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2.2 CONCEPÇOES SOBRE HUMANIZAÇAO DO PARTO E

2.2.2 Concepções dos autores

Nesta subcategoria analítica optei por realizar a inclusão de artigos que versam sobre as concepções que os próprios autores dos textos possuem sobre a temática “humanização do nascimento e parto”. A justificativa para tal inclusão reside no fato da existência de publicações de artigos de ‘ensaio’ ou ‘reflexão teórica’ que não contemplam, exatamente, resultados de pesquisa original, mas apontam direcionamentos teóricos, fazendo circular matérias de caráter opinativo que visam contribuir para o aprofundamento do tema. Estão inseridos, portanto, os que abordam os conceitos de parto normal, parto natural e

parto humanizado e os que apresentam discussões acerca da assistência prestada à mulher e sua família no contexto assistencial atual. Nesta perspectiva também foram incluídos os artigos que foram classificados pelos periódicos como ‘revisão bibliográfica’, mas que, em minha análise, focalizavam apenas as definições, conceitos ou perspectivas teórico-filosóficas dos autores, sem envolver artigos de relato de pesquisa.

Considerando a humanização da assistência, Oliveira e Kruse (2006) realizaram pesquisa bibliográfica, na Revista Brasileira de Enfermagem, no período de 1973 e 2004, de textos que abordavam o tema. Teve como objetivo resgatar as transformações ocorridas em seu significado, através dos tempos e que influenciam as práticas de saúde dos profissionais e as propostas de programas e políticas governamentais. Os resultados mostram que na década de 70 os textos eram voltados para as características do enfermeiro como opositor do modelo hegemônico prevalente na época. A humanização da assistência continha atributos de relacionamento humano imbuídos de amor, compreensão, dedicação, respeito, com valorização do indivíduo como um todo; características consideradas essenciais para a enfermagem, enquanto profissão. Na década de 80 a 90 ampliam-se os sentidos definidores da humanização, dando ênfase as relações profissionais e de ambiente de trabalho, a motivação da equipe, a sistematização da assistência, a incorporação do processo de enfermagem para o cuidado com embasamento técnico-científico, o entendimento das ciências sociais e humanas, o cuidado inserindo a família e o acompanhamento domiciliar.

A partir de 2000, os enfoques dados para a humanização da assistência, além de agregar os significados mencionados, incorporaram outros, como a comunicação interpessoal, assistência pautada na teoria humanística, o reconhecimento do paciente como sujeito de direitos, a participação dos usuários na elaboração de políticas públicas de saúde. Também houve a adoção de métodos alternativos para a assistência, o acesso aos serviços de forma mais abrangente, o reconhecimento de todos os profissionais como importantes para a sua efetivação. Passou a contar com a introdução de novos modelos administrativos e gerenciais, a sensibilização dos atores envolvidos na assistência e investimentos com propósito de melhorar a qualidade da assistência e dos programas de atenção à saúde. As autoras concluíram que os discursos sobre humanização a partir do surgimento de novas significações não excluem as anteriores, pois são delimitadas por inúmeras relações estabelecidas entre instituições, sistemas econômicos e sociais, modelos

comportamentais entre outros (OLIVEIRA; KRUSE, 2006).

Na revisão de literatura realizada no período de 1984 e 2005, Almeida et al. (2005) procuraram refletir sobre as concepções de diversos autores sobre a assistência ao parto e nascimento e sobre o modelo assistencial vigente, ainda hoje, na maioria das instituições que assistem a mulher no período gravídico-puerperal. Referem que na opinião desses autores a humanização da assistência ao parto e nascimento está diretamente relacionada com o respeito à fisiologia do processo de nascimento e parto, o respeito às mulheres na sua individualidade e necessidades, imbuídos de sensibilidade, respeito e solidariedade por parte dos profissionais que prestam o cuidado. Apontam ainda para a promoção de um ambiente seguro e acolhedor, que possibilite a participação de um acompanhante, utilizando intervenções apenas quando estritamente necessárias. Outra concepção de humanização, segundo as autoras, está relacionada à adoção das recomendações da OMS, que enfatiza o parto vaginal; o aleitamento materno e o contado precoce entre o binômio; a adoção do alojamento conjunto; a presença constante do acompanhante; eliminação de práticas intervencionistas para o parto; utilização de métodos alternativos para o alívio da dor e uso criterioso de medicamentos para indução de parto.

