenção que deve ser dada à questão da saúde da população negra e das questões étnico raciais para a formação, não garante a sua completa efetividade. Pois, o simples fato de existir as legislações e as políticas não garante o reconhecimento e nem a aplicação efetiva no contexto da saúde e da educação.

Segundo Monteiro (2016), os cursos da área da saúde, pouco ou nada têm realizado no sentido de considerar o tema em pauta como conteúdo pertinente à formação dos novos profissionais. De acordo com o autor, é possível afirmar que não basta a existência de políticas públicas que contemplem a questão étnico-racial e da saúde da População Negra.

Faz-se necessário um acompanhamento dos gestores e uma análise mais profunda da importância que deve ser dada para essas temáticas.

Assim, o estudo tem como objetivo verificar se as temáticas das Relações Étnico- raciais e Saúde da População Negra estão inseridas nos currículos dos cursos da área da saúde

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da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), especificamente nos cursos de Enfermagem, Farmácia, Fisioterapia, Medicina, Nutrição e Odontologia, ofertados no campus JK, na cidade de Diamantina, estado de Minas Gerais.

As motivações para o desenvolvimento da pesquisa ocorreram em momentos diferentes, inicialmente pelo papel desta mulher negra e pesquisadora que teve o processo de autorreconhecimento da sua identidade racial a partir das experiências e vivências em movimentos sociais, ao longo da minha formação e atuação profissional, participando de comissões importantes como a de heteroidentificação racial para ingresso de estudantes cotistas; a participação na comissão de criação do Núcleo de estudos Afro-brasileiros e Indígenas (Neabi) na UFVJM e, ainda, como membro do grupo de pesquisas do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) da universidade da linha pós- colonialismo e educação, e do grupo de pesquisa do Encontro de Saberes. Promovendo, assim, a reflexão da importância social e científica deste tema, pois permite conhecer o perfil dos profissionais de saúde que a instituição está formando para atuar na sociedade, além de verificar os desafios de promover essas discussões no âmbito institucional.

Uma das motivações em pesquisar o tema, surge por uma demanda científica e social, por ter como objetivo central aprofundar sobre a questão das relações étnico-raciais e saúde de população negra nos cursos da área da saúde em uma instituição federal de ensino superior, localizada em uma região, considerada como Polo de Saúde Regional, e que tem como missão promover a disseminação do conhecimento e do desenvolvimento no território do Vale do Jequitinhonha. A região é formada de vários quilombos e comunidades tradicionais descendentes de escravizados decorrentes da época da colonização. Segundo dados da Fundação João Pinheiro, no estado de Minas Gerais, em 2019, a população negra representava 61% da população do estado, média maior que a nacional.

A outra motivação de cunho pessoal surge enquanto discente cotista do curso de pós-graduação interdisciplinar em Saúde, Sociedade e Ambiente, que compreende a importância de pesquisar um assunto tão urgente e que traga referências e, como resultado, um produto que sirva para toda a instituição. Ao buscar cumprir o papel do mestrado interdisciplinar e profissional, enquanto pedagoga de uma instituição federal de ensino superior e discente, regularmente matriculada em um curso de pós-graduação interdisciplinar em Saúde, Sociedade e Ambiente da UFVJM, compreendendo, assim, a importante tarefa de realizar uma pesquisa que trouxesse contribuições efetivas para os cursos da saúde envolvidos e também para a própria instituição, demonstrando o reconhecimento institucional e análise

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sobre o processo de formação dos futuros profissionais na área de saúde com relação às temáticas propostas.

Os dados e os resultados obtidos por meio da pesquisa, mesmo que positivos ou negativos servem como ferramentas estratégicas e ações para o desenvolvimento das temáticas das Relações Étnico-Raciais e Saúde da População Negra e implementação da PNSIPN e das Diretrizes Curriculares para a Educação das Relações Étnico-Raciais no âmbito dos cursos investigados, e aos órgãos e setores envolvidos com as temáticas na instituição.

A minha formação educacional ocorreu no sistema público, me formei no curso de magistério e curso médio científico e, em 1999, ingressei na graduação em pedagogia entre o período de 1999 a 2002 e logo após a graduação, atuei na administração escola da FEVALE/UEMG, onde desenvolvi habilidades e conhecimentos administrativos para o funcionamento dos cursos de graduação. Atuei como professora da rede municipal de educação nos períodos de 1997 a 2008. Em 2009, ingressei na UFVJM como assistente de administração e, em 2015, passei em novo concurso como pedagoga, em que iniciei meus trabalhos na Divisão de Apoio Pedagógico da Prograd, o setor de análise e acompanhamento dos projetos pedagógicos dos cursos de graduação e na formação dos egressos da nossa instituição.

