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O N OVO C ARDEAL P ATRIARCA DE L ISBOA

Já em Roma, a 20 de Julho de 1929, o núncio Beda Cardinale visita o Cardeal Secretário de Estado, dando-lhe notícias quanto à situação em Portugal, perante o que Pacelli207 se terá manifestado «bastante contente». A 23 foi recebido em audiência pelo Papa, que também se alegrara com a melhoria da situação religiosa em Portugal.

A convicção de que a situação se encaminhava favoravelmente para os católicos não deve ser dissociada da escolha de Cerejeira para substituir Mendes Belo no Patriarcado de Lisboa (Mendes Belo morrera a 5 de Agosto de 1929). Cerejeira fora correligionário de Oliveira Salazar, facto que a Santa Sé valorizava bastante. Num «Parecer sobre a escolha do candidato mais idóneo para o Patriarcado de Lisboa», da autoria do já referido padre António de Maria, os requisitos essenciais ao novo Patriarca deviam ser:

Tacto singular e prudência – se por desgraça faltarem estas duas qualidades, é muito fácil dar qualquer passo em falso com consequências irreparáveis não apenas para o Patriarcado, mas também para toda a Nação;

Este tacto e prudência devem ser animados por um grande espírito de simplicidade cristã. O novo Patriarca deve lidar em Lisboa com homens muito astutos, os quais só se podem dominar com uma arma, débil na aparência mas que é de facto potentíssima, que é a simplicidade que ensinou Jesus Cristo, o qual quer que em tais circunstâncias os prelados estejam no meio da gente de todas as cores.

Pretende-se também suavidade, elegância [buona grazia] e gentileza no trato, acompanhada estas qualidades da energia e força cristã, que se veja mais nos efeitos que no modo de fazer. Sem a primeira qualidade o Patriarca não terá sucesso a ganhar os corações para Cristo; sem a segunda não será capaz de impor o jugo do Senhor a um povo tão indisciplinado pela santíssima causa como aquele de Lisboa;

205 Diário de Beda Cardinale enquanto Núncio na Argentina e em Portugal. ASV, AES – Portogallo, IV Periodo, pos. 394 P.O., fasc. 154.

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ASV, AES – Portogallo, IV Periodo, pos. 368 P.O., fasc. 111, fls. 36-70. 207

Eugenio Pacelli (1876-1958) – nascido em Roma de uma ilustre, foi ordenado padre em 1899, pró-secretário e secretário da Congregação para os Assuntos Eclesiásticos Extraordinários (1912 e 1914). Ordenado bispo em 1917, foi núncio apostólico na Alemanha. Elevado a cardial em 1929, a partir de 1930 exerceu as funções de Cardeal Secretário de Estado da Santa Sé. Em 1939 foi eleito papa.

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Grande zelo pela saúde espiritual de todos, independentemente da sua cor política;

Que o novo Patriarca não seja militante em questões políticas e se esforce para afastar o seu clero desta associação, a qual não serve senão para dividir o clero e o povo e por conseguinte fragilizar a sua acção208.

O padre António Maria termina dizendo: «Se a Santa Sé encontrar um prelado com estas qualidades [...] certamente fará um grandíssimo bem não só ao Patriarcado mas a todo o Portugal, não só à Igreja mas também ao Estado»209:

Num trecho do parecer dedicado aos «bispos que lhe parecem mais idóneos», o sacerdote manifesta-se claramente a favor o Arcebispo de Mitilene, vigário capitular de Lisboa, seguido do Arcebispo de Évora, dizendo que «é destes dois dos quais mais se fala». Depois nomeia o de Braga, o de Leiria e o de Portalegre. Mas a sua preferência vai indiscutivelmente para o primeiro que, embora jovem, se licenciou e foi «distintíssimo professor da Universidade de Coimbra, e soube com a sua piedade e o seu zelo obter em pouco tempo o coração de todos os católicos de Lisboa. Esta veneração vem-lhe não apenas do clero e do povo, mas também do governo da República». Quanto ao Arcebispo de Évora, sendo «um prelado muito douto, valente orador e [que] tem governado muito bem a sua diocese», há «quem o ache excessivamente prudente e indeciso» quando é preciso tomar decisões. Muitos acham-no demasiado íntimo do clero de Lisboa mas, no entender do padre franciscano, essa circunstância «pode também concorrer para o seu êxito como Patriarca». E diz ainda que este último deve ser o que mais agradará «a diversos monsenhores e prelados romanos, seus condiscípulos e amigos». A seguir refere o bispo de Portalegre, que segundo o padre António de Santa Maria se dizia ser o candidato predilecto de Augusto de Castro, ministro de Portugal na Santa Sé, e de alguns monárquicos de Lisboa. Mas, tendo sido confessor da rainha D. Amélia e preceptor religioso dos seus dois filhos, parecia considerar imprudente nomeá-lo Patriarca, pois podia transformar-se num instrumento político dos monárquicos210.

