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Pesquisas por Continente

Foto 4 Pesquisa de campo, 2016

5.3 Poder e Controle

5.4.3 NAPNE: atividades camufladas

Muitos professores não possuem conhecimento do NAPNE, pois em muitos campi o NAPNE é composto somente pelo intérprete de LIBRAS ou então além do intérprete de LIBRAS temos a pedagoga e a psicóloga do próprio campus. Dessa forma, as ações do NAPNE e da seção pedagógica se camuflam, uma vez que o próprio intérprete de LIBRAS

faz parte dessa seção. Levando em consideração esses dois tipos de composição do NAPNE, os professores consideram que a relação dos alunos com a equipe pedagógica (que representaria o NAPNE) é muito boa, pois todos estão sempre tentando ajudar esse aluno.

PL4: Quando você diz NAPNE, você se refere a Núcleo...

Pesquisadora: Núcleo de atendimento a pessoas com necessidades educacionais

específicas.

PL4: Ótimo, se o nosso campus tem o NAPNE eu não sei. Aí se nós temos já temos

uma falha. Aqui nós tratamos disso na seção pedagógica chamada SEPAE, normalmente eu recorro às pedagogas para obter algumas informações quando os alunos apresentam rendimento muito abaixo, eu procuro me informar se há uma circunstância específica em relação a isso.

Pesquisadora: Aí você considera que esses alunos, o João e o Dhiego, têm

conhecimento do NAPNE?

PTB1: O Dhiego eu diria que com certeza, até porque o coordenador do NAPNE é o

intérprete que está em contato com ele diariamente. O João eu não saberia dizer, eu acredito que sim, por conta desse contato que ele tem com a pedagoga, que é uma pessoa que eu acho, se não me engano, faz parte do NAPNE também, mas eu não saberia dizer com certeza. Mas acredito que ambos sabem.

Pesquisadora: Mas, assim, você acha que o aluno tem noção que o NAPNE existe, se

ele tiver alguma dificuldade, ele procurar esse núcleo?

PTB2: Tem. Eu vejo eles sempre conversando, o próprio intérprete, antes de

trabalhar com esses alunos, antes de ter esses alunos já desenvolvia esse trabalho no NAPNE. Eu penso que...ele é bem...ele é o NAPNE assim, nessa questão de precisar, estou aqui, sabe para conversar. As meninas também, pedagógico, que fazem parte do NAPNE, sempre estão sabe, procurando, não só esperando que o aluno venha quando tem um problema, mas elas sempre conversam com eles. Têm iniciativa sabe.

Para alguns professores, o bom crescimento do aluno PAEE na instituição diz respeito a ele criar ―pontes‖ de apoio em pessoas, como o intérprete de LIBRAS e pedagogas.

Pesquisadora: Então assim, você diz que os problemas que eles enfrentam aqui na

instituição, eles conseguem enfrentar porque eles têm esse apoio?

PTB1: Eu tenho mais ou menos a mesma impressão, com o Dhiego é isso, ainda estou

analisando e sentindo um pouco melhor como está funcionando no caso dele, mas eu tenho visto essas pontes também, uma ponte com o intérprete, uma ponte também com a pedagoga com quem ele consegue ali ainda consegue conversar caso seja necessário.

PTB2: O Dhiego eu nunca tive...assim, ele nunca me procurou para conversar

alguma coisa, eu penso que o intérprete dever ser essa ponte que ele faz quando aparece alguma outra dificuldade, mas assim, eu acho que se alguma dificuldade acontece com algum professor específico, com algum conteúdo em específico, com o João ou com o Dhiego, eles têm a noção de que as portas estão abertas para

conversar, para um diálogo. Eu sei que a pedagoga sempre está bem presente naquela turma (João), eu acho bem legal o trabalha que ela faz, muito legal o trabalho dela. Com relação aos alunos, verificamos que dos doze alunos participantes, somente dois conheciam o NAPNE, mas um não sabia exatamente sua função, só sabia dizer quem fazia parte.

Pesquisadora: Como é sua relação com a equipe do NAPNE? Maria: Eu não sei.

Pesquisadora: Você não conhece o NAPNE? Maria: Mais ou menos.

Pesquisadora: O que você conhece do NAPNE? Maria: Nada. Eu sei quem é.

Pesquisadora: Quem é o NAPNE? Maria: Aquela moça ali...eu não sei. Pesquisadora: A Aline?

Maria: Eu acho que é.

Pesquisadora: Então o NAPNE nunca conversou com você assim?

Maria: Conversou sobre a cirurgia, perguntou se precisava de alguma coisa.

Pesquisadora: Só foi esse o seu contato com o NAPNE ou você teve outro tipo de

contato? Só foi nesse momento que ela chegou e conversou?

Maria: Nesse momento e teve na sala que eles falaram quando estava todo mundo

junto.