Desta forma, considerando a minha formação, os objetivos do mestrado profissional e demanda relacionada a estudos e pesquisas da saúde da população negra, estabelece-se como questão central de investigação do presente trabalho: os temas das Relações Étnico-Raciais e Saúde da População Negra estão contemplados nos currículos dos cursos da área da saúde da UFVJM?

De acordo com a delimitação do problema de pesquisa, define-se como objetivo geral deste estudo, investigar a inserção das temáticas das Relações Étnico-raciais e Saúde da População Negra nos cursos da área de saúde da UFVJM.

E estabelecem-se ainda os seguintes objetivos específicos, tais como analisar os conceitos de raça, racismo e determinantes sociais de saúde; Identificar a inserção das temáticas das Relações Étnico-raciais e Saúde da População Negra nos Projetos pedagógicos dos cursos de saúde da UFVJM; Verificar as concepções, dos discentes dos cursos da área de saúde da UFVJM, referentes às temáticas das Relações Étnico-raciais e Saúde da População Negra.

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2 O PERCURSO METODOLÓGICO

A metodologia foi baseada a partir da revisão bibliográfica, análise documental e alinhada à pesquisa de campo com caráter qualitativo e exploratório. Além do problema já apresentado anteriormente, buscando ainda perscrutar se os futuros profissionais de saúde têm conhecimentos sobre as temáticas abordadas na pesquisa, bem como reconhecem a importância deste conhecimento para a sua futura atuação profissional? Assim, qual a importância de trabalhar essas temáticas na formação dos profissionais de saúde?

Inicialmente foi realizado um estudo bibliográfico sobre a Política Nacional de Saúde Integral da população negra e, consequentemente, sobre as Leis: 10.639/2003 e 11.645/2008 e a Resolução CNE/CP 01/2003 e do Parecer CNE/CP 01/2004. E, seguindo os princípios da pesquisa qualitativa (MINAYO, 1993) para análise documental, de caráter exploratório, realizou-se um levantamento de dados sobre a inserção das temáticas das Relações Étnico-raciais e Saúde da População Negra nos currículos dos projetos pedagógicos dos cursos de graduação em: Enfermagem, Farmácia, Fisioterapia, Medicina, Nutrição e Odontologia da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri.

Deste modo, procedeu-se à análise de conteúdo (BARDIN, 1977) sobre os Projetos Pedagógicos e nas estruturas curriculares, verificando a existência de conteúdos e disciplinas que abordem a Saúde da População Negra e a temática das Relações Étnico- raciais.

O acesso aos documentos se deu de forma on-line, visto que todos os projetos pedagógicos estão disponíveis na página da Pró-reitoria de Graduação no site oficial da UFVJM. Foram analisados, também, seis projetos pedagógicos dos cursos selecionados e mais seis documentos adendos que foram elaborados e publicados durante o período do ensino remoto adotado pela instituição durante a pandemia de COVID-19.

O desenvolvimento da metodologia ocorre em três etapas distintas. A primeira etapa dada no início da pesquisa baseou-se em um estudo das principais referências bibliográficas. A segunda etapa consiste na análise minuciosa dos Projetos Pedagógicos dos cursos selecionados para a pesquisa. E a terceira etapa da metodologia envolve uma pesquisa de campo que tem como objetivo verificar a percepção dos discentes dos cursos da área da saúde diante das temáticas das Relações Étnico-raciais e da Saúde da População Negra, qual conhecimento os estudantes possuem e se articulam essa compreensão à sua formação e a sua futura atuação profissional. A pesquisa foi realizada por meio de questionário desenvolvido com perguntas relacionadas às temáticas propostas neste estudo.

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O questionário on-line “Google Forms” foi enviado para o e-mail dos estudantes.

Segundo Bardin (1997), a entrevista é um método de investigação específico que pode ser fechado ou aberto, ou seja, com perguntas diretivas ou não diretivas, cuja análise pode ser muito complexa.

Portanto, a elaboração das hipóteses e indicadores para o direcionamento do resultado final é fundamental no contexto da pesquisa pelas quais algumas regras devem ser seguidas, de acordo com as técnicas de organização da análise que pode ser distribuída em três polos cronológicos: 1) pré-análise; 2) a exploração do material; 3) o tratamento dos resultados, a interferência e a interpretação. Junto ao questionário foi enviado o Termo de Consentimento Livre e esclarecido (TCLE), documento anexo ao final deste trabalho.

Os sujeitos selecionados como participantes e públicos-alvo da pesquisa são os estudantes, regularmente matriculados, com idade mínima de dezoito anos, e que já tenham cursado o primeiro período dos cursos da área da saúde selecionados e que concordem em participar da pesquisa, por meio da assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). A pesquisa somente teve início após a aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da instituição (CEP/UFVJM).

