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Aderência cultural: “refere-se à capacidade de aderir (ou ficar em oposição) às normas culturais, crenças e valores de sua comunidade, o que implica negociações complexas com os

cuidadores e comunidades‖ (LIBÓRIO, 2011, p. 36).

Os resultados dessa pesquisa nos mostraram que os jovens considerados como ―resilientes‖ são aqueles que conseguiam solucionar essas tensões de diversas formas, por meio das forças e recursos disponíveis, que se desenvolveram/fortaleceram em decorrência dos recursos encontrados no interior de suas famílias, comunidades e culturas (LIBÓRIO, 2011).

Para Ungar et al. (2007) não existe uma ―receita‖ que nos ensine como resolver as sete tensões, pois não há linearidade nem causalidade nesse processo, indicando que cada jovem particularmente encontra meios próprios, singulares de obter sucesso na resolução das tensões. As tensões, embora sejam apresentadas como se fossem independentes uma das outras, na verdade interagem entre si. ―Para compreendê-las é necessário que levemos em conta a interação de forças presentes na cultura, contexto e no indivíduo‖ (LIBÓRIO, 2011, p. 36).

Dessa forma, a concepção de resiliência desenvolvida a partir de tal pesquisa propõe o estudo dos ambientes físicos e sociais, verificando nesses ambientes a disponibilidade e acessibilidade aos recursos culturalmente relevantes para os indivíduos. Assim, para Ungar, o

que deve ser avaliado são os recursos presentes no ambiente, verificando de que forma estão favorecendo processos protetivos (LIBÓRIO, 2011).

Portanto, o processo de resiliência para abordagem socioecológica não diz respeito somente aos aspectos individuais, levando mais em consideração o contexto e a cultura em que o indivíduo está inserido. Ou seja, a pessoa não nasce com os traços que a torna ―resiliente‖, mas o contexto social e cultural em que vive pode oferecer os aspectos necessários para que apresente processos de resiliência (LIBÓRIO, 2011). Assim, o bom crescimento da criança ou adolescente em situação de risco será possível se os recursos necessários forem ofertados e sejam culturalmente relevantes para sua comunidade, podendo ocasionar também uma mudança nessa comunidade, por meio da negociação que levará ao alcance desses recursos.

Segundo Libório (2011), o conceito de cultura entendido por Ungar e seus colaboradores refere-se ―às convenções, práticas e valores coletivos comuns, que endossam e são endossadas pelos grupos culturais e que potencialmente definem, mantém e interconectam membros do grupo‖ (THERON et al., 2011 apud LIBÓRIO, 2011, p. 41). Por cultura, entendemos tanto a cultura local (escola, igreja, família) como a cultura global (políticas do país). Para o processo de resiliência, a cultura presente no contexto em que a criança ou adolescente vive pode ser negociada, de maneira que fortaleça o indivíduo da mesma forma que o indivíduo também a impulsione.

Buscando desenvolver sua perspectiva socioecológica de resiliência, Ungar et al. (2011 apud LIBÓRIO, 2011, p.39) ―propõe 4 princípios que auxiliam na definição e operacionalização de resiliência: a descentralidade, complexidade, atipicalidade e relatividade cultural‖.

A Descentralidade propõe a necessidade de desfocarmos a atenção no indivíduo como o único responsável pelo processo de resiliência, necessitando focar no contexto. Assim devemos analisar primeiramente a natureza social e física do indivíduo, depois os processos interativos entre ela e o contexto e, em terceiro lugar, as características específicas do indivíduo. A Complexidade diz respeito a ―não se fazer relações simplistas sobre processos protetivos e resultados previsíveis, pois devemos refletir que há muitos pontos de partida (distintas situações de risco), muitos resultados desejáveis (com variações culturais) que ocorrem através de múltiplos processos relevantes em diferentes ecologias sociais‖ (LIBÓRIO, 2011, p. 40). A Atipicabilidade refere-se aos caminhos imprevisíveis que levam à resiliência em decorrência das condições e do contexto. Ou seja, indivíduos em situação de risco podem manifestar a resiliência de forma que não prevíamos, em decorrência de

