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Participação em atividades valorizadas pela comunidade acadêmica

Pesquisas por Continente

Foto 4 Pesquisa de campo, 2016

5.3 Poder e Controle

5.5.2 Participação em atividades valorizadas pela comunidade acadêmica

De acordo com os professores, uma ação institucional que está contribuindo para a autoconfiança do aluno PAEE seria a oportunidade deles se inscreverem e desenvolverem

projetos de pesquisa, pois a pesquisa exige do aluno comprometimento, dedicação, esforço. Essa participação faz com que eles acreditem mais ainda em si, no potencial que eles têm.

PTB2: Eu acho que a política de programa de pesquisa e extensão no Instituto para

os integrados, meu Deus, sabe assim, é fundamental, para que eles também, dentro do projeto, do programa, eles se sentem...não tem a deficiência, entende? Eu sou um aluno como qualquer outro que estou aqui trabalhando a pesquisa junto com o meu orientador. A valorização dele enquanto aluno, iniciante ali na pesquisa, a caminhada estudantil deles, acadêmica, nossa... é valorização mesmo, valorização do estudante. Nossa, que chance que eles têm, né.

Os alunos PAEE também se sentem capazes e valorizados ao poderem participar de atividades como os projetos de pesquisas, pois envolvem atitudes que vão além do aprendizado de conteúdo. A participação em projetos de pesquisa faz com que os alunos tenham que se dedicar mais, pois é necessário saber trabalhar em grupo, se comunicar, se empenhar.

Pesquisadora: Quais atividades aqui no campus faz você acreditar em você? Faz você se sentir capaz? Qualquer atividade aqui no campus que faça você acreditar em você. Allan: Tem um projeto de pesquisa que eu participo que eu estou gostando bastante até agora. É criar sites para empresa, estou gostando bastante. Esse eu estou participando, até agora eu estou gostando desse.

Pesquisadora: Mas esse projeto você desenvolve sozinho ou em grupo? Allan: Em grupo.

Pesquisadora: E como você lida com essa situação do projeto?

Allan: Mas eu estou gostando, até agora eu estou gostando do projeto. O projeto vai até dezembro, tem até dezembro para desenvolver.

Pesquisadora: E você se dá bem com esse grupo do projeto?

Allan: Está ótimo, tem mais um aluno da minha sala e eu consigo compartilhar com ele, interagir com ele.

Pesquisadora: Tem alunos de outros cursos também?

Allan: Tem. Um do segundo ano, um do Ensino Médio, são 4 alunos no total.

Pesquisadora: Tem algum outro tipo de atividade que faz você se sentir capaz? Faz

você acreditar em você mesmo?

Fabio: Por exemplo, os projetos de LIBRAS, que os alunos participam e a gente

prepara atividades.

Pesquisadora: E aí de que forma que o Instituto pode ajudar a fazer você acreditar

mais ainda em você?

Fabio: O Instituto pode ajudar a incentivar meu desenvolvimento, incentivar dentro

da sala professores e alunos, a sempre estar relacionamento, um desenvolvimento melhor.

Pesquisadora: E como você acha que pode ser feita essa ação pelo Instituto para

melhorar o seu desenvolvimento na sala, melhorar a comunicação com os professores, com os alunos?

Fabio: Pode me ajudar a continuar aprendendo, a desenvolver, a continuar

envolvendo em projetos, continuar me envolvendo com os professores, projetos e outras coisas também.

Pesquisadora: E de que forma o Instituto te estimula a cada vez mais você acreditar

em você?

Willian: Oferecendo projetos, aqui tem bastante projeto, se eu quiser me inscrever eu

vou lá, então a maioria dos projetos você tem que acreditar em você e ir lá e se inscrever, e sempre incentivam a fazer projetos, fazer pesquisas, extensões, tem bastantes projetos aqui no campus. Esportes também, vôlei, futsal, tênis de mesa, acho que basta você querer também, tem que vir da pessoa em querer e fazer também.

Pesquisadora: E você gosta de participar desse projeto?

Luan: Sim, tem coisas que eu tenho aí eu já tenho mais um do projeto também, que é

fora também, que eu já estava fazendo, mas esse fora aí eu já peguei.

A possibilidade de participarem das atividades que gostam é citada por Zé e Catarina, que se sentem capazes de realizar todas as atividades da instituição, porque possuem consciência das suas limitações e buscam se esforçar diante das dificuldades ocasionadas pela deficiência, considerando que, se precisarem, terão a ajuda dos professores e colegas de classe. Uma atitude que contribui para isso é o fato dos professores não tratá-los de forma diferente, pois não os favorecem no sentido de facilitar as atividades para eles. Os professores permitem que, apesar das dificuldades com relação às atividades propostas, os alunos com deficiência tentem fazê-las, oferecendo ajuda quando necessário.

