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Percepções de acompanhantes e percepções de profissionais sobre

2.3 O ACOMPANHANTE NA MATERNIDADE

2.3.2 Percepções de acompanhantes e percepções de profissionais sobre

Compreender o significado de ser acompanhante da mulher durante o trabalho de parto e parto foi o objetivo de Nakano et al. (2007), que envolveu 12 acompanhantes de parturientes em uma maternidade do interior de São Paulo, que permite e estimula a presença de acompanhantes. Foi identificado que o apoio oferecido pelos acompanhantes está ancorado no aspecto emocional que contempla posturas de encorajamento, tranquilidade e incentivo, entendidos como de extrema importância para a mulher que vivencia este período.

Essa presença também está relacionada à curiosidade natural sobre o processo vivenciado e, ao mesmo tempo, por uma postura fiscalizadora da atenção e do cuidado depreendidos pelos profissionais. Observou-se que a atuação do acompanhante, segundo a percepção dos mesmos, está associada à “permissão” dos profissionais de saúde, de forma a não atrapalhar a realização de suas atividades. Dessa forma,

muitos acompanhantes se afastavam durante a realização de procedimentos e estimulavam as mulheres a colaborar com os profissionais.

Os acompanhantes do estudo referiram sentimentos de satisfação e valorização quando percebiam receptividade dos profissionais e esclarecimentos de dúvidas e inseguranças que envolviam o processo parturitivo. Entretanto, reconheciam que, frequentemente, tinham falta de coragem para ajudar a mulher, não demonstravam ter atitude frente à situação de estar acompanhando e verbalizaram não saber exatamente o que fazer. A conclusão do estudo mostrou que os acompanhantes se sentem como seres figurativos, sem valorização da sua importância para a mulher. Diante disso, para as autoras, as práticas assistenciais seguem o modelo biomédico de atenção.

O estudo de Brüggemann, Osis e Parpinelli (2007) descreve as percepções dos acompanhantes que vivenciam essa experiência e de profissionais que prestaram assistência ao parto com a presença de acompanhantes. Foram identificadas ideias centrais que configuraram as percepções, tanto de acompanhantes como de profissionais. Para o acompanhante, a experiência de estar ao lado da mulher foi bastante positiva, evidenciado pela satisfação de poder ajudar e compartilhar do nascimento, e pelo sentimento de ser bem recebido pelos profissionais. A satisfação manifestada também esteve relacionada à tranquilidade que a mulher aparentava, por contar com sua presença, e pela possibilidade da formação de vínculos afetivos com o recém-nascido. Outro aspecto evidenciado foi o reconhecimento do acompanhante de que a sua presença possibilitava apoio emocional para a mulher. A análise das percepções dos profissionais permitiu identificar aspectos relacionados a experiências anteriores, expectativas na prestação de cuidados com a presença do acompanhante e a opinião após a vivência da experiência. As autoras apontam que a experiência vivida pelos profissionais foi considerada positiva, superando as expectativas negativas, mesmo que a maioria não tivesse praticamente nenhuma experiência anterior.

Os autores enfatizam que, para os profissionais de saúde, a ausência de alterações nas rotinas assistenciais da instituição, principalmente no atendimento na sala de parto, com a presença do acompanhante, foi um aspecto importante para mudar as expectativas negativas iniciais dessa presença. Mesmo diante de situações emergenciais, os aspectos positivos da participação do acompanhante não foram alterados, porém, os profissionais referiram maior ansiedade e necessidade de resolução mais rápida da situação, concentrando sua atenção na assistência prestada. Os profissionais identificaram que a

presença do acompanhante promoveu sentimentos positivos, tanto nas mulheres que dispunham do apoio, relacionados também ao seu comportamento e participação no processo de parto, como na própria equipe, que passa a ter uma maior atenção e cuidado com a mulher. Os profissionais de saúde observaram que a presença do acompanhante interfere sobre a evolução do trabalho de parto e parto, considerada como positiva, por tornar a parturiente mais participativa, segura e colaborativa e, desta forma, promover para uma evolução com menos complicações, pelo apoio emocional oferecido. Atribuem também a essa presença a adoção de práticas assistenciais mais humanas e menos mecanizadas, por parte dos profissionais, possibilitando reconhecer a mulher como um ser completo (BRÜGGEMANN; OSIS; PARPINELLI, 2007).

