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REPERCUSSÕES DA ADOÇÃO DO PJE TRABALHISTA NO ACESSO À JUSTIÇA

6 PROCESSO JUDICIAL ELETRÔNICO TRABALHISTA: NOVO PARADIGMA DE ACESSO À JUSTIÇA

6.2 REPERCUSSÕES DA ADOÇÃO DO PJE TRABALHISTA NO ACESSO À JUSTIÇA

Traçadas as principais características e peculiaridades do sistema do PJe que evidenciam a mudança de paradigma no Judiciário Trabalhista brasileiro, resta analisar as repercussões dessa complexa inovação no acesso à justiça no âmbito do processo laboral.

Não é demais frisar que o acesso à justiça no Estado Democrático de Direito não se restringe à garantia de poder postular perante o Poder Judiciário, mas engloba ainda o direito de obter uma resposta jurisicional com o respeito aos princípios inerentes ao devido processo legal (contraditório, ampla defesa, duração razoável do processo, paridade de armas, economia processual, etc.).

Além disso, importante recapitular que no âmbito do Judiciário trabalhista, o acesso à justiça pode ser efetivado por meio de particularidades na assistência judiciária gratuita e na gratuidade da justiça, além da autorização legal para o jus postulandi (que se consubstancia na capacidade postulatória do leigo no primeiro grau da Justiça do Trabalho, ou seja, sem patrocínio de advogado).

Vale ratificar ainda que o processo judicial eletrônico nasceu com a proposta de ser um processo virtual e ter seus atos produzido no ambiente digital. Esse aspecto produz consequências significativas no processo de trabalho. A forma de realizar os atos processuais no primeiro e no segundo graus da Justiça Laboral, seja pelos servidores como pelos advogados e usuários do sistema, sofreu consideráveis alterações com a implantação do PJe. Por conseguinte, o acesso à justiça no âmbito do Judiciário trabalhista foi atingido de diversas formas.

O primeiro impacto decorre da ruptura de um costume: o fato de ter que lidar com um processo que tramita em outro meio, de forma diversa, principalmente porque os autos não mais se encontrarão sob guarda de determinada unidade judiciária, cujos servidores são responsáveis pela prática do ato. Além disso, os advogados, servidores e magistrados do Judiciário trabalhistas não manuseiam mais autos em papel, mas vêem o processo através da tela do computador.

A ubiquidade é uma característica própria do PJe, ou seja, nele é possível o amplo, irrestrito e integral acesso simultâneo em diferentes locais. Esse atributo inclusive permite, no processo judicial eletrônico trabalhista, a prática simultânea de

atos processuais por usuários diferentes em locais e computadores diversos (por exemplo, um oficial de justiça envia para o sistema a certidão de cumprimento de mandado através de um computador do fórum, enquanto o advogado peticiona num notebook de seu escritório). Ainda em decorrência da ubiquidade, não há necessidade de carga dos autos pelos patronos ou remessa deles para o Ministério Público. A notificação do advogado ou do procurador do trabalho são suficientes, haja vista que os autos estão disponíveis pela internet.

Em razão de utilizar a internet, o processo judicial eletrônico é acessível nas vinte e quatro horas do dia. Essa disponibilidade integral promove nítida ampliação da capacidade de usufruir da garantia do acesso à justiça no âmbito da Justiça do Trabalho. Em razão disso, os prazos para a prática de atos processuais podem ser super aproveitados. A propositura de uma ação e o peticionamento livrou-se das amarras de burocracias dos serviços de protocolo e distribuição. Não há o risco de perda dos autos do processo no cartório e da obtenção de certidão para a devolução do prazo por este motivo. Esse aspecto do funcionamento nas vinte e quatro horas do dia mostra-se altamente benéfico para a garantia do acesso à justiça, auxiliando o exercício do direito de ação, o contraditório e ampla defesa e implementando a celeridade processual.