Outro assunto abordado ao longo do texto será sobre o Racismo institucional, compreendido como fracasso coletivo no atendimento com qualidade dos grupos sociais estigmatizados pela cor, pela etnia que afeta significativamente a população negra no campo da saúde. Sendo visto como algo a ser combatido dentro da política nacional de saúde integral da população negra.( BRASIL, 2009)

Para o efetivo desenvolvimento dos objetivos geral e específicos, em um corpo consistente de análise e argumentação, adota-se como processo metodológico uma abordagem qualitativa mista, com base em uma revisão bibliográfica dos conteúdos das obras de diferentes autores, pesquisa documental dos projetos pedagógicos dos cursos da área da saúde, o que permite um maior aprofundamento sobre o tema da pesquisa, alinhada a uma pesquisa de campo, por meio de questionário on-line aplicado aos estudantes dos cursos da saúde.

Sem pretensão de estabelecer um discurso conclusivo sobre as questões pesquisadas, serão apresentados alguns conceitos importantes que contribuíram com novas reflexões e perspectivas do estudo.

Para alcançar o seu objetivo central, esta dissertação encontra-se organizada em cinco capítulos, sendo esta Introdução, o primeiro deles. No segundo capítulo, apresenta-se o referencial teórico escolhido e utilizado para elaboração do presente texto, bem como o

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histórico das Políticas de Saúde da População Negra e das Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino das Relações Étnico-Raciais e afro-brasileira, e africana e indígena.

No terceiro capítulo, busca-se acrescentar a discussão entre as proximidades dos principais conceitos identificados nesta pesquisa, a saber: Raça, Racismo, Determinantes Sociais que serviram de base para relacionar as temáticas pesquisadas.

Os capítulos quatro e cinco consistem nos resultados e discussões, a partir dos dados obtidos por meio da análise documental e do resultado da pesquisa de campo. Sendo que o quarto capítulo denominado “A abordagem racial nos currículos da Saúde da UFVJM”

é apresentado os resultados das análises dos projetos pedagógicos dos cursos da área da saúde identificados e analisados como são feitas as abordagens das temáticas das Relações Étnico- raciais e da Saúde da População Negra nos documentos.

No quinto capítulo, com o título “As concepções dos futuros profissionais da saúde sobre as questões raciais” destaca-se as concepções dos estudantes dos cursos da saúde sobre os temas investigados.

E, finalizando o texto, apresentam-se as Considerações Finais em que são mostrados os pontos que foram descobertos e as inferências que a pesquisa promoveu e, ainda, os produtos elaborados a partir do trabalho desenvolvido.

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3 REFERENCIAL TEÓRICO

Neste capítulo será abordado o processo histórico para a implantação da Política Nacional de Saúde Integral da População Negra, o processo de implantação das Diretrizes Curriculares Nacionais de Educação das Relações Étnico-raciais e das demais legislações complementares 10.639/2008, além da Resolução CNE/CP 01/2003 e do Parecer CNE/CP 01/2004 que justificam a importância de desenvolver estudos e pesquisas relacionadas às temáticas que envolvem as desigualdades e à saúde da população negra.

A partir do Censo de 1991, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) adotou o critério de autoclassificação da população, segundo o critério raça/cor, distribuídos em cinco categorias: branco, preto, pardo, indígena e amarelo. Desde, então, surge a definição de população negra como o somatório de pretos e pardos (OSÓRIO, 2004).

O Estatuto da Igualdade Racial criado por meio da Lei 12.288/2010 que define a população negra como o conjunto de pessoas que se autodeclararam pretas e pardas, conforme o quesito raça ou cor usada pela Fundação do Instituto Brasileiro e Estatística, IBGE, órgão responsável pelo Censo Demográfico nacional.

Os resultados de vários estudos e pesquisas mostram que o perfil da população brasileira é representado pela maior parte da população negra. A partir destes estudos, outros dados como a mortalidade, morbidade, incapacidade, acesso a serviços, qualidade da atenção, condições de vida e fatores ambientais são métricas utilizadas na construção de indicadores que se traduzem em informação relevante para quantificação e avaliação da saúde (BATISTA; GONÇALVES, 2011).

A Política Nacional de Saúde Integral População Negra e as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino das Relações Étnico-raciais são políticas importantes que surgem como frutos de uma longa trajetória de lutas e reivindicações de atores e movimentos sociais e, especialmente, do movimento negro em defesa dos direitos da população negra. Essas políticas governamentais, na área da saúde da educação, integram um conjunto de ações afirmativas que tem como objetivos amenizar, reparar as desigualdades e a invisibilidade sobre a história e a cultura que essa população sofreu e ainda sofre devido às consequências e os resultados da escravidão.

O processo de escravização e o sistema de colonização levaram à sobreposição da cultura do homem branco sobre os demais matizes étnico-raciais. Uma hierarquia racial que influenciou no determinismo racial e definiu as condições humanas a partir da raça/cor, construindo, assim, as Relações Étnico-raciais no nosso país.

