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Recursos didáticos: adaptações para o aprendizado

Pesquisas por Continente

Foto 4 Pesquisa de campo, 2016

5.1.2 Recursos didáticos: adaptações para o aprendizado

Os professores também falam sobre os recursos didáticos que utilizavam para tornaremsuas aulas acessíveis para os alunos PAEE. Para os alunos com deficiência auditiva, eles utilizam os projetores para trabalhar mais com imagens e utilizam vídeos com legendas. Para os alunos com deficiência visual, os recursos didáticos que os professores citam seriam os computadores com leitores de tela, máquina braile, teclado.

PU1: Se eu procuro um vídeo que não tem legenda, eu não passo. Aí essa semana eu

estou... porque eu estou dando outra disciplina para eles, não é de Química, é de Práticas de Laboratório, tem toda a questão de montagem do laboratório, de IPis, né. Aí eu fui pensando, procurei, procurei um vídeo de primeiros socorros na escola e que fosse legendado, não tinha. Daí eu cheguei triste na sala, falei “queria trazer um vídeo para vocês, mas não achei, iria trazer um desenho da Luluzinha, vocês iriam brigar comigo se eu trouxesse”. Daí os alunos: “ah, professora, vamos fazer?”. Então essa semana agora a gente está montando um vídeo de primeiros socorros em LIBRAS com a turma. Então assim, ele (Fabio) está muito feliz, daí ele vai junto nas cenas, ele vai explicando para as meninas como é o gesto, a intérprete ajudando, então assim, vai ficar bem legal. Então, assim, “professora, se não tem, então vamos fazer!” “Então agora vai ter”.

Pesquisadora: A máquina que a professora falou que o Franklyn no começo

carregava, era uma máquina dele ou o Instituto que correu atrás para oferecer essa máquina para ele?

PJ1: Olha, boa pergunta, eu não sei te falar, porque a máquina ficava, fica aqui na

assistência estudantil, e a gente sempre carregava essa máquina, eu acredito que não seja dele não, porque ele sempre mexia no notebook dele. Eu teria que confirmar, mas eu acredito que não seja dele não, é uma máquina que o Instituto buscou de algum lugar para atender. Já agora foi comprado um teclado supermoderno que ele carrega. Aí esse teclado sim, foi comprado pelo Instituto, onde o Franklyn acopla no computador dele, então ele consegue ler, ele consegue digitar as coisas que ele vai ter que digitar e também ele tem um programa que o computador lê para ele, como se fosse a voz mesmo. Esse teclado é do Instituto mesmo, então material nosso aqui para melhorar o estudo dele, não leva para casa, mas ele usa em todas as aulas acoplado ao notebook dele. O professor de informática fez uma grande...se mobilizou bastante também para entender, porque não era fácil de instalar os programas e tal, aí ele contou para gente, não foi fácil, mas ele conseguiu arrumar.

Dos recursos didáticos citados pelos professores que foram adquiridos pelo IFPR, estes se referem aos materiais específicos para alunos com deficiência visual. Os outros recursos didáticos que atenderiam a demais alunos com deficiência que necessitam de algum material específico estão disponíveis devido ao trabalho dos professores em desenvolvê-los. Verificamos a ausência de outros materiais que contribuiriam para aprofundar o aprendizado de alunos com deficiência, tais como mapas táteis e materiais em 3D.

PL5: Então, materiais didáticos, eu também não tenho conhecimento de materiais

específicos. A questão visual, por exemplo, eu trabalho com Geografia, eu desconheço a existência de mapas táteis, por exemplo, que seriam interessantes, outras formas de materiais adaptados eu desconheço.

PL3: Materiais, ainda nos falta alguns materiais, para que a gente possa atender a

todos esses alunos com a mesma....proporcionando a eles a mesma possibilidade de aprendizagem. Então quando a gente pega uma aula de anatomia, que é uma aula que

utiliza muito a parte visual, porque ela é visual, e a gente tem alguns materiais de laboratório de anatomia, então a gente observa que o que nós não temos nos faz falta, porque a aprendizagem, nesse caso, para um aluno deficiente visual se dá pela palpação. Para o aluno com deficiência intelectual a palpação é extremamente importante para que ele possa compreender tanto nele próprio, como numa peça que é dimensional que é difícil compreender num papel. Porque num papel aquilo é a representação de um desenho, não é a representação de uma realidade. Então a gente observa que ainda nos falta alguma coisa em termos de material.