O acesso à justiça também é facilitado pela total transparência que o PJe confere aos atos processuais praticados. A transparência dos autos virtuais decorre do fato de os atos processuais serem, via de regra, produzidos no ambiente do sistema via internet e serem acessíveis integral e instantaneamente após a assinatura eletrônica. Isso significa que tão logo sejam praticados, os atos processuais são acessíveis e perderá o sentido se falar em lapso temporal entre a sua elaboração, o protocolo (quando for o caso), a juntada e a disponibilização para as partes e procuradores. Ademais, não heverá necessidade de realização do registro de tramitação ou movimentação processual. O nível elevado de transparência possibilitado pelo PJe permite ainda o controle do lapso temporal dos atos processuais. Essa funcionalidade da transparência do PJe prestigia a segurança processual e contribui para a efetividade e para a duração razoável do processo.

O PJe propicia a eliminação ou redução de gasto de tempo dos usuários com a prática de atos e rotinas burocráticos que o próprio sistema automaticamente

realiza. Não há mais a necessidade de distribuição do processo, haja vista que o sistema a realiza de forma automática e imediata. Assim também perderam sentido, com o PJe, as juntadas de petições.

A prática de atos processuais burocráticos direta e automaticamente pelo próprio sistema contribui para o PJe trabalhista ser considerado um novo paradigma de acesso à justiça, ao determinar ritmo mais ágil no andamento dos feitos com consequências em diversos outros aspectos. Nesse contexto, o PJe eliminou tarefas de natureza meramente burocráticas que não estão relacionadas ao escopo final de solução do conflito. Assim, não existem mais autuação, numeração de folhas, aposição de carimbos “em branco”, por exemplo.

Os atos dos advogados, assim como dos demais usuários, são realizados no bojo do próprio sistema, diretamente nos autos. Esse fato torna despiciendas a realização de carga de autos e da contagem de prazos em dobro em caso de litisconsortes com procuradores diferentes.

A adoção e implantação do PJe na Justiça do Trabalho é um caminho sem volta. Haja vista que na composição do acesso à justiça estão englobados diversos princípios, cabe-nos, então, investigar como esses princípios são ou poderão ser atendidos com a utilização do PJe para que seja mantido incólume a garantia do acesso ao Poder Judiciário.

A relação do processamento eletrônico com o devido processo legal deve ser feita em ambos os vieses que este princípio possui. Para atendimento ao aspecto substantivo do devido processo legal, ao processo virtual se exigirá não apenas a regularidade formal, mas que a solução do conflito seja baseada numa decisão que cumpra atributos da justiça, do equilíbrio, da razoabilidade e da proporcionalidade. Já no que tange ao aspecto procedimental, no processo judicial eletrônico permanecerá a exigência de atendimento a todas as formalidades e garantias processuais previstas no ordenamento.

Pode-se afirmar que somente será alcançada a ampla defesa num processo quando a todas as partes envolvidas no litígio forem oportunizadas o exercício, sem limitações, dos direitos assegurados pela legislação vigente (relativos à dedução das alegações produzidas e à produção de prova).

Já a questão atinente ao princípio da igualdade das partes, importante ressaltar que a implantação do processo judicial eletrônico deve ser acompanhada

de acirramento da política de inclusão digital ou medidas que compensem a falta desta. Assim, o processo judicial eletrônico respeitará o princípio da igualdade dos litigantes do Judiciário trabalhista, principalmente no que tange ao aspecto material, por não se poder conferir tratamento isonômico quando se detecta disparidade.

Se observarmos o fundamento para a adoção do processo judicial eletrônico, percebemos que ele nitidamente se coaduna com o fim do princípio da instrumentalidade das formas. O processo virtual (mais até do que o processo com autos de papel) visa a melhoria no trâmite processual e se propõe a colaborar com o objetivo do processo de estabelecer a melhor forma possível de solucionar o conflito num ínterim razoável, sem dilações desnecessárias e com racionalização dos atos. Nota-se, ainda, o evidente caráter da dupla instrumentalidade do processo judicial eletrônico em razão de ser ele um instrumento da jurisdição que se serve de um instrumento da tecnologia (é realizado por um meio eletrônico).