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Segundo o autor Brave Heart (1998) existe uma teoria denominada trauma histórico que retrata que as populações que foram submetidas a traumas em massa, por um longo período (colonialismo, escravidão, guerras, genocídio), apresentam maior prevalência de doenças por meio das gerações, como consequência do trauma.

Por isso, também é importante reconhecer que há diferenças em saúde e refletir sobre suas causas, desafios para uma sociedade mais justa e igualitária. A teoria do trauma histórico ressalta que, a fim de eliminar as disparidades em saúde entre diferentes populações, é necessário conhecer e respeitar os processos históricos e os mecanismos que marcaram física, psicológica e socialmente determinadas populações.

O contexto histórico racial de formação da sociedade brasileira mostra que no Brasil há uma grande diversidade étnico-racial, representada pela junção das culturas europeia, africana e indígena. Historicamente, os conhecimentos sobre as questões étnico- raciais no Brasil foram pautados na questão do sistema escravocrata. Para compreender este contexto, é preciso conhecer previamente alguns conceitos fundamentais como raça, racismo, discriminação racial, que são importantes para entender o resultado destes como determinantes nos processos sociais, ao longo da história até os dias atuais.

Nas literaturas referentes às temáticas, os pesquisadores apresentam conceitos e definições sobre o racismo, considerando que este é um dos determinantes para as desigualdades sociais e afeta a saúde de quem sofre e pratica o ato racista. Portanto, é preciso o reconhecimento da relevância em estudar e pesquisar sobre as relações étnico-raciais no Brasil.

As relações étnico-raciais na sociedade brasileira foram pautadas no sistema colonialista em que a hierarquia de raça levou a sobreposição da cultura branca eurocêntrica e permitiu a invisibilidade, de maneira intencional das demais matrizes étnica-raciais, cujas histórias e culturas são fatos que não se discutem, não são notados e/ou não querem notar. (CONCEIÇÃO; RISCADO; VILELA, 2018, p. 36)

3.1 O protagonismo dos movimentos negros para a política da saúde da população negra

O movimento negro, no Brasil, evidencia a importância de avançar em ações efetivas, visando diminuir as desigualdades sociais existentes. Um dos resultados desse movimento consolidou com a criação de uma política específica na área da Saúde, a Política Nacional de Saúde Integral da População Negra (PNSIPN), criada em 2009, sendo um resultado de longas demandas relacionadas a essa população que sofreu e ainda sofre os impactos da colonização, herdando as desigualdades sociais ocasionadas pelos anos de

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escravidão e invisibilidade social. Essa política apresenta diretrizes e objetivos que visam garantir ações que buscam reduzir tais desigualdades de forma mais efetiva.

O reconhecimento da invisibilidade, da falta de conhecimento sobre o assunto e das desigualdades sociais, do racismo como determinantes e condicionantes sociais, o processo de saúde, adoecimento, morte da população negra são meios para promover a equidade em saúde e promover uma educação antirracista.

A partir da afirmativa de Saucedo (2018), compreende-se a importância de implantar a Política Nacional de Saúde da População Negra.

A Política Nacional de Saúde Integral da População Negra (PNSIPN), criada em 2006, é definida como um instrumento pró Sistema Único de Saúde (SUS), que tem por objetivo promover a saúde integral da população negra, priorizando o combate ao racismo por meio da redução das desigualdades étnico-raciais e da discriminação racial nas instituições e serviços do SUS. (SAUCEDO, 2018, p.08)

Diante disso, é percebido que a marca da política é definida por meio do reconhecimento do racismo, das desigualdades étnico-raciais e do racismo institucional como determinantes sociais das condições de saúde, com vistas à promoção da equidade em saúde.

E apresenta como objetivo geral: promover a saúde integral da população negra, priorizando a redução das desigualdades étnico-raciais, o combate ao racismo e a discriminação nas instituições e serviços do SUS. (BRASIL, 2009)

As análises dos projetos pedagógicos da saúde iniciam e ampliam a partir da afirmação de Pereira e Lages (2013, p. 320) “a preocupação com a formação dos profissionais de saúde e com a normatização de seu exercício profissional é histórica e sempre esteve presente na pauta das discussões institucionais e dos movimentos sociais”.

Após longos períodos de demanda sobre essa temática, durante a 12º Conferência Nacional de Saúde (CNS), em 2003, o eixo “Trabalho em Saúde, incorpora-se à questão racial entre as ações referentes à Gestão da Educação em Saúde.”

