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O homem/pai como acompanhante no parto e nascimento

2.3 O ACOMPANHANTE NA MATERNIDADE

2.3.3 O homem/pai como acompanhante no parto e nascimento

A literatura que aborda o acompanhamento da mulher no processo de parto e que coloca em cena especificamente o pai da criança

aparece como um ideário do casal grávido, com a possibilidade da formação de vínculos familiares e paternais e, até mesmo, como propostas para o desenvolvimento do sentimento de paternidade. Dessa forma, elenquei para essa subcategoria, 10 estudos que apontam diferentes visões sobre a participação do homem/pai enquanto provedor de apoio no processo parturitivo da mulher.

Mazzieri e Hoga (2006) realizaram uma revisão de literatura sobre a participação do pai no nascimento e parto, nas bases de dados online, no período compreendido entre 1995 e 2005, e encontraram 28 publicações que abordaram a temática. Tais publicações permitiram a identificação de temáticas que abordavam: a participação do pai no processo gestacional, nascimento e parto; o âmbito psicológico, social e cultural da paternidade; paternidade na adolescência e; o âmbito genético da paternidade. Identificaram ainda que apenas 9 estudos abordassem a participação dos pais, enfatizando a importância destes pelas rápidas mudanças que vem ocorrendo na dinâmica social que influenciam as relações familiares.

Várias reflexões têm sido feitas sobre a presença e participação do pai no processo de nascimento e parto, principalmente sobre o seu papel dentro da instituição familiar, decorrente da agregação de um novo membro, o recém-nascido, na formação familiar. Levou a discussão do real significado acerca da figura paterna e das mudanças que se originam dos diferentes arranjos familiares, no contexto social. Um exemplo é a reflexão teórica de Tarnowski, Próspero e Elsen (2005), que trouxe à tona a discussão sobre a paternidade no processo de humanização do nascimento e parto e do papel do pai no contexto familiar na atualidade.

As autoras fazem inicialmente um percurso histórico sobre o tema paternidade e família, referindo que, num passado próximo, ser pai estava vinculado ao âmbito natural e a importância para o desenvolvimento da criança não era compreendido. Poucos estudos eram desenvolvidos sobre a relação pais e filhos e sobre paternidade. Foi a partir de estudos feministas que emergiu a compreensão do homem enquanto construção social de masculinidade e paternidade. Alguns movimentos sociais surgidos na década de 60 contribuíram para as discussões de gênero, atribuindo papéis distintos para homens e mulheres dentro da sociedade. O movimento feminista contribuiu para o início das mudanças que se consolidaram no século XX, alterando as condições femininas e masculinas e promovendo um novo olhar para as relações sociais e familiares. As mulheres partiram para a busca de independência profissional e financeira que, na verdade, oculta uma

desestruturação do homem enquanto provedor natural (TARNOWSKI; PRÓSPERO; ELSEN, 2005).

As autoras analisam ainda que os recentes estudos sobre gênero tenham questionado a conformação patriarcal da divisão sexual do trabalho, da hierarquia entre os gêneros e da identidade masculina, além de argumentarem sobre a falta de espaços nos serviços de saúde para o atendimento de suas necessidades. Questões sobre mitos também são discutidos, sendo que os mesmos exercem influência nas questões relativas à função de mulher e de mãe, diferenças entre sexo e maternidade. O homem, no cuidado de crianças, aparece em distintas sociedades, mostrando que o seu papel é exercido fora das interações familiares. Ao avaliar as propostas de humanização no nascimento, as autoras entendem a necessidade de propiciar a inclusão do homem sob a perspectiva da equidade de gênero. Afirmam ser necessário incluí- lo nas discussões sobre gênero no cotidiano familiar e direitos reprodutivos, que contribuam para a autonomia desses sujeitos, com posturas solidárias e críticas (TARNOWSKI; PRÓSPERO; ELSEN, 2005).

Ainda sobre a participação paterna, Luz e Zanetti (2003) fizeram a interpretação de um parto hospitalar, sob o ponto de vista do pai da criança, realizando analogia com a história infantil Chapeuzinho Vermelho, utilizando o relato de experiência. As aproximações com este conto apontam as diferentes etapas do processo vivenciado no nascimento do filho. A expectativa e o medo vivenciados e relatados antes do parto pelo pai, ao chegar à instituição hospitalar, é comparada à floresta assustadora do conto de fadas. Para o homem é assustador também as rotinas que o separam da mulher e os exames e aparatos utilizados por profissionais desconhecidos, fazendo emergir sentimentos de proteção para a mulher e o filho que está por nascer. Outro aspecto evidenciado é a participação de qualquer familiar durante o trabalho de parto e parto perpassam pelas normas e rotinas institucionais e, principalmente, pela anuência do profissional médico que, comparado ao conto, representa o lobo, temido e ameaçador. Para vivenciar junto à mulher o momento do nascimento do filho, muitas vezes o pai conta com a colaboração dos profissionais de enfermagem, sendo comparados ao caçador, pois salvam a mulher ao proporcionar cuidado e respeitar seus direitos, facilitando a participação do pai no nascimento de seu filho.

