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ADMINISTRATIVO – PROGRAMA “A VOZ DO BRASIL” – OBRIGATORIEDADE DE RETRANSMIS SÃO NO HORÁRIO PREVISTO EM LEI – PRECEDENTES

No documento Revista SÍNTESE Direito Administrativo (páginas 127-133)

Tribunal Regional Federal da 3ª Região

ADMINISTRATIVO – PROGRAMA “A VOZ DO BRASIL” – OBRIGATORIEDADE DE RETRANSMIS SÃO NO HORÁRIO PREVISTO EM LEI – PRECEDENTES

1. O Plenário do Supremo Tribunal Federal, ao apreciar a ADI 561-MC/DF, concluiu que a Lei nº 4.117/1962 foi recepcionada pela Constituição Federal de 1988.

2. Assim, não se reveste de ilegalidade a determinação para que em- presas de radiodifusão procedam à retransmissão diária do programa “A Voz do Brasil” no horário determinado na supracitada lei. Prece- dentes do STF.

3. Apelação e remessa oficial providas.

acÓrdão

Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas, decide a Egrégia Terceira Turma do Tribunal Regional Federal da 3ª Região, por unanimidade, dar provimento à apelação e à remessa oficial, nos termos do relatório e voto que ficam fazendo parte integrante do presente julgado.

São Paulo, 24 de abril de 2014. Ciro Brandani

relatÓrio

O Senhor Juiz Federal Convocado Ciro Brandani:

Trata-se de remessa oficial e apelação em ação de procedimento or- dinário ajuizada por Rádio Antena Jovem Ltda. em face da União Federal, visando à autorização para a autora flexibilizar o horário de reprodução do programa “Voz do Brasil”.

A r. sentença julgou procedente o pedido, para o fim de declarar o direito da autora de veicular o Programa “Voz do Brasil” em horário alter- nativo, desde que observados os demais dispositivos da Lei nº 4.177/1962 em relação à matéria. Outrossim, antecipou a tutela jurisdicional, bem como condenou a ré ao pagamento de honorários advocatícios, fixados em R$ 1.000,00 (um mil reais), nos termos do art. 20, § 4º, do Código de Pro- cesso Civil, a serem atualizados até o efetivo pagamento.

A ré apelou, sustentando a existência de previsão legal para a trans- missão da “Voz do Brasil”, bem como a ausência de violação dos direitos subjetivos da autora e da sociedade, no tocante à sua retransmissão obriga- tória em horário pré-definido. Invoca, ainda, a decisão do Supremo Tribunal Federal na ADIMC 561/DF, acerca da recepção da Lei nº 4.117/1962 pela nova ordem constitucional, alegando, ainda, a vinculação aos termos do contrato celebrado entre as partes, que prevê, dentre outros deveres do con- cessionário, a retransmissão do aludido programa.

A apelação foi recebida nos efeitos devolutivo e suspensivo, com ex- ceção da parte atinente à antecipação da tutela.

Com contrarrazões, os autos vieram a esta Corte.

A ré interpôs agravo de instrumento da r. decisão que, ao receber a apelação, deixou de dar efeito suspensivo na parte atinente à antecipação da tutela, tendo sido proferida decisão indeferindo a antecipação dos efeitos da tutela recursal (fls. 125/126).

Dispensada a revisão, na forma regimental. É o relatório.

voto

Cinge-se a matéria discutida nos presentes autos à obrigatoriedade de transmissão do programa “Voz do Brasil” no horário fixo das 19 às 20 horas de segunda a sexta-feira, determinado pela União Federal.

A autora, ora apelada, pleiteia o reconhecimento do direito de re- transmitir o aludido programa em horário alternativo, de acordo com sua programação diária.

Com efeito, o art. 38, e, da Lei nº 4.117/1962, que instituiu o Código Brasileiro de Telecomunicações, estabelece:

“Art. 38. Nas concessões, permissões ou autorizações para explorar serviços de radiodifusão, serão observados, além de outros requisitos, os seguintes preceitos e cláusulas: (Redação dada pela Lei nº 10.610, de 20.12.2002) [...]

e) as emissôras de radiodifusão, excluídas as de televisão, são obrigadas a retransmitir, diariamente, das 19 (dezenove) às 20 (vinte) horas, exceto aos sábados, domingos e feriados, o programa oficial de informações dos Pode- res da República, ficando reservados 30 (trinta) minutos para divulgação de noticiário preparado pelas duas Casas do Congresso Nacional;”

