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A motivação institucional para que os alunos acreditem no seu potencial

Pesquisas por Continente

Foto 4 Pesquisa de campo, 2016

5.3 Poder e Controle

5.5.1 A motivação institucional para que os alunos acreditem no seu potencial

Pela fala dos professores, essa tensão poderia ser desenvolvida pelo aluno PAEE por meio de ações que são promovidas por eles, passando confiança ao aluno, não o tratando de forma diferente, pois os docentes reconhecem as especificidades da deficiência, mas tratam seus alunos com o mesmo respeito que os demais, criam oportunidade para que participem das mesmas atividades, reconhecendo seus direitos.

PP2: Eu acho que o primeiro passo é essa atitude de não tratá-los diferentes pela

deficiência. Eles competem de igual para igual, com todo mundo. Então eu acho que o primeiro ponto é esse. Não é porque você está ouvindo menos que o teu colega que você é menos que ele, você tem a mesma condição, então vem aqui e faz.

PL1: Quando ele está com o grupo, que ele vê que os outros conseguem e ele também

sente que vai conseguir. Agora quando você o separa que aí ele acha que ele é diferente, aí ele entra em crise, acho que até de identidade.

Esse tratamento do professor que respeita as especificidades do aluno PAEE acaba motivando o aluno, fazendo com que ele acredite nas suas capacidades e potencialidades por meio de ações em que podem ser ouvidos e reconhecidos na sua plenitude. O professor cria maneiras de incluir esses alunos em atividades que eles acreditavam que não conseguiriam realizar.

PTB1: Eu acho que depende muito da deficiência que ele apresenta qual o desafio

que ele vai ter que superar. Eu diria assim, de forma genérica são as situações em que ele supera um desafio, que talvez ele duvidasse que seria capaz de superar ou pelo menos não esperava ser colocado diante daquele desafio e sem saber muito bem o que esperar desse desafio, ele supera. Então, por exemplo, isso é o que eu estou planejando e eu não sei o que vai acontecer, com a turma do Dhiego eu tenho feito atividades em que os alunos precisam fazer discursos, postar diante da turma e fazer

um discurso, então eu estou em contato com o intérprete para pedir algumas dicas em relação o Dhiego, se de repente é necessário algum tipo de adaptação ou coisa assim. Mas eu tive a impressão que o Dhiego não esperava uma atividade desse gênero. E participar de uma atividade desse gênero, a impressão que eu tenho é que ele tem um potencial muito bom para apresentar um bom discurso, e aí claro, como a gente tem a facilidade do intérprete em ter esse discurso interpretado e eu acredito que isso vai fazer com que ele sinta mais confiança para se fazer ouvir, para se fazer entender pelos alunos, pelo professor, no caso eu mesmo, e assim por diante. Mostrar a capacidade, mostrar para ele mesmo a capacidade que ele tem de organizar ideias e assim por diante. Então no caso do Dhiego, me parece, por exemplo, isso como algo que pode ser...algo que faz com que ele tenha mais confiança em si. O tratamento que as outras pessoas têm frente a eles também me parece fundamental, não só em casos de deficiências, mas como em casos diversos de qualquer tipo de dificuldade que o aluno apresente, me parece que sempre que os técnicos, os alunos, os professores, todos aqueles que estão envolvidos mesmo no processo, olham para esses alunos com um olhar humano mesmo, um olhar de reconhecimento, eles dão boas respostas, têm um crescimento ali. Toda vez que alguma dessas pessoas pergunta para eles o que é melhor para eles e eles têm a oportunidade de dizer, eles dão boas respostas. O que acho que às vezes essa é uma das dificuldades frequentes, nós olhamos para eles como se nós soubéssemos aquilo que eles precisam e nem sempre sabemos. E às vezes erramos muito feio e isso me parece muito desanimador saber que vai ter que ficar enfrentando esse tipo de situação constantemente, não ser reconhecido como pessoa plena, não ter as suas necessidades atendidas e não ter as suas solicitações ouvidas. Então me parece que isso faz diferença, ser colocado diante de uma situação em que ele pode superar e mostrar para si mesmo que ele supera alguma coisa e ser ouvido. Ter pessoas que os ouçam, que olhem para ele com reconhecimento.

PA1: Eu acho que todos os professores, a equipe, a seção pedagógica, direção, todo

mundo faz um trabalho de motivação, com todos os alunos, não só com.. né. A gente sempre busca mostrar para os alunos que eles são capazes, que eles podem contar com a gente, o que eles precisarem, eles podem pedir auxílio, e todos, cada professor na sua especificidade ajuda e orienta e dá conselhos, e faz o possível para que esses alunos possam progredir que eles possam crescer.