Outrossim, é cristalino que o PJE inaugura a adoção de medidas que ensejam a economia processual já referidas nas linhas acima, a exemplo, da assinatura digital; do Diário de Justiça Eletrônico; da visualização do processo sem necessitar de transporte ao fórum; do peticionamento digital; e da prática virtual de atos processuais com economia de papel e tinta de impressora.

Além disso, em sede de tramitação processual via eletrônica, a economia não é vislumbrada somente em relação aos recursos materiais diretamente empregados, mas também no que concerne ao controle mais racional dos atos do processo. Isso se evidencia pois o PJe proporciona a apuração mais eficiente da configuração de algumas situações, como a prevenção, a perempção, a coisa julgada e a litispendência, por exemplo. Esse fato decorre da formação e alimentação automatizadas dos bancos de dados do sistema processual eletrônico.

Outro fato importante que atesta o atendimento do princípio da economia processual pelo processo judicial eletrônico reside em facilitar a intimação de litigantes cadastrados sem a necessária publicação no Diário eletrônico do tribunal.

Relevante ainda reforçar que a Lei n° 11.419, em nome da economia processual, no aspecto dos custos econômicos, prevê no artigo 14 que os sistemas de PJe devem utilizar preferencialmente os programas com código aberto, disponíveis na rede mundial de computadores. Isso significa que não haverá obrigatoriamente a necessidade de os órgãos do Poder Judiciário reservar verba

para custear, perante as empresas criadoras, as licenças de programas com código fechado.

Resta evidente que a adoção do processo eletrônico prima pelo cumprimento do princípio da economia processual, haja vista que busca a redução de custos, se comparado ao processo com autos em papel, e procura implementar a celeridade na obtenção da prestação jurisdicional com a redução de várias rotinas e simplificação na realização dos atos processuais com o auxílio da tecnologia.

É fato que no contexto brasileiro não demoraria muito para que houvesse a aplicação dos recursos da informática e dos benefícios da internet na otimização, aperfeiçoamento e racionalização da atividade jurisdicional, uma vez que a pulverização da Internet na década de 1990 promoveu uma revolução nos costumes. E são nítidos o êxito e o avanço que a tecnologia da informática aliada à internet propiciam para a racionalização em vários setores da sociedade. O que se deseja é que a interface entre a informática e o direito processual possa acarretar a racionalização do processo e consequentemente a efetividade da função jurisdicional do Poder Judiciário em prol do cidadão.

Estamos num momento de transição e ruptura que exigirá dos magistrados, advogados, partes e servidores, enfim usuários do PJe, a mudança de consciência para compreender esse novo contexto de processo virtual racional. Como visto, diversas situações, por vezes até pontuais, verificadas nos processos físicos simplesmente perderam sentido no processo judicial eletrônico.

O processo convencional com autos que se materializam por meio de papel se diferencia significativamente do processo essencialmente virtual que tramita por um sistema eletrônico, mas ambos possuem o intuito semelhante de dirimir conflitos no Judiciário resguardando a garantia do acesso à justiça. Vale ressaltar, no entanto, que o meio de comunicação e materialização influi e condiciona o conteúdo do que se pretende transmitir. Nesse espeque, o meio digital condiciona e transforma consideravelmente as características do processo judicial tradicional com autos em papel.

A transformação do processo com a implantação do PJe, por conseguinte, confere novos contornos à teoria geral do processo e ao direito processual. A análise de novas diretrizes do processo com a implantação do PJe evidenciam a necessidade de atualização da teoria processual, haja vista que o processo virtual

não pode ser reduzido à função de informatizar a ineficiência e os problemas do processo de papel. Ao contrário, a racionalização do processo virtual deve ser bem compreendida e aperfeiçoada para que o sistema realize os atos burocráticos e reserve aos usuários a atividade cognitiva e pensante na tramitação processual. Essa relação do processo com a racionalização da informática aliada à internet pode ser utilizada em prol do acesso à justiça em benefício de todos os cidadãos.