O Plenário do Supremo Tribunal Federal, ao apreciar a ADI 561-MC/DF, concluiu que a Lei nº 4.117/1962 foi recepcionada pela Constituição Federal de 1988, consoante acórdão assim ementado:

“EMENTA: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE – REGULA- MENTO DOS SERVIÇOS LIMITADOS DE TELECOMUNICAÇÕES – DECRE- TO Nº 177/1991 – ATO DE NATUREZA MERAMENTE REGULAMENTAR – DESCABIMENTO DO CONTROLE ABSTRATO DE CONSTITUCIONA- LIDADE – AÇÃO DIRETA NÃO CONHECIDA – ATO REGULAMENTAR – DESCABIMENTO DE AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE – As resoluções editadas pelo Poder Público, que veiculam regras de conteúdo meramente regulamentar, não se submetem à jurisdição constitucional de controle in abstracto, pois tais atos estatais têm por finalidade, em última análise, viabilizar, de modo direto e imediato, a própria execução da lei. A Lei nº 4.117/1962, ao reconhecer um amplo espaço de atuação regulamen- tar ao Poder Executivo (art. 7º, § 2º), outorgou-lhe condições jurídico-legais para – com o objetivo de estruturar, de empregar e de fazer atuar o Sistema Nacional de Telecomunicações – estabelecer novas especificações de cará- ter técnico, tornadas exigíveis pela evolução tecnológica dos processos de comunicação e de transmissão de símbolos, sinais, escritos, imagens, sons ou informações de qualquer natureza. Se a interpretação administrativa da lei divergir do sentido e do conteúdo da norma legal que o Decreto impugnado pretendeu regulamentar, quer porque se tenha projetado ultra legem, quer

porque tenha permanecido citra legem, quer porque tenha investido contra

legem, a questão posta em análise caracterizará típica crise de legalidade, e

não de inconstitucionalidade, a inviabilizar a utilização do mecanismo pro- cessual de fiscalização normativa abstrata. RECEPÇÃO DA LEI Nº 4.117/1962 PELA NOVA ORDEM CONSTITUCIONAL – PRESERVAÇÃO DO CONCEI- TO TÉCNICO-JURÍDICO DE TELECOMUNICAÇÕES – A Lei nº 4.117/1962, em seus aspectos básicos e essenciais, foi recebida pela Constituição promul- gada em 1988, subsistindo vigentes, em consequência, as próprias formula- ções conceituais nela enunciadas, concernentes às diversas modalidades de serviços de telecomunicações. A noção conceitual de telecomunicações – não obstante os sensíveis progressos de ordem tecnológica registrados nesse setor constitucionalmente monopolizado pela União Federal – ainda subsiste com o mesmo perfil e idêntico conteúdo, abrangendo, em consequência, todos os processos, formas e sistemas que possibilitam a transmissão, emis- são ou recepção de símbolos, caracteres, sinais, escritos, imagens, sons e informações de qualquer natureza. O conceito técnico-jurídico de serviços de telecomunicações não se alterou com o advento da nova ordem constitu- cional. Consequentemente – e à semelhança do que já ocorrera com o texto constitucional de 1967 – a vigente Carta Política recebeu, em seus aspectos essenciais, o Código Brasileiro de Telecomunicações, que, embora editado em 1962, sob a égide da Constituição de 1946, ainda configura o estatuto jurídico básico disciplinador dos serviços de telecomunicações. Trata-se de diploma legislativo que dispõe sobre as diversas modalidades dos serviços de telecomunicações. O Decreto nº 177/1991, que dispõe sobre os Serviços Limitados de Telecomunicações, constitui ato revestido de caráter secundá- rio, posto que editado com o objetivo específico de regulamentar o Código Brasileiro de Telecomunicações. TELECOMUNICAÇÕES – COMPETÊNCIA DO CONGRESSO NACIONAL – PODER REGULAMENTAR DO PRESIDEN- TE DA REPÚBLICA – A competência institucional do Congresso Nacional para dispor, em sede legislativa, sobre telecomunicações não afasta, não inibe e nem impede o Presidente da República de exercer, também nessa matéria, observadas as limitações hierárquico-normativas impostas pela su- premacia da lei, o poder regulamentar que lhe foi originariamente atribuído pela própria Constituição Federal (CF, art. 84, IV, in fine). AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE E DEVER PROCESSUAL DE FUNDAMENTAR A IMPUGNAÇÃO – O Supremo Tribunal Federal não está condicionado, no desempenho de sua atividade jurisdicional, pelas razões de ordem jurídi- ca invocadas como suporte da pretensão de inconstitucionalidade deduzida pelo autor da ação direta. Tal circunstância, no entanto, não suprime à parte o dever processual de motivar o pedido e de identificar, na Constituição, em obséquio ao princípio da especificação das normas, os dispositivos alega- damente violados pelo ato normativo que pretende impugnar. Impõe-se ao autor, no processo de controle concentrado de constitucionalidade, sob pena de não conhecimento da ação direta, indicar as normas de referência – que

são aquelas inerentes ao ordenamento constitucional e que se revestem, por isso mesmo, de parametricidade – em ordem a viabilizar a aferição da con- formidade vertical dos atos normativos infraconstitucionais.”

