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2.3 O ACOMPANHANTE NA MATERNIDADE

2.3.4 As doulas no acompanhamento intraparto

Os estudos sobre o apoio oferecido à mulher no período intraparto, por doulas, mostram que, no Brasil, essa é uma prática restrita a poucos serviços que adotam as recomendações ministeriais para a assistência humanizada e que estão situados em grandes centros urbanos.

Leão e Bastos (2001) realizaram uma revisão de literatura sobre o suporte realizado por doulas comunitárias e, ao mesmo tempo, apresentaram a experiência de um hospital filantrópico, com a participação dessas agentes. As autoras identificaram os seguintes resultados, nos estudos analisados que avaliaram o suporte oferecido por doulas: menor incidência de problemas perinatais, menor tempo de duração do trabalho de parto, melhor interação da mãe com o bebê. Acresentaram ainda: menor índice de cesáreas, diminuição do uso de ocitocina, menor número de recém-nascidos admitidos em unidades de tratamento intensivo, baixa taxa de anestesia peridural para o parto normal, menor incidência de sepse neonatal, maior índice de aleitamento materno e uma experiência de parto mais positiva. Dessa forma, os estudos apontaram que a doula, como provedora de apoio, reduz a ansiedade materna, proporcionando segurança e tranqüilidade para a mulher, diminuindo a necessidade de intervenções obstétricas. Neste sentido, são consideradas como alternativa segura e eficaz no acompanhamento das mulheres, porque proporcionam bem-estar emocional.

Voluntária”, que é instituído pelo hospital Sofia Feldmann, que sempre permitiu a presença de acompanhantes de preferência da parturiente, mas que, devido às condições físicas da instituição, não permitiam, no ambiente do parto, a presença do marido/companheiro. Assim, as mulheres voluntárias para serem doulas foram selecionadas na comunidade, por uma equipe multidisciplinar, sendo posteriormente treinadas com relação à aquisição de conhecimentos quanto ao processo da gestação e do parto, puerpério, amamentação, cuidados com o recém- nascido, planejamento familiar, papel da doula e quanto às normas e rotinas da instituição.

Segundo as autoras, desde que o projeto teve início , em 1997, vários treinamentos e esclarecimentos foram realizados, além do contínuo acompanhamento das atividades realizadas. Após a implementação do projeto, aproximadamente 70% das mulheres foram acompanhadas por familiares ou por doulas, sem que alguma avaliação sistemática tivesse sido realizada (LEÃO; BASTOS, 2001).

Outro estudo que procurou caracterizar o perfil da doula e as suas funções foi desenvolvido por Leão e Oliveira (2006). Tratou-se de uma pesquisa qualitativa, do tipo descritivo-exploratório e foi realizada em um hospital da zona leste de São Paulo, que atende pelo SUS, envolvendo 9 doulas. Os dados identificaram que o trabalho dessa agente tem caráter voluntário, sendo exercida apenas por mulheres, por facilitar a interação com as parturientes. Entre as características gerais identificou-se predomínio do ensino fundamental, idade entre 26 e 71 anos, predominando a religião católica, sendo que a maioria tem filhos. Entre as justificativas para o desenvolvimento da atividade o estudo identificou que oito aceitaram participar por ser um trabalho voluntário e estar associado ao sentimento de solidariedade. Cinco doulas apontaram que a própria experiência vivenciada como parturientes, de forma negativa, estimulou o interesse em exercer este papel. As atividades identificadas pelas autoras como desenvolvidas pelas doulas no acompanhamento das parturientes foram: conversar e orientar, acompanhar ao banho, apoiar/compartilhar/tranqüilizar, dar carinho, auxiliar a caminhar, ajudar nos exercícios da bola, encorajar/incentivar, segurar na mão, realizar massagens, suprir a falta do acompanhante e apoiar o mesmo, quando este está presente.

Leão e Oliveira (2006) identificaram que as atividades desenvolvidas por doulas, em outros países diferem dos resultados encontrados neste estudo, onde a predominância de cuidados está mais voltada para a parturiente. Dessa forma, as autoras acreditam que a doula é um elemento que pode ser agregado ao trabalho da equipe de

saúde na assistência à mulher, no período gravídico-puerperal, mesmo que as atividades desenvolvidas ainda não sejam conhecidas pelos profissionais e pela população em geral, mas abre possibilidades do atendimento mais humanizado.

Esta revisão de literatura teve a intenção de apresentar o estado da arte do que está sendo produzido pelos pesquisadores brasileiros, de modo amplo, sobre o assunto “Humanização da assistência ao parto e nascimento”, nos últimos quinze anos. A revisão, por força dos objetivos implicados no objeto da presente investigação, enfocou a presença do acompanhante neste contexto, como um dos aspectos envolvidos na humanização do parto e nascimento.

Estas publicações veiculam as várias concepções que os diversos sujeitos envolvidos possuem a respeito da humanização no contexto do parto e nascimento, ou seja, os profissionais de saúde atuantes na assistência e no ensino. Emgloba também os gestores, formuladores e aplicadores das políticas oficiais, assim como as mulheres e as pessoas significativas que a acompanham na experiência da parturição. O estado da arte que emana de tal produção mostra que o assunto é polêmico, instigante, desafiador e ainda hoje revela contradições de concepções e práticas, seja dentro de cada categoria, ou na comparação entre elas. Portanto, requer outros estudos que auxiliem no descortinamento do tema, ajudando a aprofundar perspectivas teóricas ou metodológicas, a fim de alcançarmos novos patamares de conhecimentos e que os mesmos possam ser operacionalizados de forma mais cômoda, abrangente e segura.

Constata-se que as enfermeiras têm colaborado de forma mais contundente na geração de conhecimentos sobre a humanização do parto e nascimento, contribuindo, sobremaneira, para o atual estado da arte relacionado à temática. Se, por um lado, isso tem repercussões para a própria prática profissional e para a possibilidade de mudar o ideário da assistência em enfermagem obstétrica, neonatal e familiar, por outro, também acena para a tímida operacionalização dessas produções nos cenários obstétricos, que envolve a participação dos demais profissionais. Contudo, mostra que outros profissionais da área da saúde também necessitam aumentar as produções, nos quais englobem aspectos da humanização, pois além dos enfermeiros, os profissionais da psicologia são os que mais publicam estudos nesta perspectiva, e a maioria envolve a participação paterna no processo do nascimento.

No que se refere especificamente ao estado da arte relacionado ao acompanhante, o assunto é mais desafiador, porque a grande maioria destas publicações não insere o acompanhamento como objeto do estudo

ou como foco da atenção investigativa. Constatou-se que esse tema aparece apenas como algo periférico, ou como um aspecto complementar dos estudos que envolvem a humanização do nascimento e parto. Todavia, percebe-se que mesmo as publicações que abordam o acompanhante (seja como aspecto complementar do estudo, ou como objeto específico), mantêm o foco nas percepções das mulheres acompanhadas e nas percepções dos próprios acompanhantes. São escassos estudos que focalizam os profissionais de saúde com relação às suas concepções e opiniões em relação ao acompanhante no interior das maternidades. Também se constatou que quando esses raros estudos são implementados, ainda assim, buscam conhecer opiniões da equipe de enfermagem e não dos demais elementos que compõem a equipe de saúde, o que se revelou como forte justificativa para a realização da presente pesquisa.

3 REFERENCIAL TEÓRICO

3.1 PARADIGMA DA HUMANIZAÇÃO DO PARTO E