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Pesquisas por Continente

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO

O objetivo de entrevistar os professores que desenvolviam atividades com os alunos PAEE considerados em processo de resiliência, bem como estes alunos, foi verificarmos a percepção de ambos os grupos sobre as ações de inclusão desenvolvidas no IFPR. A partir das ações de inclusão citadas pelos professores e alunos, buscamos categorizá-las dentro da abordagem socioecológica.

5.1 Acesso a recursos materiais

Nesta categoria analisamos os recursos que foram citados pelos professores e pelos alunos PAEE como meios que contribuem para a acessibilidade no espaço escolar. Por acessibilidade, entendemos como a quebra de barreira ou qualquer entrave ou obstáculo que limite ou impeça o acesso, a liberdade de movimento, a circulação com segurança e a possibilidade de as pessoas se comunicarem ou terem acesso à informação (BRASIL, 2004). Como na pesquisa de Didkowsky et al. (2010), que estudaram processos de resiliência em adolescentes em situação de risco, além das estruturas físicas, os serviços oferecidos pela comunidade também foram enquadrados como meios que permitiam o acesso aos recursos materiais. Assim, nesta pesquisa, além dos recursos físicos, também levamos em consideração os recursos humanos e os atendimentos ofertados que oportunizavam a acessibilidade aos alunos PAEE.

5.1.1 Infraestrutura: acessibilidade física e adequação/organização do espaço

Verificamos que os principais recursos citados pelos professores dizem respeito à infraestrutura das construções, como rampas de acesso, elevadores, banheiros adaptados, enfim, relativo à locomoção de pessoas com deficiência.

PU1: Então, assim, é bem tranquilo com relação à locomoção aqui nos blocos, têm as

rampas, o acesso é fácil, os banheiros também são bem tranquilos para acessar, tem a escada ali para subir o bloco, mas também dá para ir aqui pela rampa, e subir também tem o elevador. Então eu acho que a questão da acessibilidade para esses alunos (Fabio e Zé) não tem dificuldade, mas se tivesse algum aluno cadeirante, deficiente visual, eu acho que eles conseguiriam tranquilamente lidar aqui no prédio.

PJ1: Eu percebo que a gente tem uma estrutura fisicamente boa aqui, né, nós temos

todos os Institutos. Tem rampas de acessibilidade relativamente em todos os locais, lá nós temos um elevador, no bloco dos professores tem um elevador, funciona e tal.

PL3: A acessibilidade a essa unidade do campus Londrina, que é a unidade Dom

Bosco, ela é melhor. A gente observa, falta uma rampa de acesso na calçada, o que nós temos é um improviso, mas nós temos um acesso fácil à entrada do prédio, nós temos um acesso fácil aos andares, embora seja um prédio com três andares, nós temos um elevador que dificilmente fica parado, nunca aconteceu de termos que transportar um aluno com deficiência porque o elevador não estava funcionando, e um acesso às salas de aula também simples.

Como a deficiência física de locomoção exige adequações estruturais mais visíveis, os professores consideram que, por elas existirem, o IFPR possui uma estrutura adequada, porém muito ainda precisa ser melhorado com relação às outras deficiências. Na perspectiva dos professores, apesar de ainda não ser o ideal, o Instituto oferece melhores condições de infraestrutura quando comparadas às oferecidas por outras instituições escolares.

PTB1: A impressão que eu tenho é que o Instituto está no meio do caminho, acima da

