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C ADA V EZ M AIS P RÓXIMOS

A 14 Dezembro de 1929, o ministro dos Estrangeiros manifestou ao núncio o desejo do Governo de participar na festa que se celebra em Roma pelo jubileu do Papa, conferindo

1.15 C ADA V EZ M AIS P RÓXIMOS

A 16 de Junho de 1927 é publicado o Decreto nº 13.791, que determinava que o regime geral das escolas primárias tenderia a ser, progressivamente, o da separação de sexos. A 15 de Fevereiro de 1928 é promulgado o Decreto nº 15.032, que já estabelecia a obrigatoriedade do regime da separação dos sexos no ensino primário. Estas medidas agradavam, naturalmente, à Santa Sé.

Os altos dignitários do Governo português continuavam a participar nas cerimónias organizadas pela Igreja Católica. Assim, em Março de 1927, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Armando Humberto da Gama Ochôa, participou na sessão académica de comemoração do quinto aniversário da eleição do Papa Pio XI e, segundo o núncio, «acentuou com excelentes palavras as boas relações entre a Igreja e o Estado em Portugal, que são a mais segura garantia de um futuro melhor»233. Na mesma ocasião, o núncio apostólico ofereceu um banquete ao Presidente da República.

Por morte de sua mãe, o núncio desloca-se a Roma, sendo recebido por Pacelli a 20 de Maio de 1930. O Cardeal Secretário de Estado foi então informado sobre a situação política e religiosa de Portugal e terá ficado «muito contente». Neste mesmo período, numa audiência com o Papa, a 26 de Maio de 1930, este, a «título particularíssimo», encarregou-o de convidar os bispos portugueses «a apoiar e a propagar a Acção Católica», dada «a sua grandíssima importância e absoluta necessidade», uma vez que «estamos no tempo do renascido paganismo; e não obstante a obra do clero, é necessário que seja coadjuvado pelo laicado, pela juventude masculina e feminina»234.

A 25 Fevereiro de 1931, o núncio foi recebido pelo Presidente da República para conversarem sobre a participação deste num banquete na Nunciatura. Nessa conversa, o chefe de Estado ter-se-á manifestado preocupado com a propaganda bolchevique, embora optimista quanto à situação interna de Portugal.

A 3 de Setembro 1931, Beda Cardinale foi recebido pelo Papa, felicitando-o pela solução do conflito com o Governo italiano sobre Acção Católica. A este respeito o Papa terá dito ao núncio que «o Duce tinha querido mudar o nome à Acção Católica; mas o Santo Padre

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Relatório nº 1983, de Nicotra a Pietro Gasparri, Lisboa, 26 de Março de 1927. ASV, AES – Portogallo, IV Periodo, pos. 352 P.O., fasc. 75, fl. 4-5.

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Diário de Beda Cardinale enquanto Núncio na Argentina e em Portugal. Diário de Beda Cardinale enquanto Núncio na Argentina e em Portugal. ASV, AES – Portogallo, IV Periodo, pos. 394 P.O., fasc. 154.

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declarou que não podia ser tratando-se de uma denominação conhecida no mundo inteiro». Sua Santidade está convencido que «o conflito e a solução encontrada reforçaram a Acção Católica não só em Itália como em todo o mundo». Quanto a Portugal, o Papa não está muito tranquilo porque «julga ver ali o germe da inquietude e de futuras perturbações». Relativamente ao Centro Católico e à Acção Católica, Pio XI dirá ao núncio que os dois «devem ser absolutamente separados», sendo incontornável que o Centro se ocupe de política. Por esta razão tem de estar separado da Acção Católica, a qual «deve estar fora e acima da política». Encarregou o núncio de transmitir estas considerações aos bispos portugueses235.

A 23 de Janeiro de 1932, o núncio convida o Presidente da República a assistir ao almoço que dará na Nunciatura pelo aniversário da coroação do Santo Padre. Achou o Chefe de Estado preocupado e pessimista quanto à situação internacional, sobretudo com a Espanha, onde parecia estar a acontecer o mesmo que ocorrera em Portugal depois da morte de D. Carlos: a um «governo de acalmação» sucedeu a República. O Presidente da República disse- lhe estar «persuadido que um grupo de audazes se imporá na Espanha, como em Portugal, como em Portugal haverá um grupo similar chamado a “formiga branca”»236.

A 13 Maio de 1932, o núncio participa nas cerimónias no santuário de Fátima, anotando que ao mesmo tempo que desfilava a procissão com a estátua de Nossa Senhora «alguns aviões militares estavam sobre o Santuário». A 28 Maio de 1932, o representante da Santa Sé foi ao Palácio de Belém para assinar, em nome do corpo diplomático, o álbum comemorativo do aniversário da Ditadura. Nesse dia foi publicado nos jornais o projecto de uma nova Constituição política.