Pesquisadora: Você se sente capaz de realizar as atividades aqui da escola?

Zé: Sim, com a ajuda deles (colegas) quando tem que instrumentar, alguma coisa que

precise das duas mãos, mas eles me ajudam, professor mesmo me ajuda, mas normal.

Pesquisadora: E quais são as atividades que você faz e faz você se sentir capaz? Zé: Aqueles que talvez o povo que tem duas mãos não consegue fazer ali, tem

dificuldade, a gente por ser já deficiente tem que...focar melhor, né. É um desafio toda hora, e tem que aprender a ter mais habilidades, da mão aprende a agir com ela, trabalhar com ela, tem mais habilidade.

Pesquisadora: E como você vê o Instituto te ajudando a acreditar em você, no seu

potencial?

Zé: Eles nunca duvidaram, sempre tratam igual a todo mundo e não tem aquela

“porque o Zé falta uma mão, vamos facilitar”. Não, é igual para todo mundo e vamos ser cobrados iguais.

Pesquisadora: Fala para mim quais atividades você se sente capaz de fazer aqui no

Campus?

Catarina: Que eu me sinto capaz ou incapaz? Pesquisadora: Capaz.

Catarina: Ah, não sei, tipo, em aula de educação física eu me sinto capaz, tipo,

também eu gosto bastante, hoje tem prova de português, tipo, é que eu quero cursar Letras e tal. Tipo, eu fazia projeto de astronomia, só que eu parei porque eu fiquei “doentona”, não vinha mais. Mas ano que vem talvez eu vou fazer ou vôlei ou vou voltar a fazer astronomia.

Pesquisadora: Mas, assim, você se sente capaz de fazer educação física porque às

vezes era algo que você era privada?

Catarina: É, tipo, num ano eu fui privada, mas, tipo, eu gosto, educação física

normalmente quando você se exercita, mexe e a bexiga ela trabalha mais rápido, né. Tipo, eu consigo segurar muito mais do que quando eu estou sentada na aula.

O IFPR incentiva a participação dos alunos PAEE em atividades que necessitam da interação interpessoal, como as atividades esportivas, que proporcionam aos alunos um melhor relacionamento com os colegas de classe, professores e também com suas limitações, contribuindo para a formação de uma identidade positiva, pois o aluno passa a ser visto e reconhecido pelo seu esforço e dedicação, e não por sua limitação. Como no caso do aluno Franklyn, que foi convidado pelo professor a participar de atividades esportivas, dentro dos limites de sua capacidade, tendo suas limitações respeitadas.

Pesquisadora: O que foi isso do basquete?

Franklyn: O professor Wagner que é...se não me engano ele está nos jogos, ele

perguntou se eu queria participar, eu falei “ah, quero”. Aí ele me levou lá na quadra do Sesc, e lá ele me mostrou a cesta, tipo a cesta de lá abaixa. Daí ele me mostrou a cesta e falou “a cesta está aqui, você vai jogar nessa direção, só que no alto”. Daí ele ergueu a cesta, daí fui até debaixo da cesta e saí. Daí eu fui lá um pouco mais longe da cesta para jogar a bola. Daí eu joguei a bola na cesta, algumas eu acertei, algumas eu errei, e, tipo, teve exercício que ele pediu para eu seguir a hora que eu estava batendo a bola, teve um exercício que eu comecei a andar batendo a bola, e eu participei de um jogo, que eu fiz parte do time no jogo que a gente ganhou de se eu não me engano de 31 a 27.

Pesquisadora: E o Instituto também te apoia? Você sente esse apoio do Instituto? Franklyn: Sim, eles sempre me perguntam se eu quero fazer alguma atividade que

eles estão propondo, eles sempre me perguntam, tipo o basquete assim. O professor foi lá perguntou, tipo, ele primeiro foi conversar com a minha mãe, depois veio falar comigo. Minha mãe falou para o professor falar comigo para perguntar se eu queria, daí ele foi lá e falou comigo, me chamou na sala lá e falou e eu falei “beleza, sexta- feira eu fico e a gente vai treinar”. Daí eu fiquei, a gente foi, eu ganhei a medalha. Está até na minha bolsa as medalhas.

A importância do IFPR e dos professores respeitarem as diferenças dos alunos quando estes participam das diversas atividades, ajudando-os quando eles precisam, contribui para o desenvolvimento de uma identidade positiva. Caso contrário, pode desestimular o aluno com deficiência a participar dessas atividades, pois sem o respeito às diferenças e a oferta de ajuda quando necessário, essas atividades evidenciam as limitações dos alunos. Como no caso da

Julia, que em decorrência do IFPR não disponibilizar mais intérpretes e dos servidores e professores não saberem LIBRAS, a aluna quer participar das atividades (pois gosta da interação), porém considera que ficará ―perdida‖ ou então dependendo dos seus colegas.