A pesquisa conclui que tanto as percepções dos acompanhantes como as dos profissionais de saúde apontaram aspectos positivos, evidenciando possibilidades de incorporação desta prática em outras instituições de saúde, além de subsidiar e estimular a implementação da atual legislação que versa sobre esse direito das mulheres à presença de um acompanhante de sua escolha (BRÜGGEMANN; OSIS; PARPINELLI, 2007).

O estudo de Tornquist (2003), realizado em uma maternidade de um hospital universitário de Santa Catarina, que tem como premissa as práticas humanizadas de assistência, a partir das recomendações da OMS, procurou identificar, dentre outros objetivos, como ocorre a escolha do acompanhante pelas mulheres de classes médias e de grupos populares atendidas neste serviço. Como resultado, obteve-se que a escolha do acompanhante, feita pelas mulheres de classes médias, recai quase sempre no homem, o pai do bebê, que também é normalmente o acompanhante eleito pelos profissionais de saúde. As mulheres de classes populares, em contrapartida, têm preferência por acompanhantes do sexo feminino, com certo grau de relação familiar ou de amizade.

Observou-se, ainda, que as auxiliares de enfermagem tinham um papel importante nos encaminhamentos relativos aos acompanhantes, ao flexibilizarem as trocas dos mesmos, seguindo a filosofia da instituição, e até por identificarem experiências e modo de vida semelhante. Apesar disso, conforme apontam os resultados, a flexibilidade existente para a troca de acompanhantes não muda a concepção dos profissionais de que, idealmente, o pai do bebê é quem deve acompanhar a mulher e participar do parto e nascimento. Como conclusão, a autora acrescentou que a escolha de mulheres da rede social/familiar para o acompanhamento do parto revela a valorização da identidade de gênero

e a experiência, pois as escolhidas já passaram pela experiência da parturição, sendo bastante valorizadas neste momento. Portanto, devem ser respeitadas pelos profissionais, mesmo que o seu ideal de acompanhante seja diferente das escolhas das mulheres (TORNQUIST, 2003).

O conhecimento do impacto da participação para os pais no nascimento de seus filhos foi o objetivo do estudo de Carvalho (2003), realizado em uma maternidade pública do Rio de Janeiro, que há alguns anos tem procurado incluir o pai para o acompanhamento do trabalho de parto e parto. A pesquisa foi realizada em duas etapas. Primeiramente envolveu a observação-participante em diferentes momentos e ambientes, a fim de compreender as relações existentes entre os diferentes atores do processo (mãe, pai, criança, profissionais de saúde). A segunda constituiu-se de 11 entrevistas com pais que participaram do parto, a fim de compreender as percepções sobre as suas experiências enquanto acompanhantes.

Entre os aspectos identificados como dificuldades para a participação dos pais estava a falta de privacidade, principalmente na sala de pré-parto, e a inexistência de rotinas que permitissem a trocas de acompanhantes. Outro fator encontrado foi o desconhecimento dos pais sobre o direito da mulher na escolha do acompanhante e as informações inadequadas do serviço. A falta de preparo dos profissionais para a presença dos pais e os diferentes olhares sobre as representações de parto, paternidade e masculinidade também foi apontadas como dificuldade para a participação. Entre os aspectos que motivaram os homens para a participação do parto encontrou-se a proteção da mulher na forma de apoio, o interesse pelo nascimento do filho e o desejo de registrar o parto, através de fotos ou filmagem. Os motivos para a não participação apontaram para o desejo da mulher em não querer a exposição de sua intimidade, a interferência das progenitoras do casal pontuando questões de masculinidade e de parto. As dificuldades no afastamento das atividades laborais, pela ausência de proteção na legislação trabalhista para o acompanhamento do parto, foram contundentes (CARVALHO, 2003).