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4 AS IMPLICAÇÕES DAS CONDIÇÕES DE TRABALHO NO PROCESSO DE

4.1 ADOECIMENTO ADVINDO DO TRABALHO PRECARIZADO NO SERVIÇO

ASSISTENTES SOCIAIS

Sabemos de acordo com Boschetti (2011) que o trabalho no Brasil tem sido marcado pela precarização com superexploração da força de trabalho, inserções em mais de dois ou três campos de atuação profissional (empregos) o que tem ocasionado adoecimento físico e mental.

Adoecimento identificado nos agravos à saúde, nesse estudo, focalizado aos assistentes sociais nas unidades hospitalares da RMN, durante o exercício profissional nos ambientes de trabalho.

dermatoses65, as LER/DORT66, os transtornos mentais e stress Sem a pretensão de

esgotar a discussão sobre os agravos nem de tecer conhecimento absoluto, optamos por falar do estresse, uma vez que esse tipo de doença tem sido muito comum nos dias atuais entre todos os trabalhadores, os quais podem sofrer implicações advindas da correlação desigual de poderes impostos no trabalho e sobre o trabalhador. Portanto, o desgaste da força de trabalho que traz adoecimento ocasionando perda de capacidade potencial e/ou afetiva, corporal e psíquica. Para Laurell e Noriega (1989) o desgaste mental propiciado no trabalho devido às situações de vulnerabilidade humana expropria a subjetividade do trabalhador segundo Silva (2011, p. 139) característico aos:

I – quadros clínicos que correspondem ao desgaste literal: desgaste orgânico;

II – Variações do Mal-estar: fadiga mental e física;

III – Desgaste que afetam a subjetividade, atingindo a identidade do trabalhador através do ataque à dignidade e/ou da corrosão dos valores e do caráter.

Tais níveis de desgaste são possíveis de aparecer no cotidiano profissional de qualquer trabalhador levando ao adoecimento. O reconhecimento da submissão às condições precarizadas de trabalho a que se encontra a classe trabalhadora se faz necessário diante dos determinantes sociais, econômicos e políticos na atual conjuntura mundial.

Diante dos níveis de desgaste expostos acima, entende-se a relevância de maior reflexão sobre o adoecimento advindo no trabalho no serviço público, ressaltando a necessidade de um novo posicionamento, um novo modo de realizar e

65 De acordo com Bellusci (1996, p. 77) as dermatoses do trabalho podem ser provocadas por contato

direto com substâncias químicas (irritantes e/ou alergênicas), agentes físicos (radiações ionizantes, raios X, raios solares, eletricidade, frio, calor), agentes mecânico (fricção, vibração, traumatismo) e agentes biológicos (microrganismos e parasitas). São lesões do tegumento (pele) produzidas ou agravadas em um ambiente de trabalho.

66 Lesões por esforços repetitivos (LER), mais recentemente denominadas doenças osteomusculares

relacionadas ao trabalho (DORT). A modernização e os avanços tecnológicos nas últimas décadas trouxeram o trabalho automatizado, de ritmo acelerado, fragmentado, sem pausas para recuperação, com repouso insuficiente para compensar o desgaste provocado por suas jornadas inadequadas ao uso forçado de equipamentos em condições que agridem o ser humano e nele provocam doenças. No entanto, é sabido que LER OU DORT não é uma doença, mas um nome para designar um grupo de doenças osteomusculares e suas repercussões sociopsicológicas que têm em comum o fato de serem provocadas por condições inadequadas no trabalho. Outrossim, LER/DORT é o nome dado para quadros clínicos que podem aparecer isoladamente ou associados, tais como: cervico- braquiagia, mialgia, tenossinovite, tendinite, epicondilite, peritendinite, bursite, sinuvite, síndrome da tensão do pescoço, síndrome do túnel do carpo, cisto sinovial, síndrome do desfiladeiro torácico, entre outros. (BELLUSCI, 1996, p. 113- 116).

pensar as ações dos trabalhadores em seus espaços sócio-ocupacionais na contemporaneidade, diante das mudanças ocorridas no mundo do trabalho acompanhado de crescente precarização relativa às condições de emprego e trabalho verificando as relações existentes nessa problemática.

