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O ACOMPANHANTE NO PARTO COMO UMA AÇÃO

A literatura disponível sobre o tema “parto humanizado” traz como recomendação que a mulher tenha a presença de acompanhante durante todo o processo de trabalho de parto e parto, fazendo parte ainda de documentos como o “Guia Prático Maternidade Segura” (BRASIL, 1995). Em muitos estados brasileiros existem leis estaduais que garantem este direito à mulher, como é o caso de Santa Catarina, que a partir da iniciativa de um grupo local voltado para a humanização, garantiu este direito através da Lei 12.333 de 2002 (SANTA CATARINA, 2002; TORNQUIST, 2004).

Esta lei serviu como referência para a elaboração da Lei 11.108 de abril de 2005, que institui obrigatoriedade a todos os serviços do Sistema Único de Saúde ou conveniados, a permitirem a presença de um acompanhante, de escolha da parturiente, para acompanhá-la em todo o processo de nascimento e parto (BRASIL, 2005).

Porém, vale lembrar que, atualmente, este mesmo argumento de participação da mulher/homem nas decisões acerca dos procedimentos obstétricos realizados nas maternidades também é utilizado pela obstetrícia para justificar um elevado número de intervenções cirúrgicas eletivas e classificadas como “a pedido”. Para Hotimsky et al. (2002), esta aparente liberdade de escolha outorgada à mulher/homem, dita em prol do “movimento de humanização do parto e nascimento”, justifica o aumento indiscriminado de cesarianas eletivas em todo o país.

Brüggemann (2005), com relação ao acompanhante, enfatiza que é necessário vê-lo como alguém que está vivenciando um momento muito especial e que precisa ser acolhido no contexto assistencial onde está inserido. Conforme refere a autora, o acompanhante foi colocado como um importante fator de promoção de humanização do parto, capaz, inclusive de estimular os profissionais de saúde a repensarem o significado do nascimento, também passarem a ter uma atitude mais humana e menos rotineira.

trabalho de parto e parto por um acompanhante da escolha da parturiente. Avaliou a sua satisfação e os efeitos deste apoio sobre os resultados maternos, perinatais e aleitamento materno, permitindo o conhecimento das percepções dos profissionais de saúde e dos próprios acompanhantes na vivência desta experiência. Os resultados evidenciaram, em primeiro lugar, a inexistência de estudos controlados sobre o apoio provido por acompanhantes e que os efeitos do apoio por outros provedores foram mais acentuados sobre as intervenções obstétricas, quando não era permitida a presença de familiar ou do companheiro. Foi verificado que as parturientes tiveram mais satisfação em relação ao trabalho de parto e parto quando acompanhadas por pessoas de sua escolha. Comparado com o grupo que não tinham acompanhante, a presença do acompanhante não influenciou nos resultados maternos, perinatais e de amamentação. Tanto os profissionais de saúde como os acompanhantes avaliaram de forma positiva a experiência do acompanhamento do processo de nascimento e do apoio oferecido (BRÜGGEMANN, 2005).

As evidências científicas apontam que a presença do acompanhante reduz consideravelmente os índices de cesariana, a utilização de anestesias e analgesias, o uso de ocitocina, assim como reduz a permanência prolongada do binômio hospitalizado. Desta forma, serviram de embasamento para a recomendação de acompanhante no processo de nascimento e parto, descrito nas Tecnologias Apropriadas para o Nascimento e Parto, em 1995 (HOTIMSKY; ALVARENGA, 2002). Hotimsky e Alvarenga (2002) enfatizaram que a recomendação do acompanhante, pela OMS, reconhece caber à mulher escolher este acompanhante, pois está explicito que essa forma de apoio à mulher perpassa pelas concepções sociais e culturais nos quais o parto e nascimento estão inseridos.

Em diversas culturas os acompanhantes que prevalecem, desde muito tempo, são mulheres mais velhas, normalmente com um grau de parentesco com a parturiente. Hoje se percebe que, legalmente amparado pelo Estatuto da criança e Adolescente (ECA), o acompanhamento de parturientes que se encontram nesta faixa etária estabelecida são, explicitamente, os pais ou responsáveis. Entre as diversas legislações estaduais, reforça-se a presença do companheiro/pai da criança como o acompanhante que a mulher pode optar (HOTIMSKY; ALVARENGA, 2002). Contudo, também são vários os estudos que mostram que os profissionais que atendem ao parto, nas maternidades, precisam ter cuidado para realmente respeitarem a decisão das parturientes e gestantes se seus desejos de acompanhamento

forem por qualquer pessoa significativa, seja ela do sexo feminino ou masculino.

Enkin et al. (2005) salientam que o apoio dado à mulher durante o trabalho de parto e parto pode ser realizado pelos profissionais responsáveis pelo seu cuidado ou ainda por outras pessoas designadas para essa atividade. Pode ser ainda realizado pelo companheiro, outros familiares e até mesmo por amigos da parturiente, desde que a mesma nunca permaneça só durante o processo de nascimento. Esse apoio compreende medidas de conforto físico e psicológico, que variam e devem respeitar a sua cultura e suas necessidades individuais.

A “doula”, palavra de origem grega que significa “aquela que ajuda ou serve” (BELTRÃO; RODRIGUES, 2008, p. 9), é uma mulher que pode participar do cenário do parto, com o objetivo de oferecer suporte afetivo, psicológico e físico, assim como favorecer a inserção do acompanhante da mulher no processo de nascimento, para melhor vivenciarem esta experiência (BELTRÃO; RODRIGUES, 2008). A presença da doula no momento do parto é uma prática incentivada por diversos organismos nacionais e internacionais, reforçando como uma prática que reduz a quantidade de intervenções desnecessárias para a mulher (KLAUS; KENNEL; KLAUS, 2000). Contudo, não tem sido uma prática recorrente e consolidada em cenários brasileiros.

De qualquer forma, seja em qual concepção for, ou seja, quem for o ser humano que acompanhará a mulher em todo o processo do nascimento, deverá ser alguém que possua vínculo e possa fortalecê-la, empoderando-a no processo de gestar e parir, através de suporte e apoio emocional e físico. Os profissionais de saúde, diante dos acompanhantes, precisam respeitar as decisões das famílias, além de incentivar as participações no decorrer de todo o período do parto, abrindo as portas sem preconceitos para que se sintam acolhidos e partes do processo. Somente aquele acompanhante que receber apoio e se sentir benquisto, dentro do cenário hospitalar, poderá se preocupar em confortar e fornecer o suporte necessário à mulher que vivencia o processo do nascimento, até a volta para casa.

3.4 O PROFISSIONAL QUE ASSISTE AO PARTO NA