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Atuação do oficial de registro civil das pessoas naturais 86

CAPÍTULO 2 – REGIMES DE BENS: NOÇÕES GERAIS 38

4.   Atuação do oficial de registro civil das pessoas naturais 86

O estado civil fornece prova da situação de uma pessoa perante a família e a sociedade. Antes do século XIV essa prova era realizada basicamente por meio de testemunhas. Por exemplo, para se provar que determinada pessoa era maior, pedia-se a uma ou algumas pessoas que atestassem, segundo sabiam, a idade aproximada do outro em questão; outras vezes, bastava o aspecto físico para se julgar a idade.

Os registros escritos iniciaram por volta do século XIV, na Itália, mas o seu uso só foi generalizado no século XV e XVI, por meio do Concílio de Trento. A obrigação quanto aos registros paroquiais recaía unicamente sobre os registros de batismo e casamento, quanto aos registros de óbito só começaram no século XVII.

Os registros civis têm início a partir do século XV, sendo o mais antigo em Bolonha, datado de 1454. Em Roma, os primeiros registros são do tempo do Império e destinavam-se apenas para documentação do nascimento. 172

O imperador Marco Aurélio determinou que a função de registro seria atribuída ao prefeito do “aerarium” na “urbs” e aos magistrados municipais ou aos “tabularii” nas províncias.

A função tabelioa e registrária é muito antiga, sendo que a princípio várias pessoas a desempenhavam. Esclarece melhor o assunto BRASIL CHAVES e REZENDE: “É certo que, como todos os órgãos, os serventuários têm, além do caráter estritamente orgânico, uma função própria resultante da sua forma e do                                                                                                                

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Conf. John Gilissen. Introdução histórica ao direito. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2001.

espírito que os anima; isto é, da forma e efeito probante de seus atos e do testemunho da verdade, que é a tensão que sempre os deve animar e pela qual, como dizia CASSIODORO, eles são ‘superiores a tudo’. Tamanha, decerto, a importância atribuída a essas funções que, no Senado italiano, aduz o autor, “em um parecer da comissão presidida pelo jurisconsulto POGGI, chegou-se a afirmar que o ofício desses auxiliares da Justiça ‘contiene in sè uma delegazione del gran potere certificante, che è ínsito nell’autorità suprema dello Stato”. Quiçá esteja em Roma o berço do notariado (assim entendido como o ofício da Segurança e da Fé Pública erga omnes). Abrigando escribas das mais variadas matizes, os tabelliones (assim eram denominados porquanto escreviam seus atos em tabuletas de madeira emplatradas de cera) exercitavam, a princípio, cumulativamente com os exceptores, os actuarii e os notarii, as funções que lhes eram peculiares; e os chamados tabularii, por seu turno, como empregados fiscais, tinham a seus cargo a direção do censo, a escrituração e guarada dos registros hipotecários. De aduzir que no século VI, os imperadores Leão I e Justiniano, já, porém, reduzidos ao Oriente, voltaram os seus cuidados para a instituição de tabelionato fazendo-a contrair maior dignidade e importância. Nessa época, os tabelliones formaram uma corporação em que, por esta, eram criados outros tabelliones de reconhecida probidade e peritos na arte de dizer e escrever”.173

O especial cuidado no recolhimento e armazenamento das informações sobre a pessoa como o nascimento, o casamento, a emancipação, a interdição, a declaração de ausência e o óbito, foi contruído ao longo do tempo.

O fim buscado com o registro nos livros é a possibilidade de conhecimento da informação e a prova autêntica desta. Para o Estado, o uso das                                                                                                                

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Afonso Celso F. Rezende e Carlos Fernando Brasil Chaves. Tabelionato de notas e o

informações registradas traduz-se na adoção de medidas administrativas, de polícia ou de política jurídica.

Sob o enfoque individual, os dados apostos nos registros garantem prova do estado civil da pessoa, sua situação jurídica e a segurança dos contratos realizados por ela.

Dessa forma, deverá o oficial de registro que não informar, na periodicidade trimestral, à Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, os números de nascimentos, casamentos e óbitos registrados em sua serventia, de acordo com o preceito contido na Lei 6.015, de 31 de dezembro de 1973, artigo 49.174

Essa tabulação de dados proporciona conhecimento estatístico acerca da população, bem como as variações sazonais de cada região. Os dados oriundos da quantidade de casamentos colecionados em cada região de São Paulo, por exemplo, podem demonstrar que pessoas de baixa renda se casam mais ou se casam menos, comparados à classe média. Nesse sentido, as serventias extrajudiciais são grandes aliadas do Estado no relativo à proteção a direitos e garantias fundamentais, bem como importante auxílio na elaboração de políticas públicas.

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Lei 6.015, de 31 de dezembro de 1973, artigo 49 - “Os oficiais do registro civil remeterão à Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, dentro dos primeiros oito dias dos meses de janeiro, abril, julho e outubro de cada ano, um mapa dos nascimentos, casamentos e óbitos ocorridos no trimestre anterior. §1º - A Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística fornecerá mapas para a execução do disposto nesse artigo, podendo requisitar aos oficiais do registro que façam as correções que forem necessárias. §2º - Os oficiais que, no prazo legal, não remeterem os mapas, incorrerão na multa de um a cinco salários mínimos da região, que será cobrada como dívida ativa da União, sem prejuízo da ação penal que no caso couber”.

Essa informação certamente influenciará a forma como o governo trabalhará para atender essas novas famílias em formação, de acordo com o que cada uma necessita, seja construção de creches, seja orientação de novas políticas.

Assim, “o registro civil das pessoas naturais foi instituído, no Brasil, pela lei n. 1.829, de 9 de setembro de 1870, art. 2°, regulamentado pelo dec. n. 5.604, de 25 de abril de 1874; mas não tendo sido bem compreendidas as suas vantagens pela população, foi restabelecido pela lei n. 3.316, de 11 de junho de 1887, art. 2°, regulamentado pelo dec. n. 9.886, de 7 de março de 1888; e, na parte relativa ao casamento, pelo dec. n. 181, de 24 de janeiro de 1890”.175

O casamento sempre esteve em posição privilegiada. O resguardo de suas informações atravessou os séculos chegando aos dias atuais com um maior número de dados e riqueza de detalhes sobre a sua constituição, desempenhando, em última análise, as Serventias Extrajudiciais papel fundamental para o adequado desenvolvimento das instituições essenciais ao Estado Democrático de Direito. A partir desse histórico é que se possibilita o estudo e a atribuição dos regimes de bens.

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