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Conhece e participa dos movimentos sociais

5.1 CONHECIMENTO SOBRE A LEGISLAÇÃO QUE ENVOLVE O

5.1.1 Conhece e participa dos movimentos sociais

O primeiro conjunto de respostas dos profissionais possibilitou identificar que são poucos os que estão realmente inteirados e envolvidos com os aspectos legais associados ao nascimento e ao parto e, principalmente, àqueles relacionados à garantia ao acompanhamento durante a internação nas instituições de saúde. O conhecimento da Legislação Brasileira sobre o direito da mulher em ter alguma pessoa significativa e de sua livre escolha durante todo o processo de trabalho de parto, parto e puerpério está contido nas falas a seguir:

“[...] conheço a Lei do Acompanhante nº 11.108. O ano acho que é 2005. É essa lei que fala que a mãe tem direito a um acompanhante no pré, no parto e pós- parto, que ela tem direito a um acompanhante de sua livre escolha” (AE4).

“[...] olha, eu conheço tanto a lei estadual como a federal, porque é uma coisa que a gente tem brigado muito por esse espaço aqui, pela presença do acompanhante aqui dentro da maternidade. Então a gente sabe que é uma coisa que o Estado tem e o Federal também tem, que dá direito à mulher a um acompanhante de sua escolha antes, durante e após o parto. Ela tem esse direito durante todo este período que ela permanecer na maternidade, se ela realmente quiser esse acompanhante. E eu defendo isso” (AE3). “[...] a lei estadual é da autoria da [senadora] Ideli Salvatti, se não me engano, [do ano de] 2005, que garante a presença desse acompanhante. E, mais recentemente, a RDC 36, de junho de 2008, que solicita, vamos dizer assim, que regimenta que a maternidade, incluindo entre outras coisas, incluindo o acompanhante, tenha um espaço, uma acomodação próxima ao leito. E eu acho que cabe a nós fazer valer essa lei” (E3).

“Eu sei que a lei a existe, a lei do acompanhante, que diz que ela tem o direito de ter alguém com ela no pré-parto, parto, puerpério. Isso é garantido por lei. Então, essa presença tá assegurada. O acompanhante, seja o marido, o pai, seja quem for, mas ele está garantido por lei” (AE5). “Existe a lei do acompanhante, hoje em dia, e vale para todo o Brasil. Em todas as maternidades a cliente tem o direito de trazer o acompanhante de sua livre escolha. Não precisa ser o esposo, pode ser a mãe dela, uma amiga, quem ela decidir, e ficar, tanto no pré-parto, no parto também, como no pós-parto imediato com ela. Essa lei é federal!” (E6).

“[...] existe a lei do acompanhante, que é uma lei mesmo, que já está em vigor e que tem que ser cumprida. A gente aqui tenta cumpri-la do melhor modo” (E4).

“Bom, o que a gente conhece é sobre o direito que ela tem de ter o acompanhante, que é um direito assegurado da paciente de ter um acompanhante no pré, no parto e pós-parto. Compete a nós organizar tudo para que ela faça uso desse direito” (AE7).

Da análise desses depoimentos apreende-se que a maioria dos profissionais que refere conhecer a legislação sobre o direito ao acompanhante no processo de nascimento e parto pertence à equipe de enfermagem, o que pode significar que esta categoria se interessa por informações que visem à garantia dos direitos dos pacientes. Alguns ainda reconhecem que além da legislação específica sobre o direito da

mulher ao acompanhante, existem outros mecanismos legais que garantem esse direito, como é o caso da RDC 36, mais recente (BRASIL, 2008), que normaliza tecnicamente as instituições, com o objetivo de estabelecer padrões para o funcionamento dos serviços de atenção obstétrica e neonatal, onde a qualificação e a humanização da atenção e gestão possam contribuir para a redução e controle de riscos aos usuários e ao meio ambiente. Em seu teor existe a recomendação de adequações para possibilitar a participação de acompanhantes para as mulheres em trabalho de parto e parto e do acompanhamento no puerpério. Os depoimentos expressam também que o conhecimento da legislação imprime por parte dos profissionais a preocupação para o cumprimento da lei, tanto por parte da instituição, quanto pelos profissionais, quando afirmam a responsabilidade destes em criar mecanismos para assegurar esse direito a todas as mulheres que são admitidas para o nascimento de seus filhos.

