• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO 2 – REGIMES DE BENS: NOÇÕES GERAIS 38

1.   Regimes existentes no sistema pátrio 38

1.4   Comunhão parcial de bens 57

Desde o advento da Lei n. 6.515 de 26 de dezembro de 1977, o regime da comunhão parcial de bens passou a ser o subsidiário da vontade das partes. Especificamente, “trata-se de um regime misto, formado em parte pelo da comunhão universal e em parte pelo da separação”.107

A ideia de um regime imposto não é a mais completa, pois os nubentes podem escolher expressamente, inclusive por pacto antenupcial, esse regime.

Temos assim a instituição expressa, aquela que ocorre da vontade manifesta das partes para opção do regime, e a instituição tácita, decorrente da ausência de pacto antenupcial ou sendo este nulo.

A segunda hipótese ocorre por disposição expressa de lei - dispositiva lex. É norma geral preterida apenas pelo regime da separação obrigatória de bens ou por escolha expressa de outro regime.

                                                                                                                106

Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002, artigo 1723, §1o. 107

Os demais regimes de bens são apenas opções à natureza contratual do casamento, sendo o regime da comunhão parcial a norma comum e ordinária sobreposta as demais quando o pacto antenupcial não a substitua ou modifique.

Na comunhão parcial haverá três massas de bens: os bens reservados do marido, os bens reservados da esposa e os bens comuns adquiridos na constância da sociedade conjugal.108

O regime em revista também “é o regime comum em Espanha (Código Civil, artigo 1401), no Chile (Código Civil, artigo 1725 e seguintes), na República Argentina (Código Civil, artigo 1262 e seguintes), etc. Também permite o Código Civil italiano (artigo 215), não como regime legal, mas apenas facultado”.109

CAIO MARIO DA SILVA PEREIRA leciona que “no direito francês, o regime legal prevê a communion d’aquêts, em que se comunicam os bens móveis e os adquiridos na constância do casamento, excluídos de toda comunicação os imóveis que os nubentes já tinham antes do matrimônio e os adquiridos posteriormente a título gratuito. No direito alemão, prevalece a denominada comunhão administrativa (Werwaltungsgemeinschaft), pela qual os bens da mulher ficam submetidos à administração usufrutuária do marido (BGB, artigo 1363), excluídos, todavia, os bens reservados (Sondergut, Vorbehalt), ou seja, os que se destinam ao uso pessoal da mulher, como roupas, ornamentos e instrumentos de trabalho (BGB, artigo 1366), bem como os que ela adquire por sua própria atividade e pela exploração independente de empresa lucrativa (BGB, artigo 1367)”.110

                                                                                                                108

Silvio de Salvo Venosa. Direito civil, cit., p. 349. 109

Francisco Cavalcanti Pontes de Miranda. Tratado de direito privado, cit., p. 331. 110

Conforme reza o Código Civil em seu artigo 1658, “no regime da comunhão parcial, comunicam-se os bens que sobrevierem ao casal, na constância do casamento, com as exceções dos artigos seguintes”.

Assim também já conceituou BEVILÁQUA “sob a denominação de comunhão parcial, o Código Civil brasileiro regula um regime, em que se comunicam somente os bens adquiridos a título oneroso, por fato eventual, as benfeitorias, e os bens doados, ou deixados a ambos os cônjuges. Os bens possuídos por cada um dos cônjuges ao casar, os adquiridos na constância do casamento a título gratuito e os sub-rogados em bens particulares, não se comunicam”.111

Dessa maneira, “a comunhão só compreende os bens que se adquiram a título oneroso na constância do casamento. É por isso que esse regime se chama da comunhão parcial, porque se limita aos adquiridos depois do casamento”.112

Consta do Código Civil de 2002, artigo 1659, os bens excluídos da comunhão. O rol elencado foi construído a partir dos artigos 269 e 270, do Código Civil de 1916, exceto os incisos III e IV do artigo 269. Assim, estão excluídos: “I - os bens que cada cônjuge possuir ao casar, e os que lhe sobrevierem, na constância do casamento, por doação ou sucessão, e os sub- rogados em seu lugar; II - os bens adquiridos com valores exclusivamente pertencentes a um dos cônjuges em sub-rogação dos bens particulares; III - as obrigações anteriores ao casamento; IV - as obrigações provenientes de atos ilícitos, salvo reversão em proveito do casal; V - os bens de uso pessoal, os livros e instrumentos de profissão; VI - os proventos do trabalho pessoal de cada                                                                                                                

111

Clóvis Beviláqua. Clássicos da literatura jurídica, cit., p. 204. 112

cônjuge; VII - as pensões, meios-soldos, montepios e outras rendas semelhantes”.

São também incomunicáveis os bens cuja aquisição tiver por título uma causa anterior ao casamento, como por exemplo a herança, é o que se extrai do artigo 1661, do Código Civil de 2002.

Por outro lado, entram na comunhão todos os bens insertos no artigo 1660, do Código Civil de 2002. A regra é que tudo que foi construído na constância do casamento, por esforço comum, está na comunhão, mas para evitar qualquer caso duvidoso, segue o rol: “I - os bens adquiridos na constância do casamento por título oneroso, ainda que só em nome de um dos cônjuges; II - os bens adquiridos por fato eventual, com ou sem o concurso de trabalho ou despesa anterior; III - os bens adquiridos por doação, herança ou legado, em favor de ambos os cônjuges; IV - as benfeitorias em bens particulares de cada cônjuge; V - os frutos dos bens comuns, ou dos particulares de cada cônjuge, percebidos na constância do casamento, ou pendentes ao tempo de cessar a comunhão”.

No que tange aos bens móveis, a data da compra é o que define se eles entrarão ou não na comunhão, pois serão excluídos os bens adquiridos em data anterior ao casamento.113 O pacto antenupcial também poderá ser usado como instrumento de prova caso os bens móveis tenham sido descritos e mencionados que sua aquisição se deu em data anterior.

A administração dos bens do casal cabe a ambos e quanto aos reservados caberá a seu respectivo titular, salvo determinação em contrário prevista no

                                                                                                                113

pacto antenupcial.114

As dívidas115 adquiridas são de responsabilidade de ambos, respondendo pelo pagamento os bens comuns.116 Maior encargo terá aquele que administrava os bens no momento de contrair a dívida, respondendo com seus bens particulares. O outro cônjuge arcará na medida do proveito que obteve.117 Quanto as dívidas advindas em virtude da administração dos bens particulares, em benefício destes, não poderão incidir sobre os bens comuns.118

O regime da comunhão parcial se finda com a morte, a nulidade ou anulação do casamento, a separação ou com o divórcio. Havendo a morte de um dos cônjuges a divisão ocorrerá partindo-se os bens comuns ao meio. O cônjuge sobrevivo será meeiro, enquanto a outra parte caberá aos herdeiros. Quanto aos bens reservados, o cônjuge supérstite herdará junto com os demais.119

Sendo nulo ou anulado o casamento, cada cônjuge retorna com seus bens como se nada tivesse acontecido. Em relação aos bens comuns haverá partilha.

                                                                                                                114

Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002, artigo 1665. 115

9173573-48.2008.8.26.0000 – Relator: J. B. Franco de Godoi – Comarca: Dracena - 23ª Câmara de Direito Privado. “PROVA - Embargos de terceiro - Mulher casada sob o regime da comunhão parcial de bens - Pretensão de excluir a constrição de veículo registrado em seu nome - Dívida contraída por seu marido para aquisição de peças utilizadas no veículo da família - Falta de prova de que não se beneficiou com a dívida, sendo seu o ônus - Aplicação do art. 333, I, do Código de Processo Civil - Embargos improcedentes - Recurso nesta parte improvido. SUCUMBÊNCIA - Honorários advocatícios - Verba honorária fixada fora da regra legal em valor excessivo Honorários reduzidos para R$ 800,00, considerando-se o trabalho despendido pelo patrono e a complexidade da causa - Recurso nesta parte provido." 116

Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002, artigo 1664. 117

Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002, artigo 1663, §1o. 118

Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002, artigo 1666. 119

Por fim, na separação e no divórcio da mesma forma os bens comuns serão partilhados e os reservados permanecerão incólumes com seu respectivo titular. Os bens incomunicáveis caberão àquele que lhes foram designados. Cada cônjuge recebe o que lhe cabe.