O texto do item 81 presente no eixo Trabalho e Saúde, elaborado durante a realização da conferência CNS, apresentou como resultado os seguintes objetivos:

modificar o modelo de formação profissional de saúde, hoje centrado na atenção à doença, reformulando o currículo dos cursos dos profissionais da saúde, considerando temas teóricos e práticos relacionados com a promoção, a vigilância e a atenção integral à saúde, o controle social e o caráter multiprofissional e interdisciplinar das práticas de saúde. Incluir conteúdos disciplinares em informação, comunicação social sobre a diversidade étnica, cultural e racial do povo brasileiro, aspectos da subjetividade relacionados com a atenção e a educação em saúde, redução de danos, atenção básica e funcionamento do SUS. (BRASIL, 2004c, p. 127)

Inicialmente é importante reconhecer a Política Nacional de Saúde Integral da População Negra que trata a respeito da “Inclusão dos temas Racismo e Saúde da População

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Negra nos processos de formação e educação permanente dos trabalhadores da saúde e no exercício do controle social na saúde”. (BRASIL, 2009, p.31).

As instituições formadoras devem prover os meios adequados à formação de profissionais necessários ao desenvolvimento do SUS e a sua melhor consecução, permeáveis o suficiente ao controle da sociedade no setor, para que expressem qualidade e relevância social coerentes com os valores de implementação da reforma sanitária brasileira. (CECCIM; FEUERWERKER, 2004, p.48).

A existência do Sistema Único de Saúde (SUS), desde sua concepção, traz a Promoção da Saúde como uma estratégia que tem como objetivo promover a qualidade de vida e reduzir vulnerabilidades e riscos relacionados aos seus determinantes. Focando não apenas no indivíduo, mas nas condições e no modo de viver, condições de trabalho, educação, lazer, habitação, acesso aos serviços e as políticas sociais de cada indivíduo.

Apesar de a Constituição de 1988 afirmar que a saúde é um direito de todos, as questões sobre as desigualdades e sobre o acesso à saúde se destacam na pauta política e social em todo mundo. Assim, constata-se que a população negra ainda sofre com o racismo, inclusive no âmbito da saúde, causando inclusive óbitos evitáveis. Por isso, a pesquisa sobre a saúde da população negra torna-se de grande relevância social e científica. Como embasamento, esta pesquisa apresenta alguns conceitos produzidos por grandes pesquisadores da temática, que comprovam a importância de avançar cada vez mais em reflexões nessa área, com vistas a ampliar as discussões e pesquisas sobre a saúde da População Negra e reduzir as desigualdades sociais conforme definido.

Monteiro (2016) diz que um dos desafios da Saúde Pública está relacionado ao processo de reconhecimento dos determinantes sociais de saúde. E estes determinantes são considerados a partir de conceitos como raça, etnia e cor. E os autores Conceição, Riscado e Vilela reafirmam que:

A partir das discussões de pesquisadores compreendemos que a inserção da temática étnico-racial afro e afro-brasileira nos currículos em saúde é uma forma de atender demandas emergentes, e se constitui em uma oportunidade de ampliação dos conhecimentos sobre diversidade cultural da sociedade brasileira, sua história, bem como sua influência na cultura local e no processo saúde doença. (CONCEIÇÃO;

RISCADO; VILELA, 2018, p. 53).

Nota-se que ao analisar mais a fundo o tema Saúde da população negra e o contexto da saúde no país, percebe-se o quanto este é abrangente e urgente, ao mesmo tempo, a pesquisa se insere em duas áreas: Saúde/Educação. Deste modo, chega-se à reflexão do quanto é importante e necessário aprofundar nessa questão, sobretudo, quando relacionado à formação dos profissionais que atuam ou atuarão no âmbito da saúde.

Santana et al. (2019) enfatiza:

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[...] a Política Nacional de Saúde Integral da População Negra reafirmou os princípios Sistema Único de Saúde, em especial o princípio da equidade que pressupõe a priorização da atenção em saúde. O autor reafirma ainda que o sistema que hoje vemos está sendo reproduzido ao longo da história da nossa sociedade.

(SANTANA, et al., 2019, p. 02)

Em busca de ampliar a discussão sobre o racismo e os seus impactos na saúde é de fundamental importância, para que ocorra uma sensibilização nesses profissionais sobre os conceitos e suas consequências para a saúde da população negra. O reconhecimento do racismo institucional nas prestações de serviços faz parte da realidade e do cotidiano, pois observa-se que há uma teoria nas redes de assistência e atenção à saúde que reproduzem algumas ideologias falsas sobre as pessoas negras, tais como, se estas pessoas fossem mais resistentes a dor, que o negro não adoece etc. Reflexos destes pensamentos e ações geram problemas de acesso e de um pior atendimento nos espaços de saúde.