Paula (1999) realizou um estudo para identificar se os pais se encontravam presentes no momento do nascimento de seus filhos e suas percepções sobre essa experiência. O estudo foi realizado em um

hospital público. Participaram do mesmo 23 pais, sendo que 16 utilizavam-se do SUS e 7 possuíam convênios ou internação de caráter particular. Dos pais custeados pelo SUS apenas um esteve presente no momento do nascimento do filho, e mesmo assim, porque o parto aconteceu na sala de pré-parto. A percepção sobre a experiência foi considerada bastante positiva. Contatou-se que, do total, 16 estiveram ausentes no momento do nascimento de seus filhos. O sentimento de despreparo para a vivência foi apontado como o motivo mais premente, embora também houvesse outros, como as normas institucionais que não permitiam essa participação. Mesmo existindo a recomendação de assegurar à mulher bem-estar, através do apoio emocional promovido pela presença de alguém de sua escolha, os resultados apontaram que a participação ocorreu em menos de um terço dos pais entrevistados.

O estudo qualitativo, do tipo exploratório-descritivo, desenvolvido pelas psicólogas Motta e Crepaldi (2005), procurou caracterizar o apoio emocional oferecido pelo companheiro à mulher neste período. Para a coleta de dados procedeu-se à observação participante, no período de trabalho de parto e parto e, posteriormente, no alojamento conjunto, a entrevista. Os resultados mostraram 3 categorias de interações entre o casal: presença passiva, referência familiar e acompanhante ativo. A primeira revela um acompanhante que está presente apenas fisicamente e que não se envolve ativamente no trabalho de parto. Apresenta comportamentos de ansiedade e necessita sair do ambiente periodicamente. Refere falta de conhecimentos sobre o desenvolvimento do trabalho de parto que podem contribuir para a dificuldade de interação com a mulher, sendo necessária a orientação da equipe para que ela ocorra. A segunda destaca acompanhantes com maior disponibilidade para o apoio, necessitando de orientação sobre o que e como fazer, possuindo manifestações espontâneas de carinho, atenção e palavras de encorajamento. Também sentem medo e ansiedade, o que pode interferir na interação com a mulher no momento do apoio, necessitando do acompanhamento contínuo da equipe de enfermagem para o incentivo e a orientação. As autoras destacam que os companheiros, apesar de apresentarem dificuldades, demonstram desejo e intenção de fazer o acompanhamento. A terceira categoria mostra companheiros que apresentam capacidade de oferecer apoio e segurança contínuos, de forma espontânea e autônoma. Desenvolvem ações de apoio à companheira como caminhar, mudança de posição, segurar a mão, massagear as costas, segurar as mãos e respirar com elas. Com a orientação da equipe as atividades foram potencializadas.

sabem sobre a legislação referente ao direito da presença do acompanhante durante o processo de parto e a experiência durante o nascimento do filho foi desenvolvido por Tomeleri et al. (2007) em uma maternidade municipal de Londrina. O desconhecimento da lei que garante à mulher o direito ao acompanhante foi identificado quando os homens-pais atribuíram a permissão para esta participação, aos profissionais médicos. A informação sobre a possibilidade de acompanhar ocorreu apenas no momento da internação e, em alguns casos, pouco antes do nascimento, dificultando o preparo emocional para a vivência da experiência. As expectativas e sentimentos dos pais sobre a participação no nascimento do filho foram de valorização deste apoio para propiciar tranqüilidade, segurança e conforto a parturiente, desmistificação das fantasias sobre o parto e os procedimentos a ele relacionados, além do fortalecimento da relação do casal, através do compartilhamento da experiência.