Para os professores, a maioria dos recursos didáticos disponibilizados pelo IFPR atende a todos os alunos, por exemplo, o projetor. Pela fala dos professores houve aquisição de material específico para atender aos alunos com deficiência visual, pois sem ele os alunos não conseguiriam estudar. Fora isso, os professores sentem falta de materiais que denominamos de Tecnologia Assistiva (TA) que engloba produtos, recursos, metodologias, práticas e serviços que objetivam promover a funcionalidade, relacionada à atividade e participação de pessoas com deficiência (GALVÃO FILHO, 2009).

Já a maioria dos alunos consideram que estão sendo contemplados no que diz respeito aos materiais didáticos que ajudam na sua acessibilidade. Somente dois alunos citaram que o IFPR não estava ofertando os materiais necessários para eles, no caso, os dois alunos surdos, Dhiego e Julia. A aluna solicitou o uso de legendas nos vídeos assistidos em sala de aula, embora poucos professores tenham feito essa adequação, levando-a a ter que dividir sua atenção entre a imagem do vídeo e a interpretação da intérprete de LIBRAS, contradizendo a prática que os professores dizem utilizar como ferramenta didática. Nas fotografias tiradas pela aluna, a foto 6 da televisão da cantina sem o uso de legendas foi considerada como algo difícil em sua vida, pois para ela demonstra a falta de inclusão no contexto escolar. Para o aluno Dhiego, que possui dificuldades em ler o português, faltam materiais acessíveis como vídeos sobre os conteúdos que aprendem, em LIBRAS.

Foto 6 – Pesquisa de Campo, 2016.

Julia: Essa é a televisão da cantina, e eu nunca vi legenda na televisão, por isso que

Pesquisadora: E o que mais você vê que os professores poderiam melhorar para estar

te atendendo?

Julia: Por exemplo, quando tem uso de vídeos, eles precisam colocar legenda, a

maioria não disponibiliza legenda, ficam esperando a intérprete explicar o conteúdo do filme, principalmente os professores de português, quando tem filme, por exemplo, ela fala em cima da hora que esqueceu a legenda.

Pesquisadora: E tem algum tipo de material ou atendimento que te ajuda ou te auxilia

nos seus estudos?

Dhiego: Tenho acesso aos livros somente por português mesmo, e daí eu tento, me

esforço para que isso ajude.

Pesquisadora: E quando você precisa de alguma ajuda ou de algum material

específico como que você faz?

Dhiego: Quando eu preciso, não tenho. Seria bom se tivesse algum recurso, algum

DVD, alguma explicação por meio de LIBRAS. E o português é meio puxado para entender. O que eu utilizo mesmo é LIBRAS para me comunicar, e as letras para escrever também, mas é puxado e não tem material inclusivo desse tipo.

Já com relação aos materiais que auxiliariam nos estudos e que os alunos PAEE necessitavam, temos o caso do aluno Zé, que devido à amputação do braço, necessitava de carteira em que a mesa e cadeira são separadas, cujo modelo já era utilizado pelo IFPR, assim a instituição ofereceu ao aluno um material que já possuía, não precisando adquirir ou fazer adequações.

Pesquisadora: Eu queria então que você me falasse um pouquinho sobre a

acessibilidade aqui no campus para você?

Zé: É boa, foram bem participativos quando eu cheguei, vieram de encontro, vieram

perguntar se eu precisava de alguma coisa. Foram “bem bom” comigo.

Pesquisadora: Você precisa assim de algo em específico?

Zé: Não, eles já têm o que eu precisava que é uma carteira com cadeira que é mais

fácil para mim, por causa de apoiar livro, se fosse aquela carteira de braço universitária não dava, aqui tá certinho.

Pesquisadora: É o único tipo de material que você precisaria? Zé: O único material.

Para o aluno Willian, o IFPR verificou com o aluno e sua família os recursos necessários para sua aprendizagem, que no caso seria a produção de materiais escritos com letras maiores, como lista de exercícios e provas, apesar de alguns professores também se esquecerem de fazer essa adequação. Em função de seu caso, o IFPR adquiriu lupas, lupas digitais e teclado com teclas maiores com o intuito de facilitar a aprendizagem do aluno.