Nesse sentido, o Conselho Nacional de Saúde (CNS) vem cada vez mais ampliando a participação das mulheres negras nas políticas e promovendo o compromisso na luta contra o racismo. Reconhecendo assim que, a centralidade histórica e política da luta das mulheres negras na saúde pública e coletiva, suas contribuições e a aprovação da PNSIPN, impulsionaram o debate dos termos raça, racismo e SPN no CNS. Alguns dados específicos do Ministério da Saúde revelam que as mulheres negras têm menor expectativa de vida do que as mulheres brancas. E que as mulheres negras sofrem mais as consequências das iniquidades sociais.

Assim como, a informação acima referente às distorções entre as mulheres negras e brancas e os dados de fontes como a Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde (PNDS), do Ministério da Saúde, comprovam que há uma incidência maior e mais recorrente de miomas uterinos, de elevada taxa de mortalidade materna, além de dados que comprovam que existem diferenças em relação ao número de consultas pré-natal e ao tempo de consultas. A proporção de mães negras com no mínimo seis consultas, conforme preconiza o Ministério da Saúde, foi de 69,8%, em comparação às mulheres brancas, essa proporção foi de 84,9%. (BRASIL, 2009)

Ressalto o entendimento sobre a importância da criação de uma política específica de saúde da população que é resultado das ações dos movimentos negros ao longo de sua história, por meio dos dizeres das autoras Leny Trad e Sandra Brasil ao esclarecerem que a política “resultou de uma larga trajetória de lutas e reivindicações por parte de lideranças do movimento negro e de outros atores sociais”. (BRASIL; TRAD, 2012, p.83).

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O Ministério da Saúde reconhece que as condições de vida da população negra impactam os processos de saúde, doença e morte, compreendendo, então, que as desigualdades sociais causam problemas de saúde e atingem, principalmente, as pessoas mais vulneráveis. Sendo assim, o Ministério cria estratégia de gestão para minimizar e reduzir esses dados e os seus impactos na saúde, e uma delas é o cumprimento da Política Nacional de Saúde da População Negra. Com isso, as diretrizes da política abordam a necessidade de incluir a temática do racismo e da saúde da população negra na formação dos profissionais de saúde e no exercício do controle social. (BRASIL, 2009)

Para embasamento de alguns conceitos inerentes e prévios para a melhor compreensão dos temas base: Saúde da População Negra e Relações Étnico-raciais apresenta- se o processo histórico de formação da sociedade brasileira por meio dos autores Conceição, Riscado e Brandão que trazem a seguinte afirmação:

A inserção da temática étnico-racial e afro e afro-brasileiro nos currículos em saúde é uma forma de atender às demandas emergentes, e se constitui em uma oportunidade de ampliação dos conhecimentos sobre a diversidade cultura da sociedade brasileira, sua história, bem como sua influência cultural local no processo de saúde doença. (CONCEIÇÃO; RISCADO; BRANDÃO, 2018, p.53)

Prevalece um consenso na literatura científica sobre algumas doenças de maior ocorrência na população negra, em virtude do condicionamento de fatores genéticos, que atuaram em um conjunto de fatores sociais e ambientais, e que teriam efeito direto na morbidade e mortalidade. Entre as doenças genéticas e hereditárias mais comuns, destacam-se os agravos e doenças: aquelas geneticamente determinadas (doença falciforme, deficiência de glicose 6-fosfato-desidrogenase); aquelas adquiridas em condições desfavoráveis (desnutrição, anemia ferropriva, doenças do trabalho, DST/HIV/AIDS, mortes violentas, mortalidade infantil, abortos sépticos, sofrimento psíquico, estresse, depressão, tuberculose, transtornos mentais – uso abusivo de álcool e outras drogas); e as doenças de evolução agravada ou tratamento dificultado (hipertensão arterial, diabetes melito, coronariopatias, insuficiência renal crônica, câncer, miomatoses).

A existência e a permanência do racismo estrutural e institucional ampliam o distanciamento nos acessos à saúde pela população negra, que morrem precocemente por causas que poderiam ser evitáveis. Assim, os referenciais principais que serviram para o embasamento teórico da pesquisa foram duas políticas que corroboram com as questões raciais, uma na base da saúde e outra na base da educação, ambos os resultados das demandas dos movimentos negros no Brasil.

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A primeira fonte é a Política Nacional Integral de Saúde da População Negra aprovada em 10 de novembro de 2006, pelo Conselho Nacional de Saúde (CNS) e instituída pela Portaria nº 992, de 13 de maio de 2009, esta política tem como finalidade a promoção e a equidade em saúde. Dentre os objetivos desta política, verificaram-se os que mais interessam a esta pesquisa: a inclusão do tema sobre racismo nos processos de formação e educação permanente dos profissionais de saúde e no exercício do controle social; avaliar e monitorar as mudanças na cultura institucional, através de princípios antirracistas e não discriminatórios, além de fomentar a realização de estudos e pesquisas sobre a saúde da população negra.

