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ADMINISTRATIVO – AGRAVO DE INSTRUMENTO – AÇÃO POPULAR – CONTRATO DE PATROCÍ NIO FIRMADO ENTRE A CEF E CLUBE DE FUTEBOL

No documento Revista SÍNTESE Direito Administrativo (páginas 133-140)

Tribunal Regional Federal da 4ª Região

ADMINISTRATIVO – AGRAVO DE INSTRUMENTO – AÇÃO POPULAR – CONTRATO DE PATROCÍ NIO FIRMADO ENTRE A CEF E CLUBE DE FUTEBOL

A Caixa Econômica Federal, enquanto instituição financeira organi- zada sob a forma de empresa pública federal, pode firmar contratos de patrocínio para propaganda, visando a incrementar suas atividades comerciais, sem que a publicidade daí resultante tenha de se revestir de caráter educativo, informativo ou de orientação social, sendo-lhe inaplicável a restrição contida no art. 37-§ 1º da CF/1988.

In casu, os valores controvertidos são passíveis de restituição, caso

no futuro venha a ser reconhecida a ilegalidade da contratação sub

judice, o que afasta qualquer risco de perecimento de direito.

acÓrdão

Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas, decide a Egrégia 4ª Turma do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, por unanimidade, negar provimento ao agravo de instrumento, nos termos do relatório, votos e notas taquigráficas que ficam fazendo parte integrante do presente julgado.

Desembargadora Federal Vivian Josete Pantaleão Caminha Relatora

relatÓrio

Trata-se de agravo de instrumento interposto contra decisão que, em ação popular, indeferiu pedido de concessão de liminar, para suspender qualquer pagamento referente ao contrato de patrocínio, firmando entre a Caixa Econômica Federal (CEF) e o Clube de Regatas Flamengo.

Em suas razões, o agravante alegou que, em face do caráter público do capital da CEF e das peculiaridades das funções a ela atribuídas pela le- gislação – vg, monopólio das loterias, centralização dos depósitos do FGTS, política de fomento à habitação popular, monopólio do penhor – não esta-

ria sujeita quanto à sua política publicitária, às mesmas liberdades assinadas aos privados que porventura atuem naqueles ramos em comum (serviços bancários em geral). Ao contrário, deve acatamento às regras de publicida- de assinadas aos entes estatais, previstas no § 1º do art. 37 da CF. Nesses

termos, requereu a atribuição de efeito suspensivo ao recurso e, ao final, o seu provimento.

Os agravados apresentaram contraminuta. É o relatório.

voto

Por ocasião da análise do pedido de efeito suspensivo, foi prolatada a decisão nos seguintes termos:

Decido.

Eis o teor da decisão agravada:

DECISÃO (liminar/antecipação da tutela)

Trata-se de ação popular em que a parte autora objetiva provimento judicial liminar que suspenda qualquer pagamento resultante do contrato de patrocí- nio estabelecido entre os réus Caixa Econômica Federal e Clube de Regatas Flamengo.

Insurgiu-se o autor contra a referida contratação por reputá-la ilegal e lesiva ao patrimônio da União. Sustentou, em síntese, que a ré Caixa Econômica Federal, no que respeita a sua publicidade oficial, deve seguir unicamente

o disposto no art. 37, § 1º, da Constituição Federal, de caráter educativo, informativo, ou de orientação social.

O exame do pedido liminar foi adiado para após a apresentação das contes- tações (evento 9).

Citados, os réus apresentaram contestação (eventos 24, 25, 29 e 30), tendo a CEF requerido a atribuição de sigilo aos documentos anexos em razão de estarem ligados à sua estratégia comercial.

Com vista dos autos, o Ministério Público Federal informou que não se ma- nifestaria nesta fase do processo, requerendo posterior vista dos autos após o encerramento da instrução (evento 33).

Vieram os autos conclusos.

Inicialmente, afasto a preliminar de inépcia da inicial suscitada pela União, assim como de ausência de interesse de agir e de falta de pressuposto pro- cessual suscitadas pelos réus Caixa Econômica Federal e Clube Regatas do Flamengo. Com efeito, a inicial claramente deduz a causa de pedir e pedido, apontado como lesivo ao patrimônio público o contrato de patrocínio objeto da demanda. Da mesma forma há que se reconhecer o efetivo interesse de agir na causa, pois, embora o mencionado contrato tenha sido firmado um dia após à propositura da ação, vê-se que o autor se baseou em publicação no Diário Oficial, datada de 02.05.2013, que dava conta da contratação e da inexigibilidade de licitação. Além disso, deve ser considerado que o pacto acabou por se concretizar, estando plenamente eficaz. No que se refere aos pressupostos de legalidade e lesividade do ato, trata-se de matéria de que deverá ser enfrentada no mérito da causa.