Outros depoimentos possibilitaram também a identificação de profissionais que, além de conhecer a legislação e defender junto aos usuários o gozo desse direito, no seu trabalho diário, participam de organizações de classe como a Associação Brasileira de Enfermeiras Obstetras, que tem sido bastante atuante na defesa dos direitos da mulher à assistência de qualidade e livre de riscos, discutindo, junto a outras entidades, as questões relacionadas ao modelo de atenção ao parto e nascimento.

“Eu conheço a legislação, tanto a nível estadual, como a nível nacional. Essas leis, a lei federal e a lei estadual, falam do direito que a mulher tem do acompanhante de sua livre escolha, e até na maternidade tem um banner que quando a gente precisa reforçar isso, está lá. Também participo da ABENFO” (E5).

“Conheço a [lei] 11.108, de 2005. Sou profissional comprometido, que faz parte de uma associação, no meu caso, a ABENFO – Associação Brasileira de Obstetrizes e Enfermeiras Obstetras. A gente sabe que estão acontecendo alguns movimentos. A Professora Simone Diniz, na USP, fez uma reunião essa semana. Inclusive nós estamos discutindo [...] com os membros da diretoria nacional, uma mobilização, por conta do dia da obstetriz, em abril, e eu até propus um slogan: O caminho é o movimento social, unidos pelo cumprimento da Lei do Acompanhante. Porque o caminho é a mobilização social. Existe um movimento que nós fazemos, em alguns espaços, mais ou menos fortes, mas o caminho da mobilização social, das famílias e das mulheres, das enfermeiras, este é um caminho que

não tem volta. Então a gente vai abrir este espaço, porque isto tem uma perspectiva política de um certo saber-fazer enfermagem, saber ou de cuidar, enfim, é uma perspectiva política, né? E eu penso que quando a gente vai abrindo estes espaços, a gente vai semeando a possibilidade da criação de uma cultura e, no momento em que a gente for falar para essas pessoas, pedir sua mobilização, elas se lembrarão que foram sujeitos e contribuirão fortalecendo a mobilização. Isso é importante para formar uma onda inclusiva, inclusive com a voz das enfermeiras nesta discussão” (E1).

Estes depoimentos demonstram que são poucos os profissionais que conhecem a legislação brasileira e menos ainda os que participam ativamente de movimentos sociais, com o intuito de melhorar e qualificar a assistência à mulher e promover mudanças no paradigma assistencial. Entendo que conhecer apenas a legislação não basta para promover mudanças dessa ordem e magnitude; é necessário um comprometimento maior enquanto profissionais envolvidos na assistência, tanto na divulgação desse conhecimento para outros profissionais que assistem a mulher e seus familiares, como para os usuários dos serviços. Os profissionais que atuam na assistência devem estar envolvidos em outras questões que vão além simplesmente do cuidado técnico; envolve um conhecimento mais abrangente e, inclusive, político, de participação social, que possibilite promover discussões acerca das mudanças que estão ocorrendo, tanto no modelo de atenção às mulheres no processo de nascimento e parto, com a discussão sobre aspectos legais, que trazem no seu bojo, os direitos dos pacientes, à assistência qualificada e humana. Dessa forma, ao identificar que alguns profissionais procuram estar inseridos na discussão de aspectos que buscam a melhoria da assistência, isto revela- se como animador, pois a pró-atividade mostra que a enfermagem age de maneira diferenciada, lutando pelo direito à cidadania.

Diniz (2005) pontua que nos últimos anos, as enfermeiras brasileiras têm procurado se organizar para transformar seu papel, que sempre foi entendido como subalterno na obstetrícia e estão lutando para retomar o antigo protagonismo na assistência aos partos normais. Um desses exemplos têm sido a reorganização e renovação de suas instituições representativas, como a Associação Brasileira de Enfermeiras Obstétricas (ABENFO), que procurou se expandir com o surgimento de sessões estaduais dessa categoria, implementando novos programas de formação, baseados em um papel ativo da enfermeira na

assistência, e também na realização de encontros locais e nacionais dessa categoria. Esta mobilização, que tomou fôlego ao final da década de noventa, teve sua organização acolhida pelo Ministério da Saúde brasileiro que, hoje, reconhece esse profissional com um papel importante para a implementação da assistência humanizada no pré- natal, parto e pós-parto.