3.2O histórico da implantação da política de saúde para a população negra

A princípio a oficialização da política e o planejamento para efetivação de políticas públicas voltadas para o atendimento integral da Saúde da População Negra iniciou- se em meados de 1990, a partir da formação do Grupo de Trabalho interministerial para a valorização da população negra. Contudo, somente a partir da III Conferência Mundial ao Racismo, Discriminação Racial, Xenofobia e Intolerância Correlata realizada em Durban, na África do Sul, no ano de 2001, que a implementação da política voltada para a população negra se manifestou de forma mais efetiva.

Apesar da política para a saúde da população negra ter completado mais de 10 anos da sua publicação e aprovação, ainda hoje ela é pouco conhecida por muitos profissionais de saúde e pela própria população, a qual ela foi estabelecida. Percebe-se que são muitos os desafios para uma efetiva implementação da PNSIPN.

Por isso, é importante um resgate do processo histórico de criação dessa política, destacando a relevância dos movimentos sociais e organizados, principalmente os movimentos das mulheres negras. O início da construção da política se deu entre os anos de 1980 e 1990, quando ocorreu um aumento no número de mortes entre crianças no país, especialmente nas regiões norte e nordeste. As mortes foram causadas inicialmente devido à desnutrição infantil e a desidratação. Nesse período, a Pastoral da Criança, movimento da igreja Católica, promoveu a campanha do soro caseiro para a recuperação da saúde dessas crianças. Outra campanha da época foi contra a esterilização e contra o extermínio de mulheres negras no Brasil.

Alguns autores da temática da SPN apontam a atuação de determinados grupos e movimentos sociais negros, desde a década de 1980 com ações específicas do movimento feminista no âmbito da saúde reprodutiva e da saúde da mulher. Apoiados por instituições

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acadêmicas e filantrópicas, o feminismo negro torna-se um protagonista em pesquisa e intervenção social no campo da saúde da mulher. (BRASIL; TRAD, 2012, p.89)

Assim, em 1995, o movimento negro organizou uma importante ação favorável às pautas das desigualdades raciais e para a criação da política. Nessa época, ocorreu a Marcha de Zumbi dos Palmares, um marco em homenagem aos 300 anos de morte de Zumbi dos Palmares e que tinha como foco, denunciar o racismo e solicitar a criação de políticas específicas para a saúde da população negra e ações efetivas para o tratamento da doença falciforme. Segundo dados do Ministério da Saúde, a anemia falciforme é uma doença genética e hereditária causada por anormalidade de hemoglobina dos glóbulos vermelhos.

Estima-se que no Brasil, um a cada cem brasileiro manifeste as alterações decorrentes da doença.

Durante o ano de 1996, há um pequeno, mas importante avanço para a saúde da população negra, quando o estado de São Paulo adotou a inclusão do quesito raça/cor nas declarações dos nascidos vivos e na declaração de óbitos, isso foi um importante instrumento para a verificação dos dados da população negra. Nesse mesmo ano, foi criado o Programa sobre a doença falciforme com abrangência para todos os estados e municípios. Lembrando que a anemia falciforme foi uma das bandeiras dos movimentos negros para o início das discussões sobre a saúde da população negra.

Cabe destacar que a incorporação do quesito raça/cor nos formulários, Sistema de Informação dos Nascidos Vivos (SINASC) e o Sistema de Informação de Mortalidade (SIM), básicos dos sistemas de informação em Saúde, apesar de terem iniciado muito tardiamente, ainda, assim, foi uma grande conquista para a pauta da Saúde da população negra, pois permitiu a visibilidade e a legitimidade para as pesquisas e dados da população. O que gerou um aperfeiçoamento e melhoria na qualidade das informações.

Em 2003, a Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR) foi promulga por meio da Lei 10.678 e extinta em 2015 e, depois disso, ela passou por várias nomenclaturas e transformações e atualmente está integrada ao Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos.

Assim, o Ministério da Saúde, em 2004, criou e instituiu o Comitê Técnico de Saúde da População Negra responsável pelo planejamento e acompanhamento das ações em prol da criação da política nacional. O comitê foi instituído por meio da Portaria 1.678 de 2004. (BRASIL, 2004b)

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Outro marco importante para a criação da Política foi a realização da I Conferência Nacional de Promoção da Igualdade Racial em 2005, nesse movimento, ocorreram vários debates sobre a Saúde da População negra.

No ano seguinte, em 2006, o movimento negro alcançou uma importante conquista quando passou a ter uma representação dentro do Conselho Nacional de Saúde.

Nesse mesmo ano, foi criada a Política Nacional da doença Falciforme, ainda em 2006, no mês de outubro, foi aprovado o dia pró-saúde da população negra.