Pesquisadora: E me conte em que momentos, aqui no campus, você consegue

interagir bem com os seus colegas e com seus professores?

Julia: Palestras, semana do meio ambiente, teve uma palestra sobre sexologia,

literatura, desses eventos eu gosto, desses eu gosto de participar.

Pesquisadora: E como você se envolveu nesses eventos?

Julia: Para mim estava muito chato, porque eu fiquei sentada lá, todo mundo

participava, conversava, discutia, trocava informações, diálogos, e eu não entendi nada. Eu nem sei por que eu estava lá.

Pesquisadora: Quais atividades aqui no campus faz você se sentir capaz? Julia: Nenhum. Até agora nenhum.

Pesquisadora: E o que o Instituto poderia fazer para fazer com que você se sinta com

confiança, se sinta capaz?

Julia: Primeiro contratar mais intérprete. Segundo os professores tentarem transmitir

um atendimento melhor para mim. Também queria que colocasse, que dessem acessibilidade para eu saber que horas o sinal está tocando. Legendas. Na secretaria também, eles precisavam saber como se comunicar comigo, eu não quero ficar chamando amigo para ir junto comigo na secretaria, por exemplo.

Diante dos aspectos citados, os alunos PAEE que participaram da pesquisa sentem que as limitações decorrentes de sua deficiência não os impedem de fazer as atividades. As atitudes dos profissionais e dos colegas, bem como as atividades que desenvolvem dentro do IFPR os estimulam a acreditar cada vez mais no seu potencial, desenvolvendo uma identidade positiva. Os alunos mencionaram que podem participar de todas as atividades que desejam, nas quais trabalham as suas dificuldades, contando com o apoio dos professores e colegas de classe, permitindo que reconheçam suas limitações, ao mesmo tempo em que se esforçam para superá-las. Eles citam as atividades esportivas oferecidas para os alunos com deficiência visual e alunos com deficiência física.

Entendemos que, dos alunos que participaram da pesquisa, somente Julia se sentiu incapacitada de participar de certas atividades desenvolvidas pelo IFPR, visto que precisou de interpretação de LIBRAS em uma palestra, mas esta não foi oferecida no momento, indicando mais uma vez um fator de risco aos alunos surdos. No mais, os outros alunos sentem que o IFPR oportuniza e incentiva a participação em todas as atividades promovidas. Eles relatam que, quando estão com dificuldades para realizar as atividades, perdendo a confiança, os professores e equipe pedagógica os estimulam e os encorajam por meio de conversas de

motivação. Para Oliveira e Rodrigues (2011) esse tipo de ação que permite a participação dos alunos em todas as atividades não significa negar a deficiência, mas sim acreditar que diferenças exigem diferentes intervenções pedagógicas e diferentes olhares, contudo, sem diminuir o que se pode ensinar, subestimando o aluno e suas reais possibilidades.

Pela fala dos alunos e professores, percebemos que as práticas de oportunizar a participação de todos os alunos nas atividades ofertadas pela instituição, principalmente aquelas valorizadas pela comunidade, estimulam processos de resiliência, pois a participação em práticas culturais valorizadas na comunidade, no caso a escolar, pode provocar transformações nas identidades, habilidades e nas formas de interpretar e agir sobre o mundo ao redor (LIBÓRIO, 2011), fazendo com que os alunos se identifiquem como valorizados socialmente, não se sentindo diferentes em decorrência da deficiência.

Essas práticas ajudam os alunos a identificarem suas potencialidades e limitações, como também a superar os desafios com a ajuda dos professores e colegas de classe, pois para Ozella e Aguiar (2008) e Libório (2011) a construção da identidade é social; ou seja, construída a partir das possibilidades historicamente constituídas pela humanidade, sendo que a sociedade nos dá limites e as possibilidades de sermos quem somos. Por isso a importância do IFPR de não os categorizar, de ajudar no desenvolvimento de uma identidade positiva em que se respeite as diferenças, em que as potencialidades sejam identificadas e reconhecidas.

5.6 Coesão

Na tensão Coesão, o adolescente e jovem em processo de resiliência busca encontrar um ponto de equilíbrio entre o seu senso de individualidade com o dever e compromisso com a comunidade, no caso a escolar. Dessa forma buscamos analisar como se dá a relação desses jovens com o cumprimento dos interesses e expectativas da comunidade escolar.