A ações de encorajamento dos professores como não tratar os alunos de forma diferente (no sentido de evitar a superproteção), colocando-os nas mesmas situações escolares que os demais alunos, ajudando o aluno a superar os desafios colocados para ele, pela atividade proposta, oferecendo apoio às suas limitações, contribui para que os alunos ampliem a crença em suas potencialidades. Pois segundo Catusso (2007) ter conhecimento de sua limitação e não considerar isso como um empecilho para alcançar seus objetivos favorece processos de resiliência. Os professores acreditam que, assim, ajudam os alunos a acreditarem mais em si mesmos. Para isso, os professores consideram que precisam olhar o aluno na sua plenitude, reconhecendo-o como parte importante da sua formação, por isso a importância de fazê-los participar do processo ensino-aprendizagem.

Essa motivação feita pelos professores também é citada pelos alunos como contribuindo para que os mesmos não desistam, como por exemplo, as dificuldades no aprendizado nas disciplinas escolares faz com que desanimem. Alguns participantes da pesquisa consideram que, para melhorarem o rendimento, é necessário que o esforço e dedicação parta deles. Por outro lado, segundo os alunos, o IFPR oferece algumas ações que os ajudam nesse processo (de busca deste esforço) e dão como exemplos: os atendimentos oferecidos pelos professores no contraturno, que são momentos em que podem estudar junto com os professores e esclarecer as dúvidas, as palavras de motivação dos professores, pedagoga e intérprete de LIBRAS para que os alunos superem suas dificuldades se esforçando e se dedicando mais aos estudos.

Pesquisadora: Você se sente capaz de realizar as atividades daqui da escola? Maria: Sim.

Pesquisadora: Quais são essas atividades que faz você se sentir capaz? Maria: Sei lá.

Pesquisadora: Na sala de aula assim, o que faz você se sentir capaz, acreditar em

você?

Maria: Mais na aula de artes e de física.

Pesquisadora: O que você sente na aula de física? Maria: Ah, acho da hora calcular.

Pesquisadora: Só física, matemática não?

Maria: Matemática por enquanto não, porque está trabalhando com (inaudível), tem

letras e eu não sou boa com letras.

Pesquisadora: Como que você acha que o Instituto pode contribuir ainda mais para

que você se sinta capaz, você acredite cada vez mais em você, no seu potencial?

Maria: Sei lá.

Pesquisadora: O que você acha que o Instituto possa fazer assim? Que nem você

falou que não é muito boa com letras, como que o Instituto poderia estar te ajudando para você se achar boa com letras também?

Maria: Ah, ele já está ajudando, que tem o atendimento, só tem que vir.

Pesquisadora: E o Instituto está te ajudando para que você tenha mais confiança em

você?

Catarina: Sim.

Pesquisadora: O que ele está fazendo que esteja te estimulando?

Catarina: A pedagoga sempre fala que eu tenho que tentar, vir no contraturno, fazer,

tentar fazer sozinha, né, e essas coisas e tudo mais. E que eu sempre consigo fazer as coisas, meus amigos também falam que eu posso.

Pesquisadora: E como que você vê o Instituto ajudando você a acreditar em você

mesmo, no seu potencial?

João: Como um auxílio, um aliado, pois a parte principal de acreditar em mim mesmo

tem que vir de mim mesmo, se eu não acredito em mim mesmo, eu não vou conseguir acreditar em mim mesmo.

Pesquisadora: E já teve alguma situação que você assim se sentiu incapaz e talvez a

ajuda de um professor ou algum outro auxílio fez você acreditar novamente “eu sou capaz de fazer isso”.

João: Já, já. No semestre passado eu estava pensando em desistir, eu não aguentava

mais, aí se não fosse os meus colegas e os professores e tal, eu ter visto que eu não estava tão ruim quanto achava que iria estar, eu percebi que não, eu consigo, estou na mesma faixa que todo mundo. Não sou um supergênio, aquela coisa assim, em Curiúva eu já fui colocado em pedestal, e foi aquela coisa como eu disse, faço imã magnético, arma a laser em casa, todo mundo olha para mim e me vê como o gênio da cidade. O cara que faz uma (inaudível) com três palitos de dente, o “Magaiver”. Faz uma (inaudível) com três palitos de dente e um pedacinho de chiclete. Mas digamos assim, quando eu cheguei aqui eu vi que não era tanto, que eu não estava tão pronto quanto eu achei que iria estar.