Willian: Antes de eu entrar, uma semana antes acho que o psicólogo daqui conversou

precisaria. Aí eu falei para ele que precisava de prova aumentada e a maioria do material que o professor trouxesse teria que ser aumentado. Isso aconteceu, só que tem vezes que o professor esquece, mas isso acontece. Às vezes o professor esquece, mas a maioria dos materiais eles conseguem aumentar. E o Instituto também arrumou lupas, mesmo algumas lupas não servindo para mim. Eles arranjaram lupas, se eu não me engano ele pediu, o psicólogo pediu, mesmo eu não precisando tem a lupa ali e se uma hora eu precisar, tem. Tem a lupa digital que eu ainda não sei mexer, mas pelo jeito é boa e eu vou aprender a mexer. E tem o teclado também, com letra aumentada que é muito bom que eu vou aprender a mexer também, eu nunca peguei para usar.

Algo interessante promovido pelos professores foi incluir os demais alunos no desenvolvimento de materiais didáticos acessíveis. Muitos materiais didáticos que o aluno Franklyn, cego, utiliza foram desenvolvidos pelos seus colegas de classe, em função das necessidades do aluno e contribuíram para sua aprendizagem e para a disseminação de práticas inclusivas.

Franklyn: Agora eles estão com um projeto, alguns projetos que até hoje foi

apresentado... tem um projeto que montaram bem legal, uns alunos montaram um projeto de...é um projeto mais para geografia, que eram duas placas de isopor que eles fizeram, colocaram se não me engano três ou quatro seringas do lado, e apertavam essa seringa, as duas placas se batiam, igual as placas tectônicas, e causavam um terremoto. Aí tem outro que outras pessoas fizeram que daria para mim identificar planalto, planície, depressão, serra, etc, eu ia passando a mão e os sensores iam falando. E um pouquinho antes de eu entrar para cá, eu vi um projeto de um professor e de algumas pessoas, não é só do professor, é uma luva que quando eu estou chegando perto de alguma coisa, algum objeto, ela vibra mais alto, e quando eu estou longe, ele para, eu não sei direito. Eu testei, mas ainda não está pronta.

Pesquisadora: Mas são materiais que eles desenvolveram pensando em você para te

ajudar na sua aprendizagem?

Franklyn: É, porque tinha um trabalho semestre passado, estava fazendo uma

unidade de geografia, o professor falou assim para desenvolver uma maquete de acessibilidade.

Além dodesenvolvimento da maquete, o IFPR adquiriu outros materiais didáticos que auxiliavam na aprendizagem do Franklyn, como teclado em braile, impressora em braile, soroban e softwares específicos que auxiliam na aprendizagem de pessoas cegas.

Franklyn: Olha, semestre passado eu estava usando a máquina Perkins, não sei se

você conhece?

Pesquisadora: Não, como que é essa máquina?

Franklyn: É uma máquina de datilografia, de braile. Daí o coordenador do NAPNE

falou para mim “para você não ficar levando as folhas para a professora transcrever e trazendo para o professor ver, começa a escrever no computador”. Daí eles conseguiram o teclado braile, a impressora braile. Daí esse semestre eu estou usando

o computador, eu fiz uma prova semestre passado no computador, deu certo, e esse semestre ainda não fiz prova no computador.

Pesquisadora: Aí tudo é pelo computador, seja a disciplina de matemática, seja a

disciplina... tudo no computador?

Franklyn: Isso, e tem o soroban, tem a calculadora que fala. Pesquisadora: Tem os softwares aqui no campus?

Franklyn: Nos laboratórios de informática foram instalados o NVDA e o DOSVOX

em um computador de cada laboratório de informática, e na hora de escrever a avaliação eu uso o meu computador, eu uso o meu note.

Na fala dos alunos, foram os alunos com deficiência visual que citaram a aquisição de materiais como softwares, impressora braile, lupa eletrônica etc, pelo IFPR. Algo interessante citado pelos alunos se refere à prática desenvolvida pelos professores de envolver os demais alunos no desenvolvimento de materiais didáticos acessíveis para os alunos com deficiência visual, por meio de atividades em sala ou por projetos de pesquisa. Os demais alunos, fora os alunos surdos, consideraram que o IFPR disponibiliza os recursos didáticos de que precisam, congruente com a percepção de Schmidt et al. (2007), no qual a satisfação de bens materiais concretos é importante para a manutenção da qualidade de vida de pessoas com deficiência. Porém, para os alunos surdos, não há recursos institucionais que promovem a sua acessibilidade devido à falta de materiais em LIBRAS e vídeos sem legendas. Novamente, a falta de materiais didáticos específicos para os alunos surdos se configura como um fator de risco, pois os alunos se sentem prejudicados por isso.