A revisão feita por Moura et al. (2007) em artigos publicados nos periódicos de enfermagem, que abrangeu o período de 2000 e 2007, teve como objetivo identificar a produção científica na área sobre a humanização da assistência ao parto e nascimento. Esse levantamento proporcionou a identificação de duas concepções sobre a atenção ao parto normal. A primeira focalizava-se na idéia de que o modelo de atenção ao parto é tecnocrático, predominando a visão deste evento como sendo de risco, necessitando sempre da atuação do profissional médico para a resolução do parto e demandando a utilização de recursos tecnológicos de ponta para a resolução do mesmo. A segunda expressava uma perspectiva mais humanística, direcionada para a atuação da enfermeira. Esta modificou o contexto assistencial a partir do respeito à fisiologia do parto, a redução de intervenções desnecessárias, o reconhecimento da mulher nos seus aspectos sociais e culturais, também o respeito ao direito que a mesma possui a uma assistência humanizada e de qualidade.

Tendo como foco um modelo de assistência ao parto e nascimento voltado para a humanização do parto, Machado e Praça (2004) publicaram uma reflexão teórica sobre este tema. As autoras são enfermeiras de um centro de parto normal intra-hospitalar em Itapecerica da Serra-SP, que adotou as recomendações da OMS. As

autoras partiram do pressuposto de que os projetos de assistência ao parto, na perspectiva da humanização, tentam resgatar a privacidade e a dignidade da mulher no processo da parturição. Nesta abordagem é necessário que os profissionais de saúde despojem-se dos valores incrustados na própria cultura de formação profissional e coloquem em prática uma atuação que englobe os muitos saberes em torno do parto e do nascimento. As autoras são enfáticas ao referirem que a humanização requer interesse e compromisso com o outro, troca de conhecimentos e informações e, principalmente, a existência de relações interpessoais entre profissionais, clientes e acompanhantes.

O modelo humanizado de assistência à mulher e sua família deve ser permeado pelo acolhimento, com empatia e respeito às suas concepções, prioridades e necessidades. Acreditam que a expressão “assistência humanizada” deva ser substituída por “assistência centrada nas necessidades da cliente”, por estar baseada na valorização de aspectos individuais. Apontam ainda que na assistência centrada nas necessidades da cliente são enfatizados o respeito à autonomia e liberdade de escolha da mulher em diferentes aspectos, o fornecimento de informações claras e esclarecimento de dúvidas constantes e o respeito aos aspectos culturais de cada mulher e seu acompanhante (MACHADO; PRAÇA, 2004).

Buscando fundamentar antropologicamente a questão da humanização do parto, Nogueira (2006) publicou uma reflexão teórica utilizando o referencial de estudiosos em religião, acrescentando uma visão não médica ao debate. Relembra que, culturalmente, o parto sempre foi entendido como sagrado, rodeado por mitos, regras e rotinas, da mesma forma que a obstetrícia é compreendida com “procedimentos, protocolos e tecnologia de ponta” (NOGUEIRA, 2006, p.123). A autora enfocou que o parto enquanto “sagrado” guarda mistérios e perigos, tendo, portanto, inúmeros rituais que o cercam. Esses rituais são realizados pelos profissionais de saúde, que possuem conhecimento e habilidade, além de aparatos para conduzir o parto, afastando-os cada vez mais das mulheres que são atendidas. Esses rituais em torno do nascimento são frutos da evolução da humanidade na busca de uma assistência mais segura para o nascimento e parto. Assinala que a humanização ocorre a partir do momento em que novos rituais são agregados para a obtenção do poder benéfico do parto, abrangendo amplas e diferentes dimensões (simbólicas, espirituais, fisiológicas e materiais), sempre respeitando a individualidade de cada pessoa.

Atualmente a obstetrícia brasileira está inserida num contexto onde a assistência à mulher é envolvida pela falta de qualidade nas

informações e em interesses dos profissionais de saúde e instituições. A formação dos profissionais consiste numa abordagem tecnicista que absorve inúmeras tecnologias e protocolos. Em face deste contexto, a autora recomenda que os profissionais de saúde que incorporam e lutam pela humanização do parto devem desenvolver características que permitam perceber o parto de maneira holística, para promover uma experiência plena, segura e satisfatória deste fenômeno.