No mesmo entendimento de Silva (2011), ressaltamos que Laurell (1982)67 oferece embasamento teórico que nos permite estudar sobre os desgastes que geram adoecimento. No entanto, sabemos que somente esta perspectiva não dá conta de todos os aspectos determinantes, os quais interferem no adoecimento profissional, necessitando ainda, outros estudos relacionados aos elementos específicos da dimensão mental no desgaste do trabalhador em seu ambiente de trabalho. Estudo analisados à luz de abordagens teóricas de especialistas e pesquisadores da área “psi” que estudam a Saúde Mental no trabalho e dos que estudam as determinações de ordem sociopolítica e econômica, a fim de identificarem as interseções do processo de trabalho e de saúde-doença.

Ressalta-se que não há, neste estudo, a pretensão de trilhar o caminho da análise psicanalítica tão bem tratada por Silva (2011), mas enfatizam-se as considerações apresentadas por Pitta (1994), no sentido de esclarecer e informar outros fatores importantes, também imbricados na teia de relações que envolvem o adoecimento no trabalho. Entendendo que

o sofrimento no trabalho torna-se patogênico a partir do momento em que, tendo em vista o esgotamento de todos os recursos defensivos, esse continua a provocar uma descompensação do corpo ou da mente, pois o sujeito se vê preso em uma monotonia que o empurra para um sentimento de incapacidade, de imbecilidade. Na tentativa de melhor executar a tarefa, o trabalhador se engaja de maneira a colocar toda a sua energia e investimento pessoal, mas quando esse esforço não é reconhecido, nem por seus pares nem pela hierarquia, essa falta de reconhecimento é geradora de sofrimento. Todos esses fatores contribuem para gerar um ambiente depressivo, nem sempre claramente manifesto, mas traduzido pela presença de diversos sinais e sintomas, entre eles a síndrome de esgotamento, ou síndrome de exaustão, popularizada pelo termo inglês burnout68. (KRUG, 2006, p, 123).

67 Asa Cristina Laurell formulou e elaborou um quadro teórico nos anos 1980 envolvendo o conceito

de desgaste para o entendimento do adoecimento estudado na perspectiva da Saúde do trabalhador (materialismo dialético) e nesta perspectiva abordamos de maneira geral os apontamentos sobre as implicações das condições de trabalho na saúde das (dos) assistentes sociais da RMN, entendendo que essa realidade não difere das outras regiões de saúde no RN.

68 De acordo com Krug (2006) esse termo foi inicialmente empregado nas produções científicas a

partir, sobretudo, dos anos 1980 para descrever os sintomas apresentados por trabalhadores cujas atividades envolvem alto grau de contato com outras pessoas, como é o caso das profissões de saúde. É uma reação à tensão emocional crônica gerada a partir do contato direto e excessivo com outros seres humanos, particularmente quando esses estão preocupados ou com problemas. Essa

Nessa pesquisa identificam-se fatores determinantes ao adoecimento ocasionado no/pelo trabalho das (os) assistentes sociais vistos no quadro 7 em conformidade com algumas características inerentes à síndrome de burnout, diante dos efeitos da investida do capital com suas novas faces69, são predominantes, cada vez mais, as condições de adoecimento profissional entre os profissionais da saúde, onde se pode identificar a relação das crises de subjetividade humana (crise da vida pessoal, a crise de sociabilidade e a crise de autorreferência pessoal), como principais sintomas das crises do capital capazes de atingir não apenas os homens que trabalham, mas, sobretudo os “homens que vivem do trabalho” (MOTA, 2011, p. 190).

Quadro 8 – Fatores do trabalho associados a altos índices da Síndrome de Burnout

Fatores Características

Sobrecarga

Quantidade ou qualidade excessiva de demandas que ultrapassam a capacidade de desempenho, por insuficiência técnica, de tempo, de infraestrutura ou organizacional;

Pressão no trabalho propicia, principalmente, exaustão emocional.

Baixo nível de controle das atividades ou acontecimentos no próprio trabalho; e baixa

participação nas decisões sobre mudanças organizacionais.

Provoca pouca ou nenhuma satisfação do trabalhador pelo seu trabalho.

Expectativas profissionais Indivíduos com discrepâncias entre suas expectativas de desenvolvimento profissional e aspectos reais de seu trabalho

Sentimentos de injustiças e iniquidades nas relações laborais

Podem ser consequentes a carga de trabalho,

salários desiguais para o mesmo cargo; ascensão de colega sem merecimento.