No que se refere às preliminares de ilegitimidade passiva suscitada pelos réus Jorge Fontes Hereda e União, deverão ser objeto de melhor exame por oca- sião do julgamento definitivo da causa. Passo, assim, ao exame do pedido liminar.

A suspensão liminar do ato impugnado através de ação popular é possível, nos termos do § 4º do art. 5º da Lei nº 4.717/1965. Todavia, para tanto, é necessária a verificação dos requisitos previstos para antecipação de tutela baseada no art. 273 do CPC, devendo haver prova inequívoca dos fatos, com a verossimilhança das alegações e o fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação.

No caso em apreço, pelo menos em juízo sumário da lide, há que se reconhe- cer que a contratação atacada na inicial se encontra no âmbito de operação

comercial da Caixa Econômica Federal, não envolvendo diretamente verbas destinadas a fundos ou programas sociais, mas pertinentes à exploração da atividade econômica, autorizada pelos arts. 170 e 173, § 1º, da Constitui- ção. Assim, deverá ser objeto de melhor exame por ocasião do julgamento

definitivo da causa a matéria acerca da possibilidade ou não de ingerência do Poder Judiciário no que se refere a essa espécie de contratação. Neste aspecto, ainda, mostram-se relevantes os fundamentos constantes do parecer do Ministério Público Federal exarado nos autos do Agravo de Instrumento nº 50054425320134040000, versando sobre a mesma matéria debatida na presente demanda (evento 25, out27). Da mesma forma, vê-se que a empresa

pública ré igualmente mantém contratos de patrocínio com outros clubes de futebol profissional como declinado nas contestações.

Não fora isso, a exemplo do que restou decidido no mencionado recurso de agravo de instrumento, não se verifica risco de dano irreparável a ensejar

o deferimento do pedido liminar, na medida em que o Clube de Regatas Flamengo, previamente à contratação, apresentou certidões de regularida- de perante o fisco e manterá a contrapartida contratada de veiculação de imagens da empresa pública, mormente considerando, como defendido nas contestações, a grande quantidade de jogos transmitidos na televisão, tanto nos canais de sinal aberto como fechado.

Nessas condições, indefiro o pedido de liminar.

Defiro a atribuição de sigilo aos documentos anexos à contestação da CEF. (grifei)

Em que pese ponderáveis os argumentos apresentados pelo agravante, não há razão para, em juízo de cognição sumária, modificar a decisão agravada, que se encontra alinhada ao que, recentemente, restou decidido por esta Corte em caso em tudo semelhante ao presente, verbis:

CONSTITUCIONAL – ADMINISTRATIVO – AÇÃO POPULAR – CON- TRATO DE PATROCÍNIO FIRMADO ENTRE A CAIXA ECONÔMICA FE- DERAL E CLUBE DE FUTEBOL – MEDIDA LIMINAR DE SUSPENSÃO DOS PAGAMENTOS – PROCEDÊNCIA DO RECURSO – 1. A Caixa Eco- nômica Federal, enquanto instituição financeira organizada sob a forma de empresa pública federal, pode firmar contratos de patrocínio para pro- paganda, visando a incrementar suas atividades comerciais, sem que a publicidade daí resultante tenha de se revestir de caráter educativo, infor- mativo ou de orientação social, sendo-lhe inaplicável a restrição contida no art. 37-§ 1º da CF/1988. 2. Ausente a hipótese de periculum in mora, que consistiria no dano ao erário em razão do patrocínio firmado entre a CEF e o SCCP, já que eventual prejuízo financeiro está garantido por imóvel de valor muito superior ao valor contratado. 3. Também quanto à imagem da Caixa perante a população, a suspensão dos pagamentos em nada alterou a situação fática, visto que o clube, mesmo sem receber a contrapartida oriunda do sinalagma, continuou a exibir a logomarca da CEF em sua camiseta, já que a liminar disso não o impediu. (TRF4, 4ª T., AG 5005442-53.2013.404.0000, Rel. Des. Federal Luís Alberto

D’Azevedo Aurvalle, por maioria, vencido o relator, juntado aos autos em 30.07.2013)

Acresço a tais fundamentos que os valores ora controvertidos são passíveis de restituição, caso no futuro venha a ser reconhecida a ilegalidade da con- tratação sub judice, o que afasta qualquer risco de perecimento de direito. Pelo exposto, indefiro o pedido de atribuição de efeito suspensivo ao recurso. Intimem-se, sendo o agravado para os fins do art. 527, V, do CPC.

Em que pesem os argumentos expendidos, não vejo motivos para al- terar o posicionamento adotado, que mantenho integralmente.