situações em que os caminhos mais socialmente aceitos para o bom crescimento estão bloqueados. ―Isso remete-se à necessidade de se mudar o contexto, oferecendo mais oportunidades de escolha (portanto, as decisões que os indivíduos assumem em suas vidas dependem mais do contexto onde vivem, do que de seus traços individuais/pessoais)‖ (LIBÓRIO, 2011, p.40). E a Relatividade Cultural defende uma posição que leve em conta a cultura, especialmente no sentido de pensarmos sobre a atribuição de significados aos comportamentos e atitudes que são considerados adequados ou não, ―pois aqueles indivíduos que serão considerados ―resilientes‖ em certo contexto cultural, podem não ser vistos dessa forma em outra cultura. Ou seja, se seus comportamentos vão ao encontro das expectativas culturais de seu grupo, eles serão vistos como ‗resilientes‘‖ (LIBÓRIO, 2011, p.40).

Assim, quando pensamos em jovens com deficiência, torna-se necessário analisarmos o contexto ao seu redor e sua cultura, quais são os fatores de risco predominantes e, principalmente, identificarmos e fortalecermos os fatores de proteção do ambiente ao seu entorno, pois são eles que contribuirão diretamente na construção de processos de resiliência, promotor de fortalecimento e bem-estar (LIBÓRIO, 2009).

2.3 A pessoa com deficiência e o processo de resiliência: os fatores de risco e proteção envolvidos.

O estudo sobre a resiliência como um processo que visa superar as adversidades já é realizado há um bom tempo, assim como pesquisas relacionadas com a deficiência. Porém, são poucos os estudos que se referem ao processo de resiliência em pessoas com deficiência, sendo isto confirmado pela busca que realizamos por meio das bases de dados eletrônicas: SCIELO (Scientific Eletronic Library Online) e Portal de periódicos da CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), usando os descritores resiliência e deficiência, na língua portuguesa, inglesa e espanhola, sendo aplicados os seguintes critérios para inclusão: as expressões utilizadas estarem presentes no título ou nas palavras-chave, ou estar explícito no resumo que o texto relacionava resiliência e deficiência. O intervalo de tempo determinado foi de 2010 a 2015, pela necessidade de trabalhos atualizados, mas após breve leitura, verificamos que alguns trabalhos não se articulavam aos propósitos desta discussão, por isso o período foi estendido de 2005 a 2015. Foram encontrados 31 trabalhos, sendo 3 dissertações e 28 artigos. Apesar de todos enfocarem a relação entre resiliência e deficiência, as temáticas foram variadas como: resiliência em famílias com filhos com deficiência, resiliência em irmãos de pessoas com deficiência, resiliência e dificuldades de

aprendizagem. Das pesquisas que estudavam a resiliência na pessoa com deficiência, encontramos 15 artigos. A relação destas de acordo com o ano de publicação, o tipo de pesquisa (qualitativa, quantitativa ou teórica) e o continente em que foi publicada pode ser conferida nos gráficos 1 e 2.

Gráfico 1 - Relação de pesquisas de acordo com a abordagem utilizada entre os anos de 2005 a 2015 sobre a temática Resiliência e Deficiência.

Gráfico 2 - Relação de pesquisas sobre a temática Resiliência e Deficiência de acordo com o continente em que foi publicado entre os anos de 2005 a 2015

Verificamos que a maioria dos trabalhos que estuda de forma articulada a temática da resiliência e deficiência, considera a deficiência em si como um fator de risco, focando nas necessidades e vulnerabilidades do indivíduo. Porém, algumas pesquisas, como de Young, Green e Rogers (2008) criticam a ideia de se considerar a deficiência, no caso da surdez, como um risco, comungando com o nosso entendimento, pois também consideramos que a deficiência em si não deve ser entendida como um fator de risco, mas sim as ações excludentes da sociedade.

Apesar da divergência entre a deficiência ser vista como um fator de risco ou não, esses trabalhos consideram que a família, o apoio social e os professores são os principais motivadores para que a deficiência não se sobreponha à promoção das potencialidades desses indivíduos, contribuindo para o desenvolvimento do processo de resiliência. Dessa forma, a

2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 0 1 2 3 Pesquisa Quantitativa Pesquisa Qualitativa Pesquisa Teórica 4 1 6 4 10