média na maior parte das instituições de ensino tanto particulares quanto públicas, pelo menos as que eu tive acesso. Mas ainda precisa caminhar um tanto para ter uma acessibilidade mais completa, por exemplo, pensando em acessibilidade física. O campus aqui, em relação à cidade como um todo e outras instituições de ensino, parece bastante acessível para cadeirantes. Por exemplo, temos rampas, elevadores e tudo mais, mas ao mesmo tempo, por exemplo, existem alguns detalhes que acabam faltando, nós acabamos pecando em alguns detalhes, apesar desse prédio aqui ser novo, quando a gente fala de deficiência visual principalmente. As escadas têm um marcador de início e fim, esse marcador está solto, algumas coisinhas às vezes acabam por faltar, talvez algum tipo de piso tátil dentro dos prédios. Nossa estrutura aqui ainda me parece ... a impressão que eu tenho que poderia ser um pouquinho melhor, existe o elemento ali, mas de repente ele está solto, quer dizer, como nós não temos alunos com deficiência visual grave, isso não chega a ser prejudicial para quem já está aqui, mas talvez até desestimule quem não está aqui, que talvez pense em vir para cá ou quando essa pessoa chegar, nós não estaremos prontos mesmo. A mesma coisa com alguns outros recursos possíveis que nós poderíamos ter, mas ao mesmo tempo nós temos o piso tátil na área externa principalmente, temos vários professores e funcionários que tiveram contato já com pessoas com necessidades especiais diversas, então existe alguma troca de experiência que poderia ser mais ampla, mais divulgada, mas ela existe, está acontecendo. Os recursos físicos da instituição, mesmo para alunos que a princípio não têm nenhuma necessidade especial, tão completos ou razoavelmente completos, o que permite também que nós usemos eles para fazer adaptações, então, por exemplo, nós temos projetores a princípio todos funcionando ou a grande maioria funcionando, então quando nós precisamos adaptar alguma coisa, nós podemos fazer isso com uma certa flexibilidade. Então a impressão que eu tenho que nós estamos no meio do caminho, entre aquilo que pode ser, e aquilo que a média é, que está muito abaixo do que é ideal. Mas é isso, a gente está no meio do caminho, acho que podemos melhorar todas as áreas, mas ao mesmo tempo com relação às demais instituições que eu tive contato até hoje, nós estamos num ponto

muito melhor, tanto que aqueles que necessitam de algum tipo de adaptação, que eu tive contato e vi, tiveram pelo menos algumas das suas necessidades atendidas.

PL1: Acessibilidade física, nós temos o elevador, o jardim pode ser que não é a

melhor entrada, mas dentro aqui do Instituto eu percebo que tem coisas para melhorar, bastante. Mas foi ofertada bastante coisa para eles, não vi isso em nenhuma outra escola.

Dessa forma, no que diz respeito à infraestrutura do IFPR, para os professores os alunos com dificuldades de locomoção enfrentariam menos problemas. Para Schmidt et al. (2007) os componentes objetivos (bens materiais concretos) são importantes para a manutenção da qualidade de vida de pessoas com deficiência, como no caso da incapacidade de mobilidade, no qual a acessibilidade física e estrutural contribuem para a qualidade de vida destas pessoas. Com relação às outras deficiências estudadas e que também necessitariam de adequações estruturais, como a deficiência visual e auditiva, os professores não fazem citações e, quando o fazem, é para criticar, pois não estão atendendo adequadamente aos alunos, o que poderia ser um indicador de risco.

Situação que foi apontada pela aluna Julia, surda, que sente falta de uma estrutura mais adequada para suas necessidades, como um sinal de intervalo visual, pois atualmente o sinal de intervalo é sonoro.

Julia: A principal é a intérprete, o uso de legendas. Aqui na cantina, por exemplo, tem

uma televisão e ela não tem legenda. E os alunos ouvintes, eles ouvem o sinal bater, mas como eu vou saber que o sinal está tocando?

Já os demais alunos apresentaram a questão da acessibilidade estrutural ligada à adequação ou organização do espaço físico, como apontadas por Maria, aluna com raquitismo, que apesar de conseguir fazer uso das escadas para se deslocar à sua sala de aula e do prédio contar com elevador, os professores e a equipe pedagógica preferiram transferir sua sala do primeiro andar para o térreo, em decorrência de uma futura cirurgia que a aluna faria e que, durante o tempo da recuperação, não poderia subir escadas.

Maria: Até agora está tudo bem. A sala era em cima, aí tem eu e mais uma menina

que também tem deficiência, daí eles passaram para baixo. Aí ficou melhor.

Pesquisadora: Qual seria a sua dificuldade se fosse lá em cima? Maria: É que eu vou fazer cirurgia.

Pesquisadora: Aí vai ficar difícil? Maria: Para subir as escadas.

A questão da adequação do espaço para o aluno Franklyn, cego, que faz uso do piso tátil presente na área externa do IFPR, e consegue de deslocar com tranquilidade, porém encontra certa dificuldade em conseguir diferenciar à disposição de entrada e saída do prédio, pois na área interna dos prédios não há o piso tátil. Mas é uma situação que o aluno não enxerga como risco.

