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Administração dos bens e dívidas 121

CAPÍTULO 3 – REGIME LEGAL: estudo sobre a opção legislativa 90

8.   Administração dos bens e dívidas 121

O Código Civil de 1916, artigo 274236, dispunha sobre a administração dos bens do casal. Ao marido competia a responsabilidade de gerir os bens e                                                                                                                

234

Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002, artigo 97. 235

R. Limongi França (Professor coordenador). Enciclopédia saraiva do direito, cit., vol. 38, p. 446.

quitar as dívidas. Os bens particulares da esposa respondiam pelas contas na medida do proveito obtido.

O marido era o chefe da sociedade conjugal e por esse motivo ganhava o direito de administraçãodos bens. Esse posicionamento permaneceu até a entrada em vigor da Constituição Federal de 05 de outubro de 1988.

Atualmente, cabe tanto ao marido quanto à mulher, igualmente, a administração dos bens comuns.237 Quando aos particulares, cada cônjuge é responsável pela sua respectiva porção, salvo convenção em contrário no pacto antenupcial.

No que tange às dívidas contraídas na administração do monte comum, serão estas pagas com os próprios bens do casal e com os particulares. Primeiramente serão requisitados os bens comuns, não sendo suficientes, os bens particulares do cônjuge administrador arcarão com os haveres. Por fim, os bens particulares do outro cônjuge pagarão na proporção do proveito por este auferido.238

Assim coloca WASHINGTON DE BARROS MONTEIRO, “se o cônjuge, como administrador dos bens comuns, contrai dívidas, respondem por elas, primeiramente, os bens comuns e os bens particulares do administrador, e,

                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                          236

Lei n o. 3.071, de 1o. de janeiro de 1916, artigo 274 – “A administração dos bens do casal compete ao marido, e as dívidas por este contraídas obrigam, não só os bens comuns, senão ainda, em falta destes, os particulares de um e outro cônjuge, na razão do proveito que cada qual houver lucrado.”

237

Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002, artigo 1663 – “A administração do patrimônio comum compete a qualquer dos cônjuges.”

238

Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002, artigo 1663, §1o. – “As dívidas contraídas no exercício da administração obrigam os bens comuns e particulares do cônjuge que os administra, e os do outro na razão do proveito que houver auferido.”

somente esgotados estes, os do outro, na razão do proveito que houver auferido”.239

Nenhum dos cônjuges poderá, sem autorização do outro, realizar atos a título gratuito que impliquem cessão do uso ou gozo dos bens comuns. É o que se depreende do artigo 1663, §2o.240, cumulado com o artigo 1647241, ambos do Código Civil de 2002.

Ainda nesse sentido, “a administração dos bens comuns cabe naturalmente a qualquer dos cônjuges, mas será necessária a anuência de ambos para a prática de atos que impliquem, a título gratuito, a cessão, do uso ou gozo dos bens comuns (CC, artigo 1663, §2o.), pois, poderá tal cessão repercutir negativamente no patrimônio do casal, evitando-se, assim, algum dano ao outro, advindo da gerência de um deles, diminuindo os riscos de negócio feito gratuitamente. Por isso, se ambos anuírem na cessão gratuita, suportarão juntos, e com consciência, os eventuais prejuízos”.242

Exemplificando essa situação, “não será válido o comodato de um imóvel do casal a terceiro, se ambos os cônjuges não acordarem a esse respeito. O negócio com a omissão da outorga conjugal será, portanto, anulável”.243

                                                                                                                239

Washington de Barros Monteiro. Curso de direito civil, cit., p. 214.

240 Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002, artigo 1663, §2o. – “A anuência de ambos os cônjuges é necessária para os atos, a título gratuito, que impliquem cessão do uso ou gozo dos bens comuns.”

241

Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002, artigo 1647 – “Ressalvado o disposto no art. 1.648, nenhum dos cônjuges pode, sem autorização do outro, exceto no regime da separação absoluta: I - alienar ou gravar de ônus real os bens imóveis; II - pleitear, como autor ou réu, acerca desses bens ou direitos; III - prestar fiança ou aval; IV - fazer doação, não sendo remuneratória, de bens comuns, ou dos que possam integrar futura meação.”

242

Maria Helena Diniz. Curso de direito civil, cit., p. 171. 243

Havendo malversação dos bens constituintes do patrimônio comum do casal, poderá ser feito pedido motivado ao juiz para que a administração dos bens passe às mãos do cônjuge prejudicado.

Malversação significa dizer má administração dos bens ou dilapidação deles. Devemos lembrar que “se um dos cônjuges ocasionar prejuízo ao outro em sede de administração de bens, ficará obrigado a reparar o dano, nos termos gerais do artigo 186 (antigo artigo 159), independente de aspectos que possam gerar indenização com a ruptura do vínculo do casamento”.244

Esse panorama configura causa para alteração do regime de bens. Ressalve-se que para essa hipótese será necessária concordância de ambos os cônjuges.245

A sociedade conjugal será mantida pelos bens da comunhão. Serão estes responsáveis pelos encargos da família, pelas despesas de administração e pelas dívidas decorrentes de imposição legal.246

Desse modo, “havendo dúvida, o gestor que as contrair terá de dar prova da respectiva causa, sob pena de responder com seus bens particulares”.247

                                                                                                                244

Silvio de Salvo Venosa. Direito civil, cit., p. 354. 245

Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002, artigo 1639 – “É lícito aos nubentes, antes de celebrado o casamento, estipular, quanto aos seus bens, o que lhes aprouver. §2o É admissível alteração do regime de bens, mediante autorização judicial em pedido motivado de ambos os cônjuges, apurada a procedência das razões invocadas e ressalvados os direitos de terceiros.” 246

Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002, artigo 1664 – “Os bens da comunhão respondem

pelas obrigações contraídas pelo marido ou pela mulher para atender aos encargos da família, às despesas de administração e às decorrentes de imposição legal.”

247

Para finalizar, qualquer dívida contraída em função dos bens particulares não obrigará os bens comuns. O inverso, contudo, não é verdadeiro, pois o que se deve preservar sempre é o patrimônio comum do casal.248

Dessa maneira, “sendo os patrimônios separados, as dívidas que cada um dos cônjuges contrair na sua administração não se comunicam. Os bens comuns não respondem por elas, nem os do outro cônjuge. Há, todavia, que distinguir entre as dívidas contraídas no interesse do casal, e as que beneficiarem o acervo particular do cônjuge que as contraiu. Pelas primeiras, respondem os bens comuns; pelas outras, não”.249