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5.1 CONHECIMENTO SOBRE A LEGISLAÇÃO QUE ENVOLVE O

5.1.3 Desconhece ou apenas ouviu falar

O último conjunto de depoimentos revela um elevado número de profissionais que desconhece a legislação vigente no que se refere à presença do acompanhante como direito da mulher no processo de nascimento e parto. Essa desinformação foi constatada por expressões

usadas pelos próprios profissionais, onde afirmaram o desconhecimento ou ainda que apenas “ouviram falar” da lei.

“Conheço pouco a legislação, qualquer que seja, porque tenho um pouco de aversão às leis” (MP1).

“Não conheço, sei que existe, mas eu nunca li nenhuma vez” (AE17). “Eu conheço assim só de ouvir falar, mas eu nunca li a Lei, mas eu sei que ela existe” (TE2).

“Pior é dizer que eu não conheço, não lembro aonde que eu vi que tinha alguma coisa escrita sobre isso” (AE1).

“A gente lê e ouve falar sempre aqui na maternidade que é o direito do acompanhante” (TE8).

“Infelizmente não conheço a legislação. Eu vejo que existem direitos, mas não me aprofundei muito na legislação” (TE4).

“Nunca peguei a lei pra ver, porque pra mim já é um direito adquirido na maternidade, e não é porque tem uma lei que é uma presença que tem que está lá. Quando eu cheguei aos poucas eles já tavam indo, acompanhando, agora eles não saem mais. Mas nunca peguei para ler, até porque não houve necessidade, sempre apoiei eles estarem lá” (E2).

“Legislação não conheço. O que eu sei é que o Ministério da Saúde, acho que é, não é que ele recomende, e não é que imponha também, mas quase que ele impõe, a necessidade do acompanhante no trabalho de parto, né, e mesmo no pós-parto. Então eu sei que existe isso, não sei se é do Ministério da Saúde ou de onde que é. Essa determinação, acho que é do Ministério da Saúde, não é? Justamente visando a tal da humanização do parto, não é?” (MO1).

“Não sei ao certo, mas claro que isso é lei, é uma lei conquistada pelo Ministério da Saúde e é lei. Existe, já, como é que a gente fala? Já é uma coisa concreta, né?” (MP6).

“Pra ser sincera eu só conheço a lei orgânica do SUS, né, que vê um direito a presença de um acompanhante” (TE5).

sua autonomia em definir em que casos o acompanhante vai entrar. No geral não tem esta restrição, é mais liberado, né, [...] mas assim acho que tem uma restrição maior no parto operatório, mas no parto normal não tem, agora se tem ou não, não sei, é o que a gente houve falar, nunca li nada a respeito. Nunca me interessou também, não me incomoda, não acho estranho o cara ali, então não me incomodo” (MP5).

“Eu sempre vejo o cartaz lá dos direitos do acompanhante do SUS, que eles têm direitos, pra exigir seus direitos, porque eles têm direito. Às vezes o pessoal acha que não, em todos os hospitais têm os cartazes, né, o SUS dá o direito a todas de um acompanhante que a paciente escolher, desde que chega na instituição, até ir embora” (AE18).

“Há pouco tempo atrás foi liberado o acompanhante. No parto já tava liberado, e agora, na cesariana, é isso que eu sei. Agora pra ser bem sincero, eu não sei se impuseram limites a isso. Acho que não, mas depois eu vou perguntar pra você isso” (MO4).

“A gente tem ouvido falar muito dos direitos, né?Tem os direitos do doente, que a gestante tem, que existem essas legislações, esses políticos nossos só fazem direitos pra quem vai ser atendido. Quem vai atender só tem obrigações e deveres, né, eu vejo dessa forma” (MO5).

“Só sei que agora tem que ter acompanhante, né. Acho que é o certo, tem que ter acompanhante, né. Não tenho mais o que falar. Foi uma lei, não foi daqui que surgiu, foi uma lei mesmo que agora tem que ter direito ao acompanhante, né? A não ser quando é quarto coletivo, aí pode ser mais de um. Bom que agora pode ter quando for alojamento conjunto, aqui também fica a mãe e o neném, daí mais ainda” (AE8).

“Sei assim que tem que ter o parto humanizado, e agora, tem que ter o acompanhante também, eu já vi na televisão e é isso que eu sei” (AE20).

Os profissionais, ao sinalizarem que desconhecem a legislação sobre a lei do acompanhante, dão indícios que não estão preparados e comprometidos com as mudanças que vem ocorrendo, relacionadas ao movimento de humanização da assistência, onde a presença do acompanhante é apenas um dos aspectos nas propostas de mudanças, constituindo um grande entrave para a efetivação desse direito para as mulheres que são assistidas. Percebo também que parece haver uma despreocupação por parte desses profissionais na aquisição desse

conhecimento, uma vez que afirmam que dentro da instituição existem folders que trazem informações sobre a lei. Almeida et al. (2005) reforçam essa idéia, quando afirmam que o despreparo dos profissionais de saúde contribui de forma acentuada para a desumanização da assistência, ocorrendo franco desrespeito dos direitos das mulheres. Outros profissionais reforçam o desconhecimento sobre a lei do acompanhante ao referir, por exemplo, que cada instituiçao determina em que casos essa presença vai ser efetivada, sugerindo que cabe aos profissionais determinarem quem, quando e como vai ocorrer esse acompanhamento. Outros enfatizam que a presença ocorria anteriormente apenas no parto normal e que, com a legislação, passou a ser admitida também nos partos operatórios.

Acredito que esse desconhecimento por parte dos profissionais contribui para a redução da qualidade da assistência prestada, uma vez que interfere diretamente na performance dos mesmos diante da mulher e de seu acompanhante. Para que se possa proporcionar assistência de qualidade é necessário que os profissionais estejam envolvidos e comprometidos com o seu trabalho, não somente buscando aperfeiçoamento nos aspectos técnico-assistenciais, mas ampliando esse conhecimento também para os aspectos legais que permeiam a assistência, e que por isso, garantem o inquestionável direito ao exercício pleno da cidadania.

Para que mudanças no paradigma de atenção ao nascimento e parto ocorram, é necessário que os profissionais estejam engajados e conscientes do seu papel, buscando ampliar conhecimentos para melhorar a qualidade e a humanização da assistência. Conforme Wei (1999), o tema humanização da assistência, principalmente nas instituições públicas hospitalares, está sendo continuamente associado à valorização profissional e principalmente das pessoas que utilizam os serviços, tanto nos aspectos sócio-culturais e emocionais, quanto legais, para promover a qualidade da assistência e a melhoria das condições de trabalho.

Além da necessidade do próprio profissional buscar conhecer melhor os aspectos que englobam a humanização da assistência, cabe à instituição promover a sensibilização e a informação através de encontros frequentes para discutir os fatores que influenciam as práticas assistenciais existentes. Concordo com Diniz (2005), quando argumenta que os recursos humanos são decisivos para a implantação de mudanças no cenário assistencial do parto e do nascimento, como coadjuvantes na implementação das propostas de humanização. Na formação profissional, quer seja de medicina ou enfermagem, existem grandes

dificuldades geradas principalmente na lentidão em absorver mudanças referentes à humanização da assistência. Isso acaba refletindo na prática, pois o profissional acaba tendo que ser treinado em serviço para modificar posturas apreendidas em sua formação.

A literatura tem apresentado de forma ampla a questão do direito ao acompanhante e as suas repercussões observadas na assistência ao nascimento e parto, principalmente para a mulher, para os