Num relatório de 14 de Julho de 1932 sobre o primeiro Governo presidido por Oliveira Salazar, o núncio informa Pacelli que nele continuará o ministro da Instrução, Gustavo Cordeiro Ramos, «excelente católico, que muito bem fez à Igreja». O novo ministro dos Negócios Estrangeiros, César de Sousa Mendes do Amaral e Abranches237, é também, segundo o núncio, católico praticante, tendo-se já manifestado a favor da elevação à categoria de embaixada da legação portuguesa junto do Vaticano. Quanto aos outros ministros apontará as suas capacidades técnicas e a estima com que a opinião pública os acolheu. Em jeito de

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Diário de Beda Cardinale enquanto Núncio na Argentina e em Portugal. ASV, AES – Portogallo, IV Periodo, pos. 394 P.O., fasc. 154.

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Diário de Beda Cardinale enquanto Núncio na Argentina e em Portugal. ASV, AES – Portogallo, IV Periodo, pos. 394 P.O., fasc. 154.

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César de Sousa Mendes do Amaral e Abranches (1855-1955) – Licenciado em Direito pela Universidade de Coimbra. Diplomata, foi ministro dos Negócios Estrangeiros de 5 de Julho de 1932 a 11 de Abril de 1933. Católico e monárquico, consta que tinha relações difíceis com o secretário-geral do Ministério, Luís Teixeira de Sampaio.

síntese, dirá que «a impressão que dá é que é um governo forte, com um programa bem definido e decidido a actuar» e que a situação do país é calma. O núncio regozija-se porque «considerando a personalidade do Dr. Salazar, as suas convicções religiosas, a sua força de vontade, parece-me legítimo esperar boas esperanças para a Igreja»238. A resposta da Santa Sé a este ofício é no sentido de que, em face do exposto, a Igreja e o seu episcopado tudo façam para «obter na redacção da nova Constituição e noutras ocasiões todas as vantagens para a Igreja»239.

A 30 Julho de 1932 o núncio foi visitar o novo ministro dos Estrangeiros, César de Sousa Mendes do Amaral e Abranches, que não só lhe afirmou «francamente a sua fé católica», como disse que não hesitaria em sacrificar-se para a salvar. O ministro disse ainda a Beda Cardinale «que o povo português é profundamente católico, e que toda a tradição que fez Portugal grande é católica», afirmando a necessidade de «retornar a esta tradição, para que Portugal possa reconquistar a sua grandeza». O ministro falou ainda no desejo de elevar a embaixada a legação de Portugal junto do Vaticano240.

Este clima de boas relações vai-se prolongando no tempo. Assim, a 2 Setembro de 1932, o mesmo ministro declarou ao núncio que «Governo não oporia dificuldade a que os padres de Monforte abram uma casa em Portugal para o recrutamento de pessoal para as missões em Moçambique»241. No mês de Setembro Beda Cardinale está em Roma e, quando visita o Secretário de Estado, a 7 Novembro de 1932, este mostra-se satisfeito com o que o núncio lhe diz sobre Portugal. No dia seguinte Monsenhor Pizzardo242 também manifestou contentamento relativamente às coisas de Portugal (missões e situação política). Pizzardo falou ao núncio no projecto de desmembramento da arquidiocese de Bombaim, mas aceitou a recomendação do núncio de nada fazer que pudesse criar dificuldades ao Governo português. A 14 Novembro 1932 o núncio é recebido pelo Santo Padre que se mostrou muito satisfeito com a exposição que lhe fez sobre a situação religiosa em Portugal. Dias depois, a 21, visitou

238 Relatório nº 2234. ASV, AES – Portogallo, IV Periodo, pos. 360 P.O., fasc. 96, fl. 16. 239

Documento nº 2217/32. ASV, AES – Portogallo, IV Periodo, pos. 360 P.O., fasc. 96, fl. 16. 240

Diário de Beda Cardinale enquanto Núncio na Argentina e em Portugal. ASV, AES – Portogallo, IV Periodo, pos. 394 P.O., fasc. 154. No relatório nº 2263 do Núncio a Pacelli, de 4 Agosto de 1932, repete o que escrevera no diário. ASV, AES – Portogallo, IV Periodo, pos. 360 P.O., fasc. 96, fl. 19-20,

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Diário de Beda Cardinale enquanto Núncio na Argentina e em Portugal. ASV, AES – Portogallo, IV Periodo, pos. 394 P.O., fasc. 154.

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Giuseppe Pizzardo (1877-1970) – começou a colaborar com a Secretaria de Estado do Vaticano em 1908. Na Sagrada Congregação dos Assuntos Eclesiásticos Extraordinário, foi subsecretário (1920), substituto (1921) e Secretário (1929). Elevado ao cardinalato em 1937, foi ainda perfeito da Congregação para os Seminários e as Universidades (1939-1968) e secretário do Santo Ofício (1951-1959).

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Monsenhor Colonna da Secretaria de Estado243, o qual, por instrução de Monsenhor Pizzardo, o informou sobre o projecto de dividir a arquidiocese de Bombaim.

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Monsenhor Colonna era membro da Secretaria de Estado e dirigiu a Congregação Mariana de Santo André no Quirinal.

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