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«Parere sulla scelta del candidato più idóneo al Patriarcato di Lisbona», documento da autoria do padre António de Santa Maria, ASV, AES – Portogallo, IV Periodo, pos. 367 P.O., fasc. 110, fl. 14 e ss.

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«Parere sulla scelta del candidato più idóneo al Patriarcato di Lisbona», documento da autoria do padre António de Santa Maria, ASV, AES – Portogallo, IV Periodo, pos. 367 P.O., fasc. 110, fl. 14 e ss.

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«Parere sulla scelta del candidato più idóneo al Patriarcato di Lisbona», documento da autoria do padre António de Santa Maria, ASV, AES – Portogallo, IV Periodo, pos. 367 P.O., fasc. 110, fl. 14 e ss.

Num apontamento de uma conversa havida entre um membro da Secretaria de Estado teve e monsenhor Dias, bispo de Beja211, em 25 de Setembro de 1929, este terá dito que os mais indicados para o cargo eram o Arcebispo de Évora, o Arcebispo de Mitilene e o Arcebispo de Braga. Segundo o prelado, o bispo de Braga é um óptimo candidato: embora com 68 anos está ainda válido. Cerejeira é óptimo sob todos os pontos de vista, «cultíssimo, zelosíssimo, e ao qual todos querem bem (começando pelo cónego Manuel Anaquim212) e todos esperam vê-lo como Patriarca»; «nunca foi pároco e deixou a Universidade de Coimbra há apenas um ano»; «a estima pelo jovem prelado é já grande». Quanto ao prelado de Évora considera-o o mais capaz pela sua valentia e pelos seus dotes singulares de organização da Acção Católica. Mas, segundo o bispo de Beja, se «o Governo até há poucos meses era indiferente, agora espera que seja escolhido Monsenhor Cerejeira; que, naturalmente, é de todos os três o melhor aceite na esfera governativa»213.

Num relatório do núncio, datado de 27 de Outubro de 1929, este considerava que ao novo Patriarca caberia um conjunto de actividades da maior importância: reforma do seminário, reforma do clero existe, reorganização da vida paroquial, estabelecimento de missões ambulantes que ao domingo prestassem assistência religiosa à diocese; promoção da assistência religiosa da juventude masculina e feminina. Ora, sendo o trabalho do novo Patriarca «complexo e assaz difícil», o mesmo requeria qualidades não comuns: «homem de vida interior e de grande piedade, firme na exigência da disciplina, mas prudente tendo em conta as circunstâncias especiais e os elementos decadentes com os quais deve tratar; zeloso na administração, capacidade para reformar o seminário e dar formação cristã à juventude, ter elevado prestígio intelectual». Beda Cardinale considera finalmente que «seria de grandíssima utilidade para a Igreja que a escolha do futuro Patriarca recaísse sobre um candidato contra o

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Trata-se de D. José do Patrocínio Dias (1884-1964) – Nasceu na Covilhã, foi aluno do Colégio S. Fiel dos Padres Jesuítas, da Guarda, e da Faculdade de Teologia da Universidade de Coimbra. Ordenado padre em 1907, foi nomeado bispo de Beja em 1921 . Sob a sua égide é erecta e inaugurada a Catedral de Beja (1925 e 1937). No dia 13 de Outubro de 1940 inaugura o novo Seminário Diocesano de Beja. Morre a 24 de Outubro de 1965. É conhecido como o Bispo soldado por ter sido nomeado capelão do Corpo Expedicionário Português na Primeira Grande Guerra.