Pesquisadora: E de que forma o Instituto está te ajudando a você acreditar a cada vez

mais no seu potencial?

Dhiego: Às vezes eu vejo que está difícil a matéria, eu não me esforço mesmo, o

intérprete me ajuda, me motiva a continuar estudando. Eu sinto mais a motivação do intérprete mesmo, dos outros, dos alunos mesmo, ou dos professores, pela falta da LIBRAS, eles não me ajudam tanto. Os pedagogos também, a seção pedagógica lá, eles sempre me chamam também, me aconselham, junto com o intérprete me ajudam, me motivam a continuar, eu aceito os conselhos deles, estou me esforçando para não desistir, sei que preciso estudar.

A própria educação de qualidade propiciada pelo IFPR, conforme apontado por Maria, a motiva a acreditar mais nela, fazendo com que se esforce para chegar mais longe.

Maria: Eu sinto que, tipo, eu posso chegar mais longe, conseguir fazer uma

faculdade, conseguir algo melhor. Porque, tipo, enquanto as outras pessoas estão zombando, eu posso ter uma chance maior. Porque as empresas precisam de pessoas com deficiência, mas eles não têm deficientes qualificados. Se eu me esforçar, eu posso ser uma qualificada.

A motivação e orientação feitas pelos professores aos alunos poderiam ser melhores desenvolvidas, segundo os professores, se o IFPR oferecesse uma capacitação a eles, situação em que os professores se sentiriam empoderados para encorajar os alunos com relação à capacidade e potencialidade. De acordo com os professores, por não saberem como aplicar atividades aos alunos PAEE, não tendo sido preparadas/ adaptadas para os alunos PAEE, isso pode fazer o aluno se sentir despreparado, limitado. Assim, os professores consideram que se fossem preparados para ensinar de formas variadas a esses alunos, isso ajudaria na formação de uma identidade positiva.

PU1: Eu acredito que colocando os professores a par da situação, e a gente que está

nossa. Quando eu digo para você que a gente teve aquela reunião de colegiado, que a gente sentou e viu realmente, olha, isso aqui que está errado “oh, às vezes se você trabalhar dessa maneira”. Eu acho que essa orientação para os professores que é quem está realmente em contato com o aluno, porque assim, a pedagoga vai lá de vez em quando na sala de aula, mas ela não está em contato 100%. A psicóloga também não. O aluno eu acho que às vezes tem até vergonha de procurar a psicóloga. Então assim, eu acho que empoderar os professores a empoderarem os alunos, eu acho que é a melhor maneira de colocarem eles para frente, de acreditarem que eles podem melhorar. Se o professor chega na sala de aula, olha para o aluno e fala “você não está entendendo, você vai continuar sem entender”, aí ele não vai acreditar nele mesmo. Se o professor coloca “não, beleza, está difícil, vamos tentar de uma outra maneira”. Eu acho que assim, ele vai evoluindo.

Pesquisadora: E como o Instituto pode empoderar os professores?

PU1: Eu acho que a questão de formação mesmo. Sabe, quando a gente tem as

semanas pedagógicas, tentar trazer esses encontros de metodologias de ensino, como trabalhar melhor, novas ferramentas, por exemplo, tem o quadro interativo ali, eu não sei mexer, mas.. já até pedi um curso para gente tentar usar de todos os recursos, né, para poder ajudar o aluno, pois se eles são mais visuais, eu acho que a gente tem que trabalhar muito com vídeo, com imagens, a gente ficar lá só falando, as vezes só escrevendo, escrevendo, não vai conseguir alcançar. Então eu acho que nessa parte de formação mesmo.

Mantoan (2003) aborda esta questão da formação de professores e diz que muitos professores almejam uma preparação para ensinar alunos PAEE, baseada na aplicação de esquemas de trabalho pedagógico predefinidos. Para a autora, essa formação que os professores desejam não se encaixa em um curso de especialização, extensão ou atualização de conhecimentos pedagógicos. Segundo Mantoan (2003), a formação necessária aos professores deve ajudá-los a pensarem inclusivamente, ressignificando o papel do professor, da escola, da educação e das práticas pedagógicas.

Entender a inclusão de forma ressignificativa fará o professor considerar que, além de instrutor, ele tem o papel de referência ao aluno. Por isso é importante que nessa ponte para inclusão, o professor enfatize o seu papel na construção do conhecimento, na formação de atitudes e valores do cidadão. Portanto, a formação para o pensamento inclusivo vai além dos aspectos instrumentais de ensino.