Franklyn: Olha aqui no campus, tipo, ali fora tem o piso tátil, lá dentro, não. Aqui

tipo é bem legal, eu conheço bastante coisa já, a única coisa que eu me confundo é que às vezes, quando eu vou sair ali, eu não sei qual lado é a frente e qual lado é atrás, porque tem porta dos dois lados. Aí a porta que sai para o estacionamento é a da frente.

Outra aluna que necessitava de adequações estruturais foi a Catarina, aluna com mielomeningocele que, devido ao seu problema na bexiga, precisava constantemente ir ao banheiro. Assim, tratava-se mais de uma questão organizacional, razão pela qual a equipe pedagógica comunicou os professores, alertando-os sobre a necessidade da aluna constantemente ir ao banheiro e dispôs a aluna em uma sala de aula próxima ao banheiro, como também colocou a aluna sentada próxima à saída da sala.

Catarina: Ah, eu acho bom, porque, tipo, eu sou permitida a sair para ir ao banheiro

quando eu precisar e eu sento do lado da porta, sempre me colocam do lado da porta para ficar mais fácil de eu ir ao banheiro e, tipo, a sala do primeiro ano é aqui e tem um banheiro aqui (fica próximo). E também para o Willian, eu vou falar por ele, porque, tipo, eu acho muito bom, ele tem problema na visão, né, e daí tem que, eu não sei como fala, ampliar as letras e tal, isso eu acho bom, tipo, todo mundo respeita e tal, e até zoam quando você chamou eu e ele "aaah, Catarina e Willian" e, tipo, eu acho bem interessante, tipo, a acessibilidade para deficientes, tipo, eu não sei falar disso.

Pesquisadora: O que você precisa seria sentar mais próximo da saída?

Catarina: Sim, se bem que eu não estou precisando tanto, mas é bom, sempre

bom.

Pesquisadora: E foi você que pediu para sentar nesse local?

Catarina: Tipo, a minha mãe conversou com a pedagoga, e a pedagoga conversou

com os professores. O Jefferson (Coordenador de Curso), que ele é... antes era o Reinaldo, daí agora que é o Jefferson, que fez o mapeamento, me colocou na porta. Eu sou míope, então fica meio ruim de enxergar, mas aí vai mais para trás e eu consigo enxergar. Aí eu estou na primeira fileira, sou míope, esqueci meus óculos e fica fácil para eu ir ao banheiro.

Na visão dos alunos, a infraestrutura atendeparcialmente. No caso das deficiências de locomoção, como da aluna Maria, raquitismo, suas necessidades foram contempladas, pois o prédio da instituição possuía elevador, mas ainda assim os professores e equipe pedagógica

preferiram transferir a sala da aluna do primeiro andar para o térreo. Já para o aluno Franklyn, cego, o IFPR disponibiliza o piso tátil na área externa, porém esse recurso não existe nas áreas internas dos prédios, atendendo parcialmente a suas necessidades, mas não consideramos isso como um fator de risco, pois para o aluno isso é indiferente, não o atinge. Para Julia, surda, falta um sinal visual, pois atualmente somente os ouvintes sabem a hora do início e fim das atividades. Já as demais deficiências atendidas no IFPR não exigem em si adequações estruturais, apesar de Cardoso e Sacomori (2014) e Domellof et al. (2014) consideraram que o processo de resiliência é influenciado pelo tipo de deficiência, no qual para esses autores a deficiência intelectual e de locomoção exigem maiores recursos de inclusão por serem mais perceptíveis e com isso sofrerem mais atos de exclusão, concordam que a configuração cultural para a inclusão e o tipo de suporte ofertado devem contribuir para o processo de resiliência de todos os tipos de deficiência.

Ainda com relação ao espaço físico, pela análise das fotografias, a biblioteca do IFPR apareceu nos registros de quatro alunos. Desses alunos, três consideraram a foto como representando algo que mais gostam na escola, pois Julia (Foto 1), Catarina (Foto 2) e Franklyn (Foto 3) consideram um espaço em que podem fazer as leituras, estudar e pesquisar, ou seja, um espaço que oferece acessibilidade a eles, pois o Franklyn tem acesso a alguns livros da biblioteca em braile ou então tem a disponibilidade de baixar o exemplar digital do livro.

Foto 1 – Pesquisa de Campo, 2016.

Julia: Um dos lugares que eu mais gosto de ficar aqui no instituto, faço a leitura dos

livros, é um lugar calmo, é um lugar que eu posso estudar melhor.