O estudo de Espírito Santo e Bonilha (2000), realizado em um hospital universitário do Rio Grande do Sul, também buscou conhecer as expectativas, sentimentos e vivências do pai durante o nascimento de seu filho. Participaram 14 homens entre os quais somente 6 acompanharam o parto. Constatou-se que a autorização para a participação no parto é dada apenas alguns momentos antes, sendo que os pais aguardam ansiosamente, o que revela sentimentos iniciais de decepção e revolta ao não serem liberados para o acompanhamento. Contudo, quando sua entrada na sala de parto é autorizada, adotam comportamentos orientados durante o pré-natal, permanecendo ao lado da cabeceira, oferecendo apoio e estímulo para a mulher. Condutas diferenciadas foram observadas entre os usuários do SUS e os de convênio ou particular. Para estes últimos existia a liberdade de participar ativamente e até mesmo filmar todo o nascimento do filho. Alguns pais revelaram que a atividade de filmar ou fotografar o nascimento é uma forma de participar do nascimento dos filhos. No entanto, mesmo tendo a garantia legal da participação, muitos pais acabam abrindo mão desse direito, por não se sentirem preparados para estarem presentes, alegando dificuldades na presença do sofrimento da mulher e por sentirem-se mal na presença de sangue.

As atividades desenvolvidas pelo acompanhante e a avaliação da experiência foi o tema do estudo quantitativo descritivo de Pinto et al. (2003), realizado em um centro de parto normal em Itapecerica da Serra- SP. A instituição onde foi realizada a pesquisa adota as recomendações da OMS, onde a mulher pode escolher livremente o acompanhante. Entre os acompanhantes participantes do estudo escolhidos pela mulher,

60% foram os maridos. As atividades mais freqüentes realizadas pelo acompanhante no período de trabalho de parto foram: segurar a mão, realização de técnicas de relaxamento como as massagens, auxílio no banho, acompanhamento durante a deambulação e oferecimento de suporte emocional. Durante o parto, constatou-se que as atividades mais constantes foram o apoio físico (64,2%), ficar ao lado segurando a mão e cortar o cordão umbilical (62,5% cada). Todos os acompanhantes mantiveram-se ativos, tanto no período de pré-parto como no parto, realizando algum cuidado dentro de suas possibilidades. No pós-parto os acompanhantes permaneceram ativos e manifestações de carinho e atividades de conforto para a mulher e o recém-nascido também foram observadas.

Os sentimentos expressos pelos acompanhantes sobre a experiência foi positiva, relacionados com o fato de terem se sentido importante no transcorrer do parto, satisfação com relação ao apoio recebido dos profissionais e, principalmente, pela oportunidade de compartilhar com a mulher o evento do nascimento. Os maridos participantes também expressaram sentimentos de valorização da mulher (PINTO et al., 2003).

Em outro estudo descritivo de abordagem qualitativa, realizado por Silveira et al. (2004) no alojamento conjunto de uma maternidade de grande porte em Fortaleza, onde a participação no momento do parto não é permitida, buscou-se conhecer a percepção do pai frente ao nascimento de seu filho. A coleta de dados foi por meio da entrevista semi estruturada realizada durante o horário de visita à suas esposas, e que contou com a participação de 15 pais. Os resultados mostraram que a espera pelo nascimento do filho produz sentimentos de ansiedade, preocupação, e principalmente tristeza por não poder compartilhar deste momento considerado único e especial. No entanto, sentiram-se seguros e confiantes com a assistência de enfermagem oferecida às suas mulheres. Todos os participantes manifestaram desejo em participar do nascimento, mesmo desconhecendo seu papel junto à mulher, neste momento, mas entendendo que a sua presença produziria segurança e tranqüilidade para a vivência da experiência.

Schmidt e Bonilha (2003) realizaram estudo objetivando o conhecimento das expectativas do pai relacionadas à sua participação no alojamento conjunto, por meio de uma pesquisa do tipo convergente- assistencial. Entre as expectativas as autoras evidenciaram que os homens querem participar do cuidado e das orientações para, efetivamente, “tomarem conta” da mulher e do filho, no sentido de prestação de cuidados, atenção e participação. Essa participação, no

entanto, está condicionada às experiências anteriores e à permissão advinda da equipe, da mulher e até da sociedade, sendo que esta última delimita os papéis a serem assumidos pelos homens no processo do nascimento. Outra expectativa estava relacionada com a possibilidade de aprender e ganhar experiência para quando estivessem em casa, no sentido de aperfeiçoar a paternagem. A possibilidade de “ficar junto”, como forma de trazer benefícios para o casal e o recém-nascido foi outra expectativa dos homens. As expectativas quanto às dificuldades para a participação no alojamento conjunto estavam associadas à instituição, pela existência de rotinas que dificultavam a presença dos pais, também por questões de ordem pessoal, advindo o receio de não possuir capacidades para o cuidado ou de machucar o bebê.