(ADI 561 MC/DF, Tribunal Pleno, Rel. Min. Celso de Mello, DJ 23.03.2001, p. 84)

Assim, não se reveste de ilegalidade a determinação para que empre- sas de radiodifusão procedam à retransmissão diária do programa “A Voz do Brasil” no horário determinado na supracitada lei.

Nesse sentido, confiram-se os seguintes julgados do Pretório Excelso:

“EMENTA: EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO RECURSO EXTRAORDI- NÁRIO – CONVERSÃO EM AGRAVO REGIMENTAL – ADMINISTRATIVO – PROGRAMA ‘A VOZ DO BRASIL’ – OBRIGATORIEDADE DE RETRANS- MISSÃO NO HORÁRIO PREVISTO EM LEI – PRECEDENTES – 1. O Plenário desta Corte, no exame da ADI 561-MC/DF, concluiu que a Lei nº 4.117/1962 foi recepcionada pela vigente Constituição Federal. Desse modo, não se re- veste de ilegalidade a determinação para que empresas de radiodifusão es- tejam obrigadas à retransmissão diária do programa ‘A voz do Brasil’ no ho- rário determinado na mencionada lei. 2. Embargos de declaração recebidos como agravo regimental, ao qual é negado provimento.”

(RE 601412 ED/PR, 1ª T., Rel. Min. Dias Toffoli, DJe-211, Divulg. 25.10.2012, Public. 26.10.2012)

“EMENTA: SEGUNDO AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAOR- DINÁRIO – EMISSORAS DE RADIODIFUSÃO – TRANSMISSÃO DO PRO- GRAMA ‘A VOZ DO BRASIL’ EM HORÁRIO ALTERNATIVO – IMPOSSIBILI- DADE – RECEPÇÃO DA LEI Nº 4.117/1962 PELA CONSTITUIÇÃO FEDERAL – JURISPRUDÊNCIA ASSENTADA PELO PLENÁRIO DESTA SUPREMA COR- TE NA ADI 561-MC – 1. A Lei nº 4.117/1962, que prevê a obrigatoriedade da transmissão do programa ‘A Voz do Brasil’, foi recepcionada pela Constitui- ção Federal. (Precedentes: ADI 561-MC, Relator o Ministro Celso de Mello, DJe de 23.03.2001). 2. Ambas as Turmas possuem recentes julgados sobre o tema, o que torna inviável o pedido da agravante para que a Corte rediscuta a matéria, sob o argumento de que o acórdão paradigma para fundamento das decisões é antigo. 3. Segundo agravo regimental a que se nega provimento.” (RE 605681, AgR-segundo/RJ, 1ª T., Rel. Min. Luiz Fux, DJe-208, Divulg. 22.10.2012, Public. 23.10.2012)

“EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO – CONSTITUCIONAL – EMPRESA DE RADIODIFUSÃO – TRANSMISSÃO DO PROGRAMA ‘A VOZ DO BRASIL’ EM HORÁRIO ALTERNATIVO – RECEP-

ÇÃO DA LEI Nº 4.117/1962 PELA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA – PRE- CEDENTE – AGRAVO REGIMENTAL AO QUAL SE NEGA PROVIMENTO.” (RE 602421 AgR/SC, 1ª T., Relª Min. Cármen Lúcia, DJe-239, Divulg. 07.12.2010, Public. 09.12.2010)

Condeno a autora ao pagamento das custas processuais e honorários advocatícios, fixados em R$ 1.000,00 (um mil reais), a teor do disposto no art. 20, § 4º, do Código de Processo Civil, a serem atualizados até a data do efeito pagamento.

Ante o exposto, dou provimento à apelação e à remessa oficial, nos termos da fundamentação, e revogo a antecipação da tutela.

É o voto. Ciro Brandani

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No documento Revista SÍNTESE Direito Administrativo (páginas 127-133)