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Bens comunicáveis ou aquestos 118

CAPÍTULO 3 – REGIME LEGAL: estudo sobre a opção legislativa 90

7.   Bens comunicáveis ou aquestos 118

Há casos que o fato concreto pode deixar dúvida aos cônjuges se determinado bem integrará ou não os aquestos. O artigo 1660 pretendeu minimizar essa celeuma e tratou de algumas hipóteses expressamente.

I. “Os bens adquiridos na constância do casamento por título oneroso, ainda que só em nome de um dos cônjuges”.

Esses bens entram na comunhão por terem sido adquiridos através de esforço mútuo. O fato do bem estar registrado em nome de apenas um dos cônjuges não anula a conquista comum.

A comprovação se faz pelo registro do título, que se estiver datado posteriormente ao casamento e na falta de pacto antenupcial que o ressalve, integrará os aquestos.

Quanto aos bens móveis, estabelece o artigo 1662, do Código Civil de 2002227, presumem-se adquiridos na constância do casamento, desde que não se prove que foram adquiridos em data anterior.

Será, nesse caso, presunção iuris tantum e por isso poderá ser relativizada pela apresentação da nota de compra do produto onde constar a data em que foi adquirido. Outra hipótese de não comunhão dos bens móveis será por ressalva no instrumento de pacto antenupcial.

                                                                                                                227

Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002, artigo1662 – “No regime da comunhão parcial,

presumem-se adquiridos na constância do casamento os bens móveis, quando não se provar que o foram em data anterior.”

II. “Os bens adquiridos por fato eventual, com ou sem concurso de trabalho ou despesa anterior”.

Boa parte da doutrina quando pensa em fato eventual refere-se a loteria, prêmio de jogo, rifa, etc. Havendo ganho de prêmio lotérico ou qualquer outro durante a constância da sociedade marital, a ambos pertencerá o lucro, mesmo que apenas um tenha comprado o bilhete e com seu dinheiro próprio.

O que dizer, contudo, de uma acessão. Ensina PONTES DE MIRANDA que “não podemos incluir qualquer acessão como aquisição por fato eventual (...). Se o bem é particular, a acessão também no é”.228 Assim, o álveo abandonado pertencerá aos proprietários dos terrenos ribeirinhos. E, sendo esse terreno de propriedade reservada do cônjuge, em nada terá direito o outro sobre o acréscimo de terras, ainda que expressivo.

Em sentido contrário MARIA HELENA DINIZ, explica em seu Curso de direito civil que para evitar o enriquecimento indevido as acessões devem pertencer ao patrimônio comunicável. Assim, “o mesmo se diga das acessões (semeadura, plantações e construção) que também são acréscimos (alteração da redação do inciso IV do artigo 1660 a ser feita pelo PL n. 276/2007 – tal proposta, enquanto contida no PL n. 6.960/2002 – atual PL n. 276/2007 -, foi rejeitada porque “a acessão já está prevista no inciso II do mesmo artigo, quando diz que entram na comunhão os bens adquiridos por fato eventual, com ou sem concurso de trabalho ou despesa anterior”)”.229

III. “Os bens adquiridos por doação, herança ou legado, em favor de ambos os cônjuges”.

                                                                                                                228

Francisco Cavalcanti Pontes de Miranda. Tratado de direito privado, cit., p. 334. 229

É certo que na doação haverá documento com a vontade expressa do doador. Dessa forma também, na herança e no legado deverá existir testamento, em qualquer de suas formas, que disponha sobre a vontade do de cujus, no sentido de que o patrimônio herdado alcançará marido e mulher.

Na falta de manifestação de vontade expressa, a regra geral é a contida no inciso I, do artigo 1659, do Código Civil de 2002230, em que os bens doados ou herdados serão incomunicáveis.

Na hipótese de doação, quando esta for feita a mais de uma pessoa, não sendo indicada a quota que cada um receberá, entende-se distribuído o bem por igual entre elas.231 Caso os donatários sejam marido e mulher, na falta de qualquer deles o outro receberá a doação integralmente.232

IV. “As benfeitorias em bens particulares de cada cônjuge”.

Extrai-se das linhas do artigo 96, do Código Civil de 2002, o conceito de benfeitorias. Elas estão divididas em três classes a saber: voluptuárias são “as de mero deleite ou recreio, que não aumentam o uso habitual do bem, ainda que o tornem mais agradável ou sejam de elevado valor”; úteis são “as que aumentam ou facilitam o uso do bem”; necessárias são “as que têm por fim conservar o bem ou evitar que se deteriore”.233

                                                                                                                230

Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002, artigo1659 – “Excluem-se da comunhão: I - os

bens que cada cônjuge possuir ao casar, e os que lhe sobrevierem, na constância do casamento, por doação ou sucessão, e os sub-rogados em seu lugar;”

231

Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002, artigo 551 – “Salvo declaração em contrário, a doação em comum a mais de uma pessoa entende-se distribuída entre elas por igual.”

232

Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002, artigo 551, parágrafo único – “Se os donatários, em tal caso, forem marido e mulher, subsistirá na totalidade a doação para o cônjuge sobrevivo.”

233

O artigo 97, no entanto, não considera benfeitorias “os melhoramentos ou acréscimos sobrevindos ao bem sem a intervenção do proprietário, possuidor ou detentor”.234

É mais do que compreensível que tudo que for conseguido com esforço mútuo faça parte dos bens comuns. Há que se evitar a todo custo, o enriquecimento sem causa de alguma das partes, pois que sendo o casamento um contrato, tornar-se-ia leonino.

V. “Os frutos dos bens comuns, ou dos particulares de cada cônjuge, percebidos na constância do casamento, ou pendentes ao tempo de cessar a comunhão”.

Podemos conceituar frutos como “os proveitos, vantagens ou utilidades, produzidos periodicamente pela coisa frugífera”.235

Aqui, independe se a coisa frugífera pertence a apenas um dos cônjuges ou a ambos. Conta-se somente se os frutos foram percebidos ou estão pendentes. O inciso foi bastante claro ao nomear que os frutos poderiam advir de bens comuns ou bens particulares.