Em meados de 2003 a 2006 ocorreram uma série de seminários, encontros e reuniões técnicas que impulsionaram a institucionalização de ações afirmativas no setor da saúde no Brasil. A política da saúde da população negra foi planejada enquanto ação de cunho transversal e foi intrinsecamente relacionada com os princípios e diretrizes do Sistema Único de Saúde. Um dos desafios para a garantia da transversalidade em relação às questões étnico- raciais no setor da saúde, bem como o combate ao racismo nas instâncias ligadas ao SUS.

O reconhecimento dos processos de exclusão foi um argumento central na defesa da implantação da Política Nacional de Saúde Integral da População Negra. Essa política foi criada sob a premissa universal da Constituição baseada na igualdade de direitos. Visto que estes princípios constitucionais refletiram na saúde como um direito social, de cidadania e de dignidade da pessoa humana; contra o racismo e em favor da igualdade, reafirmando, assim, os princípios do SUS.

Assim, em 13 de maio de 2009, após longo processo de luta e reivindicações, foi publicada a portaria nº 992/2009 que instituiu a Política Nacional de Saúde Integral da População Negra, uma grande conquista que teve como finalidade desconstruir o racismo institucional e promover a inclusão das práticas de cura de origem afro-brasileira.

Em 20 de julho de 2010 com a aprovação do Estatuto da Igualdade Racial, a política de Saúde da População Negra foi incorporada nesse documento, fortalecendo ainda sua importância na sociedade brasileira.

Por meio dessa política, o Ministério da Saúde reconhece o Racismo Institucional como um produtor e reprodutor de práticas discriminatórias, que resultam no acesso e na qualidade dos serviços, atendimentos ofertados aos grupos sociais que são vulneráveis e que, consequentemente, sofrem discriminação.

Em 2017, apesar de tardio, aconteceu uma importante ação que se deu por meio da Portaria 344/2017 que dispõe sobre a obrigatoriedade no preenchimento do quesito raça/cor nos formulários do sistema de Saúde em todo o país. (BRASIL, 2017)

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3.3 Diretrizes curriculares nacionais para o ensino das relações étnico-raciais e afro- brasileira, e africana e indígena

Um marco teórico importante utilizado no desenvolvimento desta pesquisa refere-se ao campo da educação que é a Lei 10.639 de 2003, que orienta a inclusão da temática das relações étnico-raciais nos currículos escolares, e ressalta que a inclusão deve acontecer em todos os níveis de ensino. Neste contexto, destacam-se as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-raciais (DCNERER) e para o ensino de história e cultura afro-brasileira e africana (DCNERER) de acordo com (BRASIL, 2004).

As instituições formadoras devem prover os meios adequados à formação de profissionais necessários ao desenvolvimento do SUS e a sua melhor consecução, permeáveis o suficiente ao controle da sociedade no setor, para que expressem qualidade e relevância social coerentes com os valores de implementação da reforma sanitária brasileira. (CECCIM; FEUERWERKER, 2004, p.8)

Por sua vez, utilizou-se como marco teórico a Resolução nº 1, de 17 de junho de 2004, que Institui Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico- Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana. Esta Resolução aponta alguns pontos que destacam e articulam com os objetivos da nossa pesquisa.

Em seu primeiro parágrafo, a Resolução define que

As Instituições de Ensino Superior incluirão nos conteúdos de disciplinas e atividades curriculares dos cursos que ministram, a Educação das Relações Étnico- Raciais, bem como o tratamento de questões e temáticas que dizem respeito aos afrodescendentes, nos termos explicitados no Parecer CNE/CP 3/2004. (BRASIL, 2004a)

Art. 5º Os sistemas de ensino tomarão providências no sentido de garantir o direito de alunos afrodescendentes de frequentarem estabelecimentos de ensino de qualidade, que contenham instalações e equipamentos sólidos e atualizados, em cursos ministrados por professores competentes no domínio de conteúdos de ensino e comprometidos com a educação de negros e não negros, sendo capazes de corrigir posturas, atitudes, palavras que impliquem desrespeito e discriminação.

Art. 6° Os órgãos colegiados dos estabelecimentos de ensino, em suas finalidades, responsabilidades e tarefas, incluirão o previsto o exame e encaminhamento de solução para situações de discriminação, buscando-se criar situações educativas para o reconhecimento, valorização e respeito da diversidade. (BRASIL, 2004a)

A demanda da comunidade afro-brasileira por reconhecimento, valorização e afirmação de direitos, no que diz respeito à educação, passou a ser particularmente apoiada com a promulgação da Lei 10.639/2003, que alterou a Lei 9.394/1996, estabelecendo a obrigatoriedade do ensino de história e cultura afro-brasileiras e africanas.

Assim, em virtude das necessidades apresentadas pela inclusão da temática da cidadania afrodescendente na educação e na formação dos profissionais da saúde, a pesquisa

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