Pesquisadora: O que eles falaram na sala?

Maria: Falaram sobre o NAPNE, o que era, como funcionava, só. Depois eles me

chamaram para conversar sozinha.

Pesquisadora: Para perguntar se você tinha alguma dificuldade, o que você falou

para eles?

Maria: Falei que por enquanto não, só depois da cirurgia, que eu ainda não sei como

vai ser, eu nunca operei.

Pesquisadora: E como que é a sua relação com o NAPNE? Franklyn: Com?

Pesquisadora: NAPNE, você conhece o NAPNE? Franklyn: É a assistência de aluno deficiente, não é? Pesquisadora: Isso, que é o Thiago, o coordenador.

Franklyn: Ah, ele é gente boa, nós brincamos muito, a gente brinca tipo assim, a

gente fica “zuando” o time do outro, muito legal.

Pesquisadora: E assim, tudo o que você precisa você recorre ao Thiago, aí?

Franklyn: É, eu sempre peço para ele, por exemplo, o professor imprimiu o texto, eu

peço para ele mandar o texto no e-mail, porque para mim estudar o texto é mais fácil, demora menos, aí eu peço para ele enviar por e-mail ou passar no pen-drive, mas na sala assim quando eu venho, eu venho no braile mesmo, só quando eu nunca li, mas quando for ler com a turma toda, não sei se eu leio no braile ou no computador.

Pesquisadora: Então é quando você achou que o professor poderia fazer de outra

forma, mas não fez, aí você fala com o Thiago para ele intervir com esse professor?

Franklyn: É, é que eu não falo para o professor que é melhor passar no pen-drive, eu

Thiago e ele me manda”, não tem problema imprimir, eu leio de qualquer jeito, e imprimindo para uma prova é mais fácil para estudar. E quando é seminário, eu costumo decorar os textos.

Acreditamos que a falta de conhecimento do NAPNE pelos alunos se deve à ausência de atividades executadas por esse núcleo ou então à falta de divulgação ou esclarecimento das suas ações, pois muitos alunos comentam que contam com o apoio da pedagoga, da psicóloga do IFPR, que muitas vezes fazem parte do NAPNE, ou seja, apesar do NAPNE não ser conhecido pelos alunos PAEE, estes são assistidos pelo núcleo, mas não sabem, pois quem compõe o NAPNE e a equipe pedagógica muitas vezes pertencem à mesma equipe.

Pesquisadora: E você sabe do NAPNE, tem conhecimento do NAPNE? João: Eu não sei o que é.

Pesquisadora: O NAPNE é um núcleo de atendimento a pessoas com necessidades

educacionais específicas. Assim, que normalmente a psicóloga faz parte, a pedagoga faz parte.

João: Eu não sabia, mas já devo ter tido contato sem saber, provavelmente.

Pesquisadora: Essa equipe já chegou, já conversou com você, perguntou se você

precisava de algo?

João: Já, já, a psicóloga mesmo já veio ver como eu estava várias vezes. Pesquisadora: Mas foi ela que te procurou ou foi você?

João: Ela que me procurou. Porque na verdade, digamos assim, eu tenho Asperger,

mas eu consigo contornar muitas coisas que me atrapalham o suficiente para “não, eu não posso fazer isso aqui”. São poucas coisas que, igual já me fez passar mal por eu ter muita dificuldade.

Pesquisadora: E como é a sua relação com o NAPNE? Thiago: O que é?

Pesquisadora: O NAPNE, você sabe o que é? Thiago: Não.

Pesquisadora: O NAPNE é um núcleo de atendimento que dá todo o apoio a alunos

que têm alguma necessidade específica, nunca tiveram nenhum contato com você?

Thiago: Não.

Pesquisadora: Te chamaram para conversar? Thiago: Não.

Pesquisadora: A Aline, você sabe quem é a Aline aqui? Thiago: A psicóloga?

Pesquisadora: Tem a psicóloga também. Elas fazem parte do NAPNE. Thiago: Só conversei com a psicóloga uma vez.

Pesquisadora: Porque você quis ou ela te chamou? Thiago: Ela me chamou.

Pesquisadora: E foi boa a conversa, te ajudou?

Thiago: Foi, mas na verdade, ela só perguntou sobre o IF assim, essas coisas. Pesquisadora: Então, você não teve contato com o NAPNE, nem conhece? Thiago: Eu nem sabia o que significava. Nunca tinha ouvido falar.

Julia desconhecia o NAPNE, porém fotografou a porta da Seção Pedagógica (Foto 10) como representando algo bom na sua vida e algo bom na escola, pois lá é onde encontra a intérprete de LIBRAS.

Foto 10 – Pesquisa de Campo, 2016.

Julia: A foto é boa, porque a intérprete de LIBRAS está lá, as pessoas da sala

pedagógica também fazem um atendimento bom, estão aprendendo um pouco de LIBRAS, as vezes eles já falam “oi, tudo bem?”.