212 Manuel Anaquim (1871-1939) – Deão da Sé de Lisboa e vigário-geral do Patriarcado de Lisboa (1923). Ordenado sacerdote em 1894, fundou o Notícias da Covilhã (1913-1922), foi Superior do Colégio das Missões Ultramarinas (1910-1911) e assistente eclesiástico da Associação Católica Internacional da Obra de Protecção às Raparigas (1926).

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«Parere sulla scelta del candidato più idóneo al Patriarcato di Lisbona», documento da autoria do padre António de Santa Maria, ASV, AES – Portogallo, IV Periodo, pos. 367 P.O., fasc. 110, fl. 14 e ss.

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qual não houvesse hostilidade da parte do Governo», aspecto relativamente ao qual, ao que constava, o Governo estava muito preocupado214.

Dadas as condições particulares do Patriarcado, o núncio entende, tal como o frei António Correia de Santa Maria, que os candidatos mais indicados são os arcebispos de Mitilene e de Évora, com preferência pelo primeiro: «segundo o meu humilde parecer o mais idóneo seria Cerejeira»215. Quanto a este, enumera várias das suas qualidades, entre as quais a capacidade de organizar a juventude e o prestígio que lhe advém do facto de ter sido professor em Coimbra, função das mais apreciadas em Portugal e que para a «opinião pública comum é sinónimo de cientista». Este aspecto em particular dar-lhe-á maior influência junto do Governo, dos intelectuais e da juventude estudante. Depois, considera-o um homo novus, afastado das competições partidárias e, como tal, «bem aceite pelas diferentes categorias de pessoas».

Quanto ao arcebispo de Évora, Manuel da Conceição Santos, informa que este era considerado «pelos elementos do Governo e por muito outros como um político e um intriguista. Para essa fama contribuíram desgraçadamente várias coisas, de que não tem toda a responsabilidade, e sobretudo a última crise ministerial que foi muito grave e que podia criar muitas dificuldades, crise que involuntariamente foi provocada por Monsenhor Arcebispo com uma interpelação ao ministro da Justiça». O núncio está a referir-se à «crise dos sinos», que terá criado ao prelado de Évora uma forte antipatia no Governo e nos meios políticos em geral. Beda Cardinale transmite ainda à Secretaria de Estado que um ministro lhe havia dito confidencialmente que num dos últimos Conselhos de ministros, «o Presidente da República, mostrando-se preocupado com a vacatura da sede patriarcal, disse: “Nada pode fazer o Governo num ou noutro sentido; mas eu considerarei uma calamidade a nomeação do Arcebispo de Évora”»216. Por último, insiste Beda Cardinale, o Governo lamenta que o regime de separação não lhe permita «alguma interferência na dita nomeação», esperando que a escolha não recaia sobre o Arcebispo de Évora, considerado «um perigo para a harmonia e para as boas relações entre o poder público e a autoridade religiosa»217.

Ora, o novo ministro de Portugal na Santa Sé, ao apresentar as suas credenciais à Secretaria de Estado, terá sugerido que se tivesse em conta, quanto à provisão do Patriarcado de Lisboa, «o mérito do Arcebispo de Mitilene e a dificuldade que Arcebispo de Évora teve

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Relatório do Núncio nº 661, 27 de Outubro de 1929. ASV, AES – Portogallo, pos. 367, fasc. 110, fl.60-68. 215

Relatório do Núncio nº 661, 27 de Outubro de 1929. ASV, AES – Portogallo, pos. 367, fasc. 110, fl. 69. 216

Relatório do Núncio nº 661, 27 de Outubro de 1929. ASV, AES – Portogallo, pos. 367, fasc. 110, fl. 70. 217

com o Governo por causa da questão dos sinos», acentuando o desejo do Governo de ser «persona di equilíbrio»218. Esse ministro era Trindade Coelho. Abandonara a pasta dos Estrangeiros219 e fora, entretanto, nomeado ministro de Portugal junto da Santa Sé. Mais tarde, o mesmo Trindade Coelho chega a sugerir ao Cardeal Secretário de Estado que o núncio designasse um conjunto de candidatos para que o Governo se pronunciasse sobre qual é que mais lhe agradava220.