Trabalhos por turnos ou noturnos Chega a afetar 20% dos trabalhadores acarretando transtornos físicos e psicológicos; Mais propensos: os que precisam efetuar mudanças síndrome representa uma resposta ao estresse emocional crônico, onde estão presentes o esgotamento físico e/ou emocional, a diminuição da produtividade, significativa despersonalização, atitude negativa frente aos pacientes ou outras pessoas com que trabalha, absenteísmo, mudança frequente de emprego e outras condutas evasivas, como o uso de drogas. Silva (1994) apresenta alguns sinais e sintomas típicos de sofrimento mental vinculado ao trabalho desenvolvido, como insônia, episódios de cefaleia, dores generalizadas, irritabilidade, episódios de amnésia, desmotivação, diminuição ou aumento do apetite, entre outros.

69 Para Navarro e Prazeres (2010), o agravamento dos problemas de saúde relacionados ao trabalho

é importante indicador para avaliar os efeitos do processo de reestruturação produtiva para os trabalhadores. [...] Efeitos que se caracterizam pelo agravamento das condições de trabalho e pelo descaso do Estado. Essa realidade se mostra presente, principalmente no governo local quanto aos problemas vivenciado desde 2012 nos serviços de saúde no RN no âmbito municipal e estadual do RN.

em períodos de tempo a cada 2 ou 3 dias, passando alternadamente do período diurno para o noturno e vice e versa.

Precário suporte organizacional e relacionamento conflituoso entre colegas

Provocam pensamentos de não poder contar com ninguém;

Sentem-se desamparados, carentes de orientação; desrespeitados;

Tipo de ocupação Piora na presença de indivíduos competitivos, distantes, excessivamente críticos ou preguiçosos. Relação muito próxima do

trabalhador às pessoas a que deve atender; responsabilidade sobre a vida de outrem.

É maior em relação aos cuidadores em geral

Conflitos de papel (funções)

Papel: conjunto de funções, expectativas e condutas que uma pessoa deve desempenhar no seu

trabalho.

Conflitos de Papel: embates entre informações e expectativas do trabalhador sobre seu desempenho em um determinado cargo ou função na instituição Ambiguidade de papel (funções) Normas, direitos, métodos e objetivos pouco delimitados ou claros por parte da organização. Fonte: Trigo, Tung Teng e Hallak (2007).

Desse modo os fatores da síndrome de burnout são vistos no trabalho das (os) assistentes sociais revelando situações de maior vulnerabilidade humana, onde o desgaste humano no trabalho, em sentido amplo, tenderá a ser mais grave e tanto mais intenso quanto maior for a precariedade das condições de vida e quanto menos forem estabelecidos e efetivados os direitos sociais fundamentais e à cidadania do trabalhador na saúde pública do RN.

Segundo Domingues Júnior (2005) o servidor público está submetido a condições de trabalho e de proteção social tendo o Estado como patrão, sem garantias efetivas no seu ambiente de trabalho, falta de cumprimento legal, ausência de fiscalizações e disponibilidade de equipamentos de proteção e prevenção a doenças ocasionadas no/pelo trabalho, uma vez que

A aplicação do Regime Jurídico Único, conjugada com a independência entre as esferas federais, estaduais e municipais, faz com que o servidor público seja efetivamente defenestrado do sistema de saúde e segurança ocupacional. Diferentemente dos segurados do Regime Geral de Previdência, não há uma consolidação dos dados e ás vezes nem há coleta de dados; não se avaliam as condições de trabalho do servidor, com a desculpa de que para o servidor não há perda de salário, pois o Estado continuará pagando, mesmo com o seu afastamento. (DOMINGUES JÚNIOR, 2005, p. 130).

Diante desta constatação é que esta pesquisa se direciona a reflexão de que não é necessário um tratamento especial para a saúde do servidor público, mas que a política e saúde do trabalhador70 seja institucionalizada e efetivada no âmbito da administração pública observando as possíveis implicações objetivas e subjetivas das condições de trabalho aqui delimitadas nessa análise para as (os) assistentes sociais que atuam nas unidades hospitalares da RM numa discussão para além das normativas legais.