O relacionamento com o NAPNE revelou-se preocupante, visto que muitos alunos e professores não sabem da existência e da funcionalidade do núcleo. Pela fala dos alunos, percebemos que eles possuem contato com o intérprete de LIBRAS, pedagoga e psicóloga, que são profissionais que fazem parte da equipe pedagógica, segundo regimento do IFPR.

Para esclarecimento, o NAPNE deve ser obrigatoriamente constituído por um coordenador, nomeado pelo diretor do campus, porém o NAPNE pode funcionar apenas com o coordenador ou então, como o mais correto, além do coordenador, ser composto por outros participantes como alunos, professores e técnicos administrativos. Durante a coleta dos dados em que tivemos contato com os NAPNEs de cada campi, pudemos perceber que as pessoas que compõem o NAPNE são as mesmas pessoas que compõem a equipe pedagógica do campus e, normalmente, o coordenador do NAPNE é o intérprete de LIBRAS. Assim, acreditamos que até os próprios profissionais envolvidos se confundam sobre as ações que estão desenvolvendo, ou seja, se estão atuando pelo NAPNE ou como equipe pedagógica. Algo que pode contribuir ainda mais para essa confusão é o fato de não existir um local próprio do NAPNE, ou seja, um local que sirva de referência para os alunos PAEE procurarem quando precisarem, como podemos analisar pela foto tirada pela Julia, que registrou a porta da seção pedagógica para representar a importância da intérprete de LIBRAS para ela, no caso, a acessibilidade. Apesar dessa confusão percebemos que a atuação do NAPNE no desenvolvimento de ações inclusivas é mínima, pois foram poucos os alunos que relataram sobre atividades relacionadas à inclusão. O que podemos registrar no que se refere

ao NAPNE e seu relacionamento com os alunos são as ações desenvolvidas pela pedagoga e psicóloga que conversam com os alunos e os orientam sobre as suas dificuldades. Já os intérpretes de LIBRAS são considerados pelos alunos surdos um forte ponto de apoio, existindo até mesmo uma grande dependência dos alunos por esse profissional.

Apesar de muitos professores não saberem da existência do núcleo, este também é representado para os professores pela equipe pedagógica. Os professores consideram que seria o relacionamento de maior vínculo dos alunos PAEE dentro da instituição, pois o intérprete de LIBRAS e as pedagogas são vistos como suportes para os quais os alunos recorrem quando encontram alguma dificuldade relacionada à escola. A presença de um vínculo maior dos alunos PAEE com o intérprete de LIBRAS e as pedagogas pode ser relacionada com a ideia apresentada por Catusso (2007) sobre o ―tutor da resiliência‖, que seria a pessoa responsável por potencializar as capacidades dos alunos, oferecendo suporte para a compreensão e superação das adversidades.

Dessa forma, pela fala dos professores e alunos, percebemos que a maioria dos relacionamentos que os alunos PAEE possuem no IFPR são baseados em assuntos escolares, ou seja, apoio e suporte para a aprendizagem. Um fator que consideramos que pode ter interferido nessa análise do relacionamento dos alunos com seus professores, colegas de classe e NAPNE é o pouco tempo de convivência entre eles, pois a maioria dos alunos entrevistados tinha menos de 6 meses de convivência, o que provavelmente impossibilita o desenvolvimento de uma relação mais íntima.

Apesar da maioria das ações inclusivas descritas na tensão relacionamentos serem promovidas pelos professores, equipe pedagógica e intérprete de LIBRAS, adquirindo uma dimensão mais pessoal (pelo interesse dos profissionais) do que institucional, para Sousa (2008), o fato de as relações existentes no ambiente escolar estimularem interações que contribuam para o sucesso dos alunos, estimulando-os a se sentirem capazes, auxilia o aluno a encontrar formas de superar suas dificuldades. Assim, as relações vividas pelos alunos PAEE no âmbito escolar contribuem para o processo de resiliência, pois apesar de alguns relacionamentos se referirem apenas ao contato para as atividades escolares, esses relacionamentos fazem os alunos se sentirem bem, valorizados pelas suas potencialidades e não excluídos pela sua deficiência, fazendo com que passem a confiar mais em si mesmos. Somente para alguns alunos surdos, a impossibilidade de se comunicar com os ouvintes, sejam os colegas de classe ou os professores, pode ser um fator de risco para o seu desenvolvimento, porém esses alunos encontram no intérprete de LIBRAS um relacionamento como ponto de apoio e suporte.

5.5 Identidade

Para Ungar et al. (2007) esta tensão está relacionada à capacidade do sujeito de reconhecer suas habilidades e limitações por meio de interações intrapessoais e interpessoais. Buscamos identificar as ações institucionais que contribuíam para que os alunos PAEE desenvolvessem uma identidade positiva.