A 8 de Novembro de 1929, o núncio avistou-se com o ministro dos Estrangeiros, o qual manifestou a surpresa do Governo por aquilo que se publicara nos jornais a respeito da nomeação do novo Patriarca: que o Governo desejava que o representante junto da Santa Sé fosse encarregado de nomear os candidatos. O núncio retorquiu que a notícia não tinha qualquer fundamento porque a Santa Sé não tinha tomado nenhuma decisão sobre o assunto. O ministro «depois de um longo preâmbulo no qual afirmou que o Governo queria continuar a ter com a Santa Sé a boa relação existente», mas que para a manter era necessário ter sentido de Estado, mantendo-se «independente na sua esfera de acção» e evitando «tudo o que pudesse ameaçar essa boa harmonia», declarou que o Governo não pretendia escolher o Patriarca, o que cabia exclusivamente à Santa Sé; mas que, no interesse da Igreja e do Estado, exprimia o desejo de que «a escolha do Patriarca recaísse sobre um bispo que pela sua acção no passado e pelo seu comportamento não pudesse fazer nascer a suspeição ou realmente fosse comprometido politicamente». O Governo aceitaria qualquer um, mas um candidato que não fosse favorável à manutenção da concórdia suscitaria diferendos e daria logo origem a discussão; e as consequências seriam imprevisíveis. O núncio assegurava-lhe pelo seu lado que «a Santa Sé não tinha outro desejo que não o bem de Portugal na nomeação do novo Patriarca; que se procurava sempre escolher a pessoa que melhor correspondesse às necessidades dos países e das circunstâncias». Durante a conversa o ministro e o núncio falaram ainda do «carácter impulsivo e pouco prudente» de Trindade Coelho221.

218 Telegrama da Secretaria de Estado enviado ao núncio, em Outubro de 1929. ASV, AES – Portogallo, IV Periodo, pos. 367 P.O., fasc. 110, fl. 46.

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Trindade Coelho foi substituído por Jaime da Fonseca Monteiro, que foi ministro dos Estrangeiros de 11 de Setembro de 1929 a 21 de Janeiro de 1930. O núncio, na audiência que com ele teve, embora o tenha achado gentil, não chegou a perceber «quais os seus sentimentos em relação à Igreja», embora lhe conste que provém da Esquerda, com a finalidade de «tingir um Governo excessivamente conservador». Relatório do Núncio nº 642, 6 de Outubro de 1929. ASV, AES – Portogallo, IV Periodo, pos. 360 P.O., fasc. 95, fl. 38.

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Esta informação consta de um relatório do Núncio (nº 704), datado de 27 de Novembro de 1929. ASV, AES – Portogallo, IV Periodo, pos. 367 P.O., fasc. 110, fl. 82.

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Diário de Beda Cardinale enquanto Núncio na Argentina e em Portugal. ASV, AES – Portogallo, IV Periodo, pos. 394 P.O., fasc. 154.

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Também Teixeira de Sampaio, secretário-geral do Ministério dos Negócios Estrangeiros, informou confidencialmente o núncio, a 15 de Novembro de 1929, que não era verdade que o Governo pretendesse que o representante junto da Santa Sé fosse encarregado de nomear os candidatos222. No dia seguinte, aquele alto funcionário do Ministério dos Estrangeiros mostrará ao núncio, da parte do ministro dos Estrangeiros, «a instrução enviada a Trindade Coelho, na qual, reconhecendo a absoluta liberdade da Santa Sé na nomeação do Patriarca de Lisboa, o governo encarregava o ministro de fazer conhecer à Santa Sé o desejo – sem indicar nomes – de que não fosse nomeado um bispo que estivesse comprometido com a política interna da nação». Teixeira de Sampaio mostrará ainda uma carta de Trindade Coelho que, em «em vez de cumprir as instruções do Governo, e lhe pedir autorização, de sua iniciativa insinuava ao Cardeal Secretário de Estado que mandasse o núncio em Lisboa fazer uma lista de candidatos, para que o Governo declarasse quais os menos comprometidos politicamente», tendo o Cardeal ficado de falar ao Papa223.

A 19 de Novembro de 1929 chegava a Portugal o anúncio da nomeação do Arcebispo de Mitilene para Patriarca de Lisboa, o que representante da Santa Sé se apressou a comunicar a Gonçalves Cerejeira; nas suas próprias palavras, o encontro «foi muito comovente». No dia 20 de Novembro de 1929 o núncio recebeu a visita do ministro da Justiça, Luís Maria Lopes da Fonseca, que o felicitou pela nomeação do Patriarca224. No dia seguinte foi visitado pelo ministro dos Estrangeiros que lhe pediu para informar a Santa Sé que a proposta de realização de uma lista de candidatos fora da exclusiva iniciativa de Trindade Coelho e que o Governo a «deplorava». Depois, referiu-se à visita do ministro da Justiça, tendo o núncio declarado «logo que [este] tinha vindo à Nunciatura exprimir os seus desejos pessoais e não falou em nome do Governo»225. Trata-se do mesmo ministro que já antes Beda Cardinale considerara «um bom católico»226. Não deixa de ser curioso o que afirma Ivens Ferraz acerca de Lopes da

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Diário de Beda Cardinale enquanto Núncio na Argentina e em Portugal. ASV, AES – Portogallo, IV Periodo, pos. 394 P.O., fasc. 154.

223

Diário de Beda Cardinale enquanto Núncio na Argentina e em Portugal. ASV, AES – Portogallo, IV Periodo, pos. 394 P.O., fasc. 154.

224

Diário de Beda Cardinale enquanto Núncio na Argentina e em Portugal. ASV, AES – Portogallo, IV Periodo, pos. 394 P.O., fasc. 154.

225

Diário de Beda Cardinale enquanto Núncio na Argentina e em Portugal. ASV, AES – Portogallo, IV Periodo, pos. 394 P.O., fasc. 154.

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Relatório nº 692, do Núncio a Pietro Gasparri, 22 de Novembro de 1929. ASV, AES – Portogallo, IV Periodo, pos. 360 P.O., fasc. 95, fl. s/nº.

Fonseca: «grande apoiante de Salazar na luta contra o grupo republicano no Ministério presidido por Ivens Ferraz»227.

Numa carta de 27 de Novembro de 1929, o núncio explica ao Cardeal Secretário de Estado que a démarche de Trindade Coelho era absolutamente estranha ao Governo e que o ministro dos Estrangeiros mostrara o seu desagrado, porquanto esta iniciativa estava «em contradição com a disciplina do Governo, o qual se tinha limitado a exprimir o desejo de que a nomeação do novo Patriarca não recaísse sobre um indivíduo comprometido politicamente; mas que propositadamente, como era seu dever, se abstera de apresentar nomes, bem sabendo que a nomeação dos bispos era da exclusiva competência do Sumo Pontífice». Acrescentou ainda a satisfação do Governo pela nomeação de Cerejeira, aludindo à promoção do Patriarca ao cardinalato e à imposição do barrete cardinalício. O núncio terá esclarecido o ministro de que, «salvo especiais privilégios concedidos pela Santa Sé a alguns governos, a imposição do barrete é feita pelo Papa»228.

Na mesma data, o núncio diz a Pietro Gasparri que a nomeação do novo Patriarca fora recebida com «satisfação geral», suscitando mesmo «um verdadeiro plebiscito de entusiasmo». O que atesta com o facto do Presidente da República, o Governo, o corpo diplomático, um rol imenso de pessoas de todas as classes e condições sociais ter ido apresentar ao recém-eleito Patriarca as suas felicitações de forma calorosa e assente em grande sinceridade». Durante cinco dias consecutivos, Cerejeira praticamente limitou-se a receber pessoas, «interrompendo as audiências apenas domingo passado para se recolher num retiro espiritual»229.

A 14 Dezembro de 1929, o ministro dos Estrangeiros manifestou ao núncio o desejo