Ante o exposto, voto por negar provimento ao agravo de instrumento, nos termos da fundamentação.

É o voto.

Desembargadora Federal Vivian Josete Pantaleão Caminha Relatora

voto

Quanto ao mérito da questão, em se tratando de patrocínio de clubes de futebol profissional, com recursos públicos da Caixa Econômica Federal, minha posição é conhecida e acredito tenha sido exaustivamente exposta no voto que proferi na agravo de instrumento que envolvia o patrocínio en- tre Caixa e Corinthians (processo 5004553-02.2013.404.0000/RS), em que restei vencido.

Também creio que a discussão sobre o tema não tenha ainda sido esgotada nos tribunais brasileiros, principalmente considerando o que qualquer cidadão constata quando acompanha as notícias veiculadas na imprensa, brasileira e estrangeira, sobre o futebol profissional (escândalos envolvendo grandes clubes europeus, obras inacabadas para a Copa do Mundo, estádios ainda em construção às vésperas da abertura dos jogos, atos discriminatórios de racismo nas torcidas, violência das torcidas orga- nizadas, etc.), tudo isso mostrando o quanto é incerto e arriscado empregar recursos públicos para patrocínio de clubes de futebol.

Tudo isso certamente manterá acesa e polêmica essa discussão por muito tempo, permitindo que a sociedade discuta quais são as formas mais eficazes de alocação de dinheiro público e qual a liberdade de atuação dos

dirigentes de empresas estatais, especialmente quando se trata de decidir so- bre patrocínio de específico clube de futebol e beneficiá-lo com exclusivos recursos de publicidade de empresa pública federal.

No caso concreto, envolvendo o patrocínio da Caixa ao Flamengo, ainda que a contratação seja um pouco posterior àquela contratação de patrocínio envolvendo o Corinthians, acredito que os mesmos elementos de discussão estejam presentes e serão amplamente discutidos na instrução da ação originária e nos recursos eventualmente interpostos contra a sentença que decidir aquela lide.

Entretanto, nesse momento de apreciação da liminar no agravo de instrumento, considerando as particularidades do caso concreto e os ter- mos da decisão agravada, apenas deixo registrada minha ressalva quanto ao entendimento de que tais contratos de patrocínio são livres às empresas públicas federais e a outras entidades que movimentem recursos públicos destinados a fins tão caros à população brasileira (como casa própria, FGTS, poupança popular, penhor civil, etc.), ressaltando que uma empresa pública federal não é nem pode ser tratada como se banco comercial privado fosse e que, como empresa pública federal, a Caixa está submetida aos princípios do art. 37, caput da Constituição, especialmente aqueles que dizem respeito à impessoalidade e à estrita legalidade.

Ante o exposto, voto por acompanhar a Relatora, com ressalva quan- to ao meu entendimento quanto à matéria de fundo.

É o voto.

Desembargador Federal Cândido Alfredo Silva Leal Junior Relator

eXtrato de ata da sessão de 15.04.2014

Agravo de Instrumento nº 5003282-21.2014.404.0000/RS Origem: RS 50239058320134047100

Relator: Desª Federal Vivian Josete Pantaleão Caminha Presidente: Cândido Alfredo Silva Leal Junior

Procurador: Drª Solange Mendes de Souza Agravante: Ministério Público Federal

Agravado: Caixa Econômica Federal – CEF Agravado: Clube de Regatas do Flamengo Advogado: Davi Medina Vilela

Agravado: Jorge Fontes Hereda Advogado: Marcos de Borba Kafruni

Clovis Konflanz

Agravado: União – Advocacia-Geral da União Interessado: Antonio Pani Beiriz

Advogado: Antonio Pani Beiriz

Certifico que este processo foi incluído na Pauta do dia 15.04.2014, na sequência 405, disponibilizada no DE de 02.04.2014, da qual foi intimado(a) União – Advocacia Geral da União, o Ministério Público Fede- ral e as demais Procuradorias Federais.

Certifico que o(a) 4ª Turma, ao apreciar os autos do processo em epí- grafe, em sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:

A turma, por unanimidade, decidiu negar provimento ao agravo de instru- mento, ressalvado o ponto de vista do Des. Federal Cândido Alfredo Silva Leal Junior. Voto a título de ressalva em gabinete.

Relator acórdão: Desª Federal Vivian Josete Pantaleão Caminha Votante(s): Desª Fed. Vivian Josete Pantaleão Caminha

Des. Fed. Luís Alberto D’Azevedo Aurvalle Des. Fed. Candido Alfredo Silva Leal Junior Luiz Felipe Oliveira dos Santos

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No documento Revista SÍNTESE